quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pitacos em série: política econômica e a política correta no Brasil

Primeiro pitaco, para comentar matéria publicada ontem, na Folha, caderno Mercado, p. B4, "Pós-crise de 2008, debate mundial começa a reavaliar 'velhas ideias'".
O artigo de Bráulio Borges, da LCA Consultores faz referência a um seminário realizado em Washington, sob auspícios do FMI, que contou com as presenças do professor Olivier Blanchard, do Nobel de Economia Stiglitz, do pai do Consenso de Washington, John Williamson, entre outros, intitulado Rethinking Macroeconomic Policy 2.
Vale a pena ir lá dar uma lida na matéria. Entretanto, para os que não tiverem acesso a ela, trago aqui alguns dos seus principais pontos.
Não por acaso, o autor começa  sua análise fazendo referência a todos que têm, ultimamente, criticado a política econômica em nosso país, acusando-a de ter abandonado o tripé que a tem sustentado desde 1999, fundado em câmbio flutuante, obtenção de superavits primários e sistema de metas inflacionárias.
No primeiro caso, argumentam esses críticos, que o câmbio só permanece flutuante para cima, ou seja, para desvalorizações do real. No segundo caso, alegam que o governo tem incentivado a redução do superavit e, no terceiro caso, que o BC já há muito tem se preocupado menos com controlar a inflação, passando a perseguir outros objetivos de política como metas de crescimento e de redução do desemprego.
Pois bem, o que tem sido debatido nos seminários internacionais, como o patrocinado pelo FMI é exatamente a necessidade de se aprimorar o arcabouço da política macro, adotado pelos países antes da crise.
Se antes, a política podia ser sintetizada na manutenção de uma meta - de inflação -  e um instrumento - a taxa de juros básica, com a finalidade de se manter a inflação baixa como condição para se alcançar a estabilidade econômica, a crise veio alterar essa visão.
E, para deixar aqueles que criticam nossa política econômica sem qualquer fundamento que não seja meramente ideológico ou de interesses mais escusos, a conclusão a que têm chegado os debatedores é que os Bancos Centrais têm cada vez mais de se preocupar com o nível de atividade econômica e com estabilidade financeira. Em lugar de usarem apenas do instrumento da taxa de juros, devem lançar mão de medidas prudenciais e relaxamentos quantitativos.
Em síntese, embora ninguém proponha o abandono do sistema de metas, ele não deve mais ser considerado como a preocupação exclusiva dos BCs.
Em relação à questão cambial, dado o poder fortemente desestabilizador dos fluxos de capitais, o novo consenso recomenda adotar, até mesmo, controles de capitais seletivos e controles para impedir desvios significativos do preço da divisa estrangeira.
Por fim, mais importante que o controle do superávit, sugerem o acompanhamento da trajetória de endividamento do país, sugerindo que a preocupação passe a ser em manter endividamentos que representem valores próximos de 40% do PIB, para dar espaço, caso necessário para o governo acomodar políticas expansionistas, caso necessário para se combater recessões profundas.

Em outras palavras: enquanto aqui as cabeças arcaicas continuam defendendo políticas datadas de quando o Consenso de Washington ainda era capaz de conquistar corações e mentes, lá fora, essa etapa já foi de há muito superada.
E a política brasileira, felizmente, está mais antenada com o que se faz de mais moderno lá fora, o que não significa que não haja uma série de críticas que podem ser dirigidas a ela ou a seus resultados.
Importante aqui, é que os seus fundamentos estão corretos, ou na direção recomendada mesmo por órgãos internacionais da importância de um FMI.
Entretanto, como dizem que Deus é brasileiro, há uma luz no final do túnel: quem sabe dentro de 15 anos, esses críticos se modernizem e passem a aceitar como correto aquilo que o mundo já está praticando hoje. E, repito, felizmente, o Brasil aí incluído.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor, no 5°parágrafo o senhor diz, " Em lugar de usarem apenas do instrumento da taxa de juros, devem lançar mão de medidas prudenciais e relaxamentos quantitativos." pode me explicar por favor o que isso quer dizer?