Não é marolinha. Como não era tampouco, em 2008/2009, ainda no governo Lula.
Crise de dimensão planetária, então, a salvação do sistema financeiro americano e de algumas grandes corporações tradicionais, como a GM, demandaram um aporte de recursos do governo, sem precedentes. Para salvar apenas o sistema financeiro foram injetados mais de 2 trilhões de dólares.
Esse foi o preço do PROER da nação líder mundial.
Para não ficar à mercê da crise financeira americana que se difundia via redução ou corte das linhas de financiamento para outros bancos de outras nações, o que redundaria em recessão abrupta e ampla, os governos europeus e asiáticos andaram injetando dinheiro, impedindo que a escassez das linhas de crédito se manifestassem em sua inteireza.
Lula no Brasil fez o mesmo, criando linhas de financiamento e facilidades como forma de manter o fluxo de moeda e de crédito, evitando o desemprego que começava se manifestar.
Em todo o mundo um mesmo comportamento: o governo gastando mais, ou reduzindo impostos, para poder corrigir as "as falhas de mercado" decorrentes da irresponsabilidade dos agentes econômicos (bancos à frente) e sua "exuberância irracional". No fundo, o fato de levar ao paroxismo, o sangramento da riqueza daqueles que a produzem para aqueles que apenas dela se aproveitam, via maximização de lucros.
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Sem exceção, todos os governos gastaram além da conta, dando origem, ou a um endividamento crescente e insustentável ou a um déficit que, mais cedo ou mais tarde, exigiria sua reversão.
A hora da cobrança chegou. Grécia, Portugal, Espanha, Itália, os próprios Estados Unidos se vêem às voltas com problemas fiscais de magnitude espantosa.
Antes de prosseguir, apenas um comentário: nada contra o gasto público, que é feito para servir e melhorar a qualidade de condições de vida da população. Nada contra a elevação das despesas públicas que dão à população aquilo que é sua demanda e que, por esse motivo, deverá ser financiado pela população beneficiária.
Mas tudo contra o gasto em transferências de recursos maciços extraídos de todas as classes, para privilegiar apenas uma parcela ou uma classe da sociedade, já suficientemente beneficiada.
Fechemos o parêntesis. E voltemos à idéia de que era necessário, para se evitar ou reduzir os efeitos da crise, que o governo elevasse suas despesas. Também parece que pensavam assim os conservadores, os republicanos americanos, a mídia corrompida pelo poder, todos que rezavam pela mesma lenga-lenga de que os bancos eram "too big to fail".
Nesse momento, em que o governo gastou rios de dinheiro, a maioria das vozes estava de acordo. Poucas, muito poucas, alegavam um certo risco moral que poderia fazer germinar a irresponsabilidade na gestão dos negócios e os riscos, daí em diante. Para esses, o governo que deixasse vir a quebra, para punir e não incentivar a outros a se aventurarem a ganhar, sem pesar as consequências.
Claro, todos admitiam o caos daí decorrente, empacotado sob o título de crise sistêmica.
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Agora que as condições do ambiente econômico começavam a dar sinais de que se não estavam melhorando, ao menos apresentavam certa estabilidade, esses mesmos conservadores começaram, antes da hora, a meu juízo, a cobrar a redução dos gastos públicos (aqui, para afetar a toda a sociedade, claro, e não apenas os beneficiários anteriores. Numa posição não surpreendente de apoio à ação de um Robin Hood às avessas!!). Aliás, redução de gastos especialmente por corte de gastos ditos sociais.
Nos EUA, refém da irresponsabilidade do Tea Party, até sem adotar qualquer medida destinada a elevar a carga tributária.
E, em função de tudo isso, Londres e a Inglaterra agora, como um todo, em meio à baderna de saques e arrastões. A França tendo sua nota rebaixada seja lá o que isso significa e a importância que os mercados ainda insistem em atribuir a esses escritórios de avaliação de riscos que se esmeram em cometer erros, exceto quando predizem o passado...
A Europa e os Estados Unidos se defrontando com o fantasma da recessão ou pior, a depressão.
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No Brasil, a preocupação com o déficit e sua eliminação geram o corte de gastos, pelo menos em promessa. E, para sanar o desequilíbrio das contas públicas e seu impacto sobre a inflação, o pensamento dominante determina a elevação dos juros. No primeiro caso, juros maiores manteriam o fluxo de financiamento do governo. No segundo, conteria a inflação provocada por uma demanda já muito aquecida.
No front externo, os juros elevados serviriam para aumentar o influxo de dólares e moedas estrangeiras, encarecendo o real, barateando nossas importações, desestruturando nossa indústria, elevando o risco de déficits comerciais, ainda não atingidos por força do preço elevado das commodities que exportamos.
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Pois, com a crise recessiva no horizonte, pode-se esperar a redução da demanda por nossas commodities. Junto virá a queda dos preços desses produtos. Nossas exportações cairão em seguida e para conter o déficit comercial teremos que elevar a tomada de financiamentos, incentivando a entrada de capitais. E dá-lhe elevação de juros, para atrair os recursos necessários.
Nesse meio tempo, em crise e com ambiente econômico apresentando apreensões, os agentes irão correr para a liquidez. No caso, os títulos públicos americanos, que ainda asseguram algum juros.
O dólar deverá se valorizar, ao menos em economias como a brasileira.
Nossas exportações ficarão mais baratas, nossas importações, cada vez mais necessárias por força de nossa desindustrialização e da consequente substituição do insumo nacional pelo estrangeiro, e nosso saldo comercial cada vez mais deficitário. Nossa conta corrente deficitária e a crise cambial, que muitos acreditavam afastada, servida como prato principal.
Claro, para a saúde da corpo econômico, recomenda-se dispensar a sobremesa.
Um comentário:
O Brasil pode sofrer mais nesse momento da economia, do que em 2008/09?
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