segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Novo vexame do Galo e as agruras da Economia brasileira

Quando eu era pequeno as televisões, especialmente o canal 4, TV Itacolomi, transmitiam aos domingos os jogos de futebol do campeonato mineiro, então o único torneio importante de que participavam os times mineiros, Atlético, América e Cruzeiro.
Havia a Taça Brasil, de que o Cruzeiro foi campeão em 1966, mudando para sempre a forma que os times mineiros e gaúchos passaram a ser considerados, mas a Taça Brasil era um torneio de que participava apenas o campeão estadual. 
E o Galo, que foi bicampeão em 62/63, sempre acabava derrotado, e naquela época, lembro do temor que era enfrentar o Náutico de Pernambuco.
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Pois bem, digo isso a propósito da primeira vez, no ano de 1962, que tive paciência de ficar em frente à televisão para ver uma partida. Talvez por ser um ano de Copa do Mundo. Talvez por que o futebol acabou entrando de vez na minha vida, com a conquista do Brasil em terras do Chile. 
O jogo transmitido era Atlético e Pedro Leopoldo e o Atlético, de camisa alvinegra perdeu de 3 a 1. Mas conquistou ali, naquele dia, meu coração para sempre. E tornei-me mais um sofredor inveterado.
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Tudo isso me veio à mente durante a transmissão do jogo de ontem, em que, jogando com um uniforme que representa muito pouco da mística do time e que não diz nada à maioria da torcida; em um horário que não tem também nenhum encanto, criado e imposto para atender à programação de uma rede de televisão e não ao espetáculo; o Atlético entrou em campo com uma formação que prefere punir aos que estão jogando relativamente bem, apenas por ter cobrado mais raça dos companheiros, acarretando com essa decisão uma punição para toda sua apaixonada torcida.
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Resultado: com menos de 45 segundos de jogo, sem que tivesse tempo de se posicionar em campo, o Atlético viu o seu xará do Paraná ir ao ataque, a bola ser jogada na área e interceptada mal por Edcarlos, sobrar para o capitão do adversário e perigoso Marcelo, que cruzou novamente para o miolo da área, onde novamente foi rebatida de qualquer jeito, para cair no pé do jogador contrário. E daí, o chute em direção ao gol, o desvio na perna de Edcarlos enganando a Giovanni e a bola indo morrer mansamente no fundo do gol.
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O problema é que a partir daí, a partida viu o Atlético Mineiro crescer, tocar bola, ganhar o meio campo, levar um ou outro susto nos rápidos contra-ataques do clube paranaense, mas indiferente de ser o primeiro ou segundo tempo, foi só.
Objetividade zero. Gana e vontade de vencer, zero. Carlos a sensação, zero. Mais caído no chão que jogando em pé e levando perigo ao gol do adversário. O meio campo, sem qualquer inspiração. Edcarlos errando muito e transmitindo insegurança.
Para não me alongar muito: salvaram-se o goleiro, Leo Silva em seu retorno, Luan, sempre guerreiro. E Tardelli, jogando sozinho e sem ter com quem tramar qualquer jogada de perigo. Até se cansar. 
Além do lateral esquerdo, Douglas, sempre cumprindo seu papel, especialmente nas descidas ao ataque.
Tão pouco para um time que visa o G4 e que tenta superar-se mais uma vez na quarta em jogo de Copa do Brasil, que em dado momento comentei com minha mulher. Se não entendesse nada de futebol, como nos idos de 62 e visse esse time de branco, apagado, sem emoção e sem garra, jogando e perdendo, nunca iria me tornar o atleticano que me tornei.
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Detalhe imprescindível de ser dito: os jogadores que entraram no segundo tempo tampouco mostraram alguma coisa, Especialmente Marion, que entrou no lugar de Josué, mostrando que as promessas vindas da base, são ainda apenas promessas. E que Marcos Rocha estava certo em dizer que ainda sentem o peso da responsabilidade.
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Que venham a quarta feira e o Flamengo e a mística de que o Galo é o time da virada e o Galo é o time do amor. E o mantra "Eu acredito" possa, mais uma vez, dar ao time a força e disposição  que ele não tem sabido demonstrar em campo.
Pelo menos não ontem.


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As agruras da Economia

Dizem que de poeta, médico e louco, todos têm um pouco. 
Depois descobriram que nós brasileiros somos mais de 200 milhões de técnicos de futebol. 
Agora descubro, talvez tardiamente, que somos todos economistas.
E, enquanto alguns (derrotados nas urnas) reclamam das medidas que Dilma começou a adotar, apenas porque ela disse que não as adotaria.
A esse respeito, uma consideração: parece que esses críticos, derrotados, votaram não em ideias que consideravam corretas e necessárias, mas em pessoas. Porque, com Dilma vitoriosa e reeleita, ao começar a adotar aquilo que achavam que fosse necessário ser feito em nosso país, e o melhor, passam a criticar a presidenta, e até tais medidas. Ora, parece-me que gostariam então apenas de ver o circo pegar fogo!!!
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Está bem! Dilma está reproduzindo então o mesmo estelionato que muitos acusaram Lula de fazer em 2003 quando assumiu a presidência adotando um conjunto de medidas que todos classificavam como a continuidade da política conservadora de FHC.
É verdade e Lula adotou a política conservadora e o país melhorou os seus números, que estavam tão deteriorados ao final do governo tucano.
Agora é Dilma que está traindo seus eleitores. Pelo menos é o que parece. Mas então, os seus críticos deveriam estar era comemorando por estarem vitoriosos, mesmo que alijados do poder.
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Mas, daí a escutar as análises de jornalistas como Acir Antão, feitas hoje na Rádio Itatiaia, em seu programa matinal é uma coisa de doido. Não porque os problemas identificados por ele estejam incorretos. 
Como ele disse, ao iniciar o tema, andou lendo vários jornais e revistas nesse fim de semana e, claro, há uma unanimidade em relação aos problemas que o país está atravessando, divergindo as opiniões apenas em relação ao grau de importância de cada um deles.
Temos então a questão da inflação, dos preços que foram contidos, especialmente na energia e que terão de ser liberados, o problema de um déficit primário que renasce tal qual uma fênix e causa desconforto muito grande. 
Daí a necessidade de medidas como a elevação de alíquotas dos impostos que foram utilizados para que o governo pudesse, sem êxito, tentar estimular o consumo principalmente de bens duráveis, automóveis à frente. A volta da cobrança da CIDE, que incide sobre combustíveis, e que Acir Antão criticou.
Mas interessante é ouvir os argumentos. Para ele, tudo que o governo andou fazendo, teve como motivação a reeleição, mesmo aquelas medidas que, como se sabe, estão vigorando desde 2012, como aposta do governo, volto a insistir, sem êxito, para estimular a demanda agregada e tirar a economia do marasmo.
Para uma pessoa que tem um espaço na midia e que pode fazer comentários que irão forjar a cabeça e opinião de muitos ouvintes, o que é muito perigoso, todo o descalabro das contas públicas tem a ver com o número de funcionários empregados - "empreguismo" e com os muitos e inúteis ministérios, gastadores. Tudo para acomodar pessoas amigas. 
Ora, os gastos mais elevados no ano de 2014 têm como explicação gastos maiores em educação, por exemplo, programas de bolsas, o que todos os analistas reconhecem. Tudo bem que gastos com pessoal são importantes, porque não podem ser comprimidos, mas daí a culpar tais gastos como fez o radialista.
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Pior é que o radialista comenta que a questão dos combustíveis e dos impostos para a indústria automobilística é que é a responsável por tanto automóvel congestionando nossas ruas, passando a ideia de que, quando as classes populares tiveram acesso ao carro, e por força das medidas populistas de Dilma a paz que reinava nos núcleos urbanos foi embora. 
Não o disse, mas é como se culpasse o pobre de ter melhorado de vida e vir estragar a vida antes tranquila e idílica dos ricos.
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Valho-me de Delfim, para quem os maiores problemas são de ordem fiscal e de ordem estrutural da economia e do câmbio. 
Diz o ministro da Fazenda da época da ditadura que o governo destruiu a indústria e tem de reconstruí-la. E se isso não for feito, estarão ameaçados o crescimento econômico e a inclusão social até aqui conquistada.
E afirma textualmente: " Na minha opinião, um problema sério prejudicou Aécio. Ele foi apoiado por um grande número de pessoas com preconceito gigantesco. É o sujeito que diz: " Eu me fiz por conta própria, eu trabalhei, estudei. Não fui como esses vagabundos". O que é um equívoco fundamental. "
E conclui afirmando que os programas de assistência são encarados por tais pessoas, como se fosse algo contra eles.
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Também muito boa a opinião de José Roberto Mendonça de Barros, em entrevista na Folha. 
Embora crítica, lúcida. Bem diferente da coluna de Samuel Pessôa, cuja coluna é bem mais uma manifestação de vontade pessoal de cunho político, o "wishful thinking", que uma análise séria. 
E bem diferente dos comentários de Acir Antão, que parece bem mais com o choro de quem viu seu candidato derrotado nas ruas e agora culpa a tudo e todos, mesmo sem saber o que, ou porque.


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