sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cartilhas do MEC: kit gay e o português mal tratado

Até agora evitei dar qualquer pitaco sobre dois assuntos polêmicos, que têm chamado a atenção e despertado as mais variadas reações, algumas até iradas, da midia e da opinião pública: a cartilha contra a homofobia e o livro relativo a conteúdo da antiga matéria de Português distribuído pelo MEC ..... com erros de português.
Minha omissão pode até ter levantado algum tipo de suspeitas ou dúvidas daqueles poucos amigos que se dão ao trabalho de virem visitar esse blog.
Mas, há uma explicação: não queria comentar a respeito de algo que desconheço. E pior, que é extremamente polêmico.
Se hoje quebro meu silêncio, não é por ter tido a oportunidade de ter acesso e conhecer o conteúdo de nenhum dos dois materiais. Dessa forma, deveria continuar sem dar meu pitaco.
Mas houve uma alteração. Lendo ontem a coluna do professor Pasquale Cipro Neto, no Caderno Cotidiano da Folha, tive oportunidade de obter alguma informação mais isenta, mesmo que parcial, do conteúdo do material do livro que tanta celeuma tem causado.
O professor chegou inclusive a transcrever um trecho do livro, talvez o que esteja provocando tanta discussão, a maior parte das vezes, como toda a discussão, sem que as partes tenham lido o conteúdo, saibam o que está em discussão e adotem uma postura mais equilibrada.
Reconheço a dificuldade de adotar tal postura, que exige até mesmo um certo distanciamento, quando a questão pode ter contornos ou permitir que se dê a ela contornos ideológicos, políticos ou politiqueiros.
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Direto ao ponto. Pelo trecho transcrito pelo Prof. Pasquale, não vi nada que desabone o material distribuído pelo MEC, exceto uma questão que poderia ser classificada, como o próprio professor o fez, de mal gosto, ou da utilização de argumento de extrema simploriedade, bem mais que simplicidade.
Refiro-me ao trecho em que a cartilha se pergunta se falar errado, sem usar a concordância básica entre plural e singular, é errado. E a própria cartilha se apressa em responder que não. Afinal, afirmo eu, cada um pode falar como bem entender, especialmente se for entendido em sua mensagem e alcançar seu fim. Parafraseando um Zé Toupeira qualquer, "cada um com seu cada qual".
Mas o livro prossegue afirmando que essa forma de falar, por mais que possa ser utilizada, não é a forma correta ou culta, e que pode trazer algum tipo de preconceito linguístico de alguns ouvintes, em relação àquele sujeito que a verbalizou.
Ora, não vejo nenhum mal em usar frases erradas, para mostrar o erro, embora a moderna psicopedagogia recomende, creio eu, que as lições devem ser sempre passadas pelo que têm de carga ou conteúdo positivo, e não pelo lado negativo.
Ou seja, mostrar o errado, mesmo que afirmando que é errado, tenderia a levar ao aprendiz a gravar o errado, mais facilmente que a forma correta, introduzida posteriormente.
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Mas, não são poucos os livros, os manuais, as referências que, para ensinarem qualquer conteúdo, assinalam o modo errado de fazer. No caso dos manuais, até com figuras, embora todas marcadas com um X vermelho, para mostrar não ser a postura ou prática ou utilização correta.
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Conforme o Professor, a livro traz até exercícios para que os alunos corrijam as frases com afirmações de português incorreto, para a norma culta, o que apenas repetiria milhares de questões utilizadas até mesmo em provas de vestibular de Universidades reconhecidas como centros de excelência.
E, de quebra, reafirma o erro e induz à adoção, pelo exercício e repetição, do acerto.
Logo, se o problema que tem despertado tanta comoção é só falar que OS livro.... é bonito, ou o que o valha, é bom lembrar que a própria Globo, onde a matéria teve tanta repercussão é cheia de erros de português.
Basta 15 minutos de qualquer Jornal da Globo ou Jornal Nacional, para sermos tomados por arrepios, ao ouvir os papas do telejornal da tv brasileira falando frases com mim e verbo no infinitivo; recorde com pronúncia errada, falando a primeira sílaba como tônica, e não a segunda, como é o correto, e por aí afora.
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No mais, concordo com o professor colunista, de que a discussão está mal posta, trata-se de discutir questão de linguística em um livro dedicado a quem não tem necessidade, nem conhecimento ou maturidade, para participar desse tipo de debate.
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Quanto ao Kit gay, pelos poucos filmes que vi passarem no Domingo Espetacular da Record, não gostei, nem concordei. Aliás, ao contrário, como um homossexual assumido declarou na reportagem, esse tipo de material mais incentiva que mitiga o preconceito homofóbico.
Em minha opinião, é sim dever da escola ensinar que o respeito deve ser sempre a regra maior de conduta em relação a quem tem comportamento homossexual. Mas, daí a mostrar como se fosse a coisa mais natural do mundo, e até divertida e quem sabe prazeirosa a adoção de postura e comportamentos como os que vi no filme, acho que podem sim, para mentalidades que estão em formação, ser algo que pode ser excessivo. Não que vá, necessariamente induzir ou incitar a adoção do comportamento. Mas que pode trazer algum tipo de confusão, temo que sim.
Mas, a primeira grande questão é, sem dúvida, verificar a veracidade dos filmes mostrados e da afirmação de que seriam parte do material do kit, já que os defensores do material têm alegado que alguns filmes não são parte da campanha.
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No mais, pior que tudo isso, é o Kit ter sido usado para que o Estado, que se deseja e se define como  laico, transformar-se em alvo de grande pressão de interesses religiosos que desejam impor suas opiniões. E, ainda pior, ter se transformado em arma de negociação, ou chantagem, para pressionar o governo em uma negociação para não cobrar de um ministro, explicações que sejam convincentes no sentido de provarem de sua inocência em relação à suspeição de ter se aproveitado de informações privilegiadas obtidas, ou até pior, de tráfico de influência em função do cargo que ocupa.
Pelo tipo de objeto de negociação, se percebe o cheiro fétido do que, e quem está negociando.

2 comentários:

juliano VM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
juliano VM disse...

Vejo toda essa poliemica, como estratégia, como foi no caso da votação do Referendo em 2005, justo no escandalo do mensalão... tudo isso é para desviar o foco do caso Palocci..