segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Superávit do governo federal, críticas à economia brasileira e a ameaça ou promessa "Não vai ter Copa"

Para tristeza dos analistas de mercado de sempre, o ministro Mantega anunciou na última semana, antecipando em um mês a data geralmente usada para a divulgação, que o governo federal conseguiu atingir a meta de superávit fiscal prometida. Aliás, superou a meta de 73 bilhões de reais, em parcos R$ 2 bilhões. 
Alegando antecipar o anúncio, para acalmar os nervosinhos (esses mesmos analistas do mercado), o ministro anunciou um superávit de R$ 75 bilhões, ainda sujeito a pequenos ajustes.
Como era de se esperar, a ação do ministro não foi suficiente nem para acalmar o mercado, nem sua porta-voz, a grande imprensa, que preferiu destacar que foi o segundo pior superavit fiscal obtido desde 2003, ano que marca o início das gestões do PT.
Além desse destaque, optaram também por destacar que o resultado foi obtido apenas pelo uso de receitas extraordinárias, que não se repetirão em anos vindouros, como as do leilão do campo de Libra no valor de R$ 15 bilhões e receitas de R$ 20 bilhões de recuperação de dívidas tributárias. 
Não foram capazes de analisar, contudo, que a perda de arrecadação em razão das medidas de desonerações de impostos também têm prazo para serem encerradas, como por exemplo, o IPI de automóveis que já teve um acréscimo em sua alíquota na virada desse 2014. 
Nem foram capazes de admitir que, parte da queda do valor do superávit - que provocou o abandono da meta prevista no início do ano de 2013, alterada para menos a partir da metade do ano-, se deveu às medidas de cunho tributário que o governo se viu obrigado a adotar, na tentativa de impedir que nossa economia sofresse um impacto ainda maior como consequência dos efeitos da crise que continuou assolando as economias de todo o planeta, em reação ainda à crise financeira de 2008.
Porque, melhorando as condições da economia internacional, das economias de nossos parceiros, ou seja, melhorando as condições de liquidez internacional, o governo poderá desmontar os instrumentos - fiscais e monetário-creditícios, de que teve de lançar mão.
Logo, não são apenas as receitas que são extraordinárias. Algumas das medidas que afetam o resultado obtido podem ser também passageiras.
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Mas, o anúncio do superávit não foi suficiente para acalmar os mercados nem a imprensa que continuou martelando que a meta de todo o setor público não será alcançada. Afinal, estados e municípios não conseguirão atingir o previsto, no montante de R$ 47, 8 bilhões. 
Anteriormente, quando esses entes não alcançavam seu resultado previsto, a responsabilidade de cobrir a diferença recaía sob o governo federal. Isso mudou, a partir de 2013.
Mas não se vê nenhum analista de contas públicas tecer qualquer comentário quanto a essa dificuldade de governos, em sua maioria não petistas, não cumprirem suas metas. 
Afinal, a grande imprensa está toda dominada por um desejo de impedir que a continuidade da gestão petista, em especial a de Dilma, que andou por tanto tempo às turras com o poder financeiro, patrão último de nossa imprensa livre, imparcial e honesta.
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Enfim, Jânio

Na direção contrária de seus colegas, vale a recomendação da leitura da coluna publicada ontem na Folha, de Jânio de Freitas, intitulada "A Campanha da moda".
Para aqueles que não têm ou não tiveram a oportunidade de acesso ao colunista e ao texto, faço aqui, um breve apanhado do conteúdo.
O jornalista começa criticando a todos - inclusive seus colegas de imprensa, que entraram na moda ELEITOREIRA de dizer que 2013 foi um horror.
Alega que todos se preocupam muito em analisar e destacar o pífio crescimento do PIB, de próximo a 2%, deixando de dar atenção a um índice muito mais relevante, o que se relaciona à taxa de desemprego e sua queda espetacular, para o patamar de 4,6%. 
Bastante inferior ao índice menor em 5 anos da economia americana que caiu de 7,3 para 7%. Ou atém mesmo que da Alemanha, tão elogiada. 
Prossegue mostrando que o programa Bolsa Família, alterado, retirou 22 milhões de pessoas da faixa de pobreza extrema e que o Minha Casa, Minha Vida entregou mais de 1 milhão de moradias beneficiando a população mais carente. 
Contudo, alinha trechos de falas de analistas e consultores do mercado financeiro, todos mostrando como nossa economia está mal. Para Sérgio Vale, citado no texto, " infelizmente, veremos mais promessas de ampliação do Bolsa Família e do salário mínimo, que, no frigir dos ovos é o que tende a reeleger a presidente" .... que deverá em 2014, se "apequenar ainda mais".
Citando Schwartsman, mostra que a política que produziu o desemprego em queda e a retirada de milhões de brasileiros da pobreza, é uma "aposta fracassada", que resultou em "piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo".
Deve-se advertir que a citação de  ideologia, como sinônimo de algo ruim, ocorre apenas quando as medidas do governo são adotadas na direção contrária ao que o citado economista acredita ser o mais correto. Ou seja, não há nenhum benefício em se tirar da miséria vinte milhões de brasileiros, se isso for à custa de menor superávit fiscal, por força do aumento de despesas voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população. 
Pragmático e benéfico é o gasto público, como o pagamento de juros, cada vez mais elevados, de preferência, se destinado aos setores que compõem a elite financeira do país e ao nosso poder econômico. 
Ao final, Jânio cita trecho do artigo de Pedro Luiz Passos, empresário, que definiu a moda de ataque à política de Dilma como "o negativismo que permeia as análises sobre a economia brasileira, em contraste com a percepção de bem estar especialmente da base da pirâmide de renda." 
Concluindo: quando a política favorece ao outro, mais necessitado, é ideológica e incorreta. Não pragmática. Quando favorece aos nossos interesses e amigos, é política de melhor qualidade. 
A primeira merece que a tratemos como algo podre, como uma doença que deve ser extirpada. Daí a campanha de difamação. 
Que conta com a colaboração do pessoal do Manhattan Connection, tão entendidos de economia,  e de tudo que atende aos interesses do poder dominante, que dá preguiça ouvir. 
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E sobre a Copa do Mundo, na coluna do Vinícius Torres Freire

Para ler, refletir e preocupar o tema da coluna do articulista da Folha, também publicada na data de ontem.
Trata de protesto marcado para o próximo aniversário da cidade de São Paulo, o dia 25 de janeiro, para retomar os movimentos iniciados em junho de 2013, e repetir os atos daquele período, agora, utilizando-os como arma eleitoral.
O que preocupa não é o movimento, de resto perfeitamente legítimo e democrático, principalmente se conseguirem impedir e conter os ataques de vandalismo ali infiltrados.
O problema é o mote, "NÃO VAI TER COPA".
Especialmente se declarações como as  do presidente da Fifa, em entrevista concedida na Suíça, continuarem sendo feitas, com críticas contundentes à nossa capacidade de organizar um evento como o desse porte. 
É isso. 

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