quarta-feira, 29 de junho de 2016

Considerações sobre o BREXIT, suas causas e consequências. Uma hipótese: as raízes do conservadorismo que assola o mundo

Mais um recesso e .... estamos de volta.
O recesso deve-se, entre outras coisas à dificuldade que tenho sentido de dar pitacos em situações, decisões, reações, etc. que tenho acompanhado sem conseguir discernir nem intenções, nem objetivos, nem consequências e efeitos.
Como por exemplo, a saída da Grã-Bretanha da União Européia, por escassa maioria de votos, mas suficientes para causar um tremendo reboliço em todo o mundo.
O que já foi sinalizado pelas bolsas, todas em queda; pela queda da libra, alcançando níveis mínimos recordes; e até pelas agências de rating, duas das quais, já rebaixaram a nota da Inglaterra.
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E o que é pior: parece que os britânicos votaram sem saber exatamente o que estavam fazendo e as consequências de seu voto.
A ponto de mais de 3,5 milhões de eleitores, já terem assinado uma solicitação de que novo plebiscito possa ser realizado. O que deverá ser negado, em respeito à tradição democrática onde, se o voto não foi a favor de nossos interesses, é uma falta de respeito total à regra do jogo, provocar uma, ou mais ou tantas eleições posteriores até que nossa vontade se imponha.
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Do ponto de vista do Reino Unido, o que dá para perceber é que a Escócia, cuja população votou maciçamente na permanência na União, deverá, agora, propor a realização de um referendo popular, questionando a permanência do país na Grã Bretanha.
Da mesma forma, também a Irlanda já sinaliza mudanças no status que ostenta.
Ou seja, fora País de Gales, de quem ainda não vi manifestação alguma, a própria sobrevivência do Reino Unido está em xeque, depois da decisão BREXIT.
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Decisão que parece ter agradado apenas aos conservadores, aos mais velhos, aos que de há muito nutrem visões nacionalistas exacerbadas, xenófobas até.
O que torna-se claro, quando vemos e sabemos das opiniões daqueles que comemoraram a vitória da tese da saída: Le Pen, na França; Trump, nos Estados Unidos; os líderes mais conservadores e à direita, do próprio Parlamento inglês.
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Sinal de que o conservadorismo que assola o nosso Brasil não é uma onda isolada, mas um grande vagalhão que vem varrendo o mundo, o que ajuda a entender parte da reação da direita mundial, seja na eleição britânica, seja na escolha de Trump, candidato do partido Republicano à presidência dos Estados Unidos.
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A esse respeito, venho desenvolvendo uma tese que, um dia ainda irei expor nesse pitaco.
Trata-se da percepção de que a onda de conservadorismo que inundou o mundo, no rastro da ideia da globalização, do neo-liberalismo e do famigerado Consenso de Washington nos anos 80 de Reagan e Thatcher, aconteceu justamente depois de uma crise econômica em escala mundial, que teve lugar nos anos 70, inclusive com a ruptura do Sistema Monetário Internacional, as altas do preço do petróleo, e a queda do produto industrial dos Estados Unidos e da perda de importância da Inglaterra.
Era a época da revolução da informática, das telecomunicações, da telemática, e o Japão aparecia como a grande nação a almejar a liderança econômica mundial.
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Hoje, temos ainda os resquícios presentes da crise financeira dos anos de 2007 e 2008, gestada nos Estados Unidos, pela especulação financeira desenfreada em busca do lucro. Da maximização do lucro, pela reprodução do valor de forma fictícia, artificial, através de derivativos e outras operações estruturadas de engenharia financeira.
Pois bem, a exuberância do mercado financeiro mostrou-se irracional e, a crise instalou-se e espalhou mundo afora, possibilitada pelas regras de flexibilização financeira e liberalização dos fluxos de capital, que colocaram as economias de todo o mundo em um mesmo pesadelo.
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Para salvar as economias capitalistas e seu sistema financeiro e produtivo, os governos injetaram bilhões de dólares e reduziram as taxas de juros a níveis reduzidíssimos.
Mas, a atividade financeira, beneficiada pela ajuda vultosa e bilionária dos governos, não alterou seu comportamento, apenas reciclando-o e aperfeiçoando suas operações e papéis, o que permitiu a percepção do surgimento do que é denominado na literatura especializada, de "moral hazard".
Ou seja, se o mercado financeiro gera lucros espetaculares e não corre riscos, em função da ação do governos, o melhor é deixar o dinheiro aplicado nas operações de capital fictício, na valorização estéril da riqueza.
E as economias de todos os países experimentaram, além do abalo de confiança dos empresários do setor produtivo, uma queda do nível de atividade. Com isso, recessão, queda de receitas públicas, problemas de equilíbrio orçamentário e ajuste fiscal, desemprego. E medidas conservadoras destinadas a baratear os custos de produção que, de um lado, privilegiam ainda e sempre as operações financeiras de caráter especulativo. De outro, a redução do custo de produção nas economias industrializadas, de forma a incentivar a retomada dos investimentos produtivos.
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Acho que isso explica a crise na Grécia, Portugal, Espanha, a queda de crescimento na China, a estagnação no Japão, o baixo crescimento estimado pelo FMI para a economia global. E, claro, a situação vivida em nosso país.
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Crise que, em minha opinião, às vezes é exagerada em sua descrição, como artifício para tornar o quadro mais sombrio e permitir a adoção de políticas mais conservadoras: de corte de gastos sociais, e direitos sociais e trabalhistas, conquistados ao longo de anos de lutas políticas.
Tudo apenas para "quebrar a espinha dorsal" da resistência e dos movimentos dos trabalhadores, como é exemplo, a proposta de flexibilização das leis trabalhistas na França. Ou as políticas de austeridade pregadas para implantação na Grécia, inclusive com redução de salários.  E também aqui no Brasil.
E, acho que, no fundo, é essa necessidade de que se adotem políticas de resgate da lucratividade do capital, abalada pela crise, todas de cunho restritivo, austero, que leva às perdas por parte dos trabalhadores; que leva a cortes de gastos governamentais destinados a essa população menos privilegiada, e que é também a causa de um sentimento, por parte do trabalhador de um país, que sua condição de vida está se degradando.
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Nesta hora, ele olha à sua volta, e vê que há empregos que estão ocupados por estrangeiros, imigrantes que, em sua avaliação, estão roubando suas chances e suas oportunidades, o que é uma falsa impressão.
Em países mais ricos, aos estrangeiros resta os tipos de trabalho mais rejeitados pelos nacionais, os trabalhos de menor qualificação e feitos em condições mais degradantes.
Mas, a crise e perda de beneficios que apenas visa privilegiar o capital e o rebaixamento dos salários, de forma a elevar a taxa de exploração e a geração da mais-valia, os cega. E desperta e alimenta as reações que levam à votação do BREXIT.
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Com isso, tal processo alimenta movimentos de discriminação e intolerância de todos os tipos, permite o desenvolvimento de nacionalismos extremados, e separatismos os quais, no fundo, apenas contribuem para rebaixar mais ainda as rendas desses imigrantes. Afinal, mesmo que leis venham a restringir a entrada de novos estrangeiros, os que já estão não serão deportados e mandados embora.
Eles ficarão.
Trabalhando em condições cada vez mais desumanas, precárias, e com salários mais reduzidos e rendas em declínio, já que submeter-se-ão às condições que deles forem exigidas para não sofrerem maus-tratos.
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De tudo e em tudo, e por tudo, por trás de toda essa situação, vejo apenas, a retomada do capital das condições de voltar a se impor aos trabalhadores e aos menos privilegiados de nossas sociedades.
Apesar de poder ser acusado de estar vendo conspiração em todos os lugares, vejo é apenas a necessária elevação da mais valia pelo rebaixamento do valor pago aos trabalhadores, o que amplia a sua taxa de exploração.
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Como com Reagan e Thatcher, nos anos 80, novamente operações de resgate do capital da crise que derrubou suas taxas de lucros, e que foi gerada por eles mesmos, os donos do capital.
Como disse Lula, a crise dos povos brancos de olhos azuis e mais ricos.
Mas que, como sempre, terá sua conta cobrada dos pobres e de pele morena ou escura.
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De resto, a constatação trágica da derrota da Inglaterra para a Islândia, na Eurocopa, que permite e incentiva a anedota de que a saída era do país da União Européia, e os jogadores do English Team entenderam errado que deviam sair do torneio continental.
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Quanto a comércio mundial, a reunião dos líderes da Europa ontem, e a fala da premier alemã Angela Merkel, de que para ter tratados comerciais, o país deve negociar e aceitar condições que toda a União Européia impõem, o que caracteriza a União comercial, dá sinal de que a Inglaterra está prestes a enfrentar problemas sérios.
Como afirmou um dos líderes, nenhum país irá aproveitar as vantagens, se não participar dos ônus.
A ver.
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E no Brasil

Mas tinha muito mais a tratar no dia de hoje, inclusive sobre a situação de nosso país, onde perícia contábil indica que Dilma não cometeu o "crime" que lhe imputaram, das pedaladas.
Que as operações citadas não foram, como já dizíamos, operações de crédito.
Que não há motivos para manter o impeachment, exceto o de que o governo temer e suas platitudes que a tantos têm encantado, explica-se tão somente por força da onda conservadora que, no nosso país se dá pela demonização do partido que, mesmo tendo desviado e roubado, como tantos outros, foi o primeiro ou o que mais significativamente se preocupou em dar algumas migalhas, esmolas, quem sabe, para os mais necssitados.
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Com isso não quero dizer que o PT não privilegiou mais ainda os ricos. Apenas que criou condições para que a classe mais precarizada pudesse experimentar o que é ter uma vida digna e participar do mercado de consumo.
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Quanto às platitudes de temer e suas propostas, que não levam a muito mais que venda de ilusões, como mostra a excelente entrevista com José Roberto Afonso, economista do PSDB e um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal, além de um dos maiores experts de política fiscal no país, publicada na Folha de ontem, tratamos amanhã.
Até lá, então.

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