Em 2003, ao assumir o governo, Lula convidou Henrique Meirelles para ser presidente do Banco Central, o que provocou a maior celeuma. Afinal, o indicado não apenas era um banqueiro, vindo do mercado, com visão muito diferente daquela sustentada por Lula, seu projeto e seu PT. Mais que isso, Henrique Meirelles tinha acabado de se eleger deputado por Goiás, pela sigla do PSDB.
Henrique Meirelles assumiu o BC, em pouco tempo virou ministro, Ministro Presidente do Banco Central, compondo um dos trinta e tantos ministérios que temos hoje em nosso país (há rumores de que virou ministro para paralisar o andamento de um processo administrativo, de que era parte, justamente aberto pelo Banco Central).
Mas, deixemos isso pra lá.
O importante é que, ao lado de Palocci, que nada entendia de economia, Lula praticou uma política econômica que negava tudo quanto havia prometido fazer enquanto estava em campanha.
Agindo assim, não apenas se dobrou ao mercado e especialmente aos interesses do capital financeiro, mas conseguiu trazer de volta para o centro da meta, a inflação que FHC e seu Armínio, deixaram fugir ao controle.
Aliás, não apenas trouxe a inflação para a meta, com algum lapso de tempo, foi além: conseguiu manter a inflação abaixo da meta, em alguns períodos, embora não promovesse qualquer redução nas taxas estratosféricas de juros praticadas em nosso país. Além disso, onseguiu por ordem nas contas públicas, prometendo e entregando superávits primários expressivos, para o que deve ter, sem dúvida, recebido a contribuição de Joaquim Levy.
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Visto que já faz parte da história do PT, ao assumir o governo, praticar o que alguns chamam de capitulação ao mercado e aos interesses do mais ricos, ou o que é considerado estelionato eleitoral por parte da oposição, é importante lembrar que, com Lula, o principal programa de assistência social, o Fome Zero, foi um fracasso rotundo.
Mas entende-se que, caso não fizesse a continuidade da política que tanto criticara, fatalmente enfrentaria uma resistência junto à sociedade que poderia resultar em uma crise de governabilidade com consequências imprevisíveis. Afinal, a manutenção do descontrole inflacionário, junto à situação externa caótica (que levou à celebração de um empréstimo em valor recorde junto ao FMI), seriam imputados a sua gestão, mesmo que ele não tivesse tido tempo para qualquer medida de caráter mais popular.
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Importante é se lembrar que, a partir do primeiro ano de seu governo, uma série de fatores, a maior parte alheia a nossa situação econômica, veio contribuir para que a economia não sentisse em demasia os efeitos necessariamente recessivos da política econômica ortodoxa em curso. O crescimento da China e a voracidade com que invadiu os mercados internacionais demandando bens primários, como minério de ferro, soja, etc, todos produtos em que o Brasil apresenta competitividade, permitiu que a economia brasileira passasse a crescer, colaborando para que a questão externa fosse equacionada em tempo mínimo, além de o país poder começar a expandir, a baixo custo, gastos sociais que impulsionaram nosso mercado interno e gerou além da incorporação de quase a população de uma França ao nosso mercado consumidor, com seu efeito multiplicador, a elevação do nível de crescimento e, principalmente a redução da desigualdade vergonhosa que nos caracteriza.
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Com crescimento, receitas em elevação e superávits primários que tranquilizavam os mercados ainda beneficiados por juros extremamente generosos, o país pôde expandir o público alvo do Bolsa Família, universalizando o programa, além de propor uma legislação para assegurar que o salário mínimo pudesse obter ganhos reais começando a tentar corrigir a nódoa de nossa distribuição de renda.
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Ainda na ocasião da crise financeira de 2007/2008, e sua disseminação para o resto do mundo, em 2009, Lula pode praticar política mais voltada para as camadas menos favorecidas da população facilitando, junto à manutenção da lei de reajuste de salários, o acesso ao crédito, voltado a estimular o consumo popular.
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Kalecki, economista polonês de grande importância e pouca divulgação, já havia mostrado em trabalho monumental que enquanto os trabalhadores gastam o que ganham os capitalistas ganham o que gastam. E que o nível da renda nacional seria consequência direta dos lucros acumulados pelos empresários obtidos em decorrência de seus gastos em investimentos, principalmente.
Ou seja, a adoção de políticas de favorecimento ao consumo popular só teria consequências sustentadas para o crescimento econômico, caso gerasse um ambiente positivo e estimulante para levar os empresários a desejarem investir.
O país cresceu no último ano de Lula, 7,5%. Um êxito, Mas, a eleição de Dilma e seu jeito de lidar com os mercados afugentou os investimentos. Se bem que, creio que mais que a simpatia ou antipatia pela mandatárias, contribuiu muito para isso, o fato de nossa taxa de juros não ser favorável à inversão produtiva. Antes, incentivava mais a expansão das aplicações financeiras.
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Pior, a presidenta passou a adotar política dita de cunho keynesiano, baseada no estímulo a setores empresariais selecionados, o que trouxe certa insatisfação junto aos setores não privilegiados, enquanto as consequências da continuidade da crise, agora sob a forma de uma recessão em escala mundial, fizeram encolher nossas exportações, reduzindo nossa demanda e nosso crescimento.
Sem investimentos a economia começou a patinar, especialmente quando as famílias já endividadas passaram e reduzir seu endividamento, consumindo menos.
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Bem é nesse quadro que Dilma, a geniosa entrega o comando do governo a Dilma, a governante que deseja inscrever seu nome na história e, mais que isso, tem o dever de fazer um governo que venha a reduzir a resistência que sua antecessora gerou nas camadas de classe média e mais abastadas do país. Afinal, ela tem o dever de criar e fomentar um ambiente que permita a Lula levar avante seu plano de voltar ao Planalto.
E, tendo em vista que a classe média e os extratos de renda mais elevada votaram maciçamente na oposição e na proposta de política econômica mais conservadora, talvez esteja aí, a primeira pista para que possamos entender a razão de Dilma ter escolhido, na frase espirituosa de um político da oposição, chamar o genérico de Armínio, para assumir "o lojinha".
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Uma coisa parece certa, Dilma começou roubando a bandeira e tirando o discurso da oposição, que agora não tem assunto. Exceto ficar martelando o tal estelionato perpetrado pela presidenta.
Pena que, ao que parece, leva junto aquela parte melhor de toda a experiência de seu partido no poder: a atenção preferencial aos menos privilegiados.
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Deixamos para aprofundar mais nossa análise, em comentários subsequentes.
3 comentários:
O que me enlouquece e ver o PT manipulando milhões de Brasileiros. Como disse, ele prega um discurso que não pratica, muito antes pelo contrario. O PT é igual aquele tipo de patrão "legal" que paga 'golo' pro pessoal, faz piada, mas faz todo mundo trabalhar mais e não paga hora extra, benefícios e tal... Manipulação de massa é algo inaceitável.
Manipular o que? Que o PT infelizmente caiu no ostracismo e na mesmice dos outros partidos, não se pode negar. Mas foi o único partido que enfrentando uma imprensa feroz, e uma oposição fascista, implantou um programa de transferência de renda que de fato levou as pessoas ao mercado de consumo. E não é apenas isso: deu dignidade às pessoas. Inclusive, mais que dobrou o número de pessoas nas faculdades. Ou seja, no médio e longo prazo, quem ganha com mão de obra mais técnica e robusta é o Brasil. Por que estas pessoas que estudam hoje, produzirão mais e melhor daqui a algum tempo. O PT transcendeu uma certa parte da velha política, apesar de ter incorporado para si, práticas da máquina pública e de velhos políticos, que infelizmente mancham o estatuto partidário e deturpam a carta aberta ao povo brasileiro. Contudo, ainda é o partido que mais fez este país crescer e se tornar dono de si mesmo. Ou o Matheus acha que o Estados Unidos pensava em um futuro melhor no Brasil em acordos bilaterais, que mais pareciam unilaterais com FHC? A grande crítica a se fazer ao PT, é que o parque produtivo ainda permaneceu vivendo com altos impostos e situações macroeconômicas que comprometem os investimentos e naturalmente a expansão econômica. O custo logístico e a mão de obra desqualificada, são situações que marcam a pouca produtividade. São 16 anos de poder, e apenas Dilma foi quem abriu concessão de rodovias importantes para o escoamento de grãos, por exemplo. Mesmo assim, são também investimentos que darão resultado no médio e no longo prazo. Ou seja, o PT foi o único partido que de fato tentou mudar a história massacrante deste país, da monarquia absolutista ao Fernando Henrique Cardoso. E por isso, é categoricamente pisado e tergiversado pela imprensa, e consequentemente por uma população que falta pensar um pouco mais.
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