Aos amigos que insistem em seguir acompanhando meus pitacos, começo pedindo desculpas pela ausência em todo esse período, desde fevereiro último, na véspera da primeira apresentação no Rio, da turnê Olé, dos Rolling Stones.
Show que tive a oportunidade e o prazer de assistir, acompanhado de minha família, e que considero um dos melhores, senão o melhor de todos os shows que vi na vida.
Muito em função da presença em palco de um Mick Jagger que impressiona pelo carisma, pela ainda não afetada capacidade vocal, pela performance no palco, digna de qualquer menino iniciante, pela disposição e capacidade física, ele que conta já com seus 72 anos.
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Mas seria injustiça falar apenas de Jagger, deixando de lado Richards, outro monstro da guitarra, com idade semelhante à de Jagger, e com o mesmo carisma, embora não a mesma disposição física.
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Do show monumental, apenas trazer deixar registrados alguns comentários, já bastante repetidos.
Primeiro, o conteúdo.
Não tendo qualquer lançamento de disco novo e músicas desconhecidas do público que lotou o Maracanã, a banda pode desfilar mais de duas horas dos sucessos que embalaram e marcaram toda sua extensa e aplaudida carreira. Músicas que já nos acordes iniciais dos arranjos, arrancavam recordações e memórias dos presentes, levando ao delírio e provocando arrepios em muitos.
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Importante destacar: a qualidade das músicas que nós, que crescemos nas décadas de 60, 70, 80 e até nos anos 90 pudemos ouvir, embora para nossos pais, aquelas músicas que se confundiam com gritos e barulheira não tivessem qualquer qualidade.
Mas tinham. E provam isso com o melhor dos argumentos: a permanência no tempo.
Muito diferente das músicas que a geração de hoje anda curtindo, em especial, aqui no Brasil, com Safadões, caipiras e beijinhos nos ombros de todas as Popozudas que pululam por aí.
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A organização do show, muito diferente do que costuma acontecer em outros espetáculos, já vistos aqui em Belo Horizonte.
Talvez pelo fato de o Rio ser servido por um metrô, com uma estação praticamente dentro do local do show. Depois talvez pela experiência maior do público ali presente, em comparecer a tais eventos.
Embora eu tivesse ficado com a impressão de que a maior parte das pessoas presentes fossem aqui de Belo Horizonte, o certo é que todos transmitiam a impressão de que sabiam que não adiantava empurrar, tentar forçar a passagem para entrar na estação do metrô ou nos vagões. A impressão é que o costume com eventos dessa magnitude ensinou-lhes que se houver tranquilidade e calma, e respeito ao ritmo das filas, elas não serão capazes de causar atrasos ou embaraços.
E isso, mesmo com a chuva que caiu pouco antes da entrada em palco da banda inglesa.
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Insisto nessa ideia: a vinda de shows maiores a BH teria, não apenas a vantagem de não obrigar ao deslocamento de nós mineiros, mas ainda teria a capacidade de aumentar o traquejo de nosso público já que a experiência e a prática ensinam e educam, sim.
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Terceira observação, que valeu críticas de todos os repórteres especializados internacionais que cobrem a turnê, e até do próprio Jagger, posteriormente, como nós brasileiros somos narcísicos. Como grande parte das pessoas, em lugar de se divertir e curtir a música, dançar, cantar, pular, namorar, deixava o show de lado, mais preocupado em tirar selfies.
Admito que tirar uma selfie para postar que esteve presente ao show é normal. Mas, tirar selfies de milhares de formas distintas, muitas delas, sem qualquer referência ao que acontecia no palco e mesmo no show, acho que é simplesmente absurdo.
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Da ida ao Rio, restou como saldo um problema em meu celular, sem o qual estou até hoje.
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A vez do notebook
Mas a chegada à BH, sem o contato com o mundo pelo smartphone, fez-se acompanhar por um problema em meu notebook, já bastante antigo, e que, mais por cansaço talvez, começou a dar tela azul.
E na hora de tentar religar a máquina, normalmente ouviam-se 5 apitos, findos os quais a máquina desligava automaticamente. Por vontade própria.
Para voltar a fazê-la pegar, não adiantava a figura do fusca: descer e balançar e depois tentar de novo.
A maior parte das vezes a solução era desligar e esperar. E, depois de horas que podiam fazer virar o dia, tudo voltava ao normal.
E o notebook funcionava até que nova trepidação da placa, sei lá, fazia surgir uma tela preta, e o contato com o mundo virtual desaparecia.
E as doenças
Em meio a esses problemas, fomos surpreendidos por um mal estar de minha mãe que a obrigou a passar mais de uma semana no leito de um CTI.
O problema maior, seus praticamente 82 anos de idade, e a necessidade de se fazer cateterismo e duas angioplastias com a colocação de 2 stents, de início. Uma semana depois, a decisão de se fazer nova angioplastia foi necessária, com a colocação de outro stent,
Felizmente hoje ela já encontra-se de alta em casa, recuperando-se bem.
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Mas, como algumas situações desse tipo não costumam vir sozinhas, nesse período de internação de minha mãe, também minha mulher, Vanessa e minha tia tiveram que passar por cuidados de saúde, felizmente todos com final feliz.
E não era dengue, ou zica ou qualquer outra manifestação do mosquito Aedes.
Embora a frequência forçada a hospitais me deixou impressionado com a quantidade de pessoas, esperando, às vezes até 4 horas para terem atendimento, todas com dores, febres, etc.
Sinal não diria do descaso, mas do desaparelhamento da saúde em nosso país.
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Economia
Justificada minha dificuldade de manter os pitacos por todo esse tempo, e no sufoco até mesmo para poder ler e me informar a respeito dos acontecimentos que o país atravessava, apenas ouvi a notícia de que o PIB caiu 3,8% , o pior resultado depois de mais de 20 anos.
Recessões semelhantes, lembro-me apenas das ocorridas em 1983, e depois, com o confisco de Collor, em 1990.
Agora a incompetência do governo Dilma, completamente à deriva, brinda-nos com esses números desastrosos e que, além de tudo, podem se agravar, dadas as perspectivas de nova queda, em valores semelhantes do PIB para esse ano.
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Disse acima que o governo Dilma, à deriva e sem bússola é incompetente. Mas, faço questão de destacar que, ao longo de todo ano passado já vinha dando pitacos de que a culpa de Dilma foi ter deixado se encantar pelos encantos das sereias, sempre sinais de mau presságio.
No caso concreto, ao render-se aos mercados, tentando ficar de bem com a elite econômica, Dilma primeiro traiu seus eleitores, configurando um inquestionável estelionato eleitoral: ao agir, o fez negando todas as promessas de campanha.
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Atendendo às cobranças dos analistas econômicos mais conservadores e do pessoal incrustado na mídia, que costuma servir de papagaio às ideias dos mercados financeiros e do poder econômico, Dilma trouxe para o ministério Joaquim Levy, responsável pela adoção de todas as medidas que o mercado desejava e exigia.
Se não fez mais, a culpa, inegavelmente foi do nosso Congresso, especialmente daqueles que, sem saber perder, deram uma de Fluminense, tentando embolar o jogo no tapetão.
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Mas inegavelmente que Levy fez tudo que era cobrado pelo mercado, especialmente no que se refere à tentativa de promover o ajuste fiscal que todo o pensamento conservador exigia.
Ora, que as medidas poucas e incompletas; parciais por falta de apoio político criariam o pior dos mundos, com queda da demanda agregada, queda da produção e renda e aumento do desemprego, várias vezes foi falado aqui mesmo nesses pitacos.
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Estando incompleto, o mal foi feito, mas nenhum benefício pode ser observado. A inflação não foi contida, muito ao contrário. E os juros da política monetária que visava contê-la, elevados a níveis estratosféricos, elevaram os gastos públicos, elevando o déficit que se tentava combater e levando à deterioração de nosso indicador de dívida/PIB.
Que se agravou ainda mais com a redução do PIB.
Levy, então, nos brindou com o pior dos mundos. Mas insisto que a culpa não é apenas dele. Ou principalmente dele, já que ele somente representava os interesses dos agentes de mercado e seus meninos de recados.
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Recessão, desemprego, queda de renda do trabalhador, mais inflação, inflação corretiva de preços e tarifas, queda de arrecadação, ampliação de déficits, não admira que as empresas de classificação de risco tirassem a avaliação positiva do Brasil - que diga-se de passagem, apenas foi concedida no Governo Lula, do PT.
Importante a observação, porque é esse partido que é acusado de, agora, ter perdido o grau de investimento. Sem considerar, por justiça, que o partido, por pior que seja, foi o único que conquistou esse status para a nossa economia.
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Aqui outra observação: a midia agora cobra e critica as medidas de Dilma, como causadoras de todo o estrago, incapaz de se penitenciar em algum momento e admitir que as medidas adotadas eram as que ela cobrava e depois elogiava, pelo menos em termos da sinalização.
A percepção desse papel da midia lembra-me 1984, de Orwell, e a adoção de um comportamento destinado a fabricar, pela alteração de arquivos, história e discursos, uma realidade que desejada, se mostrava em algum momento do tempo, já necessitada de reparos.
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Pelo que ouvi, sem maiores detalhes pelos motivos expostos, a indústria foi o setor mais penalizado, mais uma vez, o que representa que regredimos celeremente à condição de país pré-industrializado, quando todo o mundo avança para a sociedade pós-industrial.
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Parece que salvou-se apenas e tão somente o setor agrário, ou a grande agricultura, de caráter exportador, geradora cada vez mais de menor quantidade de empregos no campo.
Sinal de que o capital mais conservador dentre todos eles, e que no Brasil sempre foi um dos principais responsáveis por nosso atraso secular, é o setor mais preparado, mais equipado e mais tecnologicamente avançado, e que carrega nas costas nossa economia nos dias atuais.
Triste retrato do país, que era até há pouco uma das principais nações industrializadas do mundo e uma das 7 maiores economias do mundo.
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A agitação da Política
Dizer que fora a confirmação, pela mensuração, da crise que já sabíamos consistir o ambiente em que o país estava mergulhado a economia pouco evoluiu, é dizer uma obviedade.
Mas, do ponto de vista político houve muita alteração e a velocidade dos acontecimentos, frutos da operação Lava Jato, ganhou uma aceleração vertiginosa.
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De minha parte, apenas a ratificação de minha crença de que, há que se investigar e que passar a limpo toda a nossa vida republicana nos últimos 20 anos.
E punir a todos que fizeram interesses privados prevalecerem sobre os interesses maiores do povo brasileiro.
Mas, isso não impede de declarar que a transformação do juiz Moro em herói, em baluarte de nossa causa em prol da melhoria das condições políticas de nosso país é um erro.
Primeiro por não achar que país nenhum, sério, precisa ficar cultivando heróis e salvadores da pátria.
Segundo por não admitir entrar na onda de que os fins justificam os meios e que para obter as acusações que possibilitem as condenações e purgações que a sociedade exige expiar, a justiça possa ser injusta ela mesma.
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Abusos vários têm sido cometidos por Sérgio Moro, pelo grupo de procuradores da Lava Jato e pelos policiais da Federal, desde as prisões preventivas para coagir os suspeitos e obrigá-los a negociar as tais delações premiadas, até mandatos de intimação para a tomada de depoimentos, como o que vitimou Lula, levado à PF sob condução coercitiva.
Lula e mais outros 117 depoentes, pelo que se informa.
Nada a favor de Lula, mas menos ainda a favor do abuso da autoridade que apenas reflete a falta de autoridade real.
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Bem, saindo da esfera policial, mas bastante influenciada por ela, no Congresso, a oposição que iria adotar um comportamento favorável ao país, para não contribuir com o agravamento da crise, resolveu fazer pirraça. Ou birra. Ou greve.
Por mais que o direito de a oposição fazer obstrução seja reconhecido, é necessário lembrar que a oposição paralisou o Legislativo, está impedindo seu funcionamento. De quebra, comporta-se assim, em razão de desejar obter resultados ou benefícios de sua ação. No caso, o impeachment.
Pois bem, nada disso é muito diferente do direito de greve dos trabalhadores.
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Diferente, como não poderia deixar de ser é que se a greve, assegurada aos trabalhadores por lei, atrapalha a outras categorias ou pessoas na sociedade, os jornais lembram-se logo de que até o direito de greve deve ter limites.
Boris Casoy, por exemplo, é mestre em dizer que atrapalhar a vida de outros que ficam prejudicados pelo movimento paredista de algum grupo de pessoas, é "uma vergonha".
Exceto se o movimento visa agravar o quadro agônico que o governo apresenta, porque daí, o jornalista nada fala, nada critica. Talvez por achar que políticos e sua greve não atrapalham a outras pessoas. Só a toda uma nação e sua população.
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O que me leva a não me admirar que o movimento de protesto da população nas ruas, realizado ontem, tenha arrastado a numerosa quantidade de pessoas bem intencionadas que a ele acorreram.
A maioria delas, provavelmente, influenciadas por essa midia que torna-se um dos principais agentes políticos do processo em curso, quando o deseja. Mas que corre para emitir notinhas hipócritas a respeito de não serem nada mais que informantes sem qualquer papel ativo no desencadear dos fatos.
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Bem, a alegria cívica de todos os órgãos da grande imprensa, cobrindo a manifestação pacífica contra o governo não deixa de ser tocante. Digna de quem apenas deseja informar e nada mais.
Informar de como um povo, ou rebanho reage, cordato, ordeiro, disciplinado, e alegre, dir-se-ia, quase em comemoração carnavalizada.
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Tudo bem. Volto a partir de hoje, queira Deus que sem interrupções.
Paro por aqui, para não ficar muito extenso (mais...) ou cansativo.
E para isso, termino apenas com uma observação:
Dizem que ninguém quer ver o circo pegar fogo, o que é uma balela. Afinal basta observar que desde a semana passada com os atos de excesso de autoritarismo que vitimaram quadros do PT, e o governo, a bolsa subiu e o dólar caiu.
O capital financeiro ganhou muito e comemora mais ainda. Ganhos do agravamento da crise que ninguém desejava ou torcia para acontecer...
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