segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Retorno de férias: contabilizando tragédias

Depois de uns dias de recesso, o blog está de volta.
Com a mesma proposta e mesmo pique de sempre. Assim como o Galo nosso time, que continua o mesmo. Sem as novidades de impacto que outros times apresentaram, apenas a manutenção de um plantel um ano mais experiente e maduro, e com uma média de idade ainda maior que a do ano anterior.
Tudo graças às hábeis negociações que privilegiaram trazer jogadores já rodados, experientes e alguns em fins de carreira, em troca de liberação de jogadores novos, de qualidade, mas que não agrada ao técnico.
Enfim, dia 13 já se aproxima, e o São Paulo está vindo aí.
Pela Libertadores, já que antes, pelo Campeonato Mineiro, participaremos da reinauguração do Mineirão, enfrentando nosso eterno rival, esse todo modificado e com um técnico sério e competente.
Pois é: falta apenas uma semana.
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Infelizmente nossa volta tem o signo da tragédia que se abateu sobre Santa Maria.
Mas, contrariando a grande maioria dos que cobram agora um punição exemplar para os donos da discoteca, transformada em casa de shows, em minha opinião o acidente foi exatamente isso. Um acidente.
O que não quer dizer que não houve erros, falhas e, como sempre, uma série de irresponsabilidades.
Mas, não acho que a morte de mais de 240 pessoas, a maioria jovens, universitários, gente com toda a vida pela frente e milhares de sonhos interrompidos abruptamente deva ser atribuída apenas à irresponsabilidade da falta de uma licença de funcionamento. De um alvará vencido.
Isso porque quem já teve a oportunidade de ver como é o funcionamento do setor de emissão de licença e alvarás sabe bem que, tivesse cumprido as normas e dado entrada com o pedido de licença, tivesse pedido a renovação do alvará, a autorização teria sido dada, mesmo sem que o funcionário sequer fosse ao local fazer alguma vistoria.
E, embora o momento seja de dor, comoção, raiva, etc. etc. o que é perfeitamente natural, há uma pergunta que não quer calar: caso a boate tivesse licença para funcionar regularmente, e tivesse ocorrido o show, os sinalizadores e o espetáculo pirotécnico que iniciaram o incêndio teriam sido impedidos?
Duvido.
E a sobrelotação que  parece ter acontecido não teria acontecido? Os seguranças e leões de chácara agiriam para impedir a entrada de jovens que, como se sabe, pressionariam para estar no interior da festa.
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Do conjunto de falhas e erros, não escapa ninguém, o que configura ainda de forma mais explícita o acidente: o alvará vencido, a inação da prefeitura, a ausência de um programa regular de vistoria de casas noturnas pelo Corpo de Bombeiros, a superlotação, a contratação de um show cujo conjunto protagonista faz uso de fogos de artifício. A não inspeção, pelo Corpo de Bombeiros, das condições do local para sediar um show com efeitos pirotécnicos.
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Em visita a Santiago do Chile, nesse recesso, e percorrendo as ruas do centro, onde situa-se a belíssima construção que serviu, até o fim da ditadura Pinochet, para abrigar a Câmara e o Senado fomos informados de que havia ali, em exposição permanente, as únicas lembranças que sobraram de uma igreja (parece-me que algo ligado a sinos) e de uma festa religiosa que foi interrompida por um terrível incêndio.
As relíquias expostas em homenagem aos que morreram nas fatídicas festividades, por força de uma vela que atingiu as faixas pendentes dos enfeites religiosos. E para servir de lição: as pesadas portas do templo, conforme nos informou o guia, abriam-se apenas para o lado de dentro, quando a população em fuga forçava inutilmente as portas para o lado de fora da igreja.
Diz o guia que, desde aquela data, as portas de lugares públicos devem ser abertas em vai-e-vem, podendo ser pressionadas, e abrindo, em qualquer direção.
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Em meio a todo o drama e luto vivido por todo o país, e em especial pelos familiares de tantos jovens vítimados pelo fogo e pela cortina de fumaça, resta-nos, em homenagem a todos que lá perderam suas vidas, que nunca mais a legislação permita que lugares públicos possam se instalar contando com apenas uma porta. Que os acessos de entrada  e saída possam ser obstruídos com qualquer que seja o material ou obstáculo. Que lugares aptos a receberem 2000 pessoas, não tenham várias saídas de emergência, etc. etc.
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Em meio à tanta dor, é dever de justiça, elogiar o comportamento da Presidenta Dilma que imediatamente abandonou a reunião de que participava em Santiago e se deslocou até Santa Maria, onde mais que sua solidariedade, montou um verdadeiro gabinete de crise, tentando minorar o problema e dar um mínimo de conforto aos familiares enlutados.
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Expressando minha solidariedade a todos os que perderam seus familiares, amigos, namorados, jovens, etc. na tragédia da madrugada de ontem, deixo de comentar outros assuntos, aos quais prometo voltar amanhã, em especial na área econômica.
Mas não poderia me furtar também de comentar a coluna de Jânio de Freitas na Folha de ontem: uma excelente e muito bem descrita demonstração de como a economia se presta a manipulações de cunho político, se não apenas a isso.


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