sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Selic e Gaddafi: as quedas de ontem.

Duas quedas foram o assunto principal das manchetes de ontem. A primeira e mais importante em nível mundial, a conquista da cidade de Sirte, onde nasceu e foi morto o ditador líbio - já expulso do poder, Muammar Gaddafi.
Contando 69 anos de idade, o ditador-tirano que governou o país com mão de ferro por 42 anos e que estava foragido desde o início da primavera árabe, dos movimentos populares que tomaram seu país e do apoio da Otan e, em especial da França, foi descoberto em um buraco, ou tubulação, onde foi feito prisioneiro e, finalmente, morto.
Para o homem, independente de qualquer outro juízo de valor, a morte talvez tenha sido o melhor final, mesmo sabendo-se que foi capturado vivo e, como tal, até o mais ingênuo dos tontos deve imaginar que deve ter passado por algum tipo de tortura.
Menos mal. Experimentou por pouco tempo que seja, um pouco do próprio veneno que aplicou a seus inimigos.
E, sendo assassinado, como se suspeita que tenha encontrado a morte, evitou não só a prisão, como outros tipos de torturas e humilhações.
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Não sendo favorável ao tipo de comportamento que ele, como qualquer outro tirano pudesse ter adotado, não consigo, por convicção, aceitar que a ele, depois de feito prisioneiro, fosse dispensado o mesmo tratamento. Embora entenda a opinião de quem, de vítima se transformou em algoz.
Confesso, entretanto, que não consigo entender como alguém que não foi vítima,  e até pelo contrário, sempre fingiu desconhecer as atitudes do "amigo" ou parceiro comercial que lhe eram denunciadas, pode virar algoz, de repente.

Refiro-me à França, aos Estados Unidos que,  mesmo não tendo mantido relações amistosas ou fraternas com o governo do líbio, nos seus 42 anos, não adotaram as medidas que parece agora terem sido adotadas estritamente por questões econômicas e comerciais.
Ou seja: ao que parece, o motivo da intervenção militar patrocinada por esses países agora, não tem como principal justificativa, nem como justificativa real o povo líbio e seu sofrimento. Esses são apenas argumentos utilizados como  desculpas. E, passado esse período de mudanças, provavelmente refeitos ou renegociados importantes contratos comerciais vinculados ao petróleo, tudo deverá voltar ao normal. Com o povo sendo de novo esquecido e explorado por algum outro tipo de tirano. Até que novo ciclo se feche e, novamente, os interesses das grandes potências possam passar a serem colocados em xeque.

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A outra queda foi a da Selic, importante para a nossa realidade interna, mas já suficientemente antecipada.
E, como dessa vez o mercado não foi pego de surpresa, o Banco Central agiu, conforme as opiniões vindas à luz, corretamente, no sentido de coordenar as expectativas do mercado.
Como comentei antes da reunião, isso é, em minha leitura, um eufemismo para manifestar que o BC não se insubordinou e acatou as "determinações" expressas como expectativas do mercado financeiro.
E, ao acatar as expectativas do mercado, essas tornaram-se expectativas auto-realizadas, com ninguém dos "tubarões" perdendo dinheiro em suas apostas.
Resultado: em céu de brigadeiro, até o comentário AGORA, de que houve na reunião anterior do COPOM, em agosto, uma interpretação equivocada por precipitada, em relação ao comportamento e a decisão do BC, foi feito. E deu margem a publicação em análise na Folha de ontem.
E, como está na análise, embora o mercado pudesse ter, no primeiro momento, apostado que o BC se curvara à influência política, DE QUEM FOI ELEITO PELO POVO para, em seu nome exercer o poder (é bom que se lembre e se escreva em letras garrafais!), submetendo-se à vontade da Presidência da República e do Ministro da Fazenda, na verdade, o BC não perdeu sua autonomia.
Afinal, enumera o analista: a crise mundial estava mostrando os dentes aí à porta, e eram necessárias a adoção de medidas destinadas a assegurarem o crescimento para o próximo ano. Além disso, a inflação já sinalizava um certo arrefecimento, por força da elevação anterior dos juros e por força da própria crise. E, o governo prometeu e está, se não cumprindo, pelo menos dando sinais evidentes de não estar disposto a abrir mão de seu objetivo de rigor fiscal (corte de gastos, em especial com a folha de pagamentos do funcionalismo).
E, por fim, o óbvio do ovo em pé, que o analista observou bem, embora o mercado fosse na direção contrária: caso o rigor fiscal não seja cumprido, o BC sempre pode voltar a elevar os juros. Livre de quaisquer pressões políticas,  por ter testado antes o caminho sugerido pelo Executivo.
Ou seja: o BC não só manteve sua autonomia, como ganhou munição para continuar, se necessário no futuro, subordinado ao mercado.
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Por mim, mais uma vez, ele adotou a postura de uma no cravo e outra na ferradura. O que já é um grande benefício em relação à gestão anterior, em que a decisão era sempre no mercado. No interesse do mercado. Amém.

Um comentário:

juliano VM disse...

Faltou o Pitaco sobre o Ministerio dos Esportes, sua opniao sobre Orlando Silva.