terça-feira, 9 de novembro de 2021

Resgatando os pitacos de um mês de desatinos: relatório da CPI; cassação antecipada e futura da chapa de 2022; o presidente pária em viagem sem finalidade; Lira e o calote e segurança a bala em Minas

Existe sim, uma explicação para passar um mês sem vir postar qualquer pitaco: o fato de eu ter que admitir que estou longe de entender o nosso país. O que convenhamos não é qualquer privilégio meu, a julgar pela frase do grande Tom Jobim, de o Brasil não ser para principiantes.

Se a frase passou por uma adaptação depois do advento e posterior explosão da internet e das redes sociais, como nos revela o Google, tornando-se agora “o Brasil não é para amadores”, devo reconhecer estar longe de ser um expert ou um profissional.

Seja no que se relaciona à ocorrência de eventos (que se sucedem como autênticas ‘jabuticabas’), quanto com referência ao ritmo em que os fatos se sucedem,  mesmo os mais esdrúxulos.

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Convenhamos que os desatinos são tão avassaladores que fica difícil tecer comentários sobre qualquer um deles, já que sempre atropelado por outro ou outros, o que me leva a uma dificuldade: dentro de tanta excrescência, qual merece ser objeto de meu pitaco?

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Apenas nesse último mês vimos, por exemplo, o encerramento da CPI, e a leitura de um relatório que, conforme consta, foi redigido com assessoria e aconselhamento de grandes juristas de nosso país. Um deles, Miguel Reale Jr., um expert em argumentação pró golpes e até impeachments.

Não apenas pela orientação jurídica de qualidade, - só tornada possível por ser fruto de um trabalho digno de todo o elogio, pelo nível de aprofundamento da investigação por parte da Comissão da Covid e dos senadores dela participantes -, o documento deveria ter destaque muito superior ao que, em minha opinião, conseguiu gerar.

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Assim é que entregue com pompa e circunstância, discursos e até cobrança por parte do presidente dos trabalhos, o senador Omar Aziz,  ao Ministério Público Federal, na pessoa de Augusto Aras, o documento parece não ter causado impacto nem ter tido força suficiente para animar o Procurador Geral a dar consequência imediata às investigações.

Ao contrário, na própria imprensa e até em círculos mais respeitáveis da esfera jurídica, como alguns dos ministros do próprio STF, manifestações em relação à dificuldade de se conseguir avançar em processos de criminalização do Executivo foram abordados.

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Ainda na área jurídica, até a opinião de advogados, alguns com a notoriedade da golpista Janaína Paschoal, ridicularizaram o Relatório, a investigação realizada, os pretensos crime imputados ao chefe do governo, contribuindo para reduzir seu impacto junto à sociedade e a relegá-lo ao esquecimento.

Na Câmara, onde o presidente Arthur Lira já se encontra sentado sobre uma pilha de mais de 100 pedidos de impeachment, a reação foi ainda mais gélida e distante. O que torna o relatório apenas mais um volume destinado ao esquecimento.

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Na área jurídica houve ainda mais: o Tribunal Superior Eleitoral depois de apenas 3 anos das eleições de 2018, levou a julgamento as acusações que pesavam contra a chapa eleita, relativas a abuso de poder econômico, em função de disparo em massa de mensagens de Whatsapp, e de mensagens portadoras de ‘fakenews’ e divulgações destinadas a prejudicarem adversários políticos.

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O placar de 7 a zero, ou seja, a decisão de não cassação da chapa por unanimidade, apenas serve para confirmar, em minha opinião,  a frase de Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra.

Ou burra ou conivente. Ou apenas uma forma mais tolerável de admissão da morosidade da Justiça. O que faz da Justiça algo completamente INÚTIL.

Ou no dizer de ninguém menos que Rui Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.

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Curioso, no caso específico, é que o Tribunal não apenas reconheceu a existência dos disparos e da influência maléfica por eles causada, inclusive com possível influência no resultado, como ainda ameaçou ficar de olho e punir a repetição de tais fatos, caso venham a ocorrer na eleição de 2022.

O recado de Alexandre de Moraes, futuro presidente do Tribunal quando das eleições de 2022, foi claro e duro e pode ser traduzido assim: ‘vocês cometeram um crime eleitoral e mesmo estando com as mãos sujas não há provas suficientes para responsabilizá-los. Mas prometo que em 2022, mesmo sem qualquer prova, não admitirei que se repita tal procedimento. Sua chapa será cassada”.

A essa altura, o estrago já foi feito. E o país pode não ter tempo para reconstruir o que o presidente eleito prometeu destruir.

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Ainda nesse intervalo de um mês, Bolsonaro prometeu dar o Auxílio Brasil, no valor de 400 reais e, de uma penada, acabou com o Bolsa Família, programa muito mais bem estruturado e executado.

Nunca é demais chamar a atenção para que o tal auxílio bolsonarista tem prazo de duração. Sua validade expira ao final de 2022, depois de passadas as eleições e de ele poder ter tido êxito em ‘comprar os votos dos pobres’, que ele tanto criticou nos governos petistas.

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Mas, se tem prazo de validade, o auxílio não tem, ainda, recursos assegurados em orçamento.

Razão da violência da presidência da Câmara e do Centrão, para aprovar a PEC apelidada dos precatórios, que concretiza o que o sempre suspeito sinistro da Economia afirmou em 3 de agosto último: “Devo não nego, pagarei assim que puder”.

Mais  uma jabuticaba para os anais (embora a força do trocadilho imponha outro termo, para tratar daqueles cujos direitos estão sendo lesados): o sinistro investigado por rombos em fundos públicos de pensão e dono de fortuna em paraíso fiscal, fora do país, instituiu a política econômica do calote.

Ministro de linhagem liberal, ‘Chicago boy’, instituindo a quebra de contratos como norma.

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Houve também a reunião do G-20, em que o presidente brasileiro só conseguiu manter contatos e encontros com brasileiros residentes na Itália, ainda assim, alguns poucos bolsopatas, pinçados por serem apoiadores do Mito (?).

Presidentes, governantes, ministros, empresários, todos os ocupantes de funções  que importavam para a realização de alguma reunião, evitaram e fugiram da representação do mal, em escala internacional.

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Sem o que fazer, nosso representante torrou milhões de reais para ir se encontrar, na Itália, com representantes da ultradireita internacional, sendo recepcionado pelos fascistas da Lega Nord ou Liga Norte.

De passagem, diga-se que o presidente idiota ganhou um título de cidadania, de terras onde seu bisavô nasceu. Apesar dos protestos e contra toda a população da comunidade local.

Por fim, prestou homenagens aos que combateram´, na Guerra, ideias que ele defende e representa.

E não foi à reunião do clima, COP26, em Glasgow, onde a delegação brasileira teve oportunidade de mentir em discurso quanto a comportamentos e práticas adotadas, e promessas para o futuro.

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Não poderia deixar de manifestar que, da passagem do presidente por terras italianas, resultaram agressões a jornalistas, fato que já virou costume posto em prática pelos seguranças da comitiva.

Pior é que, questionado pelo Supremo, o governo afirma que não passam de mentiras sensacionalistas, as agressões que as imagens dos meios de comunicação, inclusive internacional, insistem em nos mostrar.

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No Brasil, Lira altera regimento, leva a plenário uma emenda aglutinativa que tem a capacidade de criar novidades nos temas que deveriam tratar apenas de agregar assuntos de mesmo teor, tudo para aprovar, por míseros 4 votos, em primeiro turno, a PEC do calote dos precatórios.

Mais grave e violento, utiliza-se das emendas do relator, ou orçamento secreto, para comprar votos de deputados recalcitrantes em relação à matéria.

Como bom corretor de negócios, acena aos seus colegas com maior quantidade de recursos, que a PEC irá liberar para as emendas secretas, justo quando do ano eleitoral de 2022.

E, há quem pense que a PEC visava arrumar recursos para financiar um programa necessário de transferência de renda aos mais carentes. Como há aqueles que, cegos, irão defender a lisura do BOLSOLÃO.

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Não sou favorável ao teto de gastos. Nunca fui.

Mas ter ao meu lado, agora, furando o teto, gente do nível de guedes e lira, me deixa muito mal.

Preferia estar do lado dos que vão perder, como diria Darcy Ribeiro.

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Para terminar, o país traz o impacto da morte de Nelson Freire, o pianista erudito, e de Marília Mendonça, a cantora dos sentimentos dos grotões, e da alma do povo.

Em comum, em ambos, a humildade. Nela, o carisma e o saber-se poderosa.

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Enquanto isso, Minas dá o exemplo de como Zema trata a segurança: a bala.

Com a Polícia Militar matando, para depois iniciar os interrogatórios.

E ainda faz propaganda de como a segurança é respeitada em Minas.

Estranho: logo Minas, a terra da Liberdade, onde os direitos sempre foram reconhecidos e respeitados. Seja de gente honesta, seja de trabalhador, seja de bandido.

Afinal, Minas é terra onde direitos de seres humanos eram respeitados.

 

 

 

 

 

2 comentários:

Pat disse...

Bom resumo deste mês inacreditável nestes tenebrosos tempos de ataques a direitos, à democracias, de dilapidação do patrimônio nacional, além da eliminação de florestas e do futuro de planeta.

Anônimo disse...


A situação do país é tão trágica que a célebre frase "eu era feliz e não sabia" (meus tempos de criança) de Ataulfo Alves; imortalizada na voz de Noite Ilustrada, está agora associada ao dia anterior. Afinal a verdadeira avalanche de sortilégios não termina. flatu (o famigerado 01) se livrou das acusações de rachadinha quando deputado estadual; a PEC dos precatórios passou na câmara com folga e com votos de supostos opositores...
moro (que dizia que não entraria para política) e seu comparsa deltan já estão assumindo descaradamente esta condição. O primeiro pleiteando a presidência (se arvorando a "terceira via"... aliás todos que pretendem este posicionamento foram apoiadores de jaMé); o segundo a deputado (certamente para tornar o parlamento mais pestilento, sim sempre há formas de piorar)...
De repente ser feio (no sentido de execrável, canalha, sórdido) ficou bonito (no sentido de que atrai os holofotes)
Fernando Moreira