Ainda de guerras
Já tive a oportunidade de reproduzir,
aqui nos pitacos, a frase tornada chavão, que estabelece que a primeira vítima
de qualquer guerra é a verdade.
Seja como forma de criar comoção,
atrair apoios para um dos lados, afetar positivamente o moral de suas tropas e
população, ou de forma negativa as forças oponentes, a banalização da frase
não diminui o teor verdadeiro e trágico de seu significado.
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De fato, a concepção idealizada
de verdade sempre sai derrotada nos relatos e comunicados apresentados pelos
lados em conflito, o que contribui para reforçar – e tornar lugar-comum – o provérbio
chinês, que diz que a verdade tem sempre 3 versões: a sua, a minha e a verdade
verdadeira, ideal.
No entanto, tendo como principal motivação
uma análise das transformações e inovações geradas pela sociedade capitalista visando
destacar e criticar sua transformação em uma sociedade doente - a sociedade de
consumo- , o filósofo Guy Debord já havia enfatizado esse predomínio da aparência
sobre o real.
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Em seu clássico A Sociedade do
Espetáculo, importante obra de crítica às relações sociais resultantes da
evolução de nossa sociedade, Debord nos leva a refletir nessa mesma direção da manipulação
da verdade.
Baseado em seus argumentos,
pode-se identificar algumas prioridades que vieram marcando as fases da sociedade e de suas relações humanas, desde a etapa em que privilegiava o SER, até aquela típica
da sociedade capitalista, de priorização do TER, para chegar ao seu ponto
culminante, de deformação, onde a principal preocupação é o PARECER TER, na condição do ESPETÁCULO.
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Daí sua denúncia da existência de
um controle social, não determinado por uma pequena minoria consciente (autocrática?),
mas que surge em resposta ao funcionamento aleatório, de forças individuais, autônomas,
independentes, à semelhança e típicas do livre mercado, fundado em “uma sociedade democrática” (mesmo que para
poucos).
Tal espetáculo, que elimina a
verdade e a submete às distintas narrativas e ao efeito das influências por ele geradas e transmitidas, afeta a consciência e a capacidade de pensamento de todos nós e nos induz a não duvidar das informações a que estamos expostos, a dizer apenas
SIM. Em síntese: serve à mais pura ALIENAÇÃO.
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Mas, se a primeira vítima das
guerras é a verdade, as vítimas definitivas são os seres humanos: civis ou
militares, jovens ou idosos, solteiros ou casados, brancos, pretos, homens,
mulheres, adultos ou crianças.
E estas são as vítimas que não
deveriam nunca ser esquecidas ou abandonadas. No mínimo, para impedir que o
espetáculo midiático a que a carnificina tem sido reduzida tivesse espaço para
todo tipo de representação manipuladora ou deturpadora: dramática, chorosa, lírica até (crianças cantando,
pianistas se apresentando, etc.).
No limite, para que as profusão
de cores do espetáculo em torno de pessoas brancas, de olhos azuis, europeus de
classe média, não roubasse a cena de outros palcos onde vítimas pobres, pretas, crianças e mulheres morrem destroçados pelas
forças aliadas dos pretensos gendarmes do mundo, se não das próprias forças que se arvoram no papel de responsáveis pelo policiamento mundial: os
Estados Unidos.
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Nunca é demais revisitar o passado,
antes até que seja alterado (por um equivalente ao Ministério da Verdade do livro 1984), para recordar
que Berlim já havia sido sitiada em abril/maio de 45, encontrando-se derrotada. Que a Segunda Grande Guerra já estava definida e a rendição
japonesa, era questão de tempo, dispensando o lançamento da bomba de Hiroshima.
Também não devemos esquecer de
que nunca foram encontradas armas químicas no Iraque de Saddam Hussein, sob o fogo dos bombardeios, dos ataques
e mortes.
E que ainda há guerras submetendo
crianças e mulheres a todos os tipos de violência, inclusive à morte, por
bombardeios como os promovidos pela Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos, no Iêmen. Que persistem as atrocidades cometidas nas invasões de terrenos palestinos promovidas pelo exército de Israel, aliado preferencial dos americanos. Ou da permanência de conflitos, sob os olhares complacentes dos Estados Unidos, na Síria, Somália, etc.
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No entanto, a hipocrisia nos faz
dizer SIM a tudo que seu mestre mandar, e o Tio Sam não está para brincadeira:
pune a Rússia econômica e até esportivamente. Tira o país russo, suas
delegações e atletas de competições em diversas modalidades, sob uma justificativa: sanção ao país agressor, responsável pela promoção de uma guerra; punição a um país que não respeita direitos humanos e
valores democráticos.
Atos e manifestações contrários à
guerra e ao desrespeito à democracia são promovidos em todas as competições,
forma de mostrar um mundo unido em um mesmo ideal de combate à barbárie.
Chama a atenção, em meio a tais protestos, a presença de atletas israelenses, sauditas, árabes, americanos, ou seja, personagens de um espetáculo
cujo pano já caiu. Ou de espetáculo sem cores vibrantes e comoventes.
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Pitacos breves sobre o Brasil
Em nosso país, a pedido da
Polícia Federal, ministro indicado ao Supremo pelos ótimos e discretos serviços
prestados à família de Temer, esgota todas as formas possíveis de estabelecer
contatos com o Telegram, ameaçando bloquear o aplicativo.
Decidido o bloqueio depois de insistentes
contatos, nunca atendidos, o dono do Telegram investe em outro espetáculo.
Lider na área de comunicações e troca de mensagens, admite que seu aplicativo não
estava informado das inúmeras tentativas de contato feitas por nossa Justiça.
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Eu não confiaria em um aplicativo
de mensagens que incapaz de gerenciar suas próprias mensagens!
Mas sou apenas um, que não gosta
de dizer sempre SIM!
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Pavel Durov, criador do
aplicativo se justificou, pediu desculpas e atendeu a todas as solicitações do
Supremo. Que suspendeu o bloqueio.
Ou seja: os responsáveis pelo aplicativo apostaram e blefaram. E perderam e tiveram que pagar.
E não adiantou que adeptos do ex-capitão fizessem as
críticas mais pesadas ao ministro, que não só agiu corretamente em sua decisão e postura, como ainda foi bem parcimonioso e cauteloso em suas ações.
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A meu juízo, as críticas a
Alexandre de Moraes são justas. Os motivos é que são questionáveis.
São sem sentido as críticas a ele por sua atuação, como
advogado, na defesa de réus ligados ao ao PCC. Afinal, independente de seus vínculos e das facções de que fazem parte, também aos criminosos está assegurado o direito constitucional de defesa.
Salvo se a raiva dos bolsotários é pelo ministro não ter optado
por tomar a defesa dos interesses do miliciano e sua familícia: filhos, ex-esposas
e agregados.
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Não confio em Moraes e, depois de
tanto se antagonizar com o chefe da milícia, ele sempre vai parecer insuspeito, quaisquer que sejam as suas decisões como presidente do TSE, se favoráveis ao militar que o Exército não quis em suas fileiras.
Mas, admito que posso estar
errado, apesar de sempre ter ouvido e lido que, na Inglaterra, o Partido Trabalhista
ter sempre sido o mais rigoroso ao tratar as reivindicações dos trabalhadores.
Afinal, tinham que mostrar que governavam para todos e não para um nicho.
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Quanto às falas do presidente,
não há o que comentar: reclamando da retirada da informação falsa que postou no Telegram,
ironizando a importância de sua fake news: e, mais tarde, preocupado com o
bloqueio ao aplicativo que, segundo seu discurso, prejudicaria até os contatos entre pessoas comuns e
médicos, o que poderia ocasionar prejuízo ao atendimento médico, podendo causar até algum óbito.
Para quem não queria vacinas,
recomendava cloroquina e ignorava a gravidade da pandemia; para quem carrega a
responsabilidade pela morte de centenas de milhares de brasileiros, a fala do presidente é, no
mínimo, risível. (pelo argumento! não a morte!)
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Mas vivemos no Brasil, já por si só, um espetáculo da natureza pujante. Tão pujante e esplendorosa que provoca ciúmes capazes de levarem à adoção de políticas de incentivo à destruição do meio ambiente.
Natureza capaz de ofuscar o espetáculo deprimente protagonizado pelo soldado que o Exército
expulsou sob a acusação de atos de terrorismo.
Espetáculo rocambolesco, ao
menos. Já que o ex-capitão é hoje o chefe dos Helenos, Bragas... ou seja, todas
as pragas que insistem em destruir nosso país.
2 comentários:
A verdade é a primeira vítima de toda guerra! E o povo brasileiro sempre vítima de seu governo...
Perfeita sua análise sobre o espetáculo com que vem sendo tratada esta guerra (e todas as outras). A sociedade precisa de adotar um lado. Para tanto é necessário persuadi-la através da comoção e assim não dar chance para análises objetivas e consistentes. E nesta, como em outras guerras, o lado já foi previamente definido.
Poucos sabem ou se lembram do massacre de Dresden, já no fim da Segunda Guerra. A história é frequentemente contada pelo vencedor. Para os derrotados serem ouvidos leva tempo, ocorre principalmente quando a voz deles já não tem força, como lembra Edgar de Decca em "1930: O Silêncio dos Vencidos". Enquanto isso a farsa se metamorfoseia.
Me lembro de uma das passagens da vida de Mohamed Ali pugilista, campeão mundial, estrela do box e também da mídia: "O que um vietcong me fez para que eu esteja em guerra com ele?". Completando: "Por que pedem que eu vá à guerra para matar pessoas, quando, em Louisville, os negros são tratados como cães?".
Este tipo de posição desnuda a cretinice da frase "o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis"; pérola de uma sociedade viciada em espetáculo, afinal o show deve continuar... a entorpecer.
Fernando Moreira
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