quinta-feira, 24 de março de 2022

Divagações sobre a evolução das crenças, igrejas e abusos de religiosos e dos que acobertam e se beneficiam da captura do Estado pela religiões

Posso estar enganado, mas acho que a incapacidade de entender e explicar racionalmente sua própria existência, seu objetivo e suas conexões com o outro e com o espaço físico onde habita é que levou os homens, desde tempos imemoriais, a procurarem obter respostas a suas indagações e dúvidas, para além dos limites de seu mundo observável.

Daí o surgimento das religiões, de início politeístas, baseadas em forças da natureza ou em deuses idealizados a partir de uma concepção antropomórfica, a quem se rendiam homenagens e para os quais se celebravam cultos e se faziam sacrifícios.

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Em comum a todas as religiões, a criação e o culto a objetos concretos, representação de símbolos sagrados, sob a forma de totens, imagens, da construção de templos onde se praticavam os rituais, e a existência de uma classe de pessoas com a função de servirem de interlocutores privilegiados, intermediando as relações entre os crentes e as divindades.

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Desta classe de pessoas especiais, é que vão fazer parte os primeiros seguidores de Cristo, os primeiros apóstolos, sob a liderança de Pedro, incumbido pelo próprio Salvador de ser a pedra da fundação sobre a qual se ergueria a Igreja Católica, romana.

No entanto, creio que o papel de Pedro e de seus companheiros, menos que a missão de construção de templos físicos grandiosos, tinha como principal tarefa a evangelização. Seu objetivo: saírem pelo mundo difundindo sua crença e sua Fé, e convertendo os povos.

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Ao longo do tempo, este papel especial, desempenhado nos primeiros tempos pelos sacerdotes, pelas vestais, pajés, anciãos, magos ou pelos primeiros apóstolos, e depois pelos integrantes de ordens religiosas de todas as designações, transmitiu grande prestígio e poder a todos os que se dedicaram ao controle do canal de comunicação direta com os deuses.

Não admira pois, que sua influência tenha se transferido do poder espiritual, eclesiástico, para o poder secular e que, ao lado das tentações da opulência e luxúria, esses missionários tenham se preocupado, cada vez mais, com a construção de templos gigantescos, suntuários, permitindo que usufruíssem de  uma vida de fausto e riqueza, considerado mais apropriado aos representantes do divino.

Tal padrão de comportamento não apenas os identificava como iluminados, como os diferenciava em relação aos homens comuns, pecadores.

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O sustento de tal padrão de vida dependia, inicialmente e em grande medida, da exigência da partilha dos haveres dos convertidos com os mosteiros e ordens religiosas de toda designação, por meio do pagamento do dízimo.

Mais tarde, como sabemos, isso levou à venda de indulgências pela entrega direta dos direitos de propriedades dos pecadores, em troca do perdão que permitiria o ingresso no reino dos justos.

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Como a história nos ensina, tais transações comerciais foram a raiz da indignação de Calvino e Lutero, que desembocou na Reforma protestante.

Nessa altura, como permanece até hoje, a Santa Sé, católica, apostólica, romana, tornou-se uma das maiores, mais poderosas e ricas instituições em todo o mundo.

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Assim, o que testemunhamos hoje, em relação às Igrejas ditas Evangélicas, em várias de suas correntes, é a repetição do mesmo fenômeno já experimentado em relação a várias outras Igrejas. Razão por quê não deveríamos nos assombrar!

Nem mesmo a tentativa e busca de influência, ou mesmo a cada vez maior demonstração de poder destas igrejas nos governos de diferentes países, revelam-se como algo novo. É, apenas e tão somente, o mesmo processo de luta pela conquista do poder secular já praticado por outros ramos religiosos.

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O que preocupa é a confusão entre o Estado - aqui no Brasil por definição laico (por uma opção simples e democrática na essência, a preocupação em atender às necessidades da população de qualquer credo e até dos ateus) -  e os dogmas ou regras de comportamento considerados únicos aceitáveis e corretos, para uma parcela da sociedade.

A opção por não ser uma teocracia tem a vantagem de tentar arejar e adaptar os preceitos de convivência social à evolução dos tempos e dos costumes, evitando a imposição de normas  de comportamentos conservadores e retrógrados indistintamente a todos. Normas retrógradas por seu anacronismo e incapacidade e impossibilidade de aceitarem e promoverem adaptações às novas realidades, sob o risco de facilitarem o não cumprimento, de forma fiel,  de uma suposta verdade, revelada e escrita há muito tempo.

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Mas, sendo laico o Estado, a influência de igrejas nos governos e na formulação de políticas públicas e até na alocação de recursos orçamentários não pode ser tolerada de forma alguma, constituindo crime de responsabilidade do governante que, ao arrepio da Constituição que jurou obedecer, permitir a existência de tal captura.

Portanto, não é o ministro-pastor da Educação que deve ser o acusado da prática de qualquer crime. Afinal, ele foi colocado lá para isso: desmontar a estrutura então vigente, desconstruir tudo que pudesse minimamente levar a enfraquecimento dos dogmas e crenças da igreja a que ele se vincula. Aniquilar qualquer mecanismo de defesa institucional que previna o ataque a  comportamentos distintos ou outros credos.  

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Nesse sentido, o ministro da educação cumpre o mesmo papel e tem a mesma finalidade da indicação de um ministro terrivelmente evangélico para o Supremo. E até poderia perguntar porque o uso do termo terrível: será por ser evangélico, o ministro André Mendonça?

Tanto uma quanto outra situação configuram atos contrários ao que prega a nossa Constituição. O que apenas inclui mais um crime, à lista extensa de outros atos praticados pelo miliciano que desgoverna esse país.

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No entanto, tais considerações não causam qualquer ação seja de nossos representantes no Legislativo, tão ou mais venais que os pastores associados informalmente ao Pastor ministro e à estrutura administrativa daquela pasta, seja de nosso PGR, o Procurador Geral, que também serve de Principal Garantidor do Retrocesso institucional a que estamos submetidos.

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Dominado pelo Centrão e sua volúpia em acessar maior fatia de recursos públicos, por Arthur Lira, que apenas dá sequência ao comportamento omisso adotado desde o período de Rodrigo Maia; o fato de o pastor ministro entregar a gestão e a chave do cofre do Ministério da Educação a dois elementos com o objetivo de delinquirem é apenas mais um retrato de como se dá o combate à corrução empreendido pelo miliciano que ocupa o Executivo e é responsável por rachadinhas, funcionários fantasmas, prevaricação, peculato, genocídio.

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O problema ganha maior gravidade em razão de afetar a área responsável pela formação das futuras gerações, a quem caberá o futuro do país.

A julgar pelo exemplo vindo da cúpula, o futuro de nosso país já se mostra condenado desde agora.

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Crítica a pastores evangélicos e a bancadas de mesma crença, não resolvem o problema.

A sociedade deve exigir sim, que sejam feitas investigações, e comprovada a corrupção, isso dê lugar a condenações, prisões e outras punições.

Mas a punição primeira e mais necessária é a retirada do capitão miliciano do poder para que, sem foro privilegiado, ele possa pagar pelos crimes a que deu origem, atrás das grades.

3 comentários:

Anônimo disse...

Um olhar preciso e claro. Fica uma dúvida: como estão as próprias igrejas envolvidas vendo a situação? Seriam, realmente, seus representantes que estariam envolvidos? É que o FATO noticiado deixa claro que está em desenvolvimento um "partido" estranho aos partidos políticos.

Unknown disse...
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Anônimo disse...

Perfeito! Em nome de algum deus matam pessoas, dignidade, futuro, esperança e até a crença... ou seja estamos diante da negação dos ensinamentos de Jesus Cristo, sob as bênçãos de alguns q dizem representa-lo.

Fernando Moreira