Em discurso feito ontem, no Nordeste, em mais uma solenidade ligada a mais uma das etapas da obra de transposição do São Francisco - aquela obra que era uma invenção do PT e de seus governos e que não iria nunca sair do papel-, temer decidiu homenagear aos governos anteriores, autores da ideia, do projeto e da obra.
Manifestação de completa tranquilidade do usurpador, ou apenas um sinal de fraqueza e um aceno aos partidos anteriores, responsáveis pelo evento em curso?
Difícil saber. E justo admitir o reconhecimento. Ainda que seu reconhecimento pudesse trazer, embutido, um autoelogio. Afinal, sempre se criticou nas repúblicas de bananas, o fato de os projetos não terem continuidade, em razão da alternância de poder. Agora, não!, seria o recado do ilegítimo. E sua postura serviria para ilustrar um novo modo, mais sofisticado de gestão pública.
Tudo isso muito positivo, não fosse por um pequeno detalhe: ao recordar os governos anteriores, temer mencionou que o projeto datava dos governos de 15 anos antes. Ou seja: como estamos em 2017, isso nos remeteria a 2002, mandato ainda de FHC.
E, mesmo que a ideia de transposição fosse antiga, talvez até voltando ao século passado, a verdade é que não foi no governo tucano que a ideia ganhou força e saiu do papel para virar projeto.
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Tal como aconteceu, por exemplo, com Brasília, a capital do país, que ninguém iria, em sã consciência, deixar de dar todos os méritos de sua construção ao governo JK, independente de já constava até de documentos legais a ideia de construção de nova capital para o país.
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Porque uma coisa é a ideia. Outra é a vontade política de por a ideia em marcha.
Como reconhece o próprio Fábio Giambiagi, chefe do Departamento Econômico do BNDES, em seu livro sobre Finanças Públicas, em parceria com Ana Cláudia Além, quando afirma que há ideias que são universais, já que ninguém é contra, a princípio a um padrão de distribuição de renda mais justo. O problema não é adotar esse tipo de ideia guarda-chuva, onde cabe todo mundo e tudo. O problema é tomar decisões para implantar programas de distribuição de renda mais justos, já que isso impõe a discussão de quem perde e quem passa a se beneficiar da política.
O que foi outra decisão de vontade política de Lula em seus dois mandatos, embora seu programa de distribuição de renda nem mesmo tenha adotado essa característica como ponto fundamental. Como já disse antes, nesses pitacos, foi mais uma distribuição intersalarial, já que rendas de propriedade não foram afetadas e até cresceram, como o caso dos lucros dos bancos.
O que não significa que apenas a vontade política também seja capaz de promover políticas adequadas.
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Delação premiada e sigilo
Embora possa ser legal, nesses tempos que o país vive, em que levantam-se suspeitas tanto em relação a ocupantes de postos no Executivo, quanto e principalmente no Legislativo, em relação aos políticos com ou sem mandato, e até no Judiciário, como o vazamento da delação de Augusto Nardes ilustra, acredito que seria mais justo até, a quebra do sigilo dos depoimentos e declarações homologadas, dos executivos da Odebrecht.
Justo, porque se a delação envolve 200 políticos de todos os partidos, inclusive ocupantes do poder constituído, isso significa, como todos sabem, que a delação e a corrupção alcançou ao PMDB, ao PSDB e a outros partidos e até nomes de pessoas, que posam de vestais.
Mas se em outros momentos da operação Lava Jato, quando os principais envolvidos tinham vínculo com o PT, ou com Lula ou com Dilma, não houve qualquer preocupação em manter o sigilo, seria no mínimo interessante que o sigilo agora fosse tratado como o foi em situação anterior.
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Ou a ideia de que, quando envolvia até conversas pessoais, que não poderiam nunca ser expostas, seja por ser objeto de gravações não autorizadas, seja por envolverem autoridades portadoras de foro privilegiado, a que qualquer juiz de primeira instância deveria se curvar, ou seja ainda por serem conversas particulares, sem qualquer interesse para as investigações, mas conversas ligadas a gente do PT, tudo era permitido.
Situação que não se verifica agora.
O que nos leva a imaginar que, em meio a tanta imparcialidade de tratamento, nada assegura que o que se desconhece pode dar origem a interpretações que visem proteger a alguns, ou algumas siglas, ou alguns eventos.
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A mim, não passa pela cabeça que Janot não cumpra com dignidade e zelo sua missão, mas há que se admitir que se, pelo cargo que ocupa, a PGR chegar à conclusão de que não há suficientes provas para denunciar, por exemplo, Aécio ou Serra, para citar apenas uns poucos, cujos nomes sempre vêm à tona, a situação irá despertar uma suspeição que não é conveniente a ninguém. Muito menos ao país.
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E como eventuais vazamentos seletivos são sempre deploráveis, mesmo que agora a Globo ou a Veja não tenham interesse em repercutir tais vazamentos, o melhor é que tudo seja vazado. Ou seja que se abra o segredo de todos.
Como disse antes um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, não há nenhum detergente melhor que a luz do sol.
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Peça, Janot, a quebra do sigilo. E Ministra Cármen Lúcia, conceda a solicitação de quebra do sigilo. Para o bem do país.
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Prisão de Eike
Curiosa a vida e nossa cultura.
Há pouco tempo atrás, Eike Batista, nosso principal empresário e a maior fortuna do país, com seus castelos de areia e power-points com projeções mirabolantes, era o queridinho da midia.
Com a mesma desenvoltura que frequentava os palácios, fossem o Planalto com Lula ou Dilma, fosse o do gabinete de Sérgio Cabral, frequentava programas de entrevistas e eventos da Lide de Dória e programas e eventos em que fazia companhia a Aécio e Luciano Hulk, por exemplo.
A exposição na midia, assegurava-lhe a admiração e a tietagem de toda a população do país, que mirava-se em seu exemplo de tenacidade e força de vontade.
Pois bem, não vou falar, por óbvio, que ninguém pode ser julgado e condenado por estar em companhia de um criminoso, já que a vida das pessoas e o que elas fazem em sua intimidade não é da conta de ninguém. E, afinal, nenhum de nós pode assegurar da lisura de caráter de todos os seus amigos.
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Como dizia o Edson, do saudoso Ginga Bar, no início da década de 80 aqui em BH, coração é terra que ninguém conhece. Parafraseando-o, nem coração nem intenções.
Então, não há o que condenar das amizades de Eike, com quem quer que seja.
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Mas que agora que está em desgraça é curioso o que as câmaras de televisões mostraram, em relação a sua chegada ao Brasil e posterior prisão, isso não há dúvida alguma.
E merecia até um estudo, da cultura da nossa sociedade, ou de psicologia social.
Afinal, no aeroporto em Nova York, já começou o assédio que ele enfrentou, o que o obrigou a posar para selfies com vários de seus patrícios, companheiros de vôo.
E não foram poucas as fotos, e abraços e sorrisos que foram mostrados por aqueles que, parecendo frequentarem o andar de cima da pirâmide social, davam a impressão de querer ser solidários com Eike.
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Por outro lado, a chegada na prisão em que ficou por poucas horas, foi mostrada com populares, justamente aqueles que antes o viam como ídolo, o atacando com palavras de acusação de ladrão e etc.
Como se agora tivesse caído a ficha de que a riqueza que ele representava fora conseguida com o sofrimento e miséria dos que estavam ali, esperando sua passagem.
Curioso.
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Dados Econômicos e Confiança
E continuam sendo divulgados dados da grave situação do nosso país, como a do déficit do governo central no dia de ontem, que Waack, para não perder o costume, alegou ser todo culpa de governos anteriores.
O que não espanta a ninguém, tendo em vista seu apego à ideologia defendida pela emissora que lhe paga o salário.
Mas, não reconhecer os aumentos de mais de 30% nos rendimentos do Judiciário, no ano passado, por exemplo, conforme divulgado ontem; não reconhecer os recursos ampliados de gastos com publicidade e outros que beneficiaram a seus patrões é, no mínimo, uma aberração.
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De qualquer forma, segundo os dados, as vendas caíram, o desemprego subiu, encerrando 2016 com número recorde; a inflação de janeiro subiu, conforme o índice divulgado pela FGV, mas a confiança dos empresários só faz crescer, conforme as reportagens dos jornais televisivos.
Bem, se uma mentira é repetida inúmeras vezes, ela transforma-se em verdade, dizia o mestre da campanha publicitária de Hitler. Ou não.
Pode transformar-se apenas em uma mentira muito popular.
Enquanto soar bem aos ouvidos de quem nem tempo tem para ficar analisando a situação, seja por falta de condições para isso, seja por terem que madrugar nas filas de oportunidade de emprego no país.
E olhe que o déficit foi menor e ficou no limite prometido pelo governo, na comemoração do âncora da Globo, porque contablizou a entrada de arrecadação dos sonegadores privilegiados de nosso país, beneficiários do perdão de seus delitos com a Receita Federal.
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E o futebol
Embora com um nível bastante fraco, o futebol voltou a participar de nossos domingos.
Já criando, no nosso campeonato, uma primeira acusação de favorecimento.
Bem, segundo Márcio Rezende de Freitas, a regra atual recomenda que em caso de um lance em que os dois jogadores tenham cometido falta, o lance mais grave seja o que o juiz deve apitar.
Quem sou eu para discutir com um antigo juiz, embora de qualidade completamente duvidosa, e que sempre acreditei ser torcedor do time adversário ao meu.
Sendo assim, embora concorde que o juiz foi rigoroso, que ninguém daria o pênalte em Fred, do Galo; e até acredite que, no decorrer do próprio jogo, lances iguais não receberam punição alguma, a verdade é que houve o penalte.
Que eu não daria, antes de qualquer coisa.
E os três grandes lutaram para ganhar. E venceram. Com muitos poucos méritos, em minha opinião.
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