quarta-feira, 16 de março de 2016

Plantão: Lula ministro; mas antes as trapalhadas de Mercadante, que não são de agora

Não dá para acreditar nem um pouco nos indícios, suspeitas e acusações que a revista Veja tem publicado já há muitos anos, ela que já vem, há muito tempo desconstruindo a imagem que conseguiu criar de revista séria, investigativa, e comprometida com a democracia, nos tempos da ditadura militar.
Especialmente não dá para fazer qualquer referência à revista, principalmente nesses últimos tempos em que ela passou a encarnar a figura de principal canal de manifestação de uma parcela da população brasileira, que se caracteriza pela adoção de posições direita, além de elitistas e golpistas.
***
Vejam bem: não estou afirmando que os grupos de direita podem ser confundidos com as elites, nem o caso contrário de as elites serem todas de direita.
Estou sim, manifestando minha opinião a respeito do posicionamento ideológico e dos interesses confessados e inconfessáveis que, sob minha ótica, a revista hoje defende.
***
Feita a observação, necessária, também necessário é dizer que não há nada demais em grupos e órgãos de direita terem e fazerem uso de veículos de comunicação em defesa de sua ideologia. Isso faz parte da democracia, por princípio: a livre manifestação e a liberdade de imprensa.
Mas, convenhamos que não dá para tolerar é que esse posicionamento, nítido, seja disfarçado ou blindado por um discurso de imparcialidade vazio e tolo. Além de inútil.
***
Mas, cito a revista nesse momento, porque foi em seu poder que caíram gravações feitas por Expedito Veloso, diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil,  acusando o então ministro de Ciência e Tecnologia do primeiro mandato de Dilma, o senhor Aloízio Mercadante, de eia Mais:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,relembre-o-escandalo-dos-aloprados,737712ser o mandante de uma operação que Lula definiu como obra de aloprados. (Conforme citado em coluna de Jair Stangler, do Estadão, em 28 de junho de 2011, site consultado hoje, às 11:40 horas).

Ou seja: meu pitaco hoje longe está de tratar de uma revista que, reputo, não é referência para ser utilizada.
O tema hoje é o aloprado Aloízio Mercadante.
***
Só para lembrar rapidamente do caso, contrariando a vários dirigentes petistas, Aloízio obteve a indicação de seu nome para concorrer ao governo paulista no pleito de 2006.
Pelo PSDB, o futuro governador de São Paulo, Serra, cujo nome foi citado em acusações que se provaram falsas posteriormente, relacionado a Máfia dos Sanguessugas, quando ministro da Saúde.
A operação de aloprados consistia na compra de dossiê incriminando Serra, professor da Unicamp assim como Mercadante.
***
Pego em flagrante, o assessor de comunicação da campanha de Mercadante foi sumariamente destituído da posição que ocupava, é necessário dizer, a bem da verdade.
***
De lá para cá, cada vez mais fui formando a convicção de que Mercadante, transformado depois em homem forte do governo Dilma não era o político que muitos acreditavam ser.
Digo isso sem qualquer fato ou ato, ou comprovação de qualquer malfeito da parte dele. Apenas por uma questão de intuição...
Mas o fato é que sempre o achei autoritário, arrogante e trapalhão.
***
Anos depois do caso dos aloprados, Mercadante ocupou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, dando demonstrações de tudo que eu já imaginava dele.
Originário do Congresso, onde foi deputado e senador, era interessante ver como mantinha uma relação completamente antagônica às casas cujo funcionamento e ocupantes devia conhecer bem melhor.
Muito das derrotas de Dilma foram decorrência de suas análises equivocadas, de suas trapalhadas, inclusive na forma em que se portou na eleição de Cunha para presidente da Câmara.
***
Não sou eu. Foi Lula quem, conforme citação da imprensa, chegou a pedir à Dilma a cabeça de seu ministro, dada a quantidade de pedras que o chefe da Casa Civil ia empilhando no caminho, ao invés de ir limpando o trajeto.
Embora não seja muito informado de questões intestinas ao PT, parece que Aloízio travava uma guerra interna para poder se cacifar para concorrer à candidatura à Presidência de República em 2018, disputando a indicação de seu partido contra o cacique-mor, Lula.
***
Agora nova operação de Mercadante ganha as manchetes de jornais, mercê da delação e denúncia e apresentação de gravações de ligações telefônicas que o ministro teria dado a assessor do delator Delcídio do Amaral.
E, curiosamente, se Delcídio hoje faz uso do instituto da delação premiada é porque foi pego, por conta de gravações, cometendo o delito de tentar obstruir a justiça, além das bravatas de ser capaz de interferir em decisões do Supremo, como quem tem ministros a seu dispor, sabe-se lá por que razão.
Justo o mesmo que Aloízio repete nesse instante, em operação que Lula já havia chamado de coisa de imbecil, de idiota.
***
Assim, não me causa estranheza que o atual ministro da Educação de Dilma repita a mesma trapalhada imbecil ou idiota, protagonizando o triste espetáculo de repetir o que levou Delcídio ao xadrez.
Mas, como já intuía, vindo de Aloízio nada a estranhar.
E, confesso que não creio que Dilma soubesse mesmo de mais essa trapalhada de Mercadante.
Porque admitir que a presidenta soubesse é sinal de que os ares de Brasília, ou pior ainda, o ar que se respira nos palácios oficiais  fazem mal a qualquer pessoa, mesmo que medianamente inteligente, retirando delas qualquer capacidade de raciocínio.

Lula ministro

Enquanto redigia o pitaco acima, me ligam avisando e perguntando minha opinião quanto à nomeação de Lula para ministro da Casa Civil, lugar especialmente adequado a seu perfil.
Como diz Zé Simão, principalmente se se puder dizer que a Casa Civil é de Dilma, ou seja, da amiga.
***
Não acho que Lula esteja sendo indicado para ser blindado. Isso seria aceitar que o Supremo, instância a quem incumbiria julgá-lo agora, pelo foro privilegiado que adquire, e onde tem assento um Gilmar Mendes, inimigo ferrenho do PT, partidário do PSDB que é, é conivente e incapaz de agir.
O que é negado pelo comportamento que o Supremo vem adotando, em questões em que atendeu ao clamor da população, como a da interpretação da Constituição contrário ao que está ali explicitado, de que pode ser preso todo aquele que for condenado em segunda instância.
***
Se Lula não escapa ao julgamento, ainda mais sob escrutínio da população, aceitar ser ministro pode afetar sua desejada candidatura em 2018, condenando-o definitivamente a sair pelas portas do fundo da história.
Mas, é importante dizer que Lula é hoje, sim, o único homem com a habilidade necessária para tentar aglutinar os partidos da base aliada, principalmente o PMDB, conseguindo impedir que o impeachment golpista possa avançar.
Nunca é demais lembrar que Lula sabe, pela posição que ocupou que o que une os políticos e congressistas nesse momento é a lama e sujeira em que todos estão envolvidos.
Sem alarde, só Lula poderá chegar a, com a sutileza necessária chantagear a todos com quem conversar.
De mais a mais, sempre poderá, como última cartada, alegar que aqueles que não votarem a favor de Dilma poderão ser alvo de uma delação premiada que ele terá chance de negociar, caso seja, também ele, preso.
Afinal, é disso que alegam que ele está tentando escapar: da prisão.
E como outros, porque não dar tratos à imaginação e pensar que, ao menos como ameaça, ele pode mencionar o desejo de reduzir sua pena, pelo uso da delação premiada.
***
Triste Brasil esse nosso!

Assine o Estadão All Digital + Impresso todos os dias
Siga @Estadao no Twitter
Leia Mais:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,relembre-o-escandalo-dos-aloprados,737712
Assine o Estadão All Digital + Impresso todos os dias
Siga @Estadao no Twitter

Nenhum comentário: