segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Previsões econômicas: tentando prever o comportamento da economia brasileira

Enquanto ficamos aguardando, debaixo de chuvas torrenciais, o encerramento do movimento das compras de Natal, trazendo alguma notícia boa para as estatísticas das vendas, do comércio e até capazes de estimularem a indústria, e enquanto aguardamos o anúncio dos índices de preços, dos indíces de crescimento da produção e do emprego, etc., nada como falar um pouco das previsões para 2012.
Previsões que, em economia, não são meros palpites ou visões do além, para alguns iluminados.
Porque, em economia, as previsões, em especial feitas pelos empresários e industriais se baseia em contratos. E, a verificação do que acontece com a carteira de contratos de encomendas é que serve de base para que possam ser tomadas decisões, e criadas as expectativas econômicas que irão guiar o humor dos agentes responsáveis pelas decisões cruciais: de investir e de produzir.
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Recordemos ligeiramente os ensinamentos de Keynes. Duas decisões no mundo da economia monetária da produção são cruciais, pois delas originam-se todas as outras: a decisão de investir ou seja criar as condições de ampliar a capacidade produtiva, expandindo o emprego e a renda; e a decisão de, em tendo investido e já existindo capacidade, a decisão de utilizar a capacidade produtiva, para gerar a produção.
Ambas são cruciais, no sentido especial,  de não serem passíveis de serem canceladas. Ou, mesmo que o sejam, não fazem nunca mais o mundo voltar a ser como era antes. Marcam de forma irremediável o mundo, para o bem e para o mal.
Mas, ambas as decisões implicam em decisões que os empresários capitalistas devem tomar, esperando que o que imaginavam vá acontecer, ou seja, são decisões baseadas no que os empresários esperam e, como tal, meras expectativas.
Se as expectativas são sombrias ou pessimistas, não vale a pena que se corra o risco de usar a moeda ou o dinheiro para comprar máquinas ou equipamentos ou bens de produção. Melhor reter a moeda e ficar aguardando que o panorama se torne mais otimista, na frente.
Enquanto isso, entre a moeda e papéis, as decisões empresariais ficam oscilando, em apostas contra o futuro, e em apostas contra o comportamento das taxas de juros e suas alterações.
A mesma idéia também vale para a compra ou contratação de insumos, bens intermediários, força de trabalho, para aproveitar as máquinas já existentes de forma a não deixá-las ociosas.
E a razão é simples: qualquer pagamento feito para comprar ou contratar esses bens, insumos ou trabalhadores, significa gastos antecipados, que deverão ser recuperados por vendas. Qualquer venda, desde que cubra, no mínimo os gastos efetuados por antecipação.
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Num mundo de incertezas, muitas vezes, os empresários tentam se cercar de condições de segurança: contratos. E, a partir da celebração de contratos, estabelecem seus programas de produção, compras, etc.
Claro, contratos podem ser descumpridos, mas aí entra a questão da moeda, mais uma vez permitindo por sua capacidade de servir de unidade de conta, ou representação abstrata da riqueza (e do valor?), que o contrato traga as penalidades para não seu cumprimento. Todas penalidades estipuladas em moeda, dinheiro, de forma a cobrir as perdas incorridas pela parte que foi lesada.
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Também são importantes os contratos, como mecanismos de coordenação da produção de mercadorias que integram vários tipos de produtos e insumos.
Nesse caso, indicam quando e quanto, de que tipo e que valor de bens terão de ser entregues, por quem e onde. E amarram as questões que causam receio e ansiedade nos empresários que desejam produzir.
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Ora, produção de aço, minério de ferro, soja, commodities em geral, tecido, roupas e confecções, tudo passa por celebração de contratos, em alguns casos para um, dois anos de antecipação.
Então, quando se tenta uma previsão para um ano qualquer, na esfera industrial, o que os empresários informam nada mais é que a situação da carteira de contratos por eles mantidas.
E, como é claro, em um mundo em crise, as carteiras de encomendas se reduzem. E, com carteiras reduzidas, os empresários criam uma atmosfera de pessimismo, cortando produção e gastos relacionados a essa atividade.
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No Brasil, para compensar a atmosfera de pessimismo, o governo pratica uma política claramente destinada a tentar manter o nível de gastos, mesmo que por meio do financiamento do consumo das classes trabalhadores.
Mas, ter oferta de crédito e de dinheiro não assegura, necessariamente, que a população e os trabalhadores vão fazer uso desses recursos. Que os nível de consumo vá subir e permitir aquecer vendas, encomendas de reposição de estoques, compras e produção da indústria, geração de emprego, renda e produção.
E, a oferta de dinheiro não basta, porque os empregados têm que acreditar que os empresários não paralisarão a produção, deixandos na rua endividados.
E, mesmo que acreditassem nessa possibilidade, os consumidores têm que ter ainda insatisfeitas suas necessidades de consumo, ou pela incorporação de novos bens ao estoque dos bens possuídos, ou por reposição daqueles que se desgastaram.
A grande questão, de meu ponto de vista é: será que, depois de tanto consumo permitido pela política de crescimento dos últimos anos do governo Lula, na produção, emprego e renda, ainda há muitos bens a serem incorporados à riqueza material de parcela significativa das famílias brasileiras?
Isso se daria ainda nas chamadas familias de classes C e D, recém incorporadas ao mundo do consumo, ou teria que atingir ainda famílias de camadas de renda mais reduzidas, intensificando ainda mais e de forma mais aguda o processo de desconcentração de renda em nosso país?
No caso de famílias de classes C e D, que bens seriam esses: bens mais sofisticados ou bens de indústrias tradicionais e consumo geral?
São perguntas que ficam no ar, e merecem mais pesquisas, certamente.
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O que se sabe é que o governo tudo fará para continuar estimulando o consumo interno, como forma de alavancar o crescimento econômico, superando as dificuldades vindas da situação de crise externa.
E, embora muitos critiquem a forma de comportamento do governo, via crédito e estímulo ao consumo, é bom lembrar que esse crédito tem também a capacidade de elevar a demanda agregada e estimular os empresários a decidirem por produzir e, inclusive, investir.
Para os que argumentam que o melhor seria conceder créditos para obras em infra-estrutura, tão necessárias em nosso país, a questão é a seguinte: se os grupos empresariais já não estão otimistas para produzirem ou investirem em bens que têm alguma demanda assegurada, porque razão iriam querer se aventurar em investimentos em infra-estrutura? Especialmente se lembrarmos que, investimentos em infra-estrutura demandam recursos muito maiores, mais vultosos. Tecnologias muito mais sofisticadas e caras. E, dada a realidade de nosso país, são obras que deverão ser feitas em tempos reduzidos, em especial se visando a Copa de 2014 ou as Olimpíadas em 2016.
E, por serem de uso público, esse tipo de obras públicas deverá sofrer uma regulação muito rigorosa, inclusive quanto à formação de preços ou tarifas, o que amplia a incerteza ou insegurança do empresário ou empreededor investidor.
Ou isso, ou a responsabilidade pela criação dessas obras ficará a cargo do governo, ou das parcerias público e privadas, mecanismo de competência ainda não comprovada.
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Resta ao governo, em meu modo de ver, acertadamente, estimular o crediário e o gasto em consumo. Sem perder de vista que é necessário também destinar recursos e criar as condições necessárias para a realização dos gastos de infra-estrutura.
Assim, mesmo que a crise no exterior continue a causar estragos, a economia brasileira terá condições de manter um patamar razoável de crescimento, talvez abaixo de 5, mas seguramente superior aos 3,5%, que muitos prevêem.

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