Da tribuna do Senado, o senador gaúcho Pedro Simon recomenda ao Ministro da Casa Civil Antônio Palocci, que apresente seu pedido de afastamento temporário do cargo que ocupa, até que sejam esclarecidas todas as dúvidas que cercam o processo espetacular de enriquecimento experimentado pelo ministro nos últimos anos.
Matreiro, o senador em sua fala enfatiza o termo temporário empregado, como se querendo passar a impressão de acreditar na possibilidade de o ministro apresentar argumentos convincentes em sua defesa.
De outro lado, o líder do partido a que o ministro é filiado desconversa, dizendo que nada de novo veio à luz para que a proposta de Simon possa ser considerada. Transmite-nos a idéia - FALSA- de que o ministro já teria apresentado as devidas justificativas para o aumento patrimonial, o que até agora não foi feito (exceto pela redação de um nota por sua assessoria que, de tão infeliz e oca de significado, deu origem a inúmeras críticas mesmo dos amigos e correligionários mais próximos e causou punições para seus autores).
Reconhecendo o silêncio, o próprio Palocci admite vir a público prestar os esclarecimentos necessários, ainda no final dessa semana ou início do próximo. Afinal, já ficou evidenciado que seu comportamento de fingir-se de morto, como se o problema não dissesse respeito a sua pessoa, ou adotar ouvidos moucos, já está afetando a própria credibilidade e capacidade de articulação e tomada de decisão política do governo Dilma. Em resumo: anda prejudicando a governabilidade do país.
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Mas, o líder petista no Senado finge ignorar tudo isso, declarando perante às câmeras que Palocci tem, em sua opinião, demonstrado um comportamento irrepreensível ou coisa que o valha. E, esse mesmo comportamento é o que o ministro vem adotando e tem adotado ao longo de sua carreira política.
Ou seja: sem fazer alarde, está dado o tom da defesa do líder petista. O ministro, por ser de seu partido e por fazer parte do governo, ocupando cargo de alta importância, tem de ser protegido e blindado, até. Mas, ninguém se iluda. Seu comportamento se evidencia dentro da mesma postura ética de sempre.
Leia-se aí, embora os jornalistas que cobriam a entrevista não o questionaram e sequer mencionaram em suas análises das declarações, que Palocci adota agora o mesmo comportamento ético que adotou no episódio de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, no crime que imputou a outrem.
Crime que a Caixa Econômica vem agora a público, para admitir e reconhecer que o mandante ou beneficiário era outro personagem, diferente de Mattoso, que foi condenado.
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Ora se já era suspeito de ficha suja antes de ser indicado ao cargo que ocupa, embora inocentado pelo Supremo, Palocci já de muito tempo tem se destacado pela adoção de um comportamento que pode ser classificado de várias formas, menos como ético.
E cobrar dele, como o faz Simon, um ato de grandeza, um comportamento ético é, no mínimo, hilário. Como aliás, em alguns momentos o senador gaúcho já nos deu exemplos de que é capaz de proporcionar.
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Quanto ao enriquecimento, nada contra o argumento inicial da nota primeira em que tentou se defender: todos o fazem. Todos os que sem caráter ou formação moral mais rigorosa, procuram se locupletar das benesses e vantagens dos cargos que conseguem ocupar ao longo de sua trajetória profissional. E que, sem qualquer constrangimento, ao fim de seu mandato passam a se valer de sua influência e seus conhecimentos dos meandros e quadros do governo, para obter facilidades em prol de seus clientes e amigos.
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É verdade, desses o mundo está cheio. Tão repleto que há na literatura internacional especializada, páginas e páginas já redigidas, tentando identificar e discutir os meios de evitar e/ou punir esse verdadeiro trânsito que certos profissionais se especializam em cumprir entre o setor e as esferas públicas e privadas.
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Males do capitalismo sem dúvida, ou do poder cada vez maior das grandes organizações, cujos interesses sempre prevalecem sobre os interesses ditos públicos.
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