segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Crise. Grécia. Mergulho e uma aula de economia em grande estilo

Zapeando a televisão ontem, encontro no Canal 40 o William Waack, entrevistando aos professores Belluzzo, da FACAMP, Simão Davi Silber, da USP, e José Francisco de Lima Gonçalves do Banco Fator. Na pauta, a crise mundial e suas consequências; o que está por vir.
Não vi todo o programa, mas o que vi, merece ser comentado. Ou descrito.
Então vamos lá.

China crescendo até 3 ou 4% ao ano, interrompendo a trajetória de crescimento de 9, 10% atuais.
As exportações da China, sofrendo abalos por faltas de mercado, já que grande parte das suas vendas são direcionadas para União Européia e Estados Unidos.
Grécia sem pagar sua dívida e a ajuda alemã, de 440 bilhões de euros, incapaz de segurar os bancos que, por força de ativos podres (papéis gregos e portugueses, e espanhóis e italianos ) deverão precisar de reforço muito maior.
A crise europeía levando a uma recessão bem mais profunda do que aquilo que se prenuncia.
O segundo mergulho, arrastando consigo a economia e a indústria, já com sinais claros de capacidade ociosa dos países europeus.
Nos Estados Unidos, o reconhecimento de que o país não tem mais espaço para fazer política monetária e estimular a reação econômica por essa via. Quanto à via da política fiscal, talvez a úníca saída, a infelicidade de um Congresso na mão de um bando de pessoas que apenas querem e desejam que o circo pegue fogo, irresponsavelmente.
Pelo jeito, mais que o domínio republicano no Legislativo, o pior é o domínio do grupo do Tea Party naquela agremiação política.
Talvez já fosse até hora de o conceito de terrorista no interior dos Estados Unidos voltar a ser debatido. Afinal, quem por 3 bilhões de dólares ameaça o Executivo de Obama, chanteageando-o para aprovar medidas de financiamento e benefício a vítimas do Irene, merece ser tratado de outra forma. Como inimigo do povo.
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Mas, se os Estados Unidos continuam patinando na recessão, a queda nas vendas chinesas torna-se mais forte. E isso mesmo com a informação de que a China está mudando sua plataforma de produtos exportáveis, avançando cada vez mais na direção de produtos de maior valor agregado, e especialmente, intensivos em conhecimento.
Produtos que, ao contrário de bens mais tradicionais, dependem menos de materiais como minérios e etc.
Visto e analisado aqui de longe, todos são de opinião que, internamente,  a China deveria estimular e promover a conversão de seus gastos para o consumo interno.
Mudando a forma de gastos preferenciais, que puxou esse crescimento espetacular dos últimos anos, baseada nas exportações e sobreinvestimento.
Sobreinvestimento que irá acarretar, como é óbvio, queda nas taxas de retorno. Talvez algum desemprego, se os mercados clientes não reagirem aumentando compras. Mas, pior, uma grande expansão de recursos, até aqui destinados a inversões, em forma líquida e espalhados pelo mundo, procurando outras esferas de valorização. Quem sabe, alimentando um processo de especulação cada vez mais inseguro.
É bem verdade que foi lembrado que tem havido aumentos significativos de comércio interregional, entre países asiáticos.


E o Brasil?

Com a informação de ser a China o maior parceiro comercial do Brasil nos dias de hoje, o que seria de nossas commodities, caso nosso parceiro passasse a crescer tão pouco?
Porque mesmo com a China crescendo menos, ainda crescendo haveria espaço para que nós estivéssemos vendendo as commodities. Mas, sem pressão de demanda, a que preços estaríamos vendendo? O que aconteceria com nossas receitas de exportações?
E o que aconteceria com nossa necessidade já estimada de mais de 50 bilhões de dólares, para cobrir o déficit de nossa Conta de Transações Correntes?
Podemos ver desde uma explosão do câmbio, e uma elevação da inflação, conforme o prof. Simão, até uma resposta diferente, semelhante à da crise de 2008, dado o fato de nossos termos de intercâmbio poderem apresentar melhora. Ou seja: cai o preço da nossa commodity, mas cai ainda mais o preço de produtos industrializados que importamos, em consequência da capacidade ociosa e da queda de venda das indústrias na Europa.
E nossa indústria, nesse meio tempo?
A única colocação, inquestionada: teremos que voltar a adotar medidas capazes de proteger nosso parque, antes que ele seja destruído. Teremos que fazer como outros países já fizeram ou têm feito, aproveitando ainda do pouco grau de abertura de nossa economia, semelhante à economia americana, japonesa...
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Do ponto de vista interno, temos um mercado interno que pode nos deixar passar com menos traumas, pela crise. Desde que a crise não seja de duração muito longa.
E, sim: medidas de defesa de nossa moeda deverão ser adotadas, para que a gente, como a Suíça e outros países, não seja vítima de movimentos de fuga de capital, que levaram, no primeiro momento, a que os americanos tirassem seus recursos dos Estados Unidos, para obterem maior remuneração. E irem financiar a dívida grega. No segundo momento, a fuga, agora no caminho de volta, dos dólares americanos para os títulos públicos dos Estados Unidos.
Movimento de câmbio que fez o dólar se valorizar aqui em nosso país, como em todo mundo, nas duas semanas anteriores.
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Em síntese: a crise está aí. A nossa porta. E, o governo brasileiro tem agido com cautela e acerto, para não deixar que a situação de deterioração lá fora chegue para contaminar nossa economia, ainda tão cheia de questões que urgem ser resolvidas.

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