sexta-feira, 1 de março de 2013

PIBINHO

Anunciado o valor dos novos bens e serviços finais (feitos ajustes para estoques de bens produzidos e não concluídos ou não vendidos) gerados na economia brasileira no ano de 2012, na casa de R$ 4,4 trilhões em valores correntes, constata-se que a taxa de crescimento da riqueza gerada no Brasil no ano passado foi de apenas 0,9%. A rigor, um pibinho, como definiu a nossa presidenta Dilma.
Com isso, como os jornais e os sites noticiosos têm destacado, a média dos dois anos de mandato de Dilma em termos simplificados alcançou 1,8% a cada ano, o que é bastante pífio, principalmente se comparado ao último ano de seu padrinho e antecessor Lula e o PIB de 7,5% em 2010.
***
Dentre os setores da economia brasileira, os 0,9% são puxados pela evolução do setor de serviços, de 1,7%, parcialmente anulados pela queda de 0,8% da indústria e de 2,3% da agricultura.
Em minha opinião, esse comportamento dos setores, traz em seu bojo uma mistura explosiva, capaz de botar lenha e, em parte, justificar a piora das expectativas inflacionárias e mais que isso, do próprio comportamento dos preços.
Afinal, o crescimento do setor serviços, que é capaz de explicar também a razão da expansão do nível de emprego da economia brasileira, com destaque para o emprego formal, acaba provocando uma elevação do nível de salários, desde aqueles pagos aos trabalhadores menos qualificados. Da mesma forma, promove o ajuste dos custos de serviços particulares, que têm sido apontados como os principais vilões do movimento de subida dos preços. Incluem-se aí, serviços pessoais, como salão, oficinas, e outros.
Claro, ao subir o preço da mão de obra, isso irá se refletir em uma elevação de custos da folha de pagamentos também na indústria, um elemento que ajuda a explicar o aumento de preços de produtos industriais, embora não seja o principal fator.
Quanto ao comportamento do setor agrícola, a queda ajuda a entender porque se elevam os preços de produtos como alimentos, também apontado como vilão da inflação em nosso país.
A título de complemento, no caso da elevação dos preços industriais outros fatores devem ser apontados, como a valorização do dólar, ocorrida no ano passado, que se por um lado ajuda a baratear nossos produtos, elevando nossa competitividade (espúria!), pelo lado dos preços, implica em aumento de custos de insumos e produtos intermediários importados, repassados para os produtos gerados a partir deles.
***
É justo dizer que o governo Dilma é, nesse caso, vítima das políticas adotadas desde o governo FHC e da condução do Plano Real, baseado em juros elevados e atração, por esse motivo de vultosos fluxos de capital, política que não foi alterada por Lula, em seus dois mandatos.
Explico: a elevada entrada de dólares, atraída pelas taxas de remuneração ao capital excessivamente elevadas, tornou o real valorizado e barateou o dólar e todos os produtos cotados naquela moeda. Tal resultado acarretaria, como o fez, uma substituição de produtos intermediários antes fornecidos por empresários aqui instalados, por insumos vindos do exterior. Em alguns casos, implicou até na substituição de cadeias inteiras produtoras de insumos nacionais por insumos estrangeiros.
Como foi alertado várias vezes, por vários economistas, inclusive aqui nesse espaço, isso poderia funcionar até que, para não sucatear nossa indústria, o real passasse a se desvalorizar. Foi o que aconteceu.
Quando os juros baixaram, e o dólar passou a se valorizar, os insumos cotados em moeda estrangeira ficaram mais caros e, com isso, os preços dos produtos feitos a partir de seu uso.
***
O problema é que a queda dos juros, a desvalorização do real, toda a política para elevar a competitividade da indústria foi adotada quando as condições internacionais eram cada vez mais críticas e essa crise passou a impactar a demanda por nossos produtos.
Ou seja, a crise européia no horizonte e se agravando, e as medidas de contenção de gastos impostas às economias da zona do euro, longe de solucionarem os problemas apenas aprofundaram a recessão ou depressão em curso.
Com expectativas de queda da demanda de exportações, a redução dos preços dos produtos nacionais por força de movimentos cambiais não foi suficiente para estimular os industriais nacionais a manterem o volume de sua produção. Isso explica em parte a redução da produção e a queda de 0,8% apresentada pelo setor.
Nem mesmo as medidas reclamadas pelos empresários e adotadas pelo governo, como a redução da carga de tributos, a redução dos encargos sobre as folhas de pagamentos, a redução de custos de energia, a redução de juros, e a expansão de créditos, em grande parte subsidiados foram suficientes para estimularem os empresários a retomarem o nível de produção, tavez em postura destinada a pressionar o governo a prosseguir fazendo concessões cada vez maiores, de forma a tirá-los da inércia em que se encontravam.
Diga-se de passagem, que tal comportamento dos empresários, se adotado intencionalmente, seria bastante assemelhado a um tipo de extorsão ou chantagem em relação ao governo.
Embora não seja, necessariamente essa a intenção da classe empresarial, o certo é que o governo tem demonstrado estar sim, refém desse tipo de comportamento.
***
Não se nega que os empresários enfrentam outros problemas que se somam aos já apontados e justificam a queda na produção, alguns ligados à deficiência de infraestrutura em nosso país, de que a questão da energia é talvez um exemplo emblemático.
Porque nada adianta reduzir o custo da tarifa de energia se não há energia suficiente para fornecer ao setor industrial. E como não há energia hidrelétrica, convenhamos até por culpa também de nossas condições pluviométricas e de São Pedro, a indústria tem de substituir essa fonte por outra, mais cara, a termoelétrica.
Mão de obra desqualificada, falta de tecnologias, etc. são outros problemas atrelados ao comportamento do setor industrial.
***
No setor agrícola, desde as questões de variações climáticas, até outras, ligadas à redução de vendas para o exterior em função da crise, também ajudam a explicar a queda do valor produzido.
É bom lembrar que Pib é produto. Em economia, significa valor da produção. E se os mercados internacionais estão cortando compras, os preços de commodities que tanto subiram e ajudaram as contas nos anos do governo Lula, agora tendem a declinar. O que reduz o resultado.
***
No front interno, a indústria aproveitou-se das ações e medidas destinadas a permitir o crescimento da renda e do crediário para alimentar a demanda interna. Mas, até mesmo utilizando o raciocínio simplista e maniqueista do princípio da aceleração, o que se percebe é que ara que as taxas de crescimento se mantivessem crescentes, teria que haver expansão de investimentos. Ora, para haver tal expansão, a demanda teria de estar crescendo a taxas crescentes. O problema é que a demanda já estava em patamares elevados e bastante aquecida no início do governo Dilma. E já próxima de um esgotamento ou de uma estabilização.
Afinal, já suficientemente endividadas, as famílias teriam todos os motivos para passarem a se preocupar em quitar as dívidas já contraídas, em lugar de simplesmente continuarem consumindo.
Ainda assim, a inclusão de mais pessoas nas classes médias permitiu que o consumo se elevasse em 3,1%, segurando a demanda e a elevação da produção.
Enquanto isso o investimento caia 4% fazendo o nível de formação bruta de capital cair de 19 para 18,1% do PIB.
***
Menos mal, a renda per capita manteve-se em R$ 22, 4 mil, crescendo 0,1% em relação ao ano anterior, o que significa manter-se estável. Tal número, no entanto, reflete melhora, já que se sabe que houve melhoria no perfil da distribuição de renda.
E, se formos comparar o resultado obtido com aquele das economias européias, o fato só de termos crescimento positivo seria positivo.
O problema é que crescemos menos que países com nível de desnvolvimento semelhante ao nosso, embora não de mesmo tamanho e importância econômica, e que o país ainda precisa crescer bem mais, muito mais, para acabar de vez com todas as suas mazelas.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu sou um admirador do modelo de Gestão que a Presidenta tem adotado. Realmente se formos comparar o Brasil aos países Europeus estamos mais que ótimo, o Brasil carece de muitas coisas, se observarmos seu crescimento nós temos apenas 13 anos de mercado global e menos ainda de economia estável, estamos no caminho certo do crescimento. Sou obrigado a concordar com você Paulo quando diz que os empresários brasileiros tem feito uma espécie de greve contra o governo mesmo que involuntariamente, a muitos não se vê um investimento privado, mesmo com tanto dinheiro disponível no BNDES, outro dia em uma entrevista ao Globo News uma economista da PUC comentou que o empresário brasileiro ficou mau acostumados com os investimentos públicos e não conseguem nem mesmo observar o bom momento de investimento que o país esta passando, com juros quase a zero para longo prazo corrigidos a baixo da TJLP.
Julio Cesar