terça-feira, 23 de agosto de 2011

Economia Brasileira e suas vulnerabilidades

Em comemoração ao dia do Economista, no último 13 de agosto, o Corecon, o Sindicato e a Associação de Economistas de Minas Gerais, reunidos pela primeira vez com todos os Centros e Institutos e Cursos de Ciências Econômicas em funcionamento em Belo Horizonte, estão realizando uma série extensa de eventos da maior qualidade.
Ontem à noite, data escolhida para comemorar a data de 60 anos da regulamentação da profissão no Brasil, o evento se realizou  no auditório do BDMG (já tinha se realizado um debate na parte da manhã, na PUC), contando com a presença de economistas, professores de Economia, estudantes e outros interessados, além de autoridades como a prof. Marilena Chaves, presidente da Fundação João Pinheiro, de Afonso Maria Rocha, diretor Superintendente do SEBRAE-MG, e de representantes das Associações e Conselhos da categoria, em especial o presidente do Corecon-MG, o Prof. Dr. Cândido Luiz de Lima Fernandes, o Candinho.
***
Para debater o tema "Vulnerabilidades Macroeconômicas da Economia Brasileira", o prof. Dr. Antônio Corrêa de Lacerda e o prof. Alexandre Comin, diretor da área industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Palestras ricas que serviram para despertar não só o interesse dos presentes e dos alunos de Economia, mas para ratificar e dar mais peso a algumas idéias que os economistas não vinculados ao mercado (leia-se sistema financeiro) já vêm martelando há algum tempo.
Do prof. Corrêa de Lacerda, a crítica à idéia de se combater a inflação - provocada especialmente por elevação dos preços das commodities no mercado internacional e alguma elevação de demanda interna, inegável - com elevação de juros.
Dado o diferencial de taxas de juros reais entre nosso país e o resto do mundo, essa política tem valorizado excessivamente nossa moeda - enquanto uma cesta das moedas mais importantes do mundo valorizou-se em relação ao dólar passando de 100 para 110, o real passou para 140 - e provocado um processo de desindustrialização preocupante, por atípico para um parque históricamente tão novo, tão recente, quanto o nosso.
A participação de nossa indústria no PIB decaiu de 27 para 15%, mostrando o sucateamento precoce de nossa estrutura industrial.
Pior que isso, ainda, é o resultado da balança comercial, que vem se deteriorando, e que deve se agravar mais ainda, caso a recessão mundial que se prenuncia no horizonte, venha derrubar o preço das commodities, que constitui hoje nosso principal produto de exportação.
Quanto à conta de transações correntes, o resultado é bastante preocupante, a médio e longo prazo. No curto prazo, a manutenção de reservas de cerca de 350 bilhões nos permite certa tranquilidade.
Mas, o problema mais sério é o impacto de tal taxa de juros básica, sobre as contas públicas. O gasto com transferências, especialmente o pagamento de juros, faz com que todo nosso sacrifício de geração de superávits primários seja engolido e revertido, transformando-se em preocupante e crescente déficit nominal.
Só para dar uma idéia da dimensão do problema: de superávits de 3 ou 3,5% ao ano, o resultado final apresenta-se no nível de um déficit de mais de 2%.
Traduzindo em português claro, o mesmo utilizado pelo palestrante: significa que o grosso da população pagou impostos, e esses foram transferidos para remunerar e assegurar a tranquilidade dos ganhos da minoria que aplica em títulos públicos, segundo Lacerda, nós incluídos, como minoritários.
O dado é arrasador: a classe média, vários amigos ou conhecidos que sempre criticaram programas de assistencialismo da era Lula, por representarem estímulo ao ócio, além de um elevado gasto que suga nosso imposto, nosso suor e o sangue fruto de nosso trabalho, reclama por um valor que, em 2010 alcançou a cifra de 13 bilhões de reais.
Pois bem, a bolsa banqueiro, ou a bolsa mercado financeiro e sua histérica e equivocada defesa da elevação da taxa de juros pagou juros de mais de 220 bilhões no ano passado.
Esse é o Brasil. E não me venham dizer, como Lula dizia e criticavam, que "eu não sabia..."
***
Pois, nunca antes na história de nosso país, banqueiros ganharam tanto, embora justiça seja feita e tenhamos que reconhecer, também os menos afortunados tiveram ganhos reais provenientes dessas bolsas que lhes foram destinadas.
***
Da segunda palestra, a preocupação crescente com a pequena importância que nossas exportações de bens manufaturados vem apresentando, resultando em uma reprimarização de nossa balança comercial. Tudo, mais uma vez, fruto de nossa elevada taxa de juros e do brutal influxo de capitais que ela acarreta.
***
Ou seja: enquanto estivermos dominados pela lógica do rentista e não do empresário que produz, estaremos no pior dos mundos.
A esse respeito, a leitura de Carta Capital dessa semana, e a conversa-entrevista com os professores Belluzzo e Delfim Netto, é imperdível. E recomendo a todos que me acessam.
O endereço: www.cartacapital.com.br




Nenhum comentário: