O primeiro pitaco é a título de homenagem a Bárbara Vitória, a menina de 10 anos de idade e todo um futuro pela frente, interrompido brutal e estupidamente no último domingo.
Crime
cometido com conotação sexual, o que levou a sua morte, tendo em vista a menina
conhecer, o principal suspeito pelo crime hediondo.
Nessa
hora de tristeza, em que a família da menina merece solidariedade irrestrita,
apenas uma observação sobre o suspeito e seu suposto suicídio: não há pena
maior e condenação pior para um criminoso torpe que o remorso.
Punição
que vai além da justiça dos homens e de qualquer desejo de vingança, como
Raskolnikov já comprovava em Crime e Castigo do genial Dostoiévski.
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A
propósito de crimes e castigos, lembro-me que era ainda menino quando soube da
morte de meu bisavô, assassinado.
Pelulante,
metido a valentão como as crianças que estão acordando para o mundo, cobrei meu
avô em relação à atitude que ele teria tomado. Para mim, era imperativo que ele
tivesse lavado a honra da família conforme a tradição de Talião.
Foi
quando ouvi pela primeira e única vez a história pela boca de meu avô: o
assassino era um compadrer que devia ao meu bisavô. Ao saber do ato tresloucado
do pai, sua filha, abandonou-o, em reação à morte do padrinho.
O
pobre coitado acabou louco, internado.
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Castigo
divino
Pelo
que conheço de leituras esparsas da Bíblia, os livros que a compõem referem-se
a dois momentos no tempo e a dois Testamentos. O primeiro momento, que relata o
Gêneses e o Êxodo, entre outros episódios, corresponde ao Antigo Testamento.
Nele,
a figura de Deus que nos é transmitida é a de um Deus rancoroso, vingativo, que
poderia ser classificado como autoritário e cujos castigos em grande medida consistiam
em punições violentas, muitas vezes nos moldes da Lei de Talião.
Para
ser mais preciso, da lei cuja origem é o Código de Hamurabi da Babilônia, datado
de 1770 antes de Cristo e anterior aos livros judeus em centenas de anos,
conforme me ensina o Google.
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Parece-me
que alguns cristãos, desses que em testemunho de sua fé passeiam com as
Escrituras debaixo do braço em qualquer lugar onde vão, têm pouco tempo para
leitura ou pouco fôlego, focando sua leitura apenas nesse primeiro Testamento.
Mas,
o que gostaria de assinalar é que não há como negar que todos os livros
evidenciam que seus autores estavam narrando uma História cujo objetivo era,
sem dúvida, apacentar a população, como às ovelhas.
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Nesse
sentido, agiam como os pastores no pastoreio, protegendo, cuidando, alimentando,
e impondo suas leis, seu estilo de comportamento e suas crenças aos demais
cidadãos.
Nunca
é demais concluir, mesmo aceitando-se a fé individual e sua capacidade de produzir
milagres e remover montanhas, que nesse sentido a Religião e sua expressão eram
um mecanismo de manipulação do povo, e seu ópio.
Amor
divino
O
segundo Testamento contido na Bíblia é composto pelos Evangelhos, e corresponde
às narrativas consideradas pelo Igreja e a Santa Sé, como as mais adequadas,
dentre todos os evangelhos escritos, para manter o povo cordato e obediente.
Afinal,
os Evangelhos que chegaram até os nossos dias e se tornaram os mais conhecidos
foram 4 em meio a um número bem maior de evangelhos, a partir dessa seleção considerados
apócrifos.
***
No
entanto, esse Novo Testamento apresenta não apenas a figura do Deus tornado
Homem, como Jesus, o Nazareno.
Ele
tenta ainda difundir uma mensagem que vai na direção contrária à figura do Pai
autoritário e punitivo da primeira parte da Bíblia.
Agora
o Deus é um ser sensível, capaz de entregar o próprio Filho, que é ele mesmo,
em sacrifíco para a redenção de todos os homens. Todos pecadores.
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A
mensagem agora transmitida coloca o Amor como o valor maior e a lei máxima a
ser seguida.
Ao
contrário da teoria do estabelecimento do Contrato Social para a criação do
Estado, cuja base é negociação de uma solução de compromisso, a proposta dos Evangelhos
para a boa convivência social é a de uma sociedade onde todos deveriam evitar a
adoção de atitudes egocêntricas.
O
amor ao próximo é a única forma que poderia, em tese, criar uma sociedade
fraterna: Ama ao próximo como amas a ti mesmo.
Pelo
visto, ou o sacrifício da morte de Jesus
deu errado ou foi a humanidade que falhou. O que levou Hobbes à conclusão
inexorável de o homem ser o lobo do homem.
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A
mensagem de Cristo, ele próprio interpretado como personificação do Amor, parece
não ser aquela usada como guia para uma série de cristãos de carteirinha, responsáveis
pela doação de dízimos vultosos e que pregam a vingança e não a justa punição
como a que o próprio Jesus admitia ao tentar organizar a lista dos apedrejadores
da mulher infiel.
Cristãos
que cobram nas redes sociais a pena de morte para o criminoso de Bárbara
Vitória. Destinatários da mensagem do Papa Francisco, que questiona os valores
cristãos daqueles que pregam a aplicação dessa sentença.
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Projetos
de Lei de penas perpétuas
Enquanto
isso, para dar sequência ao festival de bestialidades que vem assolando o país
desde a chegada da besta fera ao poder em 2019, pregando o ódio, estimulando a divisão
na sociedade e exercendo o papel de motorista da morte, na Câmara Federal
aprova-se um projeto de Lei que nitidamente visa retirar do criminoso qualquer
possibilidade de recuperação e reintegração social, condenando-o a ficar o
maior tempo possível segregado do convívio social, no limite, até o final de
sua vida.
(Não
o FEBEAPÁ, Festival de Besteiras, do ponto de vista cultural de modos e costumes
sociais de Stanislaw Ponte Preta!)
Este
projeto, proposta de um capitão das forças militares auxiliares do genocida do
Planalto, teve trâmite em regime de urgência, anexado por Lira, o presidente da
Casa, a outro projeto anterior, mais uma vez atropelando os regulamentos internos.
***
Lira,
discípulo de Eduardo Cunha e agora, o anjo protetor do 01 Neurônio, proteção
vendida a peso de orçamentos de ouro, embora secretos, não escapará, assim como
seu beneficiário do braço longo da justiça: sem nenhum revanchismo, apenas nos
limites da lei, no papel que se regojiza desempenhar de cúmplice.
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A
eterna luta do Bem contra o mal (oficial)
Enquanto
isso, em culto na Câmara, o ex-terrorista continua sua pregação da luta que se
avizinha, do mal contra o Bem. Profético, poderia até aprofundar a descrição do
mal, da morte, do genocídio, do golpe, da ditadura contra o Bem, representado
pelos defensores dos valores da democracia, da justiça social, do respeito à
diversidade.
***
Em
se tratando de golpe, a questão é que o miliciano no poder não engana ninguém.
Como seu ídolo Trump, é covarde. Prefere ficar assistindo desatinos de seus
seguidores pela tevê que ir à luta.
Covarde
típico, o que torna mais assustador o momento atual é sua capacidade de
destilar nos fascistas que o seguem partirem para o tudo ou nada.
Como
disse bem Ruy Castro em sua coluna ontem, esse estrupício miliciano não deseja
um golpe.
Encarnação
da morte, o que ele parece incentivar, cada vez mais é o início de uma guerra
civil, cruenta e fratricida.
3 comentários:
Excelente texto Paulo Feitosa, talvez um dos melhores que você já tenha escrito. Admiro sua inteligência e sua infinita capacidade de nos ajudar a pensar o Brasil. Um abraço
Ótimo texto, Paulo!👏👏👏
O Velho Testamento sempre me fascinou. Quando criança ficava impressionado com trechos do Gênesis e Êxodo narrados por uma tia. Anos mais tarde o fascínio mágico, foi substituído por outro fascínio mais racional: a capacidade de persuasão. O que me inspirou a escrever um artigo sobre o assunto: O Êxodo: uma análise sob a perspectiva do marketing.
O Deus rancoroso ao qual você fez alusão foi, para mim pelo menos, também preconceituoso, afinal elegeu um povo em detrimento dos demais povos. Ora, se Ele criou a humanidade, como desprezar alguns de Seus filhos e beneficiando outros?
Atualmente o que me deixa incomodado é que este "deus" rancoroso está se sobrepondo ao Deus descrito no Novo Testamento, onde muitos se intitulam serem o porta-voz ou preposto de Jesus. Na falta de consistência estampam um ou outro trecho do Apocalipse, etc... daí o ópio.
O sacrifício de Jesus representou o, triunfo dos fariseus, que encontraram até um álibi perfeito para a condenação: "foi Pilatos quem O condenou à cruz.
Nas marchas para Jesus, é Ele o maior ausente.
Fernando Moreira
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