quinta-feira, 12 de julho de 2012

No comando


Meu irmão me faz um interurbano
e pede dinheiro para ajudá-lo a pagar as contas
do mês que se esgota.

No sinal,
o menino maltrapilho se aproxima
e, vendo a janela
entre aberta e fechada
dá um salto em minha direção
e pede dinheiro para comprar leite
pede dinheiro para comprar pão
enquanto o semáforo me paralisa
e obriga-me a refletir sobre a realidade da miséria
inerte.

Minha mulher me pede dinheiro para as despesas
do açougue
do sacolão
do armazém
a empregada reclama o dinheiro da condução
e meus filhos me pedem dinheiro
neste caso,
para pagarem o cinema
o lanche
a  diversão

Meu colega de serviço deseja um empréstimo
mas nada pede
constrangido

Só o dinheiro nada me cobra
nada me pede 
apenas mantém-me cativo,
sem-cerimônia,
Subordinado a seu comando

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