terça-feira, 17 de abril de 2018

Paul Singer, a morte leva um intelectual e uma grande dama: dona Ivone Lara; o julgamento de aecim e a pesquisa Datafolha que confirma que o brasileiro não quer justiça, mas vingança

O primeiro contato que tive com a matéria de Economia, como matéria básica da Administraçãode Empresas que eu cursava na Federal de Minas,  foi com o livro utilizado por mil de cada mil escolas em minha época, de autoria de Paul Samuelson, Introdução à Análise Econômica.
Confesso que achei interessante do conteúdo e que, alguns detalhes chamaram-me a atenção desde a primeira leitura.
Assim foi, por exemplo, com o conceito de sofisma da composição, que indica que o que pode ser considerado como verdadeiro ao nível individual, não é necessáriamente verdadeiro, quando aplicado ao conjunto da sociedade. Sofisma ilustrado pela ideia do indivíduo que poupa visando formar um pé de meia para o futuro. E que, por poupar (e aplicar corretamente sua poupança!) consegue melhorar sua situação econômica. Mas ideia que, uma vez adotada por toda a sociedade, poderia reduzir tanto o consumo que acabaria implicando em fechamento de fábricas, eliminação de empregos, formando uma espiral recessiva capaz de trazer pobreza generalizada.
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Outro conceito que chamou logo minha atenção foi o de como somos otimistas, confiantes, ao dormirmos à noite, com a certeza de que, no dia seguinte, encontraremos no mercado a gama de diferenciados bens de que necessitávamos. Por que, em uma sistema econômico em que os produtores visavam lucro e agiam individualmente e independentemente uns dos outros, nada não impediria que todos produzissem de forma excessiva apenas um mesmo bem, o mais lucrativo. Deixando de produzir o resto dos bens necessários à sobrevivência da população.
Anos mais tarde, aprendi que tal possibilidade consistia no conceito de anarquia da produção, que funda o sistema de mercado.
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De Samuelson, levo ainda outros conceitos como o de funcionamento do sistema de mercado, com suas curvas de procura e oferta, que em conjunto determinariam o preço de equilíbrio de um produto no mercado. E uma parábola interessante, em defesa do livre mercado, a respeito dos reinos de Zig e Zog.
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Claro, conceitos de contabilidade nacional, os agregados macroeconômicos, balanço de pagamentos, foram todos conceitos com que tive o contato inicial nos dois volumes que consistiam a publicação da Editora Agir.
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Mas, devo admitir que o livro que mudou todo meu futuro, e me fez cada vez mais me afastar do curso de Administração, em direção ao curso de Economia foi o livro de outro Paul, o austríaco e socialista Paul Singer, e seu Curso de Introdução à Economia Política, na matéria de mesmo nome, dada pelo grande mestre e amigo,  Waldemar Sevilha.
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Foi ali naquelas páginas que pela primeira vez passei a me questionar da utilidade dos bens, como base para o seu valor ou preço. Afinal, qual a lógica tinha em um mesmo vestido ter um valor enquanto estivesse na moda e deixar seu vapor evaporar-se, apenas por ter mudado a estação?
E o que dizer daqueles tipos de atividades tão geradoras de prazer, como o simples ato de tomar um banho, e que não tinham qualquer valor econômico? Ou de atividades que, por serem negociadas no mercado, como uma refeição no self-service, recebiam um preço, ao passo que, a mesma refeição, com qualidade muito maior, feita em nossa casa por nossa mãe, era considerada sem qualquer valor???
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É certo que havia muitas críticas ao livro, à forma de apresentação de alguns dos conceitos, mas em suas várias unidades, denominadas aulas, foi que pude ser apresentado a algo que passou a ser algo que pode servir como minha característica pessoal ao longo da carreira como professor: sempre há uma outra abordagem. Sempre há um outro olhar, fundado em outro interesse.
E aí a riqueza da Economia. E tal olhar,  que pode ser tão parcial, é o que dá à Ciência Econômica, e às ciências sociais,  seu atributo de cientificidade, como já nos fora ensinado por Chico de Oliveira.
Afinal, somos sim, parte, agentes, juízes e objetivos, como seres humanos da sociedade e da explicação de seu funcionamento.
E não podemos esquecer que, em toda a sociedade, apesar da existência de uma mesma e única verdade absoluta, há várias verdades e ângulos de análise, decorrentes de nossa posição e nossos interesses.
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Poucos anos depois tive o prazer de assistir a algumas aulas do professor Paul Singer, que agora percebo terem sido em número insuficiente para aproveitar melhor os ensinamentos de quem foi um dos economistas que mais trataram da questão da pobreza e das diferenças sociais, e das ações para que tais problemas pudessem ser mitigados: a questão da Economia Solidária.
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Chega agora a informação de sua morte. E essa pequena homenagem serve apenas para deixar marcado que perde a Economia, perde o país, perdemos todos nós um grande homem, economista e intelectual.
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E perdemos também a Dama do Samba, dona Ivone Lara. A quem devemos também prestar nossas justas homenagens.
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Mas os pitacos hoje também abordam duas questões outras, mais prosaicas. Mais mundanas.
A primeira, a respeito da possibilidade de o Supremo Tribunal, em sessão de sua primeira turma, decidir tornar réu o empoeirado senador por Minas Gerais, o cariomineiro ou mineiroca aecim.
Que se defendeu ontem, em artigo publicado na Folha de São Paulo, reconhecendo ter sido muito inocente ao pedir R$ 2 milhões de empréstimo a um dos maiores empresários - envolvido com muitas irregularidades e suspeitas de corrupção e beneficiamentos irregulares - do país, o senhor Joesley Batista.
Alega em sua defesa o mineiroca, que não havia ali, nada irregular ou ligado à corrupção, ou cobrança de favores, uma vez que o político era de oposição ao governo que poderia conceder favores ao empresário.
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Ok. O argumento é correto. Não fosse a obrigação de reconhecer a possibilidade de que em escalões intermediários, junto a outros partidos e seus integrantes, junto a outros ocupantes de cargos indicados por partidos que compunham a base e que, na maioria das vezes lotearam o governo e se encastelaram em feudos em suas respectivas áreas de atuação, o senador pudesse sim, ter agido para beneficiar Joesley.
Aliás, é sempre bom lembrar que, independente da grande quantidade de pó apreendido no avião de empresas ligadas a seu filho, o senador zezé perrela, antes de alcançar o Senado e ali servir de escudeiro de aecim, foi empresário com atuação destacada nas Minas Gerais, no ramo de frigoríficos. Por acaso, o mesmo ramo da JBS e sua Friboi.
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Mas, ingênuo ou não, o mineiroca não consegue explicar porque foi gravado falando que a grana combinada teria que ser entregue a quem de confiança, um parente seu. Um primo que poderia ser morto caso ameaçasse tornar-se delator.
Ora, quem disse isso não foi Joesley. Não fui eu, nem ninguém exceto aecim.
E isso, tal como a quantidade de dinheiro cuja entrega foi toda documentada através de filmagens, e depois apreendida em malas encontradas com seu primo Fred, justamente em valores compatíveis com parcelas do "empréstimo" negociado, com Joesley, o senador não consegue explicar.
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Não vou perguntar porque aecim não procurou um banco, para negociar, como a maioria das pessoas o crédito necessário. Afinal, vários de nós, muitas vezes, optamos por tomar empréstimos com nossos amigos, parentes, sem a burocracia de realizar uma operação, e sem as taxas, todas elevadas cobradas pela rede bancária.
Não há nenhum mal em se tentar evitar uma exposição que poderia decorrer de um vazamento de informações, ou uma atitude indiscreta de algum funcionário de banco, e que poderia trazer algum tipo de constrangimento a aecim.
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Mas, desde que a tecnologia do sistema de pagamentos no nosso país evoluiu ao ponto que chegamos hoje, o curioso é a entrega do dinheiro não ter se dado sob a forma de uma TED, a transferência eletrônica disponível, muito mais segura e transparente.
Vê-se então que o senador preferiu por fazer a operação, por si só suspeita, de forma ainda mais suspeita. Como qualquer bandidinho ligado ao tráfico, nas favelas ou comunidades do Rio.
A mim, aecim dá pena. Nada esclarece e nem dá nenhum sinal de convencimento.
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Mas, e quanto à composição da 1a turma, responsável pela decisão de torná-lo ou não réu?
Uma rápida pesquisa no site do STF, mostra que tem como presidente o mesmo ministro Marco Aurélio que já manifestou em oportunidade anterior, que o acusado era pessoa de enorme folha de, bons, serviços prestados ao longo de sua carreira política, inclusive como governador de Minas. (Apenas não se entende porque tanto elogio, não consegue tornar aecim o mais votado em sua terra!).
Além de Marco Aurélio, faz parte da Junta a ministra Rosa Weber, a insegura, que não é, como circula nas redes sociais, parente da mulher de aecim. A confusão se dá pelo mesmo sobrenome que ambas ostentam, mas Rosa Weber é nesse caso, desimpedida para votar.
A turma é composta ainda pelo ministro Luiz Fux, Alexandre de Moraes, esse muito mais suspeito de ter relações íntimas de amizade com o acusado do que sua colega Rosa Weber, a julgar pelo conjunto de fotos de eventos em que além de amabilidades trocava confidências, talvez com o senador mineiroca, e o ministro Barroso.
Pena que, se viu a corridinha com a mala de 500 mil, no centro de São Paulo, o ministro não pode ter visto corridinha semelhante de aecim.
Afinal, o dinheiro apreendido havia sido entregue dentro ou encoberto por um utilitário, se não me falha a memória. Fred, o primo que poderia ser morto caso delatasse, não precisou de se preocupar com segurança, nem com o horário de um vôo.
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Mas, como de cabeça de juiz e urnas, além da inesquecível bunda de nenê, pode-se esperar surpresas, resta esperar a decisão à tarde.
Antecipadamente, alerto que, provavelmente não irá se ouvir o rojão de foguetes, porque não se comemora, ou não deveria se comemorar prisões, especialmente quando elas atingem a quem o povo escolheu como seu representante. No mínimo, por vergonha de escolhas tão mal feitas.
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A segunda questão trata da utilidade de pesquisa feita pelo DataFolha e, mais que seu resultado ou seu significado, a finalidade a que ela se presta.
Senão vejamos: em uma sociedade em que todos são cordatos e gostam de parecer solidários, mas que atacam obras de arte, que atacam pessoas que são de outras religiões, que fazem bullying, etc. qual o interesse em mostrar que a grande maioria da população, cerca de 82% são favoráveis à prisão em segunda instância?
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Esqueceram-se os leitores, os pesquisadores e os planejadores da pesquisa que a grande maioria do povo mostra-se favorável a que se proceda à castração - se lhe for preguntado, daqueles que cometem estupros.
Não é essa população, composta de ignorantes, como amplamente reconhecido nas falas que cobram maior educação para o povo, a mesma que, tendo a oportunidade, espanca, chuta, dá tapas, cospe e xinga, algum meliante que acabou sendo apanhado na rua pelos transeuntes?
Será que ninguém ainda teve a oportunidade de assistir aos ataques covardes e agressivos, cometidos por gente comum, bom ou boa vizinha, gente pacata, tranquila, sempre disposta a receber uma visita ou até um desconhecido com um sorriso, uma gentileza, talvez até um copo dágua?
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Não foram essas pessoas de boa índole, que em certo caso, agrediram até a morte uma mulher, acusada injustamente ou pior, confundida com outra, no litoral do Guarujá?
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A quem a Folha está prestando algum benefício, a que interesse está servindo, ao perguntar para uma população que deseja vingança e não JUSTIÇA, o que pensa do respeito e do cumprimento à lei maior do país, a Constituição, que assegura a presunção de inocência até o último instante?
O povo brasileiro, maltratado, agredido pelas tropas policiais que deviam lhe dar segurança e proteção, feito prisioneiro muitas vezes por sua cor, sua idade, sua aparência, sua condição social, talvez tenha razão em querer dispensar o tratamento que lhe é comum, aos demais acusados e pegos em malfeitos.
Mas o povo é sempre bom lembrar deseja VINGANÇA. NÃO JUSTIÇA.
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E o que faz um povo mais forte, mais livre, mais justo, mais solidário, mais digno de respeito e mais respeitoso, é simplesmente cumprir as normas e fazer valer as normas legais.
Não obter a justiça com as próprias mãos. Mas cobrar e fazer valer, nas instâncias responsáveis, o tratamento digno e igualitário a todos cidadãos.
É isso.

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