terça-feira, 15 de março de 2022

A guerra mostra que a humanidade não deu certo. A atuação da imprensa e mídia mundial, comandadas desde os EUA provam o acerto dessa conclusão

Em meu último pitaco, prometi voltar a tratar da invasão da Ucrânia patrocinada pela Rússia. Já naquela oportunidade, acreditava que, para impedir o avanço ameaçador da OTAN, leia-se Estados Unidos, sobre todos os vizinhos territoriais da Rússia, a opção de um Putin acuado, foi virar o jogo: partir para o ataque.

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Assim, entendia que o exército russo iria contar com facilidades em seu avanço por territórios das repúblicas independentes da região de Donbass, permitindo cumprir a estratégia inicial da campanha militar, de proteger a população pró-russa ali instalada, que vinha sendo vítima de severos ataques de forças ucranianas. Não necessariamente ataques de responsabilidade das forças do Exército legal ucraniano, mas de milícias de forte viés nazifascista, instaladas no mar de Azov.

Importante recordar que, conforme o discurso de  Putin, uma intenção da campanha militar no território vizinho era desnazificar aquele país.

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A partir de Donetsk e Luhasnk, acreditava eu que o exército russo aproveitaria a oportunidade para empreender uma  campanha rápida de conquista de cidades de significativa importância econômica e geopolítica, como Odessa,  o que facilitaria o acesso russo ao Mar Negro e Mariupol, que propiciava o estabelecimento de uma ligação  terrestre com a Crimeia, sob controle russo desde 2014.

Claro, a conquista de Kiev seria um trunfo importante de negociação para Putin, da mesma forma que o controle sobre as usinas nucleares de Chernobyl e Zaporizhia, por sua capacidade de geração de energia atômica.

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Talvez por ingenuidade de minha parte, não acreditava no desejo atribuído a Putin de conquistar um território apenas em razão de sua população ser descendente do mesmo Estado Rus, origem de russos e bielorussos, mesmo depois de sua afirmação de que a “Ucrânia nunca teve tradições próprias de Estado”.

Tampouco, acreditava que Putin era movido pelo interesse em dominar os recursos naturais que fazem da Ucrânia um dos países mais ricos de toda a região.

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Fora alguma ingenuidade e desconhecimento, que raciocínio embasava meu pensamento?

Primeiro, e principal motivo, a necessidade de reagir a um suposto estrangulamento promovido à Rússia pelos Estados Unidos, antes que já não houvesse qualquer capacidade de reação possível no futuro.

Além disso, o fato de que, fora a região mais oriental, de fortes influências russas desde sempre, o território ucraniano sempre foi ocupado por uma série de povos e impérios de distintas origens, o que lhes dá certa indiferença à Rússia.

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Piora o quadro, o fato de parte da população ucraniana, residente na região mais ocidental do país, ter maior identificação ou maior atração pela perspectiva (talvez enganosa) de um padrão de vida europeu.

Sem nos esquecer de algum tipo de repúdio a qualquer tipo de retorno ao jugo a que se sentiram submetidos, quando integrantes da União Soviética.

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Caso a Rússia de Putin quisesse de fato atacar, conquistar e manter o domínio sobre a Ucrânia, todos esses fatores levariam a um problema incontornável para um país detentor de imenso poder bélico, atômico, mas de economia de médio porte e bastante fragilizada.

Em minha opinião, além do gasto militar inerente ao ataque – que se amplia a cada dia a mais de combates em território ucraniano – as despesas com manutenção de tropas aquarteladas por longa duração em território derrotado seriam muito elevadas.

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Isso, sem considerar os problemas de perdas humanas na invasão, e posterior desgaste com a manutenção de combatentes fora de seu país, distante de seus familiares e amigos, fora de seu ambiente e sujeitos a potenciais ataques terroristas ou de forças de guerrilha. Estas, fortalecidas pelas tropas de milicianos ultrarradicais de direita.

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Invadir a Ucrânia como trunfo para a negociação, fazendo exigências como a do compromisso de não alinhamento à Otan, ou de condenação e combate às milícias nazistas, mantida a independência das repúblicas pró-russas, seria uma opção mais viável do ponto de vista humano e econômico.

Nesse meio tempo, negociar com os países adversários visando um abrandamento das sanções impostas à Rússia e aos seus principais empresários, seria outro importante ponto a considerar.

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Uma alternativa menos aceitável, mas tolerável seria a inclusão da Ucrânia no pacto do Atlântico Norte, com o compromisso expresso de não instalação de qualquer base militar ou armamento naquele território. Dessa forma, a Ucrânia e seu povo iriam aproveitar-se apenas de algum benefício econômico de pertencer àquela comunidade.

Encarada como uma “punição”, embora de menor peso, a Rússia ainda se comprometeria a devolver a capital Kiev e outras cidades conquistadas ao povo ucraniano e a respeitar a vontade do povo expressa na eleição de um novo governo, admitida a possibilidade de Zelensky concorrer a novo mandato.

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Finalmente, a Rússia admitiria algum tipo de pagamento de indenização de guerra, sob a forma de aquisição de produtos ou mesmo reconstrução de alguma infraestrutura danificada pela ação militar.

Ou seja, em minha opinião, a Rússia teria feito da campanha e da conquista de toda a Ucrânia apenas um grande e caro e sangrento blefe.

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Se eram estas minhas impressões quando do início da invasão, confesso que a guerra que eu acreditava que seria travada alterou-se completamente.

Isso porque a guerra principal não está sendo travada com apoio do exército e forças aéreas de combate russas. O Exército avança a passos lentos, como se a opção de conquistar territórios e mesmo a capital não fizesse parte dos planos.

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A utilização da artilharia parece ser, em alguns casos, de elevado grau de precisão e muito focada, com mísseis sendo disparados de forma a destruir bases importantes para defesa de forças ucranianas, e desbaratamento de possíveis instalações de organização das milícias ali existentes.

Pouco uso tem sido feito de potentes e sofisticados aviões de combate que, ao que parece, estão despejando bombas com prazo de validade vencido, em bombardeios com armas tradicionais e ultrapassadas. Com a grave consequência de tais armas, de precisão muito menor, causarem estragos não desejados junto à população civil.

O que aumenta o ódio dessa população em relação à Rússia. E permite antever que a conquista e manutenção da Ucrânia, pura e simples, seria como a criação de um Afeganistão para Putin.

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Mas, pior que tudo isso, é que a verdadeira guerra tem sido travada pelos meios de comunicação, pelas redes sociais e meios digitais, pelos constantes relatos manipulados seja por partidários da causa russa, seja por todos que se aliam aos interesses americanos.

Ou seja: a verdade, como é de se esperar, tem sido a maior vítima do conflito, em que pesem as perdas inúteis de vidas. Mesmo essas, parcialmente objetos de manipulações e 'fake news'.

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Um fato não pode ser negado: o Exército russo não avançou e destruiu o vizinho com o uso de seu potencial e toda sua estrutura e armamento. Razões para isso não são analisadas nem investigadas.

Toda a mídia, a favor e dominada por interesses outros que não a informação correta, prefere apontar como motivos o heroísmo do povo ucraniano; a liderança e a postura de estadista até então não percebida de Zelensky; o ego e o desejo de restabelecimento de um império ultrapassado por parte de Putin e o seu fracasso em convencer o povo russo de suas reais e justas preocupações.

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A mídia, a imprensa escolheu um lado e já relata os fatos ainda em fase de seu desenrolar, como história acontecida. Por essa visão, Putin e a Rússia já perderam.

Nos comentários, todos os analistas já programaram as próximas ações de Putin, já mostraram como ele está fraco e sem apoio, como será condenado, e já o consideram uma carta fora do baralho. Um tirano fora do poder.

Tomara que Putin seja mesmo destituído, e punido por crimes de guerra e outras atrocidades. Mas, torcer, o que fiz agora, não significa que isso é o que vai ocorrer.

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De resto, torcer não significa que sendo essa a narrativa vitoriosa, ao final, o mundo tenha sido vitorioso.

O(s) vencedor(es) mais que batatas, pode(m) deixar que sua arrogância e incontestável superioridade  se transforme em mal maior para toda a humanidade.

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