segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A cruzeirização do Atlético

Ninguém discute a competência, a educação e cortesia (qualidades raras, em torno das quatro linhas), a dedicação e seriedade de Cuca, ex-treinador do Cruzeiro e anunciado, no dia de hoje, como novo treinador do Galo.
Se é um treinador relativamente novo, que entende de futebol e que já montou times de qualidade, também é verdade que Cuca não é um treinador de muitos títulos e conquistas.
Ou por outro lado, é um treinador cujas conquistas situam-se, sempre, no reconhecimento de sua capacidade de trabalho, o que já é uma vitória em um mundo que se encanta tanto e dá tanta atenção e importância a verdadeiros embustes.
Mas os títulos de Cuca são poucos e de importância secundária, como um Campeonato Carioca, um mineiro. Muito pouco, para quem já passou e armou times grandes como ele.
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O problema não é esse, entretanto. Em minha opinião, o problema maior é de o Atlético estar, cada vez mais, se esmerando em fazer de nosso clube de tantas tradições, mero depósito de inservíveis do Cruzeiro.
Comecemos com o nosso responsável pelo futebol, o Maluf. Depois, passemos à lista de jogadores, todos ex-adversários: Leandro, Leonardo Silva, Guilherme. Em passado recente, Fernandinho, que como chegou já se foi e .... nada. Isso para não falar de outros, em especial de técnicos como aquele... Luxemburgo, o rei das vaidades tolas; de Dorival Júnior; agora de Cuca.
Parece que, reconhecendo suas deficiências e as qualidades que se colam àqueles que se tornam vitoriosos, mesmo que sua participação nas conquistas sejam mínimas, se alguma, o Kalil resolveu imitar e seguir tudo o que os "Perrelas" fazem.
E daí, perguntariam alguns, que só visam resultados imediatos? Se o Galo conquistar algum título com esse comportamento não terá valido a pena?
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Poderia. Mas, o que temos visto é o contrário. Nem o Galo levanta qualquer título de expressão, nem se destaca, exceto por vexames atrás de vexames, como as derrotas desses últimos jogos do Brasileirão, não raro de goleada para Flamengo, Internacional, Ceará, culminando com mais uma derrota, vergonhosa, para o Figueirense.
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Antes de voltarmos à questão fundamental, em minha opinião, um parêntesis.
Acho Dorival um grande técnico. Competente, sério, esforçado. Mas não conseguiu dar um padrão de jogo ao time do Galo. Não conseguiu envolver e cativar os jogadores, de forma a fazê-los se desdobrarem em campo, pelo líder, que seja.
Dorival não acertou no gol, e mexeu queimando um jovem jogador de qualidades, em minha opinião. Não acertou na defesa, insistindo com laterais sem condições de envergarem o manto sagrado do Galo. Não acertou com as torres gêmeas que, juntas foram um vazio e separadas não mostraram ao que vieram. Não acertou com o meio, cometendo aí, o maior pecado: manter Serginho.
Esse, já mostrou suas limitações, várias. E, para bater e levar amarelos, basta ter um: Richarlyson.
Sem armador, queimou jogadores jovens, chegando a sacar um que havia entrado poucos minutos antes.
Desesperado, fez o que ninguém recomenda ou admite: substituiu três jogadores de uma só vez, ao início da segunda etapa. Ora, a temeridade que não foi prevista, deu o ar da graça. Dudu Cearense se machucou e o Galo ficou com 10, sem ter ninguém expulso. Castigo para quem perdeu a capacidade de raciocinar.
Ao final do jogo, vergonhoso, Dorival já havia entregado os pontos. Suas declarações são de quem não deveria nunca ter tido tanta chance para tentar.
O que é tradição no Galo, vide esse marqueteiro educado, que é o Tite, que logo, logo, estará fora do Corínthians. Por que lá, eles não esperarão que Tite leve o time para a segundona, como foi aqui. Vide também a demora em dispensar o prestidigitador que é Luxemburgo.
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Sai Dorival, decepcionado. Mas mais que ele, bem mais, estão milhões de atleticanos, que não entendem o que fizeram para tanto castigo e punição a um só time.
Bem, sem Dorival, a verdade é que também não acredito que as coisas irão melhorar muito para o lado do Galo. Pode até ser e queira Deus que eu esteja enganado. Mas, o plantel do time é limitado, embora conte com jogadores de tanto nome.
Aliás, jogadores que estão jogando apenas com o nome, porque futebol, há muito já não se vê...Claro, há exceções, como André e justiça seja feita a Magno Alves, lutador e esforçado, cujos problemas estão mais afetos a sua idade.
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Mas, a minha tese é que desde que os jogadores de futebol tornaram-se cada vez mais mercadorias, e como tal, perderam o contato com o time para o qual torciam ou que os lançou; cada vez mais que os jogadores, deixaram de estar intimamente vinculados a um clube, como era Pelé e Pepe com o Santos; ou Didi, Garrincha e Nilton Santos com o Botafogo; ou Tostão, Zé Carlos, Dirceu Lopes com o Cruzeiro, ou Rogério Ceni, nos dias de hoje, com o São Paulo, os jogadores perderam identidade. Os times idem.
Com isso, os jogadores que entram com a camisa de um time, não têm muitas vezes nenhuma vinculação; não conhecem a história, as glórias e tradições, não sabe o significado daquela camisa e do orgulho que é poder envergá-la.
Ora, isso, essa perda de identidade, acontece hoje, até em relação à seleção brasileira, o que mostra que nos clubes ela está muito mais diluída, a identificação.
Se isso acontece com os jogadores, esse é um fenômeno que ainda não havia alcançado o torcedor. Esse, que cada vez mais se mostra distante e desinteressado da seleção nacional, por exemplo, não abre mão de sua paixão clubística.
Até parece que entre a seleção estar mal e seu time, ele prefere que a seleção esteja mal, já que nada diz respeito a ele e sua vida cotidiana.
Mas, quando um clube começa a se tornar o seu rival; ou assumir os comportamentos, valores, jogadores, etc. de seu principal adversário, a própria razão de ser de sua paixão desaparece. Seu amor e sua atenção se prostituem e ele acaba abandonando o time de coração.
Esse o meu maior medo em relação ao que pode vir a acontecer com o Galo, nesse processo de cruzeirização, consentido ou não; despercebido ou intencional, que vimos assistindo.
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E, embora possa parecer loucura, vejo nesse processo, sinto no ar, uma consequência da globalização que se abate sobre o futebol. Daqui a pouco, visando rendas, os clubes irão disputar campeonatos continentais, com talvez 5 ou 6 times dos principais países.
Que o futebol irá se tornar mais racional, em seus calendários e datas, face ao menor número de jogos; que as rendas irão aumentar, já que as rivalidades serão muito mais fortes (imagine um time brasileiro disputando campeonatos com times argentinos ou um título com um time uruguaio ou paraguaio, por exemplo), ninguém questiona.
E, talvez, para poder ter um time com uma estrutura forte e saudável, capaz de disputar em igualdade de condições ou até na categoria dos favoritos, a idéia de fusões acabasse surgindo. E se desenvolvendo.
Pois meu medo é que o processo de fusão entre o Galo e seu adversário esteja já acontecendo ou em marcha, com a gente já tentando nos transformar naquilo que menos gostaríamos de nos tornar.
Em minha opinião, embora maluca a idéia, ela pode prosperar, se continuarmos nesse processo de cruzeirização.
O que representaria, para mim, o fim do futebol.


2 comentários:

Matheus Guimarães disse...

Os torcedores do Atlético tem visto ao longo dos últimos anos o Cruzeiro se transformar em um dos principais times da elite do futebol sul-americano. Atualmente o Cruzeiro não passa por bons momentos, porém se formos realistas, o time pertence ao grupo dos 10 melhores times do Brasil. Falo isso em todos os aspectos; administração, plantel, conquistas, tradição...
Isso mexe com o sentimento do principal rival.
Tentar copiar as coisas que "deram" certo é uma tentativa desesperada para mudar as coisas.
Acho que falta comando para o time. Entra jogador, treinador, supervisor de futebol.. e o problema continua.
Começo a acreditar naquela velha história de que "depois que pintaram o manto da Santa as coisas desandaram de vez para o galo..."
Amor à camisa, ao clube, é raridade no futebol atual.

Aproveitando o gancho do ultimo tópico do post, sobre a globalização do futebol gostaria de fazer uma observação e saber sua opinião. Estamos acompanhando o crescimento na desigualdade do futebol. Flamengo e Corinthians recebendo mais recursos com direito de transmissão, venda de ppv. Vc não acha que será uma questão de tempo para chegarmos ao futebol europeu? (no sentido de possuir 2 ou 3 equipes com reais chances de ganhar campeonatos nacionais).

juliano VM disse...

Não se espante, se o Cruzeiro perder no próximo sábado e o Dimas Fonseca anunciar Dorival Jr como novo Técnico da Raposa...