Um amigo meu, frequentador dos bares do São Pedro e cliente assíduo das quintas-feiras do Jovem Bar, onde vai tomar uma cerveja gelada, jogar conversa fora, comer o melhor tropeiro do São Pedro (em minha humilde opinião) e ouvir música da melhor qualidade, insiste em criticar a Lula e ao PT.
Em primeiro lugar, forçoso é reconhecer que, salvo engano, seu voto foi para Lula em 2002 (ao contrário de meu voto).
Desiludiu-se, como uma parcela importante de eleitores de Lula, quando começaram a circular as primeiras denúncias relativas ao mensalão.
Dali para cá, foi tomado por verdadeiro horror a seu antigo candidato, chegando, em minha opinião a demonizá-lo.
Mas, não essa postagem não é para falar de meu amigo. Uso-o como exemplo, uma vez que, ao ler a postagem de ontem, e ao referir-se à política econômica do PT, entre outras coisas ele comentou que Lula não teria tido peito para fazer uma reforma tributária geral o que, em sua opinião é um dos problemas que onera o empresariado e a população e obriga a políticas como as tratadas ontem.
Em acréscimo, argumentou que se Lula eliminou a divida externa, conforme apregoado, "no entanto
aumentou exponencialmente a interna, e isso somennte gera problemas como
aumento de impostos", o que constitui obstáculo ao crescimento sustentado.
***
E não é só ele que tem essa opinião, que merece ser, também, melhor esclarecida.
Na verdade, em função de ventos muito favoráveis no mercado internacional, nos primeiros anos da década de 2000, com o crescimento de China, Índia, e a expansão da União Européia e dos Estados Unidos, houve uma demanda crescente em todo o mundo por alimentos e matérias primas naturais, as ditas commodities, produtos cuja dotação o Brasil foi bastante favorecido.
Nesse período, vendemos para a China, em especial, minério de ferro e grãos, entre outras commodities, em volume recorde, e a preços muito favoráveis, o que permitiu alcançarmos superávits comerciais muito significativos.
Esse superávit, somado à entrada de capitais externos em nossa economia, atraídos por uma taxa de juros sempre mantida em níveis estratosféricos desde o lançamento do Plano Real, exatamente no intuito de tornar a moeda americana abundante e barata, teve como não poderia deixar de ser, uma série de consequências para nossa economia.
Em primeiro lugar, permitiu que acumulássemos reservas internacionais, o que possibilitou-nos também liquidar parte da nossa dívida externa, ao menos aquela de responsabilidade do setor público. ATENÇÃO: NÃO FOI A DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA QUE FOI ELIMINADA, MAS APENAS A PARCELA DO SETOR PÚBLICO. As empresas nacionais continuaram e continuam tomando recursos emprestados lá fora, até para aproveitarem dos juros mais baratos lá fora que em nosso país.
À pergunta de porque a necessidade de manutenção de juros tão elevados e de se tentar atrair capitais externos nos volumes em que para cá fluíram, a resposta fácil dos analistas e economistas de mercado era sempre a mesma: manter o dólar desvalorizado, para baratear produtos importados, necessários ao processo industrial, e manter a inflação sob controle.
Quanto à inflação o controle se daria por dois caminhos: reduzir a demanda de crédito e, em consequência a demanda por bens, mantendo os preços acomodados e, por outra via, complementar a essa primeira, permitir o acesso a produtos importados, em geral mais baratos e de melhor qualidade. Diga-se que esse último argumento, dizia-se, obrigaria a indústria nacional a se tornar mais competitiva, caso não quebrasse antes.
***
Ora, a verdadeira resposta é que os juros foram mantidos elevados desnecessariamente, apenas para agradar os banqueiros e os magnatas da aristocracia financeira - nacional e internacional, que ganhavam rios de dinheiros com suas aplicações em nosso país.
Foram esses interesses dos mercados financeiros, em especial, que impediram nossos juros de caírem para níveis civilizados, sendo a inflação uma desculpa esfarrapada e mal ajambrada para acobertar seus interessea mais espúrios.
E lembre-se que Henrique Meirelles, ex-banqueiro do Bank of Boston, é que comandava a política monetária e a definição dos patamares de juros: a raposa tomando conta do galinheiro para tratar dos interesses das outras raposas suas amigas.
E só para deixar bem fresca a memória de quantos a este lerem: naquela oportunidade parecia que o sistema de metas também havia sido abandonado, uma vez que a meta alvo não estava sendo atingida. Mas ninguém falou nada, já que a inflação estava dentro do intervalo tratado ontem, apenas que na porção dos valores abaixo da média.
OK! admitamos: a inflação estava abaixo da meta mas isso era ótimo para todos nós. Exceto pelo emprego que não crescia, o desemprego que só dava sinais de se elevar, e o crescimento que alcançava parcos 2 pontos percentuais em média.
***
Por outro lado, com a Selic muito elevada, escandalosamente elevada, e com os títulos públicos relativos à dívida pública pagando os juros da Selic, nossa dívida interna de fato teve de se elevar, de forma exponencial.
Mas isso não foi culpa de Lula, sejamos justos. Foi culpa de toda a política que, desde o Plano Real, o final do governo Itamar e início e toda a extensão do governo de Fernando Henrique, e depois do próprio prirmeiro mandato de Lula, foi adotada em nosso país, sem que ninguém da imprensa, da Veja, dos conservadores de plantão reclamassem.
***
De fato, deveria ter sido feita a reforma tributária, que permitira ao Estado se ver livre de tantos problemas que fazem com que ele tenha que aumentar impostos de um lado, para elevar suas receitas, algumas delas apenas para pagar os juros da dívida. Dívida que se expande sempre que os juros, em valores e não em percentuais, se tornem maiores que o resultado da arrecadação de impostos deduzidos dos gastos públicos, por pior que seja a qualidade do gasto público em nosso país.
Só para dar exemplos com dados concretos. O BC divulgou ontem nota sobre a política fiscal que mostra que em dezembro, o setor público consolidado teve excesso de arrecadação sobre os gastos, de R$ 22,3 bilhões de reais. Em todo o ano, esse superávit primário, que é o nome dado a esse excesso arrecadado, alcançou a R$ 105 bilhões de reais, correspondendo a 2,38% do PIB.
Como o governo gastou muito, outra acusação sempre feita, e abriu mão de receitas de impostos, isentando IPI, etc. o superávit foi menor que o resultado alcançado em 2011 que foi de R$ 128,7 bilhões ou 3,11% do PIB.
A justificativa sempre dada para a essa extração de recursos da população para não gastar com bens e serviços em prol desses que pagam e do restante do povo, é que essa sobra deverá ser utilizada para pagar o valor dos juros da dívida resultado da aplicação da taxa Selic (para simplificar) sobre o saldo médio da dívida ao longo do ano.
Em 2012, apenas de juros foram gastos R$ 213,9 bilhões, ou 4,85% do PIB. Isso significa que poupamos e ainda assim não tivemos recursos para pagar a conta para a qual a poupança seria destinada.
Assinala-se que os juros foram menores que os pagos no ano anterior, o que revela a importância de os juros caírem, embora muita gente do mercado tivesse criticado a medida.
E ainda criticam alegando que isso trará de volta do dragão da inflação.
***
Então não foi Lula o responsável pela troca da dívida externa pela interna, como alguns emails que andam circulando comentam. Embora a política em curso - e bastante elogiada naquela oportunidade - é que tenha, de fato, proporcionado essa situação.
***
Como os juros superaram os valores do superávit primário, nossa dívida deverá crescer ainda mais, já que o resultado chamado de déficit nominal foi de R$ 108,9 bilhões, ou 2,47% do PIB.
Mas não se trata de que Dilma está elevando a dívida porque gasta mal. Apenas por que paga os juros aos banqueiros e empresários que aplicam em títulos do governo, inclusive empresários estrangeiros.
***
Por último só aproveitar para dizer que o anúncio do BC feito ontem, mostra que o governo central - União, BC e Previdência, geraram um superávit de 27,9 bilhões de reais em dezembro. Entretanto, os governos estaduais e municipais (chamados regionais) tiveram déficit (gastaram mais que o que arrecadaram) de 3,1 bilhão, enquanto as estatais apresentaram déficit de 2,6 bilhões de reais.
Isso exige que, ao invés de criticar os malabarismos feitos pelo ministro Mantega e sua equipe para o governo Dilma cumprir a meta a que se propôs de superávit primário, o que devemos fazer é conhecer melhor as contas públicas.
Porque se o governo federal do PT consegue cumprir sua proposta, mas os governos de estados e prefeituras, alguns de partidos de oposição não cumprem sua parte, sobra para o governo federal.
Dito mais claro, quanto mais os estados e municípios gastam, irresponsavelmente ou não, e quanto mais criam déficits, maior é o superávit que vai cair nas mãos do governo federal para ser realizado, para que as metas gerais sejam cumpridas.
***
Sem se analisar que partidos estão cumprindo mais ou menos as metas para eles estabelecidas, e porque, não dá para ficar acusando o governo federal de gastar mal e porcamente, nem o partido no poder, por acaso e sem meu voto, o PT.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Paisagem Urbana
Fora da época
As quaresmeiras roxas florescem
E dão um colorido novo e melancólico
Às ruas
Antecipadamente começam a compor a moldura
Dar formas à paisagem tranquilas dos bairros
Antes que o inferno da volta às aulas
Do fim das férias
E do trânsito intenso
Venham reivindicar o espaço
Que julgam ter direito de ocupar soberanos
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Uma longa análise econômica e política
Que a análise econômica não tem nada de científica, muitos já o disseram e muito já foi escrito a respeito.
Ainda no último domingo, foi Jânio de Freitas na Folha que tratou do assunto, para comentar o curioso, e completamente ilógico comportamento da turma da oposição ao governo brasileiro, capitaneados por esse arremedo de partido que é o PSDB.
Para o colunista da Folha, durante muito tempo a oposição criticou o governo petista, na versão Lula ou Dilma, em função da manutenção de juros escorchantes, responsáveis diretos pelo pífio desempenho de nossa economia.
Pois bem, bastou que o Ministro presidente do Banco Central tomasse a liderança do movimento que levou o Copom em agosto de 2011 a dar início à redução da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, para que a oposição começasse a criticar tal queda, alegando dessa feita, um pretenso abandono do sistema de metas de inflação.
Diga-se de passagem que o sistema de metas de inflação nem de longe fora ameaçado, tendo apenas o foco das ações da Autoridade Monetária se alterado parcialmente, deixando de considerar a taxa de juros como único instrumento, substituída por algumas medidas consideradas de supervisão prudencial - em linha, aliás, com o reforço à supervisão do sistema financeiro, que Basiléia chegou à conclusão que deveria ser perseguido depois dos epísódios da crise financeira de 2008 e seus desdobramentos.
***
E, só para constar, é bom que se recorde que o programa de metas inflacionárias prevê uma meta alvo, no caso brasileiro de 4,5% de inflação, que admite uma tolerância de variação de 2 pontos percentuais, tanto para cima quanto para baixo.
Assim, só para deixar clara a questão: o sistema diz que o BC tem o dever de manter a inflação no intervalo compreendido entre 2,5 e 6,5% e, qualquer valor no interior dessa faixa significa que o programa não apenas continua sendo adotado, mas que está sendo adotado COM ÊXITO.
Então, como entender que aqueles que antes criticavam a política de juros elevados foram os primeiros a criticarem a queda desses juros?
Deixando de lado a clara e inequívoca defesa que essa turma de analistas econômicos sempre adotou em prol da manutenção de interesses e benefícios de setores econômicos privilegiados e mais poderosos, como o sistema financeiro, prejudicado com a redução de seus ganhos e sem a bandeira de um suposto custo elevado do dinheiro como justificativa para manutenção de spreads estratosféricos, a conclusão é uma só. E aponta para o fato de que a dita oposição não tinha, como não tem é discurso.
E, sem discurso, bandeiras ou argumentos, atacava por um motivo a questão dos juros e, tão logo o governo agiu na direção que eles propugnavam, mudou o argumento, mudou a direção da crítica, apenas para continuarem marcando a oposição de ser do contra.
***
Assim, os juros altos que passaram a declinar a cada reunião do Copom, atingindo os níveis mais baixos de nossa história recente, tanto em termos nominais quanto reais (descontada a inflação), tudo dentro de um programa destinado a reduzir o custo do dinheiro, estimular o investimento e até o crediário, enfim, estimular corretamente a manutenção do crescimento da nossa economia e do emprego, viraram objeto de uma nova crítica.
***
Em termos de política fiscal deu-se o mesmo fenômeno. Visando estimular a demanda, razão primeira das decisões de produzir e de investir do empresariado, sempre de olho na elevação das vendas, de suas receitas e de sua rentabilidade, o governo resolveu reduzir a carga de tributos sobre alguns produtos, notadamente o IPI, prorrogando em várias oportunidades a duração dessa medida.
Sim, não há como negar: a redução atingiu de forma privilegiada à indústria automobilística, o que dá ensejo à crítica de que mesmo o governo do partido dos trabalhadores teve de se curvar aos interesses de grupos empresariais tão poderosos quanto o da indústria automobilística.
Mas, feita a crítica, é importante que se recorde que, desde os anos 50, e depois na época do milagre do fim dos anos 60, início dos 70, foi o automóvel e a indústria a ele vinculada, que serviu de ponto de germinação ou indústria polo, aquela que por seu crescimento cria demanda derivada para várias outras indústrias.
E o IPI acabou sendo reduzido também para outros vários produtos como os de material de construção, ligados à indústria de construção civil, a indústria que mais assegura a geração de empregos, e outros ainda, como os produtos de linha branca, etc.
Ao agir assim, o governo adotava política econômica para estimular a demanda e as compras, com o que contava com o concurso de medidas destinadas a facilitarem e a baratearem o crediário, além de estarem adotando medidas cobradas diariamente por empresários e "analistas" de araque, que sempre se bateram pela redução da carga tributária.
E o governo continuou agindo: reduzindo a incidência tributária sobre a folha de pagamentos, primeiro para alguns setores (sempre os privilegiados e mais poderosos), mas estendendo as mesmas medidas para um série de outros setores, posteriomente, na tentativa de reduzir o custo de produção industrial, e estimular as vendas e o crescimento.
Dessa forma, substituiu os encargos sobre a folha, por outros que incidiam sobre o faturamento.
E o que a oposição, aquela que tanto criticava o ônus da carga tributária começou a bradar, através de seus arautos? Que o estímulo à redução de preços e ao crediário, juntos iriam por mais lenha na fogueira, alimentando o recrudescimento do processo inflacionário, indicando claramente a subordinação do Banco Central à política econômica e o consequente abandono do sistema de metas...
***
Quando para não dar combustível à inflação, o governo não corrigiu o preço dos combustíveis e, para não prejudicar as contas da Petrobras, resolveu reduzir a CIDE, outra medida de cunho fiscal, ao invés de aplaudirem a preocupação com o controle inflacionário, correram a criticar o fato de que a Petrobras seria prejudicada, menos preocupados com a saúde da empresa e mais preocupados com os minoritários e o valor das ações em bolsa, face a reação dos mercados...
E quando clamavam pela redução de custos industriais e o governo resolveu reduzir o custo de energia, de fundamental importância na formação de preços de produtos beneficiados, alegaram que o governo queria quebrar as concessionárias de energia elétrica, o que não agradaria aos mercados, cuja reação se daria com a derrocada dos preços das ações nas bolsas.
***
Quando o governo estimulou o financiamento de longo prazo para aquisição de imóveis, a critica chegou, inclusive, a argumentar que, dada a escassez de mão de obra para a construção civil, o resultado da medida seria mais lenha na fogueira da inflação.
Mais tarde, quando os bancos públicos cortaram agressivamente os juros na ponta do tomador individual, estimulando o crédito ao consumo e obrigando os bancos privados a reduzirem suas margens, sob a ameaça de perderem parcelas expressivas de mercado, mais uma vez o fantasma da inflação e da descapitalização de bancos com ações em bolsa serviram de temas para as críticas. Críticas de analistas que só se lembram dos pequenos interesses e dos menos poderosos nessa hora, dos minoritários.
***
Ao fim de 2012, esses mesmos analistas comemoraram, por falta de bandeiras, de juízo, ou até de vergonha na cara, para não alegar o tal patriotismo, o fracasso do crescimento da economia brasileira.
Segundo eles, o crescimento do PIB de apenas 1%, se tanto, aliado ao não cumprimento da meta de superávit primário, que não teria sido alcançada não fora a adoção de artifícios e malabarismos contábeis que envolveram até o uso do Fundo Soberano, somaram-se ao descontrole da inflação que começou a se manifestar novamente. Tudo somado, o resultado é o retumbante fracasso das políticas do governo petista. Do governo Dilma.
Na verdade, tudo bem analisado, indica a falta de argumento, de proposta e de projeto de um falido PSDB, que se prepara agora para mais uma derrota fragorosa do menino do Rio. Aquele mesmo que promoveu um choque de gestão em Minas, que quebrou as finanças do Estado.
***
O que salta aos olhos é que, sem discurso, o discurso que se segue não precisa ter racionalidade, bastando apenas ser sempre do contra.
A inflação não tem, como responsáveis, o câmbio, que em parte do ano foi objeto de ações que visavam a desvalorizar nossa moeda, de forma a aumentar a competitividade de nossos produtos industríais e nossas exportações. Nem tem como uma de suas várias causas os problemas climáticos, que afetaram os alimentos, alguns dos quais já suficientemente afetados por aumento da demanda de alimentos no mercado internacional (caso da carne, por exemplo).
O descumprimento das metas de superavit primário não é encarada como seguindo a mesma linha dos orçamentos de vários outros países, sempre lembrados como modelos, pelo menos naquelas ocasiões em que estão adotando medidas distintas das nossas. E não segue a lógica da redução da tão falada carga tributária, reclamada por tantos que agora a criticam.
Os juros, embora em níveis mais baixos, ainda são mais elevados que de grande parte de nossos parceiros comerciais, embora indiquem que o governo abandonou de vez o sistema de metas, ao menos na visão tacanha e medíocre dos analistas que são meros porta-vozes dos bancos. Empregadinhos de quinta categoria.
O crescimento do PIB, um fracasso, não tem nenhuma análise mais séria. Trata-se de falhas do governo e da adoção de políticas econômicas insustentáveis, mal planejadas e colocadas em ação por uma equipe incompetente, como diriam ... os tabloides ingleses.
***
Em minha opinião, para fechar essa longa nota: o estímulo ao consumo tem um momento de crescimento, vivido em 2010 no último ano de governo Lula, mas depois começa a apresentar crescimentos decrescentes, já que chega um momento em que a classe cujo consumo pode crescer, estimulando toda a demanda, tem de começar a liquidar os créditos recebidos.
Mas, além disso, e lembrando que o consumo cresceu pela incorporação de novos contingentes de consumidores, beneficiados pela política de distribuição de renda do petismo, a chamada classe C ou nova classe média, realizado o sonho de ter comprado seu primeiro carro, de ter trocado os aparelhos eletro-eletrônicos por outros mais modernos e mais sofisticados tecnologicamente, de ter começado a viajar e a fazer turismo e até a "andar de avião" ou fazer cruzeiros, não irá continuar demandando, em escala ampliada, esses bens recém adquiridos, o que irá fazer a demanda se desacelerar naturalmente.
A menos que prosseguisse o processo de incorporação de novas camadas de famílias consumidoras, o que acho bem mais complexo.
E é bom que se lembre que, quando passam a aumentar o consumo de serviços, aí sim, temos o espaço para a elevação de preços por falta de mercados concorrenciais organizados, para a fixação de um certo patamar de preços.
Já quanto à pequena evolução de investimentos, creio que tem mais a ver com uma culpa sim do governo. Não pelos motivos alegados pelos economistas do mercado. Mas pelo fato de que, na medida em que o governo foi, paulatinamente, esperando uma reação do empresariado que não se efetivou, foi criando abrindo seu saco de bondades e criando novos benefícios a esses empresários.
Vendo essa reação, o que os empresários fizeram, em minha opinião, foi exatamente ficarem esperando, adiando suas decisões, protelando os investimentos, para forçarem a que mais benefícios lhes fossem concedidos.
Ou seja, o que não é nem um pouco irracional: jogaram na inércia, para arrancarem do governo mais e mais benesses.
Afinal, esse é o jogo. E o nome do jogo é capitalismo.
Ainda no último domingo, foi Jânio de Freitas na Folha que tratou do assunto, para comentar o curioso, e completamente ilógico comportamento da turma da oposição ao governo brasileiro, capitaneados por esse arremedo de partido que é o PSDB.
Para o colunista da Folha, durante muito tempo a oposição criticou o governo petista, na versão Lula ou Dilma, em função da manutenção de juros escorchantes, responsáveis diretos pelo pífio desempenho de nossa economia.
Pois bem, bastou que o Ministro presidente do Banco Central tomasse a liderança do movimento que levou o Copom em agosto de 2011 a dar início à redução da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, para que a oposição começasse a criticar tal queda, alegando dessa feita, um pretenso abandono do sistema de metas de inflação.
Diga-se de passagem que o sistema de metas de inflação nem de longe fora ameaçado, tendo apenas o foco das ações da Autoridade Monetária se alterado parcialmente, deixando de considerar a taxa de juros como único instrumento, substituída por algumas medidas consideradas de supervisão prudencial - em linha, aliás, com o reforço à supervisão do sistema financeiro, que Basiléia chegou à conclusão que deveria ser perseguido depois dos epísódios da crise financeira de 2008 e seus desdobramentos.
***
E, só para constar, é bom que se recorde que o programa de metas inflacionárias prevê uma meta alvo, no caso brasileiro de 4,5% de inflação, que admite uma tolerância de variação de 2 pontos percentuais, tanto para cima quanto para baixo.
Assim, só para deixar clara a questão: o sistema diz que o BC tem o dever de manter a inflação no intervalo compreendido entre 2,5 e 6,5% e, qualquer valor no interior dessa faixa significa que o programa não apenas continua sendo adotado, mas que está sendo adotado COM ÊXITO.
Então, como entender que aqueles que antes criticavam a política de juros elevados foram os primeiros a criticarem a queda desses juros?
Deixando de lado a clara e inequívoca defesa que essa turma de analistas econômicos sempre adotou em prol da manutenção de interesses e benefícios de setores econômicos privilegiados e mais poderosos, como o sistema financeiro, prejudicado com a redução de seus ganhos e sem a bandeira de um suposto custo elevado do dinheiro como justificativa para manutenção de spreads estratosféricos, a conclusão é uma só. E aponta para o fato de que a dita oposição não tinha, como não tem é discurso.
E, sem discurso, bandeiras ou argumentos, atacava por um motivo a questão dos juros e, tão logo o governo agiu na direção que eles propugnavam, mudou o argumento, mudou a direção da crítica, apenas para continuarem marcando a oposição de ser do contra.
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Assim, os juros altos que passaram a declinar a cada reunião do Copom, atingindo os níveis mais baixos de nossa história recente, tanto em termos nominais quanto reais (descontada a inflação), tudo dentro de um programa destinado a reduzir o custo do dinheiro, estimular o investimento e até o crediário, enfim, estimular corretamente a manutenção do crescimento da nossa economia e do emprego, viraram objeto de uma nova crítica.
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Em termos de política fiscal deu-se o mesmo fenômeno. Visando estimular a demanda, razão primeira das decisões de produzir e de investir do empresariado, sempre de olho na elevação das vendas, de suas receitas e de sua rentabilidade, o governo resolveu reduzir a carga de tributos sobre alguns produtos, notadamente o IPI, prorrogando em várias oportunidades a duração dessa medida.
Sim, não há como negar: a redução atingiu de forma privilegiada à indústria automobilística, o que dá ensejo à crítica de que mesmo o governo do partido dos trabalhadores teve de se curvar aos interesses de grupos empresariais tão poderosos quanto o da indústria automobilística.
Mas, feita a crítica, é importante que se recorde que, desde os anos 50, e depois na época do milagre do fim dos anos 60, início dos 70, foi o automóvel e a indústria a ele vinculada, que serviu de ponto de germinação ou indústria polo, aquela que por seu crescimento cria demanda derivada para várias outras indústrias.
E o IPI acabou sendo reduzido também para outros vários produtos como os de material de construção, ligados à indústria de construção civil, a indústria que mais assegura a geração de empregos, e outros ainda, como os produtos de linha branca, etc.
Ao agir assim, o governo adotava política econômica para estimular a demanda e as compras, com o que contava com o concurso de medidas destinadas a facilitarem e a baratearem o crediário, além de estarem adotando medidas cobradas diariamente por empresários e "analistas" de araque, que sempre se bateram pela redução da carga tributária.
E o governo continuou agindo: reduzindo a incidência tributária sobre a folha de pagamentos, primeiro para alguns setores (sempre os privilegiados e mais poderosos), mas estendendo as mesmas medidas para um série de outros setores, posteriomente, na tentativa de reduzir o custo de produção industrial, e estimular as vendas e o crescimento.
Dessa forma, substituiu os encargos sobre a folha, por outros que incidiam sobre o faturamento.
E o que a oposição, aquela que tanto criticava o ônus da carga tributária começou a bradar, através de seus arautos? Que o estímulo à redução de preços e ao crediário, juntos iriam por mais lenha na fogueira, alimentando o recrudescimento do processo inflacionário, indicando claramente a subordinação do Banco Central à política econômica e o consequente abandono do sistema de metas...
***
Quando para não dar combustível à inflação, o governo não corrigiu o preço dos combustíveis e, para não prejudicar as contas da Petrobras, resolveu reduzir a CIDE, outra medida de cunho fiscal, ao invés de aplaudirem a preocupação com o controle inflacionário, correram a criticar o fato de que a Petrobras seria prejudicada, menos preocupados com a saúde da empresa e mais preocupados com os minoritários e o valor das ações em bolsa, face a reação dos mercados...
E quando clamavam pela redução de custos industriais e o governo resolveu reduzir o custo de energia, de fundamental importância na formação de preços de produtos beneficiados, alegaram que o governo queria quebrar as concessionárias de energia elétrica, o que não agradaria aos mercados, cuja reação se daria com a derrocada dos preços das ações nas bolsas.
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Quando o governo estimulou o financiamento de longo prazo para aquisição de imóveis, a critica chegou, inclusive, a argumentar que, dada a escassez de mão de obra para a construção civil, o resultado da medida seria mais lenha na fogueira da inflação.
Mais tarde, quando os bancos públicos cortaram agressivamente os juros na ponta do tomador individual, estimulando o crédito ao consumo e obrigando os bancos privados a reduzirem suas margens, sob a ameaça de perderem parcelas expressivas de mercado, mais uma vez o fantasma da inflação e da descapitalização de bancos com ações em bolsa serviram de temas para as críticas. Críticas de analistas que só se lembram dos pequenos interesses e dos menos poderosos nessa hora, dos minoritários.
***
Ao fim de 2012, esses mesmos analistas comemoraram, por falta de bandeiras, de juízo, ou até de vergonha na cara, para não alegar o tal patriotismo, o fracasso do crescimento da economia brasileira.
Segundo eles, o crescimento do PIB de apenas 1%, se tanto, aliado ao não cumprimento da meta de superávit primário, que não teria sido alcançada não fora a adoção de artifícios e malabarismos contábeis que envolveram até o uso do Fundo Soberano, somaram-se ao descontrole da inflação que começou a se manifestar novamente. Tudo somado, o resultado é o retumbante fracasso das políticas do governo petista. Do governo Dilma.
Na verdade, tudo bem analisado, indica a falta de argumento, de proposta e de projeto de um falido PSDB, que se prepara agora para mais uma derrota fragorosa do menino do Rio. Aquele mesmo que promoveu um choque de gestão em Minas, que quebrou as finanças do Estado.
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O que salta aos olhos é que, sem discurso, o discurso que se segue não precisa ter racionalidade, bastando apenas ser sempre do contra.
A inflação não tem, como responsáveis, o câmbio, que em parte do ano foi objeto de ações que visavam a desvalorizar nossa moeda, de forma a aumentar a competitividade de nossos produtos industríais e nossas exportações. Nem tem como uma de suas várias causas os problemas climáticos, que afetaram os alimentos, alguns dos quais já suficientemente afetados por aumento da demanda de alimentos no mercado internacional (caso da carne, por exemplo).
O descumprimento das metas de superavit primário não é encarada como seguindo a mesma linha dos orçamentos de vários outros países, sempre lembrados como modelos, pelo menos naquelas ocasiões em que estão adotando medidas distintas das nossas. E não segue a lógica da redução da tão falada carga tributária, reclamada por tantos que agora a criticam.
Os juros, embora em níveis mais baixos, ainda são mais elevados que de grande parte de nossos parceiros comerciais, embora indiquem que o governo abandonou de vez o sistema de metas, ao menos na visão tacanha e medíocre dos analistas que são meros porta-vozes dos bancos. Empregadinhos de quinta categoria.
O crescimento do PIB, um fracasso, não tem nenhuma análise mais séria. Trata-se de falhas do governo e da adoção de políticas econômicas insustentáveis, mal planejadas e colocadas em ação por uma equipe incompetente, como diriam ... os tabloides ingleses.
***
Em minha opinião, para fechar essa longa nota: o estímulo ao consumo tem um momento de crescimento, vivido em 2010 no último ano de governo Lula, mas depois começa a apresentar crescimentos decrescentes, já que chega um momento em que a classe cujo consumo pode crescer, estimulando toda a demanda, tem de começar a liquidar os créditos recebidos.
Mas, além disso, e lembrando que o consumo cresceu pela incorporação de novos contingentes de consumidores, beneficiados pela política de distribuição de renda do petismo, a chamada classe C ou nova classe média, realizado o sonho de ter comprado seu primeiro carro, de ter trocado os aparelhos eletro-eletrônicos por outros mais modernos e mais sofisticados tecnologicamente, de ter começado a viajar e a fazer turismo e até a "andar de avião" ou fazer cruzeiros, não irá continuar demandando, em escala ampliada, esses bens recém adquiridos, o que irá fazer a demanda se desacelerar naturalmente.
A menos que prosseguisse o processo de incorporação de novas camadas de famílias consumidoras, o que acho bem mais complexo.
E é bom que se lembre que, quando passam a aumentar o consumo de serviços, aí sim, temos o espaço para a elevação de preços por falta de mercados concorrenciais organizados, para a fixação de um certo patamar de preços.
Já quanto à pequena evolução de investimentos, creio que tem mais a ver com uma culpa sim do governo. Não pelos motivos alegados pelos economistas do mercado. Mas pelo fato de que, na medida em que o governo foi, paulatinamente, esperando uma reação do empresariado que não se efetivou, foi criando abrindo seu saco de bondades e criando novos benefícios a esses empresários.
Vendo essa reação, o que os empresários fizeram, em minha opinião, foi exatamente ficarem esperando, adiando suas decisões, protelando os investimentos, para forçarem a que mais benefícios lhes fossem concedidos.
Ou seja, o que não é nem um pouco irracional: jogaram na inércia, para arrancarem do governo mais e mais benesses.
Afinal, esse é o jogo. E o nome do jogo é capitalismo.
Sobre o tempo
O tempo
A tudo aplaca
Congela os sentimentos
Amortece a dor
O tempo também é remédio
Que regenera a perda de um grande amor
O tempo
Cicatriza
Cura a ferida de alguém que se perdeu
E cria a resistência
Faz suportar a ausência
Daquele que já se foi
O tempo permite
Que sem alarde
Possamos reconstruir a caminhada
O tempo é o combustível
O motor que nos induz
A ir em frente por essa estrada
O tempo silencioso
É um sábio que nos faz recobrar a vontade
E o passar do tempo
É que nos faz resgatar o prazer
Que é sinônimo
De viver felicidade
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Quem sabe o amor?
Quem sabe a influência do relevo
O confronto entre o mar e a cordilheira
Ou o risco sempre presente
Da erupção de um vulcão jorrando lava
Cinza e destruição
Em uma corrida louca
Guiada pelo fogo da paixão
Insana!
Que se espraia e leva tudo de roldão?
Quem sabe não seria a influência
Dos ventos gélidos trazidos lá do sul
Que se esboroam sempre contra o paredão eterno
E se revelam inaptos para fazer disseminar
Exceto o ar pesado da poluição?
Ou seria a sensação perene da transitoriedade
De se saber faltar o chão em meio a um sismo
Que sacode feroz suas entranhas
Tal como o sentimento que extirpa a razão
E justifica a sensibilidade que se ergue desse chão?
Quem sabe não fosse a atmosfera
Que torna o Chile sublime inspiração?
Ou não seja o amor que a todos contagia
Capaz de explicar a simbiose
Que associa o Chile à poesia
Ainda Santa Maria e lições da fatalidade
Procurar e achar culpados e responsáveis é um dos esportes da preferência nacional. Punir os responsáveis é que são "outros quinhentos" como dizia minha avó.
E, no caso de Santa Maria, sem tomar a defesa de nenhum dos lados envolvidos, a verdade é que há um amontoado de causas, de erros e, portanto, de responsáveis. De tal modo, que punir a um, deixando de punir aos demais torna-se tão injusto, que acaba "validando" a impunidade de todos.
Tome-se o caso dos donos da casa, cada vez mais confirmado que estava com excesso de lotação. Ou sem o alvará, vencido. Ou pagando por um show em que, pelo contrato, haveria um evento pirotécnico.
Ou não?
Ou o show pirotécnico não estava incluído no contrato e, pois, seria de desconhecimento da boate? Quem sabe um brinde dos músicos ao público ali presente?
Nesse caso, também os músicos deveriam ser responsabilizados.
E quanto ao fato de o alvará estar vencido? Sem tomar qualquer defesa, insisto, a casa já funcionava há quanto tempo? Desde seu início, estava com a documentação em ordem, com alvará expedido e autorização de funcionamento?
E foi antes ou depois de o alvará ter expirado que a boate e seus proprietários resolveram eliminar as saídas de emergência? Ou, como indica o bom senso, essas saídas nunca existiram, e a casa ainda assim estava autorizada a funcionar, o que apenas nos mostra que há também aí, uma responsabilidade dos órgãos de controle da Prefeitura? E como foi a inspeção e qual o resultado obtido do laudo que a Prefeitura deve ter solicitado ao Corpo de Bombeiros?
E quem mandou os seguranças, se é que o fizeram, impedir a abertura de portas, para evitar que os frequentadores saíssem sem pagar?
Ou ninguém deu essa ordem, ao menos nessa fatídica noite, já que essa era uma ordem comum, natural, digamos, capaz de por em curso um comportamento tão óbvio que não precisava ser dada para ser cumprida?
***
Com efeito, não há e nunca haverá uma forma capaz de fazer com que mães, pais, irmãos e amigos se recuperem de perdas tão expressivas quanto a de pessoas a quem se ama: seja um filho, uma filha, um namorado, um amigo, etc.
Não há como a cidade de Santa Maria se recuperar, por mais que passem os anos de tantas vidas ceifadas ainda no seu desabrochar.
Não há como compensar o próprio pais, de tanta perda de talentos em potencial.
A verdade é que perdemos todos. Como está expresso no trecho que serve de abertura ao livro Por Quem os Sinos Dobram, não me pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ... todos nós.
Mas, isso não significa que devemos ficar apenas nos lamentando, e procurando culpados ou punições.
Precisamos urgentemente, como exortou ontem a presidenta Dilma, em reunião com os prefeitos eleitos, a agir para evitar que novas catástrofes venham a acontecer.
***
Urge que tomemos Santa Maria como exemplo, para que possamos adotar as providências necessárias para que esse tipo de acontecimento fortuito e funesto possa se repetir.
E isso passa por uma discussão séria do que é necessário que seja feito para que nossa juventude possa se divertir sem riscos. E pais possam saber que os filhos estão se divertindo sem colocarem sua vida em jogo.
Passa também, e em minha opinião de forma muito mais importante, por uma mudança de mentalidade de quem culpa a burocracia, os custos dos programas de prevenção, justificando por tais custos e possíveis prejuízos, a ausência de compromisso com a vida e a segurança; a marginalidade e o desrespeito com as regras e legislações, como ontem um representante de sindicato de bares e similares parecia, em um jornal televisivo, senão defender buscar atenuantes para a irresponsabilidade daqueles que preferem ficar à margem da lei.
***
Enquanto isso, em nossas ruas, as motos, o trânsito, o álcool, as drogas e a violência prosseguem matando de forma indiscriminada jovens estudantes ou não, universitários ou não, trabalhadores ou não, pais de famílias ou não, sem que a sociedade lhes dedique mais que um ou outro artigo nos jornais, mais a título de aliviar nossa consciência coletiva que de resolver os problemas que estão na raiz dessa situação macabra.
É uma pena.
E, no caso de Santa Maria, sem tomar a defesa de nenhum dos lados envolvidos, a verdade é que há um amontoado de causas, de erros e, portanto, de responsáveis. De tal modo, que punir a um, deixando de punir aos demais torna-se tão injusto, que acaba "validando" a impunidade de todos.
Tome-se o caso dos donos da casa, cada vez mais confirmado que estava com excesso de lotação. Ou sem o alvará, vencido. Ou pagando por um show em que, pelo contrato, haveria um evento pirotécnico.
Ou não?
Ou o show pirotécnico não estava incluído no contrato e, pois, seria de desconhecimento da boate? Quem sabe um brinde dos músicos ao público ali presente?
Nesse caso, também os músicos deveriam ser responsabilizados.
E quanto ao fato de o alvará estar vencido? Sem tomar qualquer defesa, insisto, a casa já funcionava há quanto tempo? Desde seu início, estava com a documentação em ordem, com alvará expedido e autorização de funcionamento?
E foi antes ou depois de o alvará ter expirado que a boate e seus proprietários resolveram eliminar as saídas de emergência? Ou, como indica o bom senso, essas saídas nunca existiram, e a casa ainda assim estava autorizada a funcionar, o que apenas nos mostra que há também aí, uma responsabilidade dos órgãos de controle da Prefeitura? E como foi a inspeção e qual o resultado obtido do laudo que a Prefeitura deve ter solicitado ao Corpo de Bombeiros?
E quem mandou os seguranças, se é que o fizeram, impedir a abertura de portas, para evitar que os frequentadores saíssem sem pagar?
Ou ninguém deu essa ordem, ao menos nessa fatídica noite, já que essa era uma ordem comum, natural, digamos, capaz de por em curso um comportamento tão óbvio que não precisava ser dada para ser cumprida?
***
Com efeito, não há e nunca haverá uma forma capaz de fazer com que mães, pais, irmãos e amigos se recuperem de perdas tão expressivas quanto a de pessoas a quem se ama: seja um filho, uma filha, um namorado, um amigo, etc.
Não há como a cidade de Santa Maria se recuperar, por mais que passem os anos de tantas vidas ceifadas ainda no seu desabrochar.
Não há como compensar o próprio pais, de tanta perda de talentos em potencial.
A verdade é que perdemos todos. Como está expresso no trecho que serve de abertura ao livro Por Quem os Sinos Dobram, não me pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ... todos nós.
Mas, isso não significa que devemos ficar apenas nos lamentando, e procurando culpados ou punições.
Precisamos urgentemente, como exortou ontem a presidenta Dilma, em reunião com os prefeitos eleitos, a agir para evitar que novas catástrofes venham a acontecer.
***
Urge que tomemos Santa Maria como exemplo, para que possamos adotar as providências necessárias para que esse tipo de acontecimento fortuito e funesto possa se repetir.
E isso passa por uma discussão séria do que é necessário que seja feito para que nossa juventude possa se divertir sem riscos. E pais possam saber que os filhos estão se divertindo sem colocarem sua vida em jogo.
Passa também, e em minha opinião de forma muito mais importante, por uma mudança de mentalidade de quem culpa a burocracia, os custos dos programas de prevenção, justificando por tais custos e possíveis prejuízos, a ausência de compromisso com a vida e a segurança; a marginalidade e o desrespeito com as regras e legislações, como ontem um representante de sindicato de bares e similares parecia, em um jornal televisivo, senão defender buscar atenuantes para a irresponsabilidade daqueles que preferem ficar à margem da lei.
***
Enquanto isso, em nossas ruas, as motos, o trânsito, o álcool, as drogas e a violência prosseguem matando de forma indiscriminada jovens estudantes ou não, universitários ou não, trabalhadores ou não, pais de famílias ou não, sem que a sociedade lhes dedique mais que um ou outro artigo nos jornais, mais a título de aliviar nossa consciência coletiva que de resolver os problemas que estão na raiz dessa situação macabra.
É uma pena.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Eu-niverso fantástico
De que depende
A universalidade do canto
Senão da aldeia
Do eu interior
Onde se esboça o riso
E manifesta-se o pranto?
No entanto, mais humano o eu
Quanto mais interior
Mais o espaço é a liberdade dos sonhos
Mais se revela a fantasia
E, sem censuras,
Maior e mais infinito
O universo.
Penso.
E se canto o pensamento
Revelo apenas o encantamento
De ser humano.
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