terça-feira, 29 de março de 2016

Uma homenagem. E de volta às voltas da situação do país

Acredito que, em parte, somos todos a resultante das influências que recebemos daqueles com quem tivemos a oportunidade de conviver, ao longo do tempo.
Dessa forma, independente do tempo do convívio, cada pessoa nos deixa marcas e experiências que iremos incorporar e que irão, ao final, compor a realidade múltipla e complexa em que nos transformamos.
Algumas pessoas, no entanto, marcam mais que outras, seja pelas suas características distintivas, seja pela forma de contato mais intensa, seja pelo tempo de convívio mais extenso.
Minha tia, Maria Nircy foi um desses casos, e não estaria nem exagerando, nem deixando de dar a devida importância a várias outras pessoas, em dizer que ela foi uma das pessoas cuja influência em minha formação, explicam muito do que sou.
***
Desde pequeno, sua presença foi significativa, em especial acompanhando e dando as primeiras orientações em relação aos deveres de casa, permitindo e liberando minha mãe para que pudesse retomar e se dedicar aos estudos que lhe permitissem qualificar-se melhor para galgar melhores posições no mercado de trabalho.
Foi dela o incentivo para que eu procurasse sempre acreditar em minhas possibilidades, sem deixar de respeitar minhas limitações, como no dia em que o Para Casa pedia para que eu desenhasse nossa escola.
Sentindo-me incapaz de fazer qualquer desenho que pudesse dar uma pálida ideia da construção, e pronto a desistir, lembro-me de que ela me tomou pela mão e me levou até a frente da porta da escola. Ali, sentados no meio fio, incentivou-me a fazer os traços de um desenho que, se não fosse capaz de representar o prédio, não deixava de ser o MEU desenho, de como eu via a MINHA escola.
Uma escola especial, exclusiva.
***
Foi ela também quem me ensinou a beleza das palavras, a sua sonoridade, seu ritmo, sua capacidade de transmitir sensações e emoções incentivando-me a dar asas à imaginação, e tornar-me mais que interessado em textos em prosas e em versos, alguém capaz de arriscar alguns poemas furtivos.
***
Devo muito a ela, e saber que ela faz parte daquilo que sou conforta-me e me faz ter consciência de que ela não passou apenas para o outro lado do caminho, como disse Santo Agostinho, no último dia 20, um Domingo de Ramos.
Afinal, parte dela ficou aqui comigo, conosco. Embora ela fará muita falta, como fazem todos aqueles capazes de construírem e lutarem por um mundo melhor.
Que tia Maria Nircy, muito adequadamente formada em Relações Públicas, descanse em Paz.
***


A situação do País

Confesso que alimento um grande temor pela possibilidade, cada vez mais concreta, de que a Câmara consiga obter o número de votos necessários para que seja instaurado o processo de impeachment de Dilma Roussef, talvez a presidente mais incompetente que o país jamais teve.
E olhe que já tivemos um governante como Sarney, em cujo governo o Brasil alcançou níveis recordes de inflação, chegando ao cúmulo de uma inflação de mais de 80% ao mês.
Sarney, cujo ministro da Fazenda por completa e absoluta incapacidade, em uma ocasião que o país demandava soluções urgentes, optou por adotar uma política que foi por ele caracterizada como de feijão com arroz.
***
Tivemos depois Collor, e seu único tiro para liquidar a inflação, que redundou no maior engodo que o país experimentou, caracterizado pelo confisco, por corrupção desenfreada, por atos de pura inconsequência como os que caracterizaram sua reforma administrativa.
Reforma atabalhoada, que resultou na colocação em situação de disponibilidade de milhares de funcionários públicos, afastando-os do serviço público.
Todos, mais tarde, reconduzidos aos órgãos de onde sua condição legal não permitia que tivessem sido afastados. Com os pagamentos de atrasados e outros gastos adicionais.
Tentando reduzir a folha de salários e os gastos públicos, Collor protagonizou, entre outras, medidas de liquidação de órgãos como a Capes, o que deixou milhares de bolsistas, no país e no exterior, sem recursos para sua sobrevivência.
Mas, o que notabilizou mais o presidente Collor e seu governo foi a instauração da República da Casa da Dinda e a corrupção que tomou conta dos negócios públicos, redundando em sua renúncia, para fugir da decretação de seu impeachment.
***
Depois veio Itamar, e um ano de planos econômicos destinados a procurar controlar a inflação, com trocas de ministros da área econômica e de presidentes do Banco Central, até que, por falta de alternativas o presidente resolveu embarcar e apoiar o Plano Real que, finalmente, conseguiu êxito no combate à inflação.
***
Dos governos que lhe seguiram, com FHC e Lula, apesar de críticas localizadas que poderiam ser feitas, os resultados positivos são apontados, de forma generalizada, como superiores aos resultados negativos.
Mas, Dilma é um caso ímpar.
Tendo começado em seu primeiro mandato com grande apoio popular, aos poucos veio dilapidando o acervo de popularidade que seu antecessor lhe legou e que ela soube cultivar nos primeiros dois anos.
Daí para a frente, sua personalidade começou a se impor e sua presença cada vez mais forte começou a trazer desgastes em várias das frentes de atuação.
Indispôs-se com a classe política, com o empresariado, tanto o grande quanto o setor de pequenos e médios empresários. Indispôs-se com seus próprios colaboradores, não sendo raras as notícias a respeito de atritos com seu próprio criador, o ex-presidente Lula.
***
O resultado de sua gestão foi, do ponto de vista econômico, um controle mais frouxo da inflação, embora sempre mantida nos limites do intervalo do sistema de metas, mais flexível, mas não abandonado. Além disso, protagonizou um período de queda das taxas de crescimento do PIB, o que foi usado como argumento para a adoção de políticas de incentivos e subsídios que não apenas não contribuíram para a recuperação intentada, como ajudaram a agravar a situação das contas do governo.
Com isso chegamos às eleições de 2014 em que, surpreendentemente, por suas falhas, o governo Dilma conseguiu a façanha de deixar que a oposição chegasse a ameaçar seriamente o projeto de 20 anos de poder do PT.
Especialmente no segundo turno, a oposição chegou muito próxima de obter a vitória, mais por deméritos do oponente, que por seus méritos, se existentes.
***
Vitoriosa, Dilma voltou a patrocinar um show de equívocos, como o de convidar e trazer para seu ministério Joaquim Levy, justamente o figurino que ela combatia no indicado como ministro da Fazenda de Aécio. Com o agravante de não ter a experiência de Armínio Fraga, nem os apoios.
Posteriormente, Dilma conseguiu nomear um dos ministérios mais fracos de nossa história, com nomes completamente inexpressivos, muito aquém dos nomes necessários para tranquilizar e dar algum tipo de direcionamento à sociedade brasileira. Com raras exceções, Patrus Ananias, entre elas, a fragilidade dos ministros era tão patente, que mereceu críticas aqui mesmo em nossos pitacos.
***
Nesse meio tempo, a oposição, não tendo conseguido ser vitoriosa nas  urnas, começou a tramar a tomada do poder no tapetão, ou seja, por meios criticáveis como a tentativa de impeachment, ou as infindáveis denúncias apresentadas junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Pior ainda, a oposição começou a boicotar toda e qualquer medida que o governo enviava ao Congresso, para tentar por ordem às contas públicas. Medidas que, mesmo sujeitas a críticas dos movimentos sociais e economistas não conservadores, não puderam nem mesmo ser postas em prática.
Ao contrário, a oposição parecia querer ver o circo pegar fogo, aprovando medidas que antes condenavam.
***
Nesse interim, ao invés de tentar o diálogo e o convencimento, ou mesmo a negociação comum e tão criticada com deputados, o que Dilma fez foi se indispor com Eduardo Cunha, eleito presidente da Câmara, e criar arestas para todos os lados.
Sem habilidade e capacidade de negociação e mesmo interlocução no Congresso, Dilma foi cada vez mais se alienando, o que explica a debandada do PMDB, maior partido de apoio a seu governo. Isso, sem contar que o próprio PT já a havia abandonado, por força de não concordar com as medidas econômicas propostas à discussão.
***
Mas, agora que o impeachment parece cada vez mais próximo, é inegável que é necessário assinalar que, embora previsto na Constituição, o impeachment não deixa de ser, SIM, um golpe, já que motivado por razões que, no texto legal, não dão origem à medida de tamanha extremidade.
Então, se estar previsto na Constituição o torna um instituto legítimo, o desrespeito à suas condições faz dele um golpe.
E Dilma está sendo vítima de um golpe. No fundo, por ser arrogante, autoritária, e incompetente como gestora. Mas, só isso.
Motivos não suficientes para sua deposição.
***
De mais a mais, o que virá do golpe?
Afinal, quem quer derrubar Dilma deverá adotar, até por tudo que vem argumentando, um rigoroso ajuste fiscal. Que exigirá, ou corte de despesas, na carne e de forma profunda, incluindo aí cortes nos gastos sociais, ou elevação dos impostos que até aqui vem sendo tão criticados.
Ou seja, ou a oposição golpista, se vitoriosa, trará o povão para a rua, cortando programas assistencialistas, ou deverá elevar a carga de impostos que tanto condena nas propostas de Dilma.
O que irá rachar o bloco de quem acha que chegar ao poder é motivo suficiente para justificar qualquer comportamento.
***
Isso significa que estamos próximos de atravessar tempos de mais agitação e crise. Quiçá violência.
Razão para que eu continue achando que melhor continuarmos com Dilma. Mesmo que voltando à fase já conhecida de viver tão somente o arroz com feijão.

Nenhum comentário: