segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Copom, alta dos juros: uma análise da Ata de 4 de fevereiro

https://zoom.us/j/97342808647?pwd=VOTDduEItH4w8z6Cz4hltrs7ZaksBR.1 O ritmo intenso de crescimento da demanda interna devido à expansão do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo, mais o aquecimento do mercado de trabalho e o crescimento dos rendimentos da população levaram o COPOM a elevar a taxa básica de juros da economia em mais 1 ponto percentual. Conforme a Ata publicada no último dia 4, e apesar de sinais da redução desse ímpeto ao final do ano, na visão do comitê, essa situação “reforça que o arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta”. Em linguagem simples: a expansão intensa da demanda, em condições em que a oferta já atingiu seu limite e não pode mais ser ampliada, resulta em pressões sobre os preços. Ou seja, com a oferta muito próxima do pleno emprego, a demanda torna-se a variável de ajuste ou de resgate da situação de equilíbrio entre a demanda e oferta. Daí, a necessidade de elevação dos juros, que provoquem a queda da demanda e promovam o equilíbrio entre demanda e oferta, em que os preços ficam estáveis. *** Assim, a Ata expressa a hipótese de que a economia já ultrapassou ou está próxima de alcançar seu nível de produção limite, ou seu crescimento potencial, conceito baseado em uma falácia. O que não impede tal raciocínio de encontrar boa recepção nos órgãos de comunicação e na histeria de sua atuação no papel de porta-voz dos interesses dominantes dos grandes grupos financeiros do país. Fazendo eco às críticas da imprensa à política fiscal expansionista e à gastança desenfreada reveladora de possível descontrole fiscal pelo governo, acusada de ser responsável pela desancoragem ou afastamento da taxa de inflação esperada pelo mercado, da meta de inflação, a Ata denuncia a redução do esforço governamental na promoção de reformas estruturais que assegurem a disciplina fiscal e conduzam à estabilização da dívida pública. De quebra alimenta as incertezas do mercado quanto a perda de eficácia da política monetária. *** Extremametne zelozo em relação à manutenção do equilíbrio fiscal, o documento se esquece de informar ser a despesa com o pagamento de juros, agora majorados, o principal item de expansão da dívida (762,4 bilhões de reais, de juros) . O que nos obriga a concordar com a queixa da Ata, quanto à existência de uma desarmonia entre a política fiscal e a monetária. Afinal, a política monetária conduzida pelo Banco Central e o COPOM põem a perder todo o esforço fiscal de redução de gastos pelo governo. Além disso, juros altos prejudicam as famílias e seu consumo, os empresários e seus planos de investimento, o crescimento da economia e da produção, do emprego e da renda, prejudicando toda a sociedade. Beneficiam apenas à remuneração dos bancos que, como credores, mantém titulos da dívida pública em suas carteiras, elevando seus ganhos exorbitantes. *** Em razão da política de juros, o Itaú anunciou lucros de mais de 41 bilhões de reais (16,2% maiores que o ano anterior), com crescimento de sua carteira de créditos (15,5%) e queda do nível de inadimplência. Em recuperação, o Santander apresentou lucro de 13,9 bilhões de reais, 50,2% maior que o ano anterior, aumento da carteira de crédito e comportamento estável da inadimplência, enquanto o Bradesco divulgou um aumento de 87,5% nos lucros, de 19,5 bilhões de reais. Curiosamente, ao lado do crescimento não esperado pelos modelos e adivinhos do mercado de 3,5% do PIB, e de uma taxa de desemprego de 6,2% em dezembro, aliados ao aumento da massa salarial e da renda média per capita, as estatísticas indicam crescimento de 3,1% da indústria, com queda em dezembro, fruto da política de arrocho monetário. Mesmo arrocho que causou contração no setor de serviços em janeiro de 2025, enquanto os efeitos climáticos levaram à queda do consumo de café, aumento do preço do café e outros grãos e inclusive da carne. *** Quanto à situação fiscal, o déficit primário do governo atingiu a 11 bilhões de reais, ou 0,09% do PIB, dentro da meta do arcabouço fiscal, sem incluir as despesas extraordinárias decorrente dos desastres no Rio Grande do Sul que, se incluídas, fariam o déficit alcançar os 43 bilhões ou 0,36%. Em relação ao comportamento da Dívida Pública Federal, expandiu em 12,2% para o patamar de 7,32 trilhões de reais, dentro da meta fixada pelo Tesouro no Plano Anual de Financiamento (previsão entre 7 e 7,4 trilhões de reais). Também o prazo médio da dívida (entre 3,8 e 4,2 anos) e a parcela com vencimento em 12 meses (entre 17 e 21%) ficou dentro das previsões do PAF. *** A Ata menciona outros fatores, como o câmbio e eventos climáticos extremos para justificar parte da inflação, em especial a de alimentos. No caso do dólar, cita a volatilidade como reação à política econômica americana, que nos escapa completamente do controle. E, embora reconhecendo que já pode estar em curso um incipiente processo de retração do nível de atividade, promete novo aumento de 1% da Selic para fevereiro. Como diz o professor Oreiro, mesmo no caso de elevar a taxa básica de juros da economia, tal medida pode ser feita gradualmente, com variações menores da Selic e maior prazo para se atingir a convergência com a meta. Alternativamente, pode-se dar uma grande tacada, promovendo elevação extrema, e reduzindo o prazo para a obtenção da meta. Isso se o setor real da economia não entrar em colapso e o remédio provocar o óbito de todo os setores que integram nosso nível de atividade, à exceção dos bancos, setor financeiro e rentistas. Ou seja: a esse preço, a inflação pode ser domada. Às custas de pesado, injusto e iníquo processo de concentração de renda. *** Resta saber se a Diretoria do Banco Central, indicada por Lula e ávida por transformar o Banco em entidade privada, permitindo lançá-la nos braços dos interesses financeiros da Faria Lima via PEC 65 - da privatização do órgão de Estado – vai querer contribuir para a redução de todo o esforço democrático que o Executivo representa hoje. O COPOM agirá em nome da sociedade e da economia real ou como refém ou representante dos interesses do mercado financeiro promovendo o último baile da ilha monetária? E "Fora a PEC 65".

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!

Anônimo disse...

Tudo correto. Ô Paulo César, você poderia comentar a afirmação de que a meta de inflação de 3%a.a. não atende aos objetivos do país, já que os contratos são reajustados pela inflação passada, alimentação a inflação. Paulo Nogueira Batista afirma que 4%a.a seria uma meta mais adequada. Abraço

Anônimo disse...

Seu texto elucidativo, didático e consistente, como de praxe, me remete a uma reflexão: com resultados tão significativos, por que o governo Lula vem perdendo popularidade? Conforme você mesmo já apontou a imprensa tem interesses inconfessáveis, mas nem por isso menos explícitos nas críticas ao governo. Comportamento este que pode ser observado ao longo da história do país sempre que governantes contrários aos interesses elitistas assumiram o poder (ou uma dimensão dele). Assim penso que é urgente o Presidente Lula e sua equipe rever a estratégia de comunicação. Evidente que há falhas no governo, mas estas tem ganhado vozes, cada mais estridentes (inclusive de quem há alguns anos criticavam o inelegível), em detrimento das muitas conquistas obtidas.
Em relação ao tema de seu pitaco, fica uma pergunta: por que Lula escolheu um presidente do Banco Central que joga contra?
Fernando A. Moreira

Anônimo disse...

Excelente análise!!!
Ótima oportunidade de aprendizado!!!