segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Homologação e os interesses que lutam para afetar sua velocidade. E o que isso tem a ver com um possível afastamento de quem ocupa o poder como agente da plutocracia

Prossegue, em Brasília, a luta surda e cada vez mais escancarada, por projeção e poder entre a turma do Supremo Tribunal Federal, capitaneada pela ministra Cármen Lúcia e a turma dos golpistas instalados no Planalto, liderada pelo usurpador temer.
Curiosas são as circunstâncias e o espaço de atuação de cada grupo e de cada um de seus líderes.
De um lado temos o ilegítimo ocupante da presidência que, por ter seu nome citado mais de 40 vezes nas delações dos dirigentes da Odebrecht, ficou impossibilitado de tomar a dianteira do processo de indicação do substituto do ministro Teori Zavascky.
Dessa forma, e consciente de que qualquer decisão sua poderia ser interpretada como ação em benefício próprio, com todos os desdobramentos que tal comportamento poderia ter, principalmente junto aos movimentos populares organizados, que o conduziram ao posto que ocupa, temer foi levado a adotar uma posição que, inegavelmente foi irrepreensível eticamente.
Fato aliás reconhecido por Jânio de Freitas em sua coluna da Folha, na quinta feira passada, não sem alertar para as pressões que o grupo palaciano estava patrocinando e continuaria fazendo para que a Operação Lava Jato pudesse emperrar e, futuramente, ir se desmilinguindo.
De fato, há sinais cada vez mais claros e evidentes, de que o grupo de delatados instalados no poder, não apenas advoga a indicação de algum político ligado ao grupo, como ainda pressiona para que o processo de homologação seja desacelerado.
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É aí que entra em cena o papel de Cármen Lúcia, a ministra de plantão no período de recesso do Tribunal, o que lhe daria o direito de adotar qualquer medida em relação à homologação ou não da delação dos Odebrecht.
E, embora pelo perfil da ministra era difícil imaginar que ela viesse a adotar a postura que cada vez mais vem assumindo, de reserva moral do país e candidatíssima a ocupar o cargo de presidente, caso a delação ou o julgamento das denúncias feitas em relação ao financiamento de campanha da chapa Dilma-Temer levem a novo afastamento do ocupante do cargo maior do Executivo, a verdade é que parece que a mosca azul do poder morde mesmo a todos. Indistintamente.
E, seja qual for a motivação que esteja conduzindo a ministra, se mero fortalecimento para barganhar vantagens maiores, não necessariamente pessoais, seja apenas um apurado senso de justiça ou até a alegada homenagem ao trabalho do ministro Teori, a verdade é que ao que comentam os meios de comunicação, a delação da maior empreiteira do país já está concluída, restando apenas a homologação.
E daí em diante, o exame pelo Procuradoria Geral da República para saber os nomes que deverão ter as investigações aprofundadas e as provas colhidas e juntadas em processos e, finalmente, a divulgação tão aguardada para que se confirme as suspeitas de todos: de que não foi só o PT e seus quadros que se envolveram nas maracatuias descobertas. E, talvez, nem tenha sido o partido de Lula, o que mais tenha se beneficiado do propinoduto instalado no país.
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De quebra, todos irão poder confirmar ou não as insinuações em relação ao comportamento dos responsáveis pela operação Lava Jato: a de que a operação não é contra a corrupção generalizada, mas contra o PT e seus líderes.
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Por sorte, o prazo da ministra plantonista do Supremo está se encerrando e a ansiedade que domina o país, não terá oportunidade para alimentar soluções malucas, desesperadas.
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De minha parte, acredito que ainda assim, a temperatura de Brasília está prestes a entrar em ebulição, e se insisto na questão é para ter a oportunidade de dar pitaco em outras questões, mais ligadas ao campo econômico.
Uma dessas questões é a cada vez maior propaganda escandalosa e dominante que os meios de comunicação, principalmente as redes de televisão abertas, vêm fazendo, destinadas a elevar o moral e reverter o quadro de pessimismo que, de outra forma, estaria dominando o humor dos mercados.
A esse propósito, minha opinião é que quanto mais a hora da possibilidade da homolagação da delação premiada da Odebrecht se aproxima, mais aumenta o interesse dos órgãos de imprensa, em mostrar um ambiente muito mais otimista, róseo para a economia de nosso país.
Ou seja: para mim, quanto mais aumenta a propaganda que vende otimismo ao país, mais isso sinaliza o desespero dos ocupantes do Planalto e mais isso indica que Cármen Lúcia vai agir.
E os jornais televisivos, todos,  não estão promovendo informação ou formação já há muito tempo. Estão simplesmente martelando a ideiafantasiosa de uma  recuperação econômica que, insistentemente, os números da realidade desmentem.
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Encontra-se nesse caso, a insistência em mostrar como o nível de otimismo do consumidor está sendo recuperado, e como as modificações no cartão de crédito e nos juros cobrados pelas administradoras, irá contribuir para que a população volte a consumir, puxando para cima a demanda agregada e, junto com ela, a demanda agregada.
Por justiça, é preciso citar Boechat, o âncora da Band, que depois da apresentação de matérias com consumidores e analistas econômicos, todos mostrando que o país já encontra-se em pleno início da retomada econômica, não deixa de questionar o óbvio: como o usuário de cartão de crédito, que paga até 480% ao ano, de juros na modalidade do crédito rotativo, irá ficar muito mais tranquilo, sabendo que as taxas estão mais reduzidas, quem sabe em 250%?
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Não é preciso de ter formação específica, em áreas financeiras, para saber que o grau de endividamento das famílias atingiu, nos últimos dois anos, talvez pouco mais, seu limite superior. O que levou ao aumento da inadimplência, por um lado e, como consequência, à redução da procura por operações de crédito.
Some-se a essa situação, o fato de que com a elevação do desemprego, fator que implica a redução da renda dos trabalhadores que mantiveram seus empregos, por afetar a negociação de aumentos e reposições salariais, mesmo a preocupação das famílias em liquidar primeiro as dívidas já vencidas, o percentual de comprometimento da renda mostrou um comportamento de elevação. Não de redução.
E o medo da perspectiva de perda de emprego, ajuda as famílias a procurarem reduzir seu consumo, adiando compras até de bens necessários, e especialmente não utilizando da facilidade do crédito.
Tudo isso, ainda agravado pelo fato de que a inflação acima do intervalo de confiança, em 2015, e acima da meta, embora inferior ao limite superior em 2016, contribuiu para a redução da renda real do trabalhador, o que aumentou ainda mais o peso do comprometimento da renda.
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Nessa circunstância, as informações mostram que as vendas caíram até no Natal, e que as vendas de varejo se reduziram, salvo um ou outro setor de exceção. Nessa circunstância, a indústria continua mostrando nenhum interesse em retomar a produção, principalmente por estarem sobreestocadas.
O que pode ser percebido com a observação dos planos de financiamento a juros zero, por exemplo, das montadoras de automóveis.
Todas fazendo bota fora.
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Nessa circunstância, acreditar que porque os juros irão reduzir de 480 para, que seja, 100% ao ano, em momento em que a inflação é prevista para 4,5%, vai levar à elevação do consumo é, no mínimo, risível.
Mas essa ideia é que é bombardeado a todo momento, em nossos lares, à noite.
E até nos jornais e portais da internet, que ainda nessa segunda feira, trazem analistas mostrando que a retomada do crédito deve incentivar a retomada. Como, por exemplo, no Valor de hoje, que traz matéria de que o crédito dá sinais de reação e pode impulsionar o PIB.
Ok, e no final do ano, como o PIB não terá despencado 3,5%, talvez atingindo um glorioso 0,5%, todos irão dizer: não viu como estávamos certos?
Curioso e escondido em algumas notinhas dos jornais, é o fato de que, com a redução do juro básico da economia, a taxa Selic, patrocinada pelos magos das finanças do COPOM, é que as taxas de juros subiram para algumas linhas de crédito, revelando que os bancos aumentaram seu spread.
Mas, isso não ganha destaque, já que são ganhos de quem domina o poder em nosso país e que, sustenta um governante ilegítimo que, por tal característica, não tem compromissos com o povo e com os eleitores, mas apenas deve cumprir os acordos com a plutocracia. O que justifica o medo de que Cármen Lúcia vá fazer a homologação e temer terá que ser afastado do poder, conforme início de nosso pitaco.
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Mas, se não tiver como retomar a demanda agregada pelo lado do consumo, como recomendam hoje, todos os analistas que, no governo Dilma, criticavam aberta e ferozmente a adoção dessa política econômica, o país ainda irá ficar amargando mais um ano de crescimento zero ou menor ainda. Exceto se salvos pelas exportações e pelo agronegócio, o que também é um panorama cada vez mais embaralhado, em razão de Trump e suas medidas nos Estados Unidos.
Por falar nisso: ao romper com certos acordos econômicos em conversação, Trump perde mercados o que abre espaço para que possamos avançar as vendas, especialmente de soja, commodities agrícolas e minério de ferro. Mas isso é apenas um lado da história. Sua política protecionista pode também fechar o maior mercado consumidor do mundo a nossos produtos. E aí???
Então a difícil recuperação do consumo; a errática situação do comércio exterior; e a impossibilidade de um governo privatizatista e voltado aos interesses do mercado elevar seus gastos, especialmente quando a receita federal apresenta mais uma queda em 2016, é um quadro que não causa otimismo nem a Cândido, de Voltaire.
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Em um quadro desses, com estoques invendáveis nas fábricas e depósitos, e com demanda agregada estagnada, é difícil imaginar que os empresários iriam investir. E que irão passar a gerar empregos.
E que com a retomada da economia, o governo terá elevação de arrecadação.
E nosso déficit será reduzido, apesar de os técnicos do governo já estarem dando sinais de que não há como escapar de contingenciamentos no ano em curso.
Nesse meio tempo, os Estados renegociam suas dívidas, comprometendo-se a arrochar os salários dos funcionários, sob a desculpa de que é para ter recursos para pagar suas folhas de pessoal.
E, a reforma da Previdência, com "rombo" de 149,7 bilhões de reais em 2016, apesar da conta incorreta em que está assentado o cálculo, passa a ocupar as páginas jornais e debates dos primcipais meios de comunicação.
Uma lástima. Principalmente, por que os argumentos utilizados são falsos ou meias verdades.
Mas, a falta de esclarecimento faz parte da estratégia dos mercados e interesses financeiros, para resolver a situação da previdência pública (que precisa ser discutida a sério), sem deixar que ela seja destruída, em prol dos interesses de uma previdência privada.
Previdência privada que deve existir. Mas, em caráter complementar, como o outro nome que costuma ser dado a esse mecanismo de segurança social.
É isso.

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