Sob investigações sigilosas da Polícia carioca, tão sigilosas que nem parece estarem sendo realizadas, as trágicas mortes vão perdendo seu impacto, se esmaecendo, diluindo sua dramaticidade, misturadas em meio a toda uma série de outros crimes, outros atos de barbárie e selvageria, que envolvem desde crimes passionais, a crimes de trânsito, ou guerra de facções, ou ainda ações militares e paramilitares, destinadas a promover uma "limpeza geral".
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E o pior, é que a ninguém espanta tamanha morosidade das investigações, tamanha pouca importância dada a um assunto que, por suas consequências, pelo que traz de insinuações e dúvidas, pela carga de crime político que carrega, deveria ser a prioridade máxima tanto das tropas da polícia, quanto das tropas da Força Nacional, e do Exército.
Deveria, se o Brasil não fosse o país da desfaçatez, em que nem mesmo uma condenação da mídia e da opinião pública internacional, são capazes de mudar o rumo de eventos da espécie.
Afinal, com outros problemas domésticos pipocando em seus próprios países, com problemas internacionais de maior grau de tensão, seja a guerra comercial entre Estados Unidos e China, seja a guerra fria dos tuítes do Fantástico Dr. Trump Strangelove, ou seu avanço agora, sob as "armas químicas" dessa vez da Síria, bastaria às forças de segurança e investigação do Rio, dar tempo ao tempo.
E aproveitar-se das velhas máximas, de que o tempo apaga todas as dores, cura todas as feridas, remete ao esquecimento as questões capazes de infligir maior sofrimento.
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E, no entanto, Marielle vive. Como vive o motorista Anderson. Como vivem os pedreiros Amarildos e tantos outros, como uma mensagem. Como uma imagem. Como uma vítima, ou mártir de uma democracia nunca completada ou realizada integralmente.
Uma democracia meia sola, onde encontra-se de tudo, embora falte apenas um detalhe: o povo.
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Não nos choca portanto, que as investigações nada tragam de respostas às perguntas geradas pelo crime. Na verdade, porque as perguntas já nasceram com as respostas postas, às claras.
E, embora não se saiba muito bem, o nome do autor dos disparos, o nome do mandante, sua patente, seu cargo ou posição, até os muros e o asfalto as ruas onde os disparos foram desferidos sabem os interesses que estavam por detrás da execução.
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Tanto que agora, completado um mês, no último 14 de abril, a apesar de todas as manifestações públicas, todos os encontros, eventos em que Marielle e sua bandeira de luta foram desfraldados, da cobrança que, justiça seja feita, a grande imprensa imprimiu ao caso, embora cada vez menos retumbante, a Polícia vem a público dizer que fez avanços importantes.
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É que levaram um mês, para perceberem que as cápsulas e cartuchos deflagrados e que ficaram espalhadas expostos no local da execução permitiram a identificação de digitais.
E, que ninguém acredite que se trata de uma situação de tragicomédia, ou um stand-up de mau gosto: adivinhem se as digitais não parecem ser as de um ex-membro das tropas de segurança, falecido em tiroteio recente, nas brigas de gangues???
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E a alguém, em sã consciência, passaria algo diferente pela cabeça?
Como diria Maxwell Smart, o famoso e inesquecível Agente 86: estamos diante do velho truque de descobrir e culpar a alguém que já não pode se defender, uma vez que já está também morto. Nem se defender, nem apontar outros comparsas, nem ser julgado e punido.
O velho truque de aproveitar a morte de algum ou alguns integrantes das chamadas forças de segurança, para transformá-los em bodes expiatórios.
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E poder dar uma satisfação a uma sociedade que cada vez mais é tratada de forma infantilóide.
Pior: que se comporta de forma equivocada e imbecilizada, permitindo que comportamentos desse tipo não sejam apenas adotados, mas ainda alimentem discursos de que apenas alguém com coragem, alguém sem papas na língua, quem sabe até alguém capaz de não seguir a hipocrisia do politicamente correto, alguém que conhece de perto a violência, e que veio do meio militar seja o perfil adequado para governar o país.
Sai, zica!!!
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Vira vira do Vasco
Lembro-me quando era mais novo, e cantava nos salões de carnaval dos clubes, que se a canoa não furar... Lembrei-me da ameaça do remador de chegar lá, mais ainda se, para ironia da sorte, o remador em destaque não se chamasse Vasco da Gama.
Lembro-me também de um tio-avô, apaixonado pelo Galo, que sempre me ensinou que a melhor defesa é o ataque.
Claro, não que o time iria deixar desguarnecida sua defesa, e o goleiro e os zagueiros, fossem se juntar aos laterais, atuando lá no semicírculo da área adversária.
A frase dizia respeito à estratégia. A uma filosofia de jogo.
Quer ganhar? Arruma a defesa, deixa sua defesa bem postada. Coloca jogadores na frente da zaga, capazes de darem a ela a cobertura necessária.
Mas joga para vencer. Não joga para ficar enrolando o tempo, fazendo o tempo passar, satisfeito com qualquer resultado, pífio que seja.
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Ainda na semana passada, em distintas ocasiões, tivemos a oportunidade de verificar que a máxima de jogar com o regulamento; jogar para não levar gols; jogar se defendendo; jogar para passar o tempo levou vários grandes a sofrerem derrotas, até então, consideradas improváveis.
Foi assim com o Barcelona, contra a Roma, quanto o time catalão abdicou de jogar com vontade, com gana. E ficou apenas cercando a bola no meio campo, mesmo depois de, ou talvez até por causa disso, de ver a Roma abrir o placar no início do jogo.
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Lá pelas tantas, ainda com jogo pela frente, lembro-me do time do Barça, para quem eu estava torcendo, me levar a torcer para que perdesse a partida, por total apatia.
Cada bola nos pés de jogadores do time de Messi passava de pé em pé, em trocas irritantes de passes, até que, lá pelas tantas, o pobre locutor tinha de repetir a frase de que começa tudo de novo, lá atrás, com o goleiro.
Time que quer jogar e vencer não joga para trás. Não recua, abrindo espaços para que o adversário suba todo e, e na base da pressão e do sufoco, possa fazer o resultado que lhe interessa.
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Em menor escala foi também isso que se viu com o time do Real Madri, depois ao enfrentar a Juve, e quase não se classificar, não fosse o juiz achar um pênalte mais que maroto, inexistente.
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De novo, por mais maroto que fosse, o Vasco teve ontem, com a valiosíssima contribuição do juiz, também um pênalte mais que duvidoso. Que me arrisco a dizer, não teria apitado, em São Januário, contra o time da casa. Independente de quem fosse o adversário.
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Mas, a culpa pela derrota no Rio, na estreia do Campeonato Brasileiro, não pode ser atribuída ao juiz. Dizer que ele falhou e que teve parcela de culpa não pode ter o efeito de nos cegar, e perceber que o time, depois do primeiro tempo, voltou para não jogar bola. Não atacar. Não vencer. Apenas ficar deixando o tempo correr. Aproveitando do fato de que além do gol muito bonito, mas meio espírita de Otero, o time chegou com facilidade para marcar, ao menos umas outras duas vezes.
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Chegou, mas não marcou. Teve com o jogo em suas mãos e não soube aproveitar.
E, para cumprir a profecia sempre verdadeira, quem não faz....
Na crença ou esperança de que o Vasco se atemorizasse com possíveis contra-ataques, o time do Atlético começou a trocar passes laterais enervantes, e a atrasar bola para o goleiro sair dando chutões.
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Por tal comportamento, de quem não quer ganhar, levou o empate. E depois a virada, para coroar o castigo.
E nem pode ser alegado que o time estava cansado, sem condições para correr como o Vasco no final do jogo. Porque se fosse cansaço, Larghi deveria ter já trocado algum jogador desde logo, quando percebeu o Vasco nos prensando. O que já começou a acontecer no início do segundo tempo e não quando o técnico do Galo resolveu mexer.
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Começamos mal. Ou nem tanto. Estávamos jogando na casa do adversário e, afinal, quem sabe não tenhamos aprendido a lição.
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