quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Uma longa análise econômica e política

Que a análise econômica não tem nada de científica, muitos já o disseram e muito já foi escrito a respeito.
Ainda no último domingo, foi Jânio de Freitas na Folha que tratou do assunto, para comentar o curioso, e completamente ilógico comportamento da turma da oposição ao governo brasileiro, capitaneados por esse arremedo de partido que é o PSDB.
Para o colunista da Folha, durante muito tempo a oposição criticou o governo petista, na versão Lula ou Dilma, em função da manutenção de juros escorchantes, responsáveis diretos pelo pífio desempenho de nossa economia.
Pois bem, bastou que o Ministro presidente do Banco Central tomasse a liderança do movimento que levou o Copom em agosto de 2011 a dar início à redução da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, para que a oposição começasse a criticar tal queda, alegando dessa feita, um pretenso abandono do sistema de metas de inflação.
Diga-se de passagem que o sistema de metas de inflação nem de longe fora ameaçado, tendo apenas o foco das ações da Autoridade Monetária se alterado parcialmente, deixando de considerar a taxa de juros como único instrumento, substituída por algumas medidas consideradas de supervisão prudencial - em linha, aliás, com o reforço à supervisão do sistema financeiro, que Basiléia chegou à conclusão que deveria ser perseguido depois dos epísódios da crise financeira de 2008 e seus desdobramentos.
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E, só para constar, é bom que se recorde que o programa de metas inflacionárias prevê uma meta alvo, no caso brasileiro de 4,5% de inflação, que admite uma tolerância de variação de 2 pontos percentuais, tanto para cima quanto para baixo.
Assim, só para deixar clara a questão: o sistema diz que o BC tem o dever de manter a inflação no intervalo compreendido entre 2,5 e 6,5% e, qualquer valor no interior dessa faixa significa que o programa não apenas continua sendo adotado, mas que está sendo adotado COM ÊXITO.
Então, como entender que aqueles que antes criticavam a política de juros elevados foram os primeiros a criticarem a queda desses juros?
Deixando de lado a clara e inequívoca defesa que essa turma de analistas econômicos sempre adotou em prol da manutenção de interesses e benefícios de setores econômicos privilegiados e mais poderosos, como o sistema financeiro, prejudicado com a redução de seus ganhos e sem a bandeira de um suposto custo elevado do dinheiro como justificativa para manutenção de spreads estratosféricos, a conclusão é uma só. E aponta para o fato de que a dita oposição não tinha, como não tem é discurso.
E, sem discurso, bandeiras ou argumentos, atacava por um motivo a questão dos juros e, tão logo o governo agiu na direção que eles propugnavam, mudou o argumento, mudou a direção da crítica, apenas para continuarem marcando a oposição de ser do contra.
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Assim, os juros altos que passaram a declinar a cada reunião do Copom, atingindo os níveis mais baixos de nossa história recente, tanto em termos nominais quanto reais (descontada a inflação), tudo dentro de um programa destinado a reduzir o custo do dinheiro, estimular o investimento e até o crediário, enfim, estimular corretamente a manutenção do crescimento da nossa economia e do emprego, viraram objeto de uma nova crítica.
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Em termos de política fiscal deu-se o mesmo fenômeno. Visando estimular a demanda, razão primeira das decisões de produzir e de investir do empresariado, sempre de olho na elevação das vendas, de suas receitas e de sua rentabilidade, o governo resolveu reduzir a carga de tributos sobre alguns produtos, notadamente o IPI, prorrogando em várias oportunidades a duração dessa medida.
Sim, não há como negar: a redução atingiu de forma privilegiada à indústria automobilística, o que dá ensejo à crítica de que mesmo o governo do partido dos trabalhadores teve de se curvar aos interesses de grupos empresariais tão poderosos quanto o da indústria automobilística.
Mas, feita a crítica, é importante que se recorde que, desde os anos 50, e depois na época do milagre do fim dos anos 60, início dos 70, foi o automóvel e a indústria a ele vinculada, que serviu de ponto de germinação ou indústria polo, aquela que por seu crescimento cria demanda derivada para várias outras indústrias.
E o IPI acabou sendo reduzido também para outros vários produtos como os de material de construção, ligados à indústria de construção civil, a indústria que mais assegura a geração de empregos, e outros ainda, como os produtos de linha branca, etc.
Ao agir assim, o governo adotava política econômica para estimular a demanda e as compras, com o que contava com o concurso de medidas destinadas a facilitarem e a baratearem o crediário, além de estarem adotando medidas cobradas diariamente por empresários e "analistas" de araque, que sempre se bateram pela redução da carga tributária.
E o governo continuou agindo: reduzindo a incidência tributária sobre a folha de pagamentos, primeiro para alguns setores (sempre os privilegiados e mais poderosos), mas estendendo as mesmas medidas para um série de outros setores, posteriomente, na tentativa de reduzir o custo de produção industrial, e estimular as vendas e o crescimento.
Dessa forma, substituiu os encargos sobre a folha, por outros que incidiam sobre o faturamento.
E o que a oposição, aquela que tanto criticava o ônus da carga tributária começou a bradar, através de seus arautos? Que o estímulo à redução de preços e ao crediário, juntos iriam por mais lenha na fogueira, alimentando o recrudescimento do processo inflacionário, indicando claramente a subordinação do Banco Central à política econômica e o consequente abandono do sistema de metas...
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Quando para não dar combustível à inflação, o governo não corrigiu o preço dos combustíveis e, para não prejudicar as contas da Petrobras, resolveu reduzir a CIDE, outra medida de cunho fiscal, ao invés de aplaudirem a preocupação com o controle inflacionário, correram a criticar o fato de que a Petrobras seria prejudicada, menos preocupados com a saúde da empresa e mais preocupados com os minoritários e o valor das ações em bolsa, face a reação dos mercados...
E quando clamavam pela redução de custos industriais e o governo resolveu reduzir o custo de energia, de fundamental importância na formação de preços de produtos beneficiados, alegaram que o governo queria quebrar as concessionárias de energia elétrica, o que não agradaria aos mercados, cuja reação se daria com a derrocada dos preços das ações nas bolsas.
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Quando o governo estimulou o financiamento de longo prazo para aquisição de imóveis, a critica chegou, inclusive, a argumentar que, dada a escassez de mão de obra para a construção civil, o resultado da medida seria mais lenha na fogueira da inflação.
Mais tarde, quando os bancos públicos cortaram agressivamente os juros na ponta do tomador individual, estimulando o crédito ao consumo e obrigando os bancos privados a reduzirem suas margens, sob a ameaça de perderem parcelas expressivas de mercado, mais uma vez o fantasma da inflação e da descapitalização de bancos com ações em bolsa serviram de temas para as críticas. Críticas de analistas que só se lembram dos pequenos interesses e dos menos poderosos nessa hora, dos minoritários.
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Ao fim de 2012, esses mesmos analistas comemoraram, por falta de bandeiras, de juízo, ou até de vergonha na cara, para não alegar o tal patriotismo,  o fracasso do crescimento da economia brasileira.
Segundo eles, o crescimento do PIB de apenas 1%, se tanto, aliado ao não cumprimento da meta de superávit primário, que não teria sido alcançada não fora a adoção de artifícios e malabarismos contábeis que envolveram até o uso do Fundo Soberano, somaram-se ao descontrole da inflação que começou a se manifestar novamente. Tudo somado, o resultado é o retumbante fracasso das políticas do governo petista. Do governo Dilma.
Na verdade, tudo bem analisado, indica a falta de argumento, de proposta e de projeto de um falido PSDB, que se prepara agora para mais uma derrota fragorosa do menino do Rio. Aquele mesmo que promoveu um choque de gestão em Minas, que quebrou as finanças do Estado.
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O que salta aos olhos é que, sem discurso, o discurso que se segue não precisa ter racionalidade, bastando apenas ser sempre do contra.
A inflação não tem, como responsáveis, o câmbio, que em parte do ano foi objeto de ações que visavam a desvalorizar nossa moeda, de forma a aumentar a competitividade de nossos produtos industríais e nossas exportações. Nem tem como uma de suas várias causas os problemas climáticos, que afetaram os alimentos, alguns dos quais já suficientemente afetados por aumento da demanda de alimentos no mercado internacional (caso da carne, por exemplo).
O descumprimento das metas de superavit primário não é encarada como seguindo a mesma linha dos orçamentos de vários outros países, sempre lembrados como modelos, pelo menos naquelas ocasiões em que estão adotando medidas distintas das nossas. E não segue a lógica da redução da tão falada carga tributária, reclamada por tantos que agora a criticam.
Os juros, embora em níveis mais baixos, ainda são mais elevados que de grande parte de nossos parceiros comerciais, embora indiquem que o governo abandonou de vez o sistema de metas, ao menos na visão tacanha e medíocre dos analistas que são meros porta-vozes dos bancos. Empregadinhos de quinta categoria.
O crescimento do PIB, um fracasso, não tem nenhuma análise mais séria. Trata-se de falhas do governo e da adoção de políticas econômicas insustentáveis, mal planejadas e colocadas em ação por uma equipe incompetente, como diriam ... os tabloides ingleses.
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Em minha opinião, para fechar essa longa nota: o estímulo ao consumo tem um momento de crescimento, vivido em 2010 no último ano de governo Lula, mas depois começa a apresentar crescimentos decrescentes, já que chega um momento em que a classe cujo consumo pode crescer, estimulando toda a demanda, tem de começar a liquidar os créditos recebidos.
Mas, além disso, e lembrando que o consumo cresceu pela incorporação de novos contingentes de consumidores, beneficiados pela política de distribuição de renda do petismo, a chamada classe C ou nova classe média, realizado o sonho de ter comprado seu primeiro carro, de ter trocado os aparelhos eletro-eletrônicos por outros mais modernos e mais sofisticados tecnologicamente, de ter começado a viajar e a fazer turismo e até a "andar de avião" ou fazer cruzeiros, não irá continuar demandando, em escala ampliada, esses bens recém adquiridos, o que irá fazer a demanda se desacelerar naturalmente.
A menos que prosseguisse o processo de incorporação de novas camadas de famílias consumidoras, o que acho bem mais complexo.
E é bom que se lembre que, quando passam a aumentar o consumo de serviços, aí sim, temos o espaço para a elevação de preços por falta de mercados concorrenciais organizados, para a fixação de um certo patamar de preços.
Já quanto à pequena evolução de investimentos, creio que tem mais a ver com uma culpa sim do governo. Não pelos motivos alegados pelos economistas do mercado. Mas pelo fato de que, na medida em que o governo foi, paulatinamente, esperando uma reação do empresariado que não se efetivou, foi criando abrindo seu saco de bondades e criando novos benefícios a esses empresários.
Vendo essa reação, o que os empresários fizeram, em minha opinião, foi exatamente ficarem esperando, adiando suas decisões, protelando os investimentos, para forçarem a que mais benefícios lhes fossem concedidos.
Ou seja, o que não é nem um pouco irracional: jogaram na inércia, para arrancarem do governo mais e mais benesses.
Afinal, esse é o jogo. E o nome do jogo é capitalismo.



3 comentários:

Unknown disse...

O que mais me deixa consternado, não é a posição da esquerda que, quer o Brasil esteja crescendo ou caminhando para o fracasso econômico, eles sempre encontrarão respaldo para serem do contra. O que me deixa chateado são meus futuros amigos de profissão (economistas) que vendem suas ideias a partidos, afim de apenas aparecer em um canal de grande circulação nacional, pouco se importando com seu juramento profissional, que é o de trazer soluções que auxiliem sempre no desenvolvimento do país, se a crítica for o instrumento para alerta, que ela seja embasada na verdade e não em opiniões partidárias.
Resta-me elogiar meu professor por sua incontestável inteligencia.

Anônimo disse...

SE NÃO FOSSE A EXISTÊNCIA DO PSDB, ONDE E COMO OS PETISTAS DESCARREGARIAM SUAS FRUSTAÇÕES? O MARXISTA PAULO FEITOSA NOS MOSTRA NESTES COMENTÁRIOS ECONÔMICOS COMO OS ESQUERDISTAS XIITAS SÃO RAIVOSOS E NÃO CONVIVEM BEM COM AS CRÍTICAS DA OPOSIÇÃO, MESMO QUE SEJAM IRRACIONAIS, POIS ELAS ERAM FEITAS À EXAUSTÃO PELOS PETISTAS ENQUANTO ENTRINCHEIRADOS NAS HOSTES OPOSICIONISTAS AO GOVERNO FHC. MAS, ARGUMENTAVA-SE, ESTE ERA O PAPEL DELES. QUEM NÃO SE LEMBRA QUE OS PETISTAS FORAM CONTRA O PLANO REAL, A REFORMA DA PREVIDÊNCIA, A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL E TANTAS OUTRAS INICIATIVAS DO GOVERNO FHC PARA MELHORAR A QUALIDADE E A EFICIÊNCIA DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO ESTADO BRASILEIRO, COISA QUE ESTÁ LONGE DE INTERESSAR AO ATUAL GOVERNO PETISTA. AS RECENTES MEDIDAS ECONÔMICAS DO GOVERNO PETISTA, CRIATIVAS DIGA-SE DE PASSAGEM, APLAUDIDAS PELO PAULO FEITOSA, SÃO TODAS NO SENTIDO DE IMPEDIR A ESTAGNAÇÃO OU RECESSÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA, BASICAMENTE VOLTADAS PARA A MANUTENÇÃO DO CONSUMO DAS FAMÍLIAS E EMPRESAS. ENQUANTO ISSO, PERSISTEM O PAQUIDÉRMICO ESTADO BRASILEIRO, CORRUPTO E INEFICIENTE, O AMBIENTE DE NEGÓCIOS EXTREMAMENTE HOSTIL AOS EMPREENDEDORES, O CAOS NA SEGURANÇA PÚBLICA E NA INFRAESTRUTURA, ASSIM COMO PRECÁRIAS A SAÚDE E A EDUCAÇÃO PÚBLICAS. AH, ANTES QUE EU ME ESQUEÇA, O CUSTO DE VIDA NO BRASIL ESTÁ PELA HORA DA MORTE E, IMAGINO EU, SEJA POR ISSO QUE TANTOS BRASILEIROS VÃO PARA O EXTERIOR PASSAR SUAS FÉRIAS E GASTAR SUAS ECONOMIAS.
CONTINUO ACHANDO QUE A ATUAL GESTÃO DA ECONOMIA VAI, CEDO OU TARDE, LEVAR O PAÍS PARA O BURACO.

Anônimo disse...

Nunca comentei em um blog, mas já que vc fez esse post tão grande e me mandou um e-mail vou deixar aqui meus comentários.
-Sobre a posição da oposição, minha opinião, que não tem fundamento teórico ou empírico, devido minha falta de interesse no tema: O funcionamento do setor público, gestão, organização, contratação, etc. é péssimo, e independente de qual partido esteja no poder, a oposição fará oposição, sem considerar as propostas do governo, e quem está no poder trabalhará em beneficio próprio.
- Sobre a Meta de inflação: a importância da expectativa de inflação futura é clara e sabemos que o BACEN vem cumprindo-a nos últimos anos (com ressalvas em 2011, que alguns defendem manobras como mudanças excessivas de peso de itens, entre outras para atingir a meta). Creio que a critica seja ao posicionamento do Banco Central, que no próprio site diz: “Missão: assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente.”, parece ser preocupar mais com crescimento econômico do que com a inflação.
A recente do BACEN deixa a impressão de que sua missão incorporou: garantir crescimento econômico, ajudar o superávit a uma inflação abaixo de 6,5%.
-Sobre politica fiscal: os esforços do governo para garantir o crescimento em 2011 não surtiram muito efeito, o governo gastou muito, cortando impostos e investindo (PSI). Para setores como o automobilístico, que pelo menos em Minas Gerais, não é mais um setor chave (matriz insumo-produto 2005), entre outros... Criando um déficit imenso que teve que ser disfarçado com a chamada “contabilidade criativa”, destrinchada aqui: http://mansueto.wordpress.com/2013/01/08/sobre-truques-fiscais-e-a-contabilidade-criativa/ pelo Mansueto.
O importante é que não deram resultados, o que me deixa em duvida se o problema é incompetência ou a intenção é a camaradagem.
-Provavelmente esqueci de comentar outros pontos importantes, mas em resumo acredito o governo age sempre de forma paliativa, sem planos de desenvolvimento, com politicas direcionadas, atrapalhando a alocação de recursos do mercado, que deveria ser a regra, não exceção. Claro que várias dessas politicas tem efeitos sociais positivos (casa própria, primeiro carro, etc), difíceis de serem mesurados, mas como politica de crescimento e estabilidade, não são positivas aos meus olhos.