Saem as primeiras notícias da economia brasileira, relativas ao ano de 2013, recém encerrado.
Infelizmente, para os que são críticos mordazes da atual gestão, os números estão indicando que a economia não está na crise que eles tanto apregoaram e/ou desejaram, seja por motivos políticos-partidários, seja mesmo por um temor exagerado.
Pelos dados preliminares da FGV, a inflação fecha o ano em um valor menor que aquele de 2012, na casa de 5,63%. Elevada? Sim. Mas nada capaz de justificar a forma utilizada por Boris Casoy para comentar o resultado por ele anunciado. Afinal, não houve a disparada da inflação que ele quis transmitir aos seus telespectadores. A inflação ficou dentro do intervalo aceitável do sistema de metas prometido pelo governo.
Quanto ao resultado da balança comercial, muito ruim, não devia ser surpresa para ninguém com um mínimo de informação a respeito do comportamento da nossa economia.
O resultado fraco - superávit de US$ 2,6 bilhões, embora possa ser o menor saldo obtido desde o início desse século XXI, apenas confirma e dá força a todos quanto vinham criticando a política cambial adotada no país. Afinal, como o professor Belluzzo teve a oportunidade de repetir ontem em entrevista nos jornais televisivos, o real está muito valorizado e, para que possa ser a sua cotação possa atingir um patamar mais tolerável, deveria sofrer uma desvalorização de próximo de 30%.
O professor reconhece os custos, especialmente para a inflação de tal desvalorização. Mas, tem razão ao afirmar que a política de câmbio flutuante, tanto cultuada pelos mercados é, em parte, a razão de nossas exportações terem declinado 1% em relação ao mesmo valor de 2012.
Agora, se somarmos ao câmbio que atua contra nossos interesses, o fato de que nossos principais parceiros estão comprando menos, em função da continuidade da crise internacional iniciada em 2008, é possível entender-se melhor o resultado obtido. Do lado das importações, que cresceram 6,5% em relação ao ano de 2012, mais uma vez além do câmbio, que favorece os produtos com preços e custos formados em dólares, há outros fatores, como a perda de competitividade de nossa indústria, a reduzida evolução da produtividade por trabalhador, etc.
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Curioso, ao meu ver, é o fato de que os órgãos de imprensa repercutem a notícia do pequeno saldo obtido, em tom crítico e, de forma bastante dissimulada, complementam a informação revelando que o saldo foi artificialmente inflado, já que plataformas petrolíferas no valor de R$ 7,7 bilhões foram contabilizadas como exportações de nosso país, embora os equipamentos não tenham saído do país.
Ora, o mercado financeiro está cheio de situações em que empresas vendem ativos fixos e desmobilizam recursos no sentido de fazerem caixa e, depois fazem operação de recompra ou até de leasing do mesmo ativo, o que é considerado política inteligente da empresa, dependendo claro, dos custos financeiros envolvidos.
Até mesmo nós, cidadãos comuns, nos acostumamos a receber e até fazer operações de venda a vista, por exemplo, do nosso carro, com a compra do mesmo bem, a prazo.
Ou seja, operações que permitem que façamos gestão de caixa e que podem ser muito interessantes.
Mas, se é o governo ou a Petrobrás que faz essa mesma operação, a crítica é feita, de forma velada, sem que se explique que essa é uma operação comum no mercado.
Quanto à aparente "maquiagem" dos dados, o fato é que os estaleiros nacionais produziram as plataformas e as venderam para empresas estrangeiras. Entraram recursos no país. Isso caracteriza exportação e não há nenhuma maquiagem nisso.
Se a empresa ou agente estrangeiro que adquiriu a plataforma resolveu mantê-la no país, e alocou-a à Petrobras, o que houve é que o valor pago pelo arrendamento ou locação pela Petrobras, irá representar elevação de gastos nas contas de serviços ou transferências de rendas. Afetará outra conta do nosso balanço de contas correntes, não representando nenhuma situação irregular.
Essa conta de pagamento de aluguéis e serviços sim, será muito deficitária, e deverá ser objeto de maior preocupação. Embora atenção maior será dada, desde já, aos gastos de turistas no exterior.
O interessante é que a essa altura, nenhum órgão de imprensa se recorda de que, parte das importações foram infladas, nesse ano de 2013, por contabilização no início do período, de importações realizadas em 2012. Ou seja: para que a balança de 2012 não ficasse muito ruim, o governo decidiu que iria contabilizar o resultado de importações de petróleo em 2013.
E, por esse motivo, a importação na conta petróleo é maior esse ano, do que o realmente gasto. A menos que, e isso ninguém está informando, o mesmo comportamento repetiu-se esse ano. E 2014 irá sofrer o impacto da contabilização de importação de óleo realizada nesse 2013.
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De meu ponto de vista, o que vejo como mais significativo é que, com queda de nossas exportações, estamos perdendo mercados no exterior e, mercado perdido é o mais difícil de ser recuperado, em momento posterior.
Parece-me ser nesse sentido, a análise de Álvaro Fagundes, na Folha, nesse dia 3 (caderno Mercado - A11). Embora sua argumentação seja fundada na falta de acordos comerciais e de investimentos do nosso país com outros membros do G20, ou nossos maiores e mais importantes parceiros, como EUA, Alemanha, Japão e China, ou mesmo a Argentina.
Mas, isso fica para outra postagem.
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