Posso estar enganado, mas acho que a incapacidade de entender e explicar racionalmente sua própria existência, seu objetivo e suas conexões com o outro e com o espaço físico onde habita é que levou os homens, desde tempos imemoriais, a procurarem obter respostas a suas indagações e dúvidas, para além dos limites de seu mundo observável.
Daí o surgimento das
religiões, de início politeístas, baseadas em forças da natureza ou em deuses idealizados
a partir de uma concepção antropomórfica, a quem se rendiam homenagens e para
os quais se celebravam cultos e se faziam sacrifícios.
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Em comum a todas as
religiões, a criação e o culto a objetos concretos, representação de símbolos
sagrados, sob a forma de totens, imagens, da construção de templos onde se praticavam
os rituais, e a existência de uma classe de pessoas com a função de servirem de
interlocutores privilegiados, intermediando as relações entre os crentes e as divindades.
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Desta classe de pessoas
especiais, é que vão fazer parte os primeiros seguidores de Cristo, os
primeiros apóstolos, sob a liderança de Pedro, incumbido pelo próprio Salvador
de ser a pedra da fundação sobre a qual se ergueria a Igreja Católica, romana.
No entanto, creio que o
papel de Pedro e de seus companheiros, menos que a missão de construção de templos
físicos grandiosos, tinha como principal tarefa a evangelização. Seu objetivo: saírem
pelo mundo difundindo sua crença e sua Fé, e convertendo os povos.
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Ao longo do tempo, este
papel especial, desempenhado nos primeiros tempos pelos sacerdotes, pelas
vestais, pajés, anciãos, magos ou pelos primeiros apóstolos, e depois pelos
integrantes de ordens religiosas de todas as designações, transmitiu grande
prestígio e poder a todos os que se dedicaram ao controle do canal de comunicação
direta com os deuses.
Não admira pois, que sua
influência tenha se transferido do poder espiritual, eclesiástico, para o poder
secular e que, ao lado das tentações da opulência e luxúria, esses missionários
tenham se preocupado, cada vez mais, com a construção de templos gigantescos,
suntuários, permitindo que usufruíssem de uma vida de fausto e riqueza, considerado mais apropriado
aos representantes do divino.
Tal padrão de
comportamento não apenas os identificava como iluminados, como os diferenciava
em relação aos homens comuns, pecadores.
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O sustento de tal padrão
de vida dependia, inicialmente e em grande medida, da exigência da partilha dos
haveres dos convertidos com os mosteiros e ordens religiosas de toda
designação, por meio do pagamento do dízimo.
Mais tarde, como sabemos,
isso levou à venda de indulgências pela entrega direta dos direitos de propriedades
dos pecadores, em troca do perdão que permitiria o ingresso no reino dos
justos.
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Como a história nos ensina, tais transações comerciais foram a raiz da indignação de Calvino e Lutero, que desembocou na Reforma protestante.
Nessa altura, como
permanece até hoje, a Santa Sé, católica, apostólica, romana, tornou-se uma das
maiores, mais poderosas e ricas instituições em todo o mundo.
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Assim, o que testemunhamos hoje, em relação às Igrejas ditas Evangélicas, em várias de suas correntes, é a repetição do mesmo fenômeno já experimentado em relação a várias outras Igrejas. Razão por quê não deveríamos nos assombrar!
Nem mesmo a tentativa e busca
de influência, ou mesmo a cada vez maior demonstração de poder destas igrejas
nos governos de diferentes países, revelam-se como algo novo. É, apenas e tão
somente, o mesmo processo de luta pela conquista do poder secular já praticado por outros
ramos religiosos.
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O que preocupa é a confusão
entre o Estado - aqui no Brasil por definição laico (por uma opção simples e democrática
na essência, a preocupação em atender às necessidades da população de qualquer credo
e até dos ateus) - e os dogmas ou regras de comportamento considerados únicos aceitáveis
e corretos, para uma parcela da sociedade.
A opção por não ser uma teocracia tem a
vantagem de tentar arejar e adaptar os preceitos de convivência social à evolução
dos tempos e dos costumes, evitando a imposição de normas de comportamentos conservadores e retrógrados indistintamente a todos. Normas retrógradas por seu anacronismo e incapacidade e impossibilidade de aceitarem e promoverem adaptações às novas realidades, sob o risco de facilitarem o não cumprimento, de forma fiel, de uma
suposta verdade, revelada e escrita há muito tempo.
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Mas, sendo laico o Estado,
a influência de igrejas nos governos e na formulação de políticas públicas e
até na alocação de recursos orçamentários não pode ser tolerada de forma alguma,
constituindo crime de responsabilidade do governante que, ao arrepio da Constituição
que jurou obedecer, permitir a existência de tal captura.
Portanto, não é o
ministro-pastor da Educação que deve ser o acusado da prática de qualquer
crime. Afinal, ele foi colocado lá para isso: desmontar a estrutura então
vigente, desconstruir tudo que pudesse minimamente levar a enfraquecimento dos
dogmas e crenças da igreja a que ele se vincula. Aniquilar qualquer mecanismo
de defesa institucional que previna o ataque a comportamentos distintos ou outros credos.
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Nesse sentido, o ministro
da educação cumpre o mesmo papel e tem a mesma finalidade da indicação de um ministro
terrivelmente evangélico para o Supremo. E até poderia perguntar porque o uso do
termo terrível: será por ser evangélico, o ministro André Mendonça?
Tanto uma quanto outra
situação configuram atos contrários ao que prega a nossa Constituição. O que
apenas inclui mais um crime, à lista extensa de outros atos praticados pelo
miliciano que desgoverna esse país.
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No entanto, tais
considerações não causam qualquer ação seja de nossos representantes no Legislativo,
tão ou mais venais que os pastores associados informalmente ao Pastor ministro
e à estrutura administrativa daquela pasta, seja de nosso PGR, o Procurador
Geral, que também serve de Principal Garantidor do Retrocesso institucional a
que estamos submetidos.
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Dominado pelo Centrão e
sua volúpia em acessar maior fatia de recursos públicos, por Arthur Lira, que apenas dá
sequência ao comportamento omisso adotado desde o período de Rodrigo Maia; o fato de o pastor
ministro entregar a gestão e a chave do cofre do Ministério da Educação a dois
elementos com o objetivo de delinquirem é apenas mais um retrato de como se dá o combate à
corrução empreendido pelo miliciano que ocupa o Executivo e é responsável por rachadinhas, funcionários
fantasmas, prevaricação, peculato, genocídio.
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O problema ganha maior gravidade
em razão de afetar a área responsável pela formação das futuras gerações, a quem
caberá o futuro do país.
A julgar pelo exemplo vindo
da cúpula, o futuro de nosso país já se mostra condenado desde agora.
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Crítica a pastores
evangélicos e a bancadas de mesma crença, não resolvem o problema.
A sociedade deve exigir
sim, que sejam feitas investigações, e comprovada a corrupção, isso dê lugar a
condenações, prisões e outras punições.
Mas a punição primeira e
mais necessária é a retirada do capitão miliciano do poder para que, sem foro
privilegiado, ele possa pagar pelos crimes a que deu origem, atrás das grades.
3 comentários:
Um olhar preciso e claro. Fica uma dúvida: como estão as próprias igrejas envolvidas vendo a situação? Seriam, realmente, seus representantes que estariam envolvidos? É que o FATO noticiado deixa claro que está em desenvolvimento um "partido" estranho aos partidos políticos.
Perfeito! Em nome de algum deus matam pessoas, dignidade, futuro, esperança e até a crença... ou seja estamos diante da negação dos ensinamentos de Jesus Cristo, sob as bênçãos de alguns q dizem representa-lo.
Fernando Moreira
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