quinta-feira, 9 de abril de 2015

Inflação em alta e o que esperar daí em diante?

A inflação de 1,32% em março, a maior inflação dos últimos 20 anos, já deveria ser esperada. Não apenas pelo realinhamento de preços, energia e combustíveis à frente, mas também pelo custo maior dos juros, que encarecem os custos financeiros das empresas. Também conta aí, senão já a elevação de alguns impostos, a expectativa da elevação de impostos, o que leva empresários com poder de mercado a se anteciparem, elevando preços.
Claro que a mídia irá responsabilizar o represamento de preços do primeiro mandato de Dilma Rousseff, pela taxa obtida. Especialmente quando o IBGE reconhece o elevado peso da energia no cálculo do índice.
Tudo bem. Mas, mais que anunciar a correção de preços da energia como responsável pelo resultado da inflação e aproveitar-se disso para fazer mais uma acusação à equipe econômica anterior, retirando a responsabilidade e resguardando a atual equipe, o que deveria estar sendo reconhecido é que, uma parcela da elevação da tarifa de energia não deve ser imputada a qualquer erro de política econômica. O que não significa que não tenham havido erros, muito embora alguns analistas não admitam ou gostem de reconhecer que o problema se deve, em parte, à crise hídrica, ao aumento do consumo - tanto estimulado  pelas tarifas menores, quanto pela elevação das temperaturas no verão, o que obrigou à utilização da produção de energia termelétrica, mais cara.
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Não fosse o ano de 2014 um ano de Copa, em que esperava-se que nosso país fosse ser invadido por turistas que não poderiam sair daqui com uma impressão negativa de nossos serviços públicos e da capacidade de recebermos bem os turistas; nem fosse um ano de eleição, o que justifica que partido algum adote medidas capazes de darem munição para críticas dos adversários da oposição, o governo deveria era ter iniciado um processo de conscientização da população para poupar energia. No limite, como alguns especialistas da área comentam, implantar um plano de racionamento que, naquela altura poderia começar ser, com perdão pelo trocadilho, mais light.
Mas, se em um ano eleitoral é esperar demais por esse tipo de medida, porque essa medida ainda permanece completamente fora do horizonte oficial?
Será porque para a nova equipe econômica o racionamento deve ser feito sempre via mercado? Via preços? O que assegura que os que mais têm, menos devem se preocupar com o problema que acaba sempre pesando sobre os menos favorecidos?
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Pois bem. E o que esperar depois do anúncio de que a inflação já supera os 8,13% no período de 12 meses?
Antes de prosseguir, é dever meu deixar claro que sempre achei e continuo achando um absurdo cobrar do governo e do Banco Central que a inflação esteja acima do limite superior do intervalo de confiança em torno da meta. Porque o êxito do BC no cumprimento da meta que lhe foi imposta é para o período de janeiro a dezembro. De maio de 2014 a abril de 2105, período de 12 meses, a inflação deve ser tomada apenas como um indicativo, não como algo para levar a imprensa a fazer um escarcéu, criticando a autoridade monetária, e o governo.
Porque, as autoridades podem contar com remédios cada vez mais amargos para conseguir fazer as taxas regredirem nos trimestres que vêm pela frente. Ou até mesmo contar com o tempo, já que o efeito de elevações de juros já decididas pelo COPOM nas últimas reuniões podem levar algum tempo para se manifestarem.
Mas, o que esperar daqui para a frente, em termos de medidas do governo?
Provavelmente, dada a pressão da mídia, em especial, o que deve ocorrer é nova elevação da taxa Selic, medida que se derruba a inflação, o faz por derrubar toda a economia do país.
O que já pode ser percebido por outros indicadores, como o da elevação da taxa de desemprego, que chega a 7,4% conforme anunciado pelo portal UOL, pela redução das vagas com carteira assinada...
O que não deve ser um problema muito grande, para a grande imprensa e para a nova equipe econômica, já que está vindo aí a aprovação pelo Congresso, da precarização das relações trabalhistas.
Precarização que, diga-se de passagem não incomoda ao governo e sua equipe econômica, já que a negociação com os líderes do Congresso já asseguraram que a arrecadação da Previdência não deverá cair. Ou deverá cair menos que o que seria de se esperar.
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Mas, e quanto ao ajuste fiscal tão falado pelo ministro?
A elevação de juros, caso seja decidida apenas amplia ainda mais o custo da dívida pública, já em mais de 24% no caso do governo federal. Apenas obriga a um pagamento de juros ainda maior, o que exigirá um superávit primário ainda mais elevado.
E olhe que, no ano passado, apenas de juros foram gastos 10 programas de bolsa família, já que o valor de juros alcançou a cifra dos 250 bilhões de reais.
Com juros mais elevados, há a necessidade de cortes maiores nos gastos públicos, com reflexos nos investimentos em infraestrutura, por exemplo.
O que significará mais profunda e violenta recessão. Capaz de permitir à Levy e sua equipe entregarem uma inflação controlada, no final do ano.
Mas, que caracteriza exatamente a recessão que, por tempo demais é forçoso se reconhecer, a equipe econômica do primeiro mandato Dilma tentou mitigar.
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Se a primeira equipe, Mantega á frente, tentava evitar era esse quadro recessivo, é justo que se pergunte se não haveria no cenário econômico que embasava as hipóteses com que eles trabalharam alguma influência da crise externa.
Digo isso porque Alexandre Schartzman na Folha, insiste em dizer que há desonestidade intelectual dos que apontam ser a crise externa a culpada pelos erros cometidos por Dilma em seu primeiro mandato, quando não reconhecem que se Lula teve êxito nos 8 anos anteriores, foi pela adoção de políticas corretas, sem influência de contribuição positiva externa.
Pelo menos foi esse o tema de sua coluna de ontem, o que serve para constatar a existência de uma desonestidade sim, mas não daqueles a que ele atribui tal comportamento. Aliás, muito ao contrário. E a desonestidade intelectual está mais próxima do que não reconhece que Lula teve sim, um cenário econômico internacional muito favorável, ao menos até 2008. Mas que no auge da crise ou do tsunami que varreu o mundo nos anos posteriores de 2009 e 2010, o Brasil cresceu 7,5%. Sinal de que as políticas então adotadas internamente senão reverteram o processo global, ao menos tiveram algum aspecto positivo.
Quanto a Dilma, alegar-se que não houve qualquer influência da situação de recessão que varria o mundo, e responsabilizar às políticas adotadas internamente por nosso pífio crescimento e problemas hoje enfrentados é, isso sim, não primar muito pela correção ou honestidade.
Porque o próprio FMI em relatório que agora vem a público, assinala que a crise que varre o mundo, desde o estouro da bolha financeira de 2008, é mais séria que o pensado a princípio. Mais séria, e mais duradoura, dando a entender que a economia mundial mudou de patamar e não voltará a ser como antes.
Ora, se o FMI reconhece que isso trará problemas especialmente para a manutenção do crescimento dos países ditos emergentes, então as preocupações de Dilma e seu governo estavam corretas. Ao menos em parte.
E justificam sim, em parte, nossa situação atual.
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A menos que, para o colunista, o relatório venha a servir apenas daqui para a frente, para mostrar o porque da política de Levy dar com os burros n'água, já que a falácia das posições que a sustentam não deverá ser reconhecida por quem segue a  mesma cartilha.
Até por honestidade com suas crenças. Mesmo que isso represente um falseamento da realidade.
É isso.


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