quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Mais um embuste: Governo que gasta mal, e políticas que mostram como o governo não se preocupa com o povo. Será?

Um amigo meu, frequentador dos bares do São Pedro e cliente assíduo das quintas-feiras do Jovem Bar, onde vai tomar uma cerveja gelada, jogar conversa fora, comer o melhor tropeiro do São Pedro (em minha humilde opinião) e ouvir música da melhor qualidade, insiste em criticar a Lula e ao PT.
Em primeiro lugar, forçoso é reconhecer que, salvo engano, seu voto foi para Lula em 2002 (ao contrário de meu voto).
Desiludiu-se, como uma parcela importante de eleitores de Lula, quando começaram a circular as primeiras denúncias relativas ao mensalão.
Dali para cá, foi tomado por verdadeiro horror a seu antigo candidato, chegando, em minha opinião a demonizá-lo.
Mas, não essa postagem não é para falar de meu amigo. Uso-o como exemplo, uma vez que, ao ler a postagem de ontem, e ao referir-se à política econômica do PT, entre outras coisas ele comentou que Lula não teria tido peito para fazer uma reforma tributária geral o que, em sua opinião é um dos problemas que onera o empresariado e a população e obriga a políticas como as tratadas ontem.
Em acréscimo, argumentou que se Lula eliminou a divida externa,  conforme apregoado, "no entanto aumentou exponencialmente a interna, e isso somennte gera problemas como aumento de impostos", o que constitui obstáculo ao crescimento sustentado.
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E não é só ele que tem essa opinião, que merece ser, também, melhor esclarecida. 
Na verdade, em função de ventos muito favoráveis no mercado internacional, nos primeiros anos da década de 2000, com o crescimento de China, Índia, e a expansão da União Européia e dos Estados Unidos, houve uma demanda crescente em todo o mundo por alimentos e matérias primas naturais, as ditas commodities, produtos cuja dotação o Brasil foi bastante favorecido.
Nesse período, vendemos para a China, em especial, minério de ferro e grãos, entre outras commodities, em volume recorde, e a preços muito favoráveis, o que permitiu alcançarmos superávits comerciais muito significativos. 
Esse superávit, somado à entrada de capitais externos em nossa economia, atraídos por uma taxa de juros sempre mantida em níveis estratosféricos desde o lançamento do Plano Real, exatamente no intuito de tornar a moeda americana abundante e barata, teve como não poderia deixar de ser, uma série de consequências para nossa economia.
Em primeiro lugar, permitiu que acumulássemos reservas internacionais, o que possibilitou-nos também liquidar parte da nossa dívida externa, ao menos aquela de responsabilidade do setor público. ATENÇÃO: NÃO FOI A DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA QUE FOI ELIMINADA, MAS APENAS A PARCELA DO SETOR PÚBLICO. As empresas nacionais continuaram e continuam tomando recursos emprestados lá fora, até para aproveitarem dos juros mais baratos lá fora que em nosso país. 
À pergunta de porque a necessidade de manutenção de juros tão elevados e de se tentar atrair capitais externos nos volumes em que para cá fluíram, a resposta fácil dos analistas e economistas de mercado era sempre a mesma: manter o dólar desvalorizado, para baratear produtos importados, necessários ao processo industrial, e manter a inflação sob controle.
Quanto à inflação o controle se daria por dois caminhos: reduzir a demanda de crédito e, em consequência a demanda por bens, mantendo os preços acomodados e, por outra via, complementar a essa primeira, permitir o acesso a produtos importados, em geral mais baratos e de melhor qualidade. Diga-se que esse último argumento, dizia-se, obrigaria a indústria nacional a se tornar mais competitiva, caso não quebrasse antes.
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Ora, a verdadeira resposta é que os juros foram mantidos elevados desnecessariamente, apenas para agradar os banqueiros e os magnatas da aristocracia financeira - nacional e internacional, que ganhavam rios de dinheiros com suas aplicações em nosso país. 
Foram esses interesses dos mercados financeiros, em especial, que impediram nossos juros de caírem para níveis civilizados, sendo a inflação uma desculpa esfarrapada e mal ajambrada para acobertar seus interessea mais espúrios. 
E lembre-se que Henrique Meirelles, ex-banqueiro do Bank of Boston, é que comandava a política monetária e a definição dos patamares de juros: a raposa tomando conta do galinheiro para tratar dos  interesses das outras raposas suas amigas.
E só para deixar bem fresca a memória de quantos a este lerem: naquela oportunidade parecia que o sistema de metas também havia sido abandonado, uma vez que a meta alvo não estava sendo atingida. Mas ninguém falou nada, já que a inflação estava dentro do intervalo tratado ontem, apenas que na porção dos valores abaixo da média. 
OK! admitamos: a inflação estava abaixo da meta mas isso era ótimo para todos nós. Exceto pelo emprego que não crescia, o desemprego que só dava sinais de se elevar, e o crescimento que alcançava parcos 2 pontos percentuais em média.
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Por outro lado, com a Selic muito elevada, escandalosamente elevada, e com os títulos públicos relativos à dívida pública pagando os juros da Selic, nossa dívida interna de fato teve de se elevar, de forma exponencial. 
Mas isso não foi culpa de Lula, sejamos justos. Foi culpa de toda a política que, desde o Plano Real, o final do governo Itamar e início e toda a extensão do governo de Fernando Henrique, e depois do próprio prirmeiro mandato de  Lula, foi adotada em nosso país, sem que ninguém da imprensa, da Veja, dos conservadores de plantão reclamassem.
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De fato, deveria ter sido feita a reforma tributária, que permitira ao Estado se ver livre de tantos problemas que fazem com que ele tenha que aumentar impostos de um lado, para elevar suas receitas, algumas delas apenas para pagar os juros da dívida. Dívida que se expande sempre que os juros, em valores e não em percentuais, se tornem maiores que o resultado da arrecadação de impostos deduzidos dos gastos públicos, por pior que seja a qualidade do gasto público em nosso país.
Só para dar exemplos com dados concretos. O BC divulgou ontem nota sobre a política fiscal que mostra que em dezembro, o setor público consolidado teve excesso de arrecadação sobre os gastos, de R$ 22,3  bilhões de reais. Em todo o ano, esse superávit primário, que é o nome dado a esse excesso arrecadado,  alcançou a R$ 105 bilhões de reais, correspondendo a 2,38% do PIB. 
Como o governo gastou muito, outra acusação sempre feita, e abriu mão de receitas de impostos, isentando IPI, etc. o superávit foi menor que o resultado alcançado em 2011 que foi de R$ 128,7 bilhões ou 3,11% do PIB.
A justificativa sempre dada para a essa extração de recursos da população para não gastar com bens e serviços em prol desses que pagam e do restante do povo, é que essa sobra deverá ser utilizada para pagar o valor dos juros da dívida resultado da aplicação da taxa Selic (para simplificar) sobre o saldo médio da dívida ao longo do ano.
Em 2012, apenas de juros foram gastos R$ 213,9 bilhões, ou 4,85% do PIB. Isso significa que poupamos e ainda assim não tivemos recursos para pagar a conta para a qual a poupança seria destinada. 
Assinala-se que os juros foram menores que os pagos no ano anterior, o que revela a importância de os juros caírem, embora muita gente do mercado tivesse criticado a medida.
E ainda criticam alegando que isso trará de volta do dragão da inflação.
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Então não foi Lula o responsável pela troca da dívida externa pela interna, como alguns emails que andam circulando comentam. Embora a política em curso - e bastante elogiada naquela oportunidade - é que tenha, de fato, proporcionado essa situação.
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Como os juros superaram os valores do superávit primário, nossa dívida deverá crescer ainda mais, já que o resultado chamado de déficit nominal foi de R$ 108,9 bilhões, ou 2,47% do PIB.
Mas não se trata de que Dilma está elevando a dívida porque gasta mal. Apenas por que paga os juros aos banqueiros e empresários que aplicam em títulos do governo, inclusive empresários estrangeiros.
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Por último só aproveitar para dizer que o anúncio do BC feito ontem, mostra que o governo central - União, BC e Previdência, geraram um superávit de 27,9 bilhões de reais em dezembro. Entretanto, os governos estaduais e municipais (chamados regionais) tiveram déficit (gastaram mais que o que arrecadaram) de 3,1 bilhão, enquanto as estatais apresentaram déficit de 2,6 bilhões de reais.
Isso exige que, ao invés de criticar os malabarismos feitos pelo ministro Mantega e sua equipe para o governo Dilma cumprir a meta a que se propôs de superávit primário, o que devemos fazer é conhecer melhor as contas públicas.
Porque se o governo federal do PT consegue cumprir sua proposta, mas os governos de estados e prefeituras, alguns de partidos de oposição não cumprem sua parte, sobra para o governo federal. 
Dito mais claro, quanto mais os estados e municípios gastam, irresponsavelmente ou não, e quanto mais criam déficits, maior é o superávit que vai cair nas mãos do governo federal para ser realizado, para que as metas gerais sejam cumpridas.
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Sem se analisar que partidos estão cumprindo mais ou menos as metas para eles estabelecidas, e porque, não dá para ficar acusando o governo federal de gastar mal e porcamente, nem o partido no poder, por acaso e sem meu voto, o PT.


Um comentário:

Julio César disse...

Quanto a tudo que disse sobre política e políticos concordo e nada tenho a acrescentar, no entanto, quanto ao bar que seu amigo frequenta o famoso JOVEM BAR localizado no bairro Sao Pedro em Belo Horizonte, tenho que acrescentar que é hoje um dos bares boêmios que possui os melhores petiscos de BH e que nos reporta aos anos 60 com muita roda de samba e viola e muita mpb cantada e tocada pelos proprios frequentadores do bar. OS donos sao especialmente simpáticos e o atendimento espetacular. Vale a ida!