quinta-feira, 19 de maio de 2011

Salada de pitacos

Recorde de entrada de recursos externos em nosso país, nos primeiros treze dias de maio, não representa nenhuma novidade. Afinal, os juros básicos da economia subiram e mantêm-se no mais alto nível de remuneração real para o capital financeiro no mundo.
A par disso, no início do mês, por força de medidas de caráter mais fiscal, elevação do IOF, etc., o dólar experimentou uma pequena valorização. Com isso, também os exportadores e todos os que têm/tinham recursos lá fora irão aproveitar a oportunidade para internalizar esse valor.
Aliado ao movimento de entrada financeira, há ainda a questão de a economia brasileira, diferente das economias mais maduras como as européias - em crise e sem oportunidades lucrativas- , ou como a economia americana, demorando a reagir à enxurrada de estímulos fiscais e monetários, é uma economia com amplas oportunidades de investimento e lucros. Desde a área de infra-estrutura, como portos, aeroportos, construção de estradas, até as oportunidades abertas por força da aproximação, cada vez mais sentida e preocupante, dos eventos que patrocinaremos a partir de 2013. Copa das Confederações, o tira-gosto para a Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas, tudo abre oportunidades para hotelaria, empresas de transportes, treinamento e qualificação de mão-de-obra, etc.
Ou seja: para conter o câmbio, se este for o objetivo real (ainda paira no ar a incerteza de o governo estar aproveitando do real valorizado e das importações para segurar a elevação de preços), o governo deverá, ao final, chegar até mesmo a criação de instrumentos como a quarentena ou controle de fluxos, em minha opinião.
***
Assédios sexuais são tão antigos como a história da civilização humana. Novidade é a forma de reação da sociedade à essa prática, antes desaprovada, mas de certa forma impune.
Agora, não. A sociedade ficou mais civilizada. Ou não? Afinal, na mesma intensidade em que a sociedade mostra indignação pelo comportamento que desrespeita a vontade e liberdade e autonomia da mulher, aumentam os casos noticiados de violência contra as mulheres, em geral, praticada por ex-parceiros.
Extravagante sociedade essa nossa.
Mas, se olhado apenas do ponto de vista da recriminação, constata-se, sim, uma evolução. Que é muito mais explicíta se ao assédio sexual se acopla a questão do assédio moral.
Os casos recentes falam por si só, embora sempre é bom lembrar que esse é um típico evento capaz de suscitar cautelas. Afinal, já que se reconhece ou admite que ninguém racional irá cometer esse tipo de comportamento condenável em público, a questão pode dar margem a dúvidas quanto à sua veracidade.
Refiro-me em especial ao caso do diretor gerente do FMI, possível vítima de um complô para alijá-lo da disputa presidencial na França, onde se destacava como franco favorito.
Entre ser o vilão ou a vítima, há muito a se investigar, antes de levá-lo a uma condenação.
***
Filhos fora do casamento são outra questão corriqueira, embora desagradáveis. Não os filhos, que não têm qualquer culpa. Nem a sua concepção, só justificada pelo fato exatamente de ser um ato prazeiroso.
Desagradável é a situação para o parceiro, para a família e amigos do casal cujas atitudes geraram esse tipo de consequências.
E não digo isso pensando apenas no adúltero, ou sua versão feminina. Mesmo para os solteiros, a barra é pesada, e tão desagradável quanto.
Mas, se desagradável a situação, pior, muitas vezes pior, é não reconhecer ou admitir o filho. É não assumir a paternidade ou maternidade, por mais irresponsável que ela possa ser.
E, sem querer reabrir aqui uma discussão sobre o tema do aborto, já que nesse caso acho que a opinião mais coerente, recentemente manifesta, é a de Camille Paglia (que disse ser favorável ao aborto, tendo em vista reconhecer o direito da mulher à autonomia total sobre seu corpo, embora admitindo tratar-se de um assassinato), há que se reconhecer que, em especial depois do nascimento da criança, o não reconhecimento é, no mínimo, uma demonstração cabal de falta de caráter, da pior espécie. Tipica de covardes merecedores de nossa total repulsa.
Assim, parabéns a Neymar, a Schwarzenegger, Ronaldo Nazário e a tantos outros que, mesmo com a possibilidade de perdas pessoais, reconheceram sua responsabilidade.
***
Aumentar patrimônio pessoal é tão comum, para aqueles que ocupam ou ocuparam cargos públicos, em geral de alto escalão, que o Ministro Palocci se defendeu alegando que a evolução experimentada por suas posses é exatamente análoga à do patrimônio de ex-funcionários do governo FHC. Parece, inclusive, ter citado Malan, Armínio Fraga, Maílson da Nóbrega.
Ora, se há na sociedade um mal-estar e uma insatisfação muito grande gerada pelo enriquecimento explícito desses nomes citados, sempre associados - mesmo que sem comprovação - à venda de informações privilegiadas e/ou a influência sobre decisões objetáveis em que tiveram participação, então o Ministro explicou tudo, sem explicar nada.
E merece, como todos os outros nomes por ele trazidos à luz, ser  tratado pela maioria da população, essa gente diferenciada, com cautela, desconfiança e a mesma distância com que tratamos aqueles cuja conduta desperta sempre suspeição.
Fora isso, a desculpa dada me fez lembrar meu avô e meu tio, quem para se defender usa o comportamento, nem sempre correto de tantos outros, apenas acusa a tantos outros. E a si mesmo.

Nenhum comentário: