Um colega, meu amigo, aproveita
sempre que pode para me ironizar e à minha ingenuidade, recomendando que eu
aceite que dói menos: para ele o Brasil é um país que não deu certo... e nunca
vai dar.
Simples assim.
***
Mas, não. É pior: cada
vez mais chego à conclusão que A HUMANIDADE NÃO DEU CERTO (conclusão a que já
chegou o filosocômico José Simão!).
A verdade é que é o ser
humano que não deu certo e que, talvez, não seria justo ter destino distinto ao
dos dinos.... Em nosso caso, por nossos atos e decisões. Por responsabilidade
ou IRRESPONSABILIDADE nossa.
***
Sim. Refiro-me à guerra
que completa hoje 8 dias e que, desde então é o único assunto que domina mentes
e corações. Razão de a divulgação do número de óbitos diários da Covid no
Brasil ter deixado de ser feita (o que vale o ‘meme’ de Putin ter conseguido
eliminar a Covid!!) e da paralisação dos pitacos.
No caso mais prosaico dos
pitacos, confesso, a culpa da necessidade de ler mais, pesquisar mais, conhecer
mais, para poder emitir alguma opinião minimamente razoável.
***
Mas, antes de abordar a
guerra, devo tratar de um outro assunto, característico de nossa total e cada
vez maior insânia.
E, não! Não falo dos ataques
feitos por drones a Al Shabab, Somália, a grupos classificados pelo Comando
Militar americano como terroristas, e com número de mortes
de civis ainda não confirmados.
ATAQUES EFETUADOS NO ÚLTIMO
DIA 22, DOIS DIAS ANTES DO ATAQUE RUSSO. (Revista Forum).
Você viu? Ou só ouviu
falar de ataques no Iemen, na Palestina, Somália, Síria, um total de 28 países,
feitos ininterruptamente?
***
Direto ao ponto: minha
incompreensão quanto a dimensão infinita da insensatez humana, diz respeito à
colega economista mexicana Paola Schietekat, que trabalhava na empresa
responsável pelas obras de estádios e infraestrurura da Copa do Qatar e foi ESTUPRADA
e, depois, CONDENADA A 7 anos de prisão
e 100 chibatadas.
Paola, ajudada pelo
Comitê organizador da Copa fugiu. Mas, nestes tempos de machismo cada vez mais
tóxico e dogmas religiosos irracionais, vale repetir a pena: 7 anos de prisão e
100 chibatadas.
O motivo: ter tido relações sexuais extraconjugais com seu agressor, que afirmou manter uma relação
amorosa com vítima.
***
Retomo a guerra,
condenável por todos os motivos, por todos os seres humanos, no mínimo, pelas
vidas perdidas ou destroçadas; pelos sonhos e realizações de toda uma vida destruídos.
Guerra que todos sabem como
começa, mas ninguém sabe como acaba. Onde a primeira vítima é sempre a verdade.
Como nos lembra todo este conjunto de trivialidades citados nesse momento.
A verdade é que nas
guerras tradicionais, sempre o povo é que perde. Sempre o mais pobre é o mais
afetado e prejudicado.
Os ricos, ou oligarcas, até
aproveitam-se para aumentar suas fortunas, não apenas pelos lucros expandidos da
indústria bélica, e indústrias fornecedoras, mas também pelo aumento de preços resultantes
de toda a desorganização imposta aos mercados e cadeias de fornecimento.
***
Por mais que a propaganda
faça questão de mostrar o cuidado com a proteção e segurança dos civis, a decisão
de Putin, como qualquer ataque do gênero, atinge vidas de pessoas que eram contrárias
ou inimigas ao agressor, e até daquelas que eram pró Putin ou pró Rússia.
A morte, em sua dinâmica
não escolhe as vidas a serem ceifadas.
***
Mas, condenado o ataque
bélico e destruidor, o que minhas leituras exaustivas me indicam, mesmo
reconhecendo não ter chegado a qualquer conclusão relevante.
Vamos tentar ser sucintos.
O que não me impede de
recordar uma lição que um amigo e colega,que não vejo há mais de 40 anos me transmitiu.
Em homenagem ao Luis Fructuoso Correia, narro a história da caçada ao rato.
Paulo, ele me disse, se
você entra em um cômodo e procura acuar o rato, levando-o a um canto, onde
pretende deixá-lo sem saída para liquidá-lo, você está cometendo um erro de estratégia.
No canto, sem opção para onde ir, ele se encolhe, crispa os pelos, e salta para
o espaço, para conquistar a vida e liberdade. Com dentes arregaçados e suas garras
prontas, o ataque, em geral no rosto do caçador, provoca consequências e feridas
terríveis.
Como proceder
estrategicamente? perguntei.
Você prepara a ratoeira
ou armadilha em um local. E começa a perseguir o rato cortando-lhe os caminhos
de fuga, deixando SEMPRE uma rota de fuga. Essa rota é a que ele vai usar. É
também a que o conduz à armadilha.
***
Como estudante, no ensino
médio ou na faculdade, na época da PEG (Política de Educação do Governo,
militar) e do famigerado DL 477, ou no mestrado ou doutorado, confesso que a
bibliografia utilizada era mais do tipo Yankees. Go Home! Nunca quis ler textos
americanófilos, criado no quinta dos americanos (um país sem qualquer condição
de implantação do comunismo e porso, longe de trazer preocupações para os
americanos).
Se não merecíamos atenção
e não éramos nem motivo de preocupação, também nunca tivemos financiamentos.
(Texto de Demosthenes Madureira Pinho Neto, na Introdução ao livro dos 50 anos
do Plano de Metas, do BNDES).
***
Avesso aos americanos,
sua pretensão a gendarme do mundo, e sua liderança imposta pelas armas, gostava
de recitar No caminho com Maiakovski, então erroneamente atribuído ao poeta
russo, de autoria de Eduardo Alves da Costa.
Dizia: Na primeira noite eles
se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
O
poema finaliza quando não podemos fazer mais nada, quando o mais frágil deles entra
em nossa casa e nos rouba a luz, e por nunca termos reagido, nosso medo impede-nos
de dizer alguma coisa.
***
Fui
pesquisar o que é a Organização do Tratado do Atlântico Norte, para verificar a
data de sua criação (1949), objetivos: inibir o avanço do bloco socialista, na
Europa; oferecer ajuda militar a todos os países membros, etc.
Sem
disfarçar seus reais motivos, esta associação política tem um orçamento com
gastos que respondem por 70% de todo o gasto militar no planeta. Engloba as maiores
economias do mundo, além da maior, os Estados Unidos e tem em seu artigo 5º a
exigência de os estados membros auxiliarem a qualquer membro sob ataque.
***
Procurei,
mas não encontrei nada, embora reconheça, por deficiência minha, maiores informações sobre gastos em
investimento, em financiamentos ao desenvolvimento dos seus membros. Coisas que,
além da criação de demanda para a indústria bélico-militar, trariam benefícios
a quem se associasse. Principalmente depois de a Guerra Fria ter acabado, a
União Soviética ter se desestruturado por completo, dando origem a vários
outros estados, e a Rússia, passar por períodos trágicos ao fim da experiência
malfadada do socialismo real.
A Rússia hoje é tão capitalista, com grandes
fortunas e capitais, quanto os Estados Unidos. Apenas com um PIB muito
inferior.
Logo, não há qualquer razão para a persistência
da OTAN. Nem para a entrada no clube, de nações antes integrantes do bloco
soviético.
****
Exceto para pressionar e cercar o líder
ultradireitista Putin, com armas, exércitos, bases e mísseis, localizados em
sua fronteira, para atemorizar o povo russo. E, talvez, cortar qualquer
possibilidade de seu desenvolvimento.
Putin tem Aleksandr Dugin como guru e
conselheiro, o filósofo fascista do atraso das Teorias Conservadoras que visam
resgatar o tradicionalismo, o retorno da sociedade hierarquizada, a formação da
grande Eurásia.
Dugin, amigo, parceiro de Olavo de Carvalho,
defensor da invasão da Ucrânia.
Razão para o discurso de Putin, de estar
desnazificando a Ucrânia cair no vazio.
***
Não que a Ucrânia não tenha um forte movimento nazifascista,
embora os movimentos existentes, mesmo unidos, não tenham conseguido eleger
nenhum representante para Câmara.
Não que não haja conflitos entre os povos do
lado oriental ou ao sudeste (Donbass), pró-russos ou de origem russa, e os povos
do lado ocidental, que se sentem mais europeus.
Conflitos, até sangrentos, sempre aconteceram, mais
recrudescidos pós 2014, e a quebra dos acordos de Minsk. Aliás, acordos que não
foram os primeiros a serem rompidos
pelos Estados Unidos e seus interesses imperialistas.
***
Quanto à frase, Faça Humor não faça a Guerra, corruptela
de Faça Amor... não se aplica ou explica Volodymyr Zelensky, embora o presidente
eleito e no poder na Ucrânia, seja um comediante de origem.
Forçoso reconhecer que, comunicador hábil,
vindo de área da comédia, que considero uma das mais sensíveis ao ser humano, o
que deve ajudá-lo na utilização de argumentos e falas que tocam a sensibilidade
e o emocional das pessoas, tem se mostrado um líder hábil.
***
Líder que poucos reconheceriam em sua figura,
quando candidato mostrava-se antidemocrático. Ao extremo de pouco antes de sua
eleição, representar um quadro satírico onde, presidente eleito, invadia o
Congresso e metralhava os representantes eleitos pelo povo.
Líder popular e antipolítica, em mais uma
contradição desta guerra.
***
Há muito mais para analisar e tratar sobre o
assunto, mas deixo para outro pitaco a análise da reação ocidental, de
utilização de armas econômicas, na tentativa de sufocar a economia de porte
limitado da Rússia. Ou as consequências do ataque e até de uma possível invasão
vitoriosa e exitosa dos exércitos de Putin.
Até algum comentário sobre a amizade, solidariedade
e imparcialidade de Bolsonaro a Putin, menos por questões de fertilizantes ou
acesso a trigo, milho etc. Acredito que mais em razão do desejo de se
aproveitar dos mesmos hackers que tanto ajudaram na eleição de Trump, e nos ciberataques
a Hillary.
Nosso presidente, que questiona a segurança das
urnas digitais, deve ter interesses muito maiores e inconfessáveis na arma cibernética
dos ataques russsos.
***
Mas não posso encerrar sem lembrar. Putin, o
rato, estava sendo acuado. Calado, não reagia, talvez por medo.
Então, para não lhe roubarem a luz, partiu para
o ataque de desespero(?).
À sua frente, a Ucrânia, dividida, com parte da
população apoiando os russos e vários motivos para discursos capazes de
justificarem até que a terra voltou a ser plana, como as teorias antigas de seu
guru.
2 comentários:
...
....
Postar um comentário