quinta-feira, 26 de abril de 2018

Greve da rede particular de ensino; e poucos comentários sobre as reações de nossa sociedade ao combate à corrupção

Período movimentado esse iniciado desde nossa última postagem. E, não me refiro às questões políticas e jurídicas ou às de cunho econômico que vimos vivenciando embora, é claro, todas elas atraem e atraíram a atenção de todos nós.
Afinal, na última semana o Supremo Tribunal, por decisão do Plenário, aceitou a denúncia, e transformou o senador mineiroca aecim, em réu.
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Muitas comemorações posteriores nas redes sociais e muitas mensagens destinadas a tentar comprovar o comportamento imparcial da justiça de nosso país, a verdade é que a situação do senador é bastante distinta da vivida pelo ex-presidente Lula e/ou por lideranças do PT, para ficar apenas nas punições já decididas, com maior apelo popular.
Afinal, não devemos nunca nos esquecer que grande parte das manifestações populares que levaram milhões de cidadãos vestindo o uniforme verde-amarelo da incorruptível CBF para as ruas, praças, e avenidas de nosso país, no afã de combater a corrupção tinha como alvo principal o PT, os petralhas e seus maiores nomes.
Inclusive os nomes de um ex-presidente e uma presidenta, vítima de um golpe.
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A propósito do golpe, faço um breve parênteses, para tratar de parte de artigo de autoria de Otávio Frias, no caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo do último domingo, dia 22 de abril. Coincidentemente, data em que se comemorava a chegada ao Brasil do navegador português Pedro Álvares Cabral, e que inaugurava o primeiro pedido de favorecimento a um parente, que teve Pero Vaz de Caminha como protagonista em sua famosa carta a El Rei.
Bem, isso é história e essa história é de conhecimento amplo, geral e irrestrito, a ponto do nosso filósofo José Simão afirmar, com muita propriedade ter sido Pero Vaz, o fundador do MDB em nosso país.
Deixa prá lá.
A questão é que, pelo que entendi do artigo de Frias, um presidente, no caso, uma presidenta que não tinha o apoio de 1/3 ao menos da Câmara, não poderia mesmo desejar comandando os destinos da nação. Afinal, como lembra o articulista, diretor do grupo Folha, Dilma teve todo o direito amplo de defesa que o processo de impeachment, nossa Constituição, a Lei do Impeachment e o Direito assegura.
É verdade. Como é verdade também que a lei do impeachment, datada da época da deposição de Getúlio, tinha como principal característica ser uma medida de caráter político.
Daí, a conclusão de Frias, de que Dilma devia mesmo deixar o cargo que ocupava, pela vontade expressa de 54 milhões de cidadãos, por não ter conseguido cooptar, ou comprar para não sermos cínicos, o apoio de 300 e tantos deputados (ou picaretas, nas palavras de Lula).
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Interessante, o artigo admite que Dilma não fez nada diferente de seus antecessores, em termos das tecnicalidades chamadas de pedaladas fiscais, apenas repetindo os procedimentos amplamente adotados no país. Mais interessante ainda, alega que, no entanto, e dessa feita, o problema é que ela levou as pedaladas a níveis insuportavelmente elevados.
Ou seja, não foi golpe. Não foi alteração de regras em meio ao jogo. Não houve uma manifesta mudança de regras de julgamento, em função de estar em andamento um golpe.
Golpe foi, não o procedimento do governo, mas seu montante.
Não foi golpe. Por que, sendo um julgamento político, quem não compra 2/3 dos deputados da Câmara não merece mesmo estar no cargo.
Não foi golpe. Seguindo a tradição do local onde o processo de impeachment surgiu, Roma, um processo desse é julgado no Senado. E lá, depois de amplo direito de defesa, Dilma foi condenada.
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Nenhuma linha a respeito da ação engendrada pelo mau caráter, senador derrotado nas eleições, aecim. Que do alto de sua mágoa e vaidade ferida, afirmou em alto e bom som, para todos ouvirem, já que da tribuna do Senado, que a oposição não deixaria Dilma governar.
Logo ele, o playboy cujos comportamentos são agora, considerados suspeitos.
Ao proceder da forma como prometera, aecim e seus cúmplices no mau caratismo, não deixaram que medida nenhuma visando colocar a economia do país nos trilhos pudesse ser adotada.
Cá entre nós: não me convenci até hoje que as medidas ortodoxas de Joaquim Levy, no estelionato eleitoral que Dilma acabou protagonizando, em pleno desespero, pudessem tirar o país da recessão pela qual passamos.
Mas...
A verdade é que passamos por 2 anos de queda do PIB, fortalecendo a ideia curiosa, estapafúrdia até, mas sem qualquer consistência política apresentada por Frias: a de que todo governante que enfrentou dois anos de recessão consecutivos, não conseguiram se manter no poder.
Em seu exemplo, primeiro com 82-83 e a queda de João Figueiredo, como se o regime militar não estivesse já podre e caindo de vazio desde antes. Como se a ideia era continuar com a mesma prática, de eleições indiretas com candidatos indicados pelo Poder militar. Como se não houvesse surgido, felizmente, na oportunidade, e aí devemos ainda agradecer a seu comportamento da maior cara de pau, um Maluf, para vencer a convenção partidária e se tornar o candidato oficial do partido do governo, o PSD.
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Frias não faz referência aos anos de crise de 64-66, talvez por que sempre foi vendida pelos militares no poder, a falácia de que a sucessão Castelo Branco (falecido) - Costa e Silva, se deu na mais completa normalidade, como algo linear.
Vá lá.
Mas Frias citou 90-91 e Collor, e depois os anos de Dilma. E a queda de Dilma.
Criando uma tese nova, assim como David Nasser criou um dia a tese de que todo governo cujo presidente testemunhasse a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo, seria um governo de grande popularidade...
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Falei demais do artigo curioso e suas teses mais ainda... Só não consegui entender porque temer, o usurpador, não enfrenta o mesmo processo político de impedimento, já que não tem apoio, talvez nem dentro de casa. Embora, sob as barbas do senhor Frias, compre desavergonhadamente os votos necessários para evitar aquilo que Dilma não achava que deveria intervir.
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Mas minhas observações são apenas para falar de que a população, insuflada por aecim e outros como ele, hoje sob suspeita, foi para as ruas e comemorou a queda do PT e todos os petralhas ladrões e corruptos. Como se só o PT fosse assim.
Depois de descobrirem que os fatos não eram bem assim, comemoram agora a transformação de aecim em réu. Apenas isso. E agora, como alegou o senador, porque ACEITOU, ingenuamente, um empréstimo de um empresário.
Impressionante. Em seu choro, desconexo, como sua figura patética, o senador mineiroca já mudou o discurso. Não foi mais ele que pediu o empréstimo. Em dinheiro vivo e entregue a um portador que pode ser morto se resolver delatar. O QUE???
Agora foi o empresário que quis emprestar o dinheiro a aecim. Talvez por estar desejando criar um banco e estar testando sua capacidade de realizar empréstimos.
A aecim, ao presidente do impoluto PP ou Progressitas, Ciro, etc.
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Mas aecim não foi preso. Talvez nem nunca o seja. Apenas virou réu, em processo cujas investigações poderão se arrastar, quem sabe por mais uns 2, 3 anos. Para depois, em tribunais de primeira instância, levar alguns 4 anos para se movimentar. Tempo a que deverá ser acrescido outros 10 anos de recursos a instâncias superiores.
Nesse meio tempo, apenas Lula foi preso. Para acalmar a sanha de vingança dos cidadãos contrários à corrupção e que alegam não ter bandidos favoritos.
É verdade. Favoritos deles são as vítimas da seletividade da justiça.
Afinal, Lula teve a prisão decretada, antes ainda de seus recursos todos serem julgados no TRF-4. Já Eduardo Azeredo... bem, com placar que o condenou em segunda instância, pela segunda vez, por 3 votos a 2, é até imprudente solicitar sua prisão. Mais ainda porque ele tem a oportunidade de recorrer...
E os verde-amarelos da seleção brasileira, comemoraram a "prisão" - PRISÃO??? - do pai do mensalão.
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Mas o agito da semana tem sido não a questão política nem a econômica.
É verdade que a arrecadação federal subiu, em março, o que não se via desde 2015, alcançando coisa próxima de 106 bilhões. Como é verdade que o resultado externo foi positivo mas o das contas públicas continua sendo ruim.
E que ruim está sendo a perspectiva de cumprimento da regra de ouro pelo governo. Se não em 2018, seguramente para o quadro que será deixado de herança para 2019.
Também é verdade que o dólar está agitado se valorizando.
E que muitos alegam que, embora positivo para o setor exportador, a contribuição disso para a economia é prejudicial, já que encarece o processo de importação de máquinas e equipamentos que representa o investimento (qual???) que nosso país está atravessando.
Isso sem contar os impactos na inflação, no ânimo e na expectativa dos agentes econômicos.
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O problema que mais atraiu minha atenção é a proposta de acordo sugerido pelo Sindicato que representa os estabelecimentos privados de ensino em Belo Horizonte, e Minas, que só faltou introduzir o direito de os patrões voltarem a utilizar o pelourinho e o chicote para obter a colaboração, sempre valorizada dos professores.
A proposta, vergonhosa, é um lixo. Para inflação de mais de 2,4% do ano passado e matrículas e mensalidades corrigidas em 9 a 12%, propõem 1% aos dignos e valorosos colaboradores.
Fim das bolsas de estudo a filhos e dependentes de professores, uma conquista de mais de 50 anos. Fim dos intervalos entre duas aulas, o recreio. Fim do recesso de julho. Férias apenas no período de 26 de dezembro a 24 de janeiro. Fim do adicional por tempo de serviço. Alteração dos alunos em sala, de um número já elevado de 60 para 80. E para culminar com a transformação de aulas em palestras, alteração prejudicial do pagamento do extra-classe, o pagamento ao professor para que ele fique em casa, trabalhando, corrigindo provas e trabalhos, orientando alunos, planejando provas e aulas.
Tudo isso para melhorar a qualidade da educação, bandeira de tantos donos de escolas, em seus discursos mais pomposos.
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Com tanta perda, perdi muito de meu tempo, me dedicando a ações preparando-me para enfrentar a greve que nós professores das escolas privadas, iniciamos a partir de 25 de abril, ontem.
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Como disse um aluno, não podíamos tomar outra decisão. Afinal, depende de nós, transmitirmos a todos eles, um mínimo de conhecimento e aprendizado de cidadania e luta em prol da manutenção e respeito a direitos e conquistas tão duramente obtidas.
É isso.

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