Recorde de entrada de recursos externos em nosso país, nos primeiros treze dias de maio, não representa nenhuma novidade. Afinal, os juros básicos da economia subiram e mantêm-se no mais alto nível de remuneração real para o capital financeiro no mundo.
A par disso, no início do mês, por força de medidas de caráter mais fiscal, elevação do IOF, etc., o dólar experimentou uma pequena valorização. Com isso, também os exportadores e todos os que têm/tinham recursos lá fora irão aproveitar a oportunidade para internalizar esse valor.
Aliado ao movimento de entrada financeira, há ainda a questão de a economia brasileira, diferente das economias mais maduras como as européias - em crise e sem oportunidades lucrativas- , ou como a economia americana, demorando a reagir à enxurrada de estímulos fiscais e monetários, é uma economia com amplas oportunidades de investimento e lucros. Desde a área de infra-estrutura, como portos, aeroportos, construção de estradas, até as oportunidades abertas por força da aproximação, cada vez mais sentida e preocupante, dos eventos que patrocinaremos a partir de 2013. Copa das Confederações, o tira-gosto para a Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas, tudo abre oportunidades para hotelaria, empresas de transportes, treinamento e qualificação de mão-de-obra, etc.
Ou seja: para conter o câmbio, se este for o objetivo real (ainda paira no ar a incerteza de o governo estar aproveitando do real valorizado e das importações para segurar a elevação de preços), o governo deverá, ao final, chegar até mesmo a criação de instrumentos como a quarentena ou controle de fluxos, em minha opinião.
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Assédios sexuais são tão antigos como a história da civilização humana. Novidade é a forma de reação da sociedade à essa prática, antes desaprovada, mas de certa forma impune.
Agora, não. A sociedade ficou mais civilizada. Ou não? Afinal, na mesma intensidade em que a sociedade mostra indignação pelo comportamento que desrespeita a vontade e liberdade e autonomia da mulher, aumentam os casos noticiados de violência contra as mulheres, em geral, praticada por ex-parceiros.
Extravagante sociedade essa nossa.
Mas, se olhado apenas do ponto de vista da recriminação, constata-se, sim, uma evolução. Que é muito mais explicíta se ao assédio sexual se acopla a questão do assédio moral.
Os casos recentes falam por si só, embora sempre é bom lembrar que esse é um típico evento capaz de suscitar cautelas. Afinal, já que se reconhece ou admite que ninguém racional irá cometer esse tipo de comportamento condenável em público, a questão pode dar margem a dúvidas quanto à sua veracidade.
Refiro-me em especial ao caso do diretor gerente do FMI, possível vítima de um complô para alijá-lo da disputa presidencial na França, onde se destacava como franco favorito.
Entre ser o vilão ou a vítima, há muito a se investigar, antes de levá-lo a uma condenação.
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Filhos fora do casamento são outra questão corriqueira, embora desagradáveis. Não os filhos, que não têm qualquer culpa. Nem a sua concepção, só justificada pelo fato exatamente de ser um ato prazeiroso.
Desagradável é a situação para o parceiro, para a família e amigos do casal cujas atitudes geraram esse tipo de consequências.
E não digo isso pensando apenas no adúltero, ou sua versão feminina. Mesmo para os solteiros, a barra é pesada, e tão desagradável quanto.
Mas, se desagradável a situação, pior, muitas vezes pior, é não reconhecer ou admitir o filho. É não assumir a paternidade ou maternidade, por mais irresponsável que ela possa ser.
E, sem querer reabrir aqui uma discussão sobre o tema do aborto, já que nesse caso acho que a opinião mais coerente, recentemente manifesta, é a de Camille Paglia (que disse ser favorável ao aborto, tendo em vista reconhecer o direito da mulher à autonomia total sobre seu corpo, embora admitindo tratar-se de um assassinato), há que se reconhecer que, em especial depois do nascimento da criança, o não reconhecimento é, no mínimo, uma demonstração cabal de falta de caráter, da pior espécie. Tipica de covardes merecedores de nossa total repulsa.
Assim, parabéns a Neymar, a Schwarzenegger, Ronaldo Nazário e a tantos outros que, mesmo com a possibilidade de perdas pessoais, reconheceram sua responsabilidade.
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Aumentar patrimônio pessoal é tão comum, para aqueles que ocupam ou ocuparam cargos públicos, em geral de alto escalão, que o Ministro Palocci se defendeu alegando que a evolução experimentada por suas posses é exatamente análoga à do patrimônio de ex-funcionários do governo FHC. Parece, inclusive, ter citado Malan, Armínio Fraga, Maílson da Nóbrega.
Ora, se há na sociedade um mal-estar e uma insatisfação muito grande gerada pelo enriquecimento explícito desses nomes citados, sempre associados - mesmo que sem comprovação - à venda de informações privilegiadas e/ou a influência sobre decisões objetáveis em que tiveram participação, então o Ministro explicou tudo, sem explicar nada.
E merece, como todos os outros nomes por ele trazidos à luz, ser tratado pela maioria da população, essa gente diferenciada, com cautela, desconfiança e a mesma distância com que tratamos aqueles cuja conduta desperta sempre suspeição.
Fora isso, a desculpa dada me fez lembrar meu avô e meu tio, quem para se defender usa o comportamento, nem sempre correto de tantos outros, apenas acusa a tantos outros. E a si mesmo.
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