Diz a estatística, pelo menos aquela a que tenho acesso, que 100% dos times que jogam para assegurar uma vantagem, um resultado, ou seja que jogam de olho no regulamento, acabam sendo derrotados em seu intento.
Preocupados demais em mirar o regulamento, se descuidam e esquecem de olhar ou prestar atenção ao jogo. E perdem.
Isso se torna mais verdadeiro, se se tem do outro lado, como adversário, um time maduro, experiente, que joga há muito tempo junto, e que além de tudo, está mordido, por duas derrotas inesperadas, consecutivas.
O que vai acontecer, é um jogo de ataque contra defesa, um verdadeiro bombardeio, em nada favorável ao time que entrou para ficar lá atrás, segurando o tempo, o jogo, a vantagem.
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Pois, bem, vivemos ontem, infelizmente, nós os atleticanos o segundo tempo de uma disputa de 180 minutos. Se saímos com a vantagem para o intervalo, voltamos no segundo momento ou segundo jogo, como time pequeno. Longe, muito longe de nossas tradições. Jogando recuado, dando chutões. Nitidamente fazendo o tempo passar, enrolando o tempo, sem criar jogadas, sem ficar tocando bolas no meio até irritar o adversário.
Como se ninguém se lembrasse de como a nossa defesa é vulnerável e apresentava-se muito vulnerável até há pouco tempo. Uma defesa que levou gols em praticamente todos os jogos que disputou no semestre, até aqui.
Ora, se a defesa pode ser criticada, não é menos verdade que em vários instantes, a defesa ficou vendida por um meio campo incapaz de desarmar.
Quantas vezes não critiquei aqui a figura de Serginho, o nosso cabeça de área.
Para não ser injusto, Serginho vinha crescendo de produção a olhos vistos, todos comentavam isso. A defesa estava cada vez dando mais tranquilidade ao time. Até o goleiraço Renan Ribeiro, que andou falhando em alguns gols, havia voltado a mostrar segurança e deixado de cometer falhas que a inexperiência é que explica.
No caso específico de Serginho, estava crescendo e marcando gols, ou seja, cresceu no momento em que começou a se liberar mais, e passou a jogar mais avançado. Ou avançando mais, aproveitando o elemento surpresa.
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Ontem, com o time jogando atrás, a velocidade, o toque de bola, nada que o time mostrou em sua arrancada decisiva e que até o credenciou a disputar o título de igual para igual, se manteve.
O isolamento de Magno Alves na frente, a inoperância de um Renan Oliveira, que não tinha com quem tramar jogadas, fazer triangulações, o nervosismo de Mancini, tudo contribuiu para que o Galo corresse para sua linha de defesa, e jogasse como time pequeno. Confirmando a declaração de Fabrício ao fim do primeiro jogo, embora, naquele dia, declaração equivocada.
Porque naquele dia, partimos para o jogo, jogamos na frente, e parecia que cada jogada era um prato de comida a ser disputado por quem há muito faminto.
Mas, ontem, não. Ontem o Galo foi o time pequeno de que falava Fabrício.
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Culpar Dorival? Não. Ele não escalou o time para jogar na retranca, assegurando a vantagem. Escalou os jogadores que vinham atuando na frente, e jogando bem. Não pode contar com Berola e sua correria desembestada. Não contou com Daniel Carvalho, que até agora não conseguiu explicar a que veio e ontem, mais uma vez, e curiosamente, nem no banco ficou.
Mas, quem mais poderia ser escalado na frente? Wesley? Leleu, que até entrou e ... valeu pela batalha.
No meio, t[inhamos, exceto Daniel Carvalho, os melhores e mais agressivos jogadores. Richarlyson, há muito sem continuidade de jogos, era uma opção, mas, nem de longe, mais agressivo que os que estavam em campo.
Então, se a escalação não mostra um desejo de se acovardar, pode ter havido alguma orientação ou ordem, para que o time se fechasse?
Embora tudo seja possível, não creio que Dorival determinasse isso a seus comandados. Não é muito o perfil dele.
E não me atrevo nem mesmo a crer que ele tenha ido para o jogo para jogar no contra-ataque. Porque para isso, o time teria de jogar de modo diferente, sem dar chutões e tocando mais a bola no meio.
Não fazendo ligação direta.
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Dos jogadores, poderia ter saído a opção por jogar mais recuado, mais fechado. Não acredito.
Jogadores podem até começar a ficar mais lá atrás, ou fazendo chutão para o alto, no bumba meu boi. Mas aí o técnico iria ter de intervir. E chamar a atenção do plantel.
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Na verdade, embora até achasse que o juiz pode ter enervado o nosso time, invertendo algumas faltas, em especial no início do segundo tempo. Deixando de dar cartão a Leandro Guerreiro, no primeiro tempo, e no jogador que quase quebrou em um carrinho no ínicio do jogo, nosso lateral, é preciso reconhecer que fez vista grossa a uma entrada de Bernard.
Também não há como ficar chorando o gol que Magno Alves perdeu por querer enfeitar, driblando o goleiro, no momento em que já estava desequilibrando e saindo para o lado direito, onde já havia correndo com ele, um defensor do Cruzeiro.
Se quem não faz gol, toma, outra máxima que estatisticamente é 100% verdadeira, no minuto seguinte, Serginho deixou de perseguir a Wallison, e a defesa do Galo falhou.
Magno Alves deveria sim, ter mais vontade e enfeitar, cobrindo com um toque de classe ao goleiro cruzeirense, que já saía do gol.
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Mas, tenho de reconhecer, jogamos atrás, como time pequeno, porque o Cruzeiro nos prensou. Avançou, correu, como se fosse ele que queria o prato de comida do jogo de ontem. Não nos deu espaços. Não deixou que saíssemos tocando a bola, adiantando a marcação. E fazendo um abafa que, atleticanos como eu, devem ter ficado o tempo todo rezando para que o tempo passasse e a sorte estivesse de nosso lado. Para compensar o futebol, que estava do lado de lá.
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Ganhou quem fez por merecer ao longo de todo o campeonato e, em especial, na partida realmente decisiva, de ontem: o Cruzeiro.
E apenas duas observações.
Uma para mostrar como as organizadas mais atrapalham que ajudam aos times para que dizem torcer: afinal, lá pelos 20 minutos do segundo tempo, a torcida azul pedia raça a seus jogadores. Raça a quem aprontava a correria que ocupava todos os milimetros do campo. Por pouco não enervando o time em campo.
Segunda para dizer que não vou dar os parabéns aos cruzeirenses, embora merecessem, por um motivo simplório: afinal, para quem sonhava com Libertadores; para quem era o Barcelona das Américas, para quem tinha tanto a ganhar, cumprimentá-los pela conquista apenas do campeonatozinho rural que eles ganharam é até sacanagem.
Ah! se for assim mesmo, então parabéns!!!