sexta-feira, 10 de junho de 2011

A gangorra de Palocci explica a elevação dos juros?

Palocci caiu. Como a inflação que também não se sustentou. Mas os juros subiram. Natural, em uma sociedade dominada cada vez mais pela força e poder dos interesses financeiros.
Afinal, para que subir os juros nesse momento, em que todos os indicadores do nível de atividade mostram um certo arrefecimento, em que os indicadores de preços mostram certa desaceleração, em que, além da Selic, só mostram elevação os índices de inadimplência?
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Algum analista poderia tirar ilações interessantes dos fenômenos que marcaram a semana. Senão vejamos: desde sua primeira passagem pelo Executivo, como ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula, Palocci agiu segundo o figurino mais recomendado pela ortodoxia econômica, adotando as medidas de política mais recomendadas pelos manuais de economia, que cultivam o pensamento único que de científico têm, conforme o professor Paul Davidson afirma, apenas o caráter ficcional.
Adotando à risca os ditamens da cartilha do pensamento único, dominante por seu conteúdo ideológico, que tudo faz para manter e dar estabilidade ao "status quo", Palocci desde aquela passagem pelo Ministério se destacou como um excelente interlocutor, diria que quase arauto dos poderosos interesses do capital financeiro. Postura que o transformou, sem qualquer sombra de dúvida, no avalista, junto aos setores econômicos e dos mercados, do governo Lula, no primeiro mandato, e de Dilma, em sua volta ao Planalto.
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Para ser justo, é importante dizer que, em razão da disputa política de 2002, e da adoção irresponsável de medidas pelas Autoridades Econômicas - Banco Central incluído, tendentes a gerarem e estimularem um clima de temor nos mercados frente à possibilidade de eleição do candidato do PT, o governo de Fernando Henrique nos deixou, junto a seu final melancólico, a herança representada pela elevação de inflação, que alcançou cifra de 16% para alguns indicadores.
Ao assumir o governo, não restaria ao novo presidente eleito, Lula e a seu ministro outra postura que não fosse a de se curvar aos ditames do mercado, de forma a conter a deterioração da situação econômica e das expectativas dos empresários e banqueiros, e tentar, a qualquer custo, debelar a inflação.
Daí, a adoção da postura ortodoxa de combate à inflação, com a utilização dos instrumentos clássicos de corte de gastos públicos, geração e até elevação da geração de superávits primários, e utilização de uma política monetária fundada na elevação de juros.
Dai fazer sentido a preocupação de que não fosse Lula o acusado por ter perdido o combate tão duramente travado por 8 anos contra o dragão da inflação. Daí entender-se que todo o esforço governamental se dedicou a conter a demanda, de forma a evitar a possibilidade de os preços se elevarem em situação mais propícia a ser prenúncio de uma recessão. Ou estancamento do nível de atividade.
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Mas, se há justificativa para a atuação de Palocci naquele momento inicial, não se pode dizer o mesmo a respeito da política que o governo Dilma começou a colocar em prática para combater uma inflação cujo caráter importado é muito mais significativo que qualquer motivo interno.
Exceto pelo fato de Palocci ter se arvorado e passado a representar um novo papel, de representante ou advogado dos interesses dos grupos financeiros, fortalecendo as  correntes econômicas instaladas em órgãos governamentais de cunho mais ortodoxos. O que justifica a opção adotada pelo Banco Central, de elevação da taxas básica de juros da economia, o que assegura, de quebra, a colocação ba liderança inquestionável, na lista das maiores taxas de juros reais praticadas no mundo.
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Na hora que Palocci é defenestrado do governo, e antes mesmo que o mercado pudesse manifestar qualquer desagrado ou reação negativa, em ambiente onde as expectativas exercem um papel cada vez mais importante, conforme já asseverava Keynes, o COPOM vem a público e eleva a SELIC em mais 0,25%.
Não diria acertadamente, mas ao menos, compreensivelmente.
Indica ao mercado que não há com que se preocupar. Mesmo estando fora seu aliado no governo, há outros agentes capazes de continuarem representando os interesses dos (e os juros recomendados pelos) grupos financeiros.
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Há razões para o noticiário dar manchete para o COPOM ter elevado a SELIC exatamente no mesmo percentual já estabelecido e esperado pelo "mercado"???

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