sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Redes sociais e as bobagens que ela permite veicular, provando que o maior problema do país é a falta completa de coerência.

Análises mais acuradas, mais aprofundadas deverão, um dia, vir à luz para mostrar as consequências - em minha opinião, mais nefastas que posiivas - da possibilidade infinita de difusão de informações, comentários, opiniões, etc. que a tecnologia digital, a internet com o advento das redes sociais, permitiu alcançar.
Admito até que várias pesquisas e estudos já têm tratado do tema, o que obriga-me a reconhecer minha ignorância.
Mas, independente desse reconhecimento, e da minha impotência que me leva a admitir não ser mais possível alguém saber, estar informado e conhecer de tudo, sou obrigado a manifestar que uma das piores consequências de tanto avanço, e tanta democracia, é o fato de que a internet e redes sociais deram oportunidade de que pessoas que teriam muito mais a ganhar ficando caladas, puderam ter um espaço - algumas até "ouvidos" para compartilhar suas opiniões.
E antes de que me acusem de qualquer coisa, já tomo a dianteira para dizer que não acredito que eu seja uma exceção e que minhas opiniões passassem incólumes de críticas.
Sempre pensei e externei a minha consciência de que estamos todos no mesmo barco. Em todos os sentidos e em todos os temas, desde sociais a qualquer outro conteúdo.
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Dito isso, fico estarrecido de ver opiniões serem publicadas, de quem acreditava coerente, pessoas que acreditava serem sérias, dotadas minimamente de alguma lucidez, que negam tudo que eu acreditava ou pensava delas.
E nem vou dizer que isso se deve a meras divergências ideológicas subjacentes à interpretação, necessariamente antagônicas, da mensagem que o autor-transmissor desejava emitir em relação à que os receptores-ouvintes dela extraiíram.
Como se sabe, dada a parcialidade da realidade, sua interpretação e a verdade pode assumir várias faces.
O que não significa que a verdade não seja uma só. Mas indica que a visão parcial a enxerga e a  molda de infinitas formas variadas.
Com o resultado belíssimo e interessante de todos poderem ter razão e estarem certos.
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Deixando de lado qualquer digressão, e entrando direto no assunto.
Li ontem, em uma das redes sociais, alguém comentar que dizer que é golpe, a farsa da condenação sem crime de responsabilidade, a ponto de os farsantes senadores não terem tido a hombridade de levarem seu ato reconhecidamente injusto até o fim, fatiando a decisão em apenas mais um dos aburdos que cercam a todo o processo, é como dizer que o perdeu porque o juiz roubou.
Ok. Passemos à análise da metáfora esportiva ou melhor, futebolística. O que vai entrar nas estatísticas e na história será que o título, a honraria de ser campeão é do time beneficiado pelo escândalo. Não a injustiça, o roubo escancarado, o nome do prejudicado.Correto?
O que significa um aval, uma concordância com que tudo vale para que se chegue ao resultado desejado pela parte, fosse ela a melhor ou não, a mais justa ou não. A correta ou não.
Precisa dizer mais, para expressar a minha decepção em relação a quem manifesta tamanho impropério, e a quem eu tinha em alta conta. Inclusive de caráter e formação moral?
Ou a pessoa, distraída e querendo apenas poder manifestar seu posicionamento do lado vitorioso, por hora, não mediu, não avaliou o significado de suas palavras e pensamento. A extensão da interpretação de sua mensagem?
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Pois bem, engana-se quem acha que basta ser vitorioso e que a coroa de louros a tudo apaga ou consiste em salvo conduto para tudo. No futebol mesmo, e com exemplo do Brasil, mais se fala até hoje do desastre da seleção contra o Uruguai, na final de 50, no Maracanã.
Derrota que feriu tão profundamente nosso amor próprio que teve consequências, inclusive com a destruição de vidas, muito mais salientes.
Pouco se exalta a seleção vitoriosa e sua garra. Mas, a execração de Barbosa não deveria servir de exemplo para que os resultados de um jogo fossem encarados e tratados apenas como isso, o resultado de um jogo?
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E dos que gostam de futebol e são mais antigos, quem não ouviu falar do brilhante time da Hungria, derrotado pela Alemanha por 3 a 2, na final da Copa de 54?
E quem não reconhece ou nega que a seleção de Telê Santana, em 1982, eliminada pela campeã não ficou muito mais marcada na memória de todos os que gostam de futebol, para todo o sempre?
Assim como Cruijff passou para a história do esporte embora não tivesse tido a honra de levar sua Holanda e sua laranja mecânica a qualquer título?
E, já que sou atleticano, quem não se lembra e não comenta a vergonha que foi a partida Atlético e Flamengo em 1981, pela Libertadores, em que um bandido de apito foi capaz de fazer soprando lata, o que o excelente time do Flamengo não estava conseguindo em campo: derrotar o Galo?
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Vá lá que ganhar roubado é mais gostoso, ao menos para zoar o amigo, colega torcedor do time vencedor. Mas, eu interpreto a frase como sendo, no fundo, o reconhecimento de quem a menciona da superioridade do outro. Simples assim.
Uma vitória envergonhada como a dos algozes, golpistas, de Dilma.
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Outros, dizem que o atual ocupante do Planalto tem sim, legitimidade, já que fazia parte da chapa e foi eleito junto com Dilma. Logo, foi também sufragado pelos mesmos 54,5 milhões de eleitores de Dilma.
Para não entrar na infrutífera discussão de quem mais carreou votos para a chapa, se sua cabeça ou a figura obscura por baixo, tal qual o rabo do animal, vamos apenas nos perguntar, por uma questão de justiça: junto ao TSE, nas várias causas que visam até a anulação da eleição da chapa vitoriosa por problemas relativos às contas de campanha, porque o nosso Nosferatu repleto de botox pede a análise separada da prestação de contas sua?
Embora eu acredite que gilmar mendes, o magistrado que tem opinião e as expressa sobre tudo, irá agora paralisar a questão, já que levá-la avante não mais interessa. O resultado já foi conquistado, afinal.
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Mas, se a figura do mordomo que agora ocupa o Planalto, lá chegado por força de um golpe, teve os 54,5 milhões de votos e tem legitimidade, então, também é licíto dizer que ele, assim como a cabeça da chapa tinham um único programa de governo. Certo?
E se Dilma ao assumir o segundo mandato foi acusada de trair seus eleitores, adotando medidas que ela não havia defendido como sua plataforma, o mesmo não deveria valer para esse que agora chegou lá?
Ou Dilma fez um estelionato eleitoral, e agora aquele que nunca teve coragem para se apresentar, agora sob a justificativa de temer vaias, ao definir suas medidas, não está cometendo o mesmo delito?
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Aliás, vi na rede uma post de alguém com o retrato de Sarney e a faixa presidencial. Ao seu lado, Itamar e a faixa, e por fim, o retrato do atual ocupante, também com faixa. E a frase, todos têm em comum o fato de serem ou terem sido do PMDB, terem chegado ao mais alto cargo, sem terem vencido qualquer eleição.
Embora seja postagem de simpatizantes de Dilma, anti-golpe, não concordo veementemente com seu conteúdo.
Primeiro porque Sarney nada mais era que um trânsfuga, oportunista, de pior espécie. Semelhante àquele tipo de ratos que deixam o navio quando a água começa a tomar conta de seus porões. Foi assim que ele deixou o barco de seu PDS, para cair na chapa de Tancredo.
De mais a mais, a eleição era indireta, naquela época, tal qual a que colocou os outros dois no poder.
Mas, há uma diferença. A chapa de Collor e Dilma tiveram que passar pelo escrutínio popular. O que significa mais claramente que a investida de ambos foi contrária ao voto da maioria dos eleitores. Ao menos da opinião que os eleitores tinham quando da época das eleições.
Sarney foi beneficiário sim, de um golpe de sorte, ou de um golpe de forças maiores, como a morte de Tancredo.
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Itamar não tramou contra o seu companheiro de chapa. O que já mostra diferença de caráter em relação ao atual.
E representou naquela época a derrota dos interesses do grande capital , inclusive do capital financeiro, e do capital internacional e o capital  nacional a ele associado.
Itamar era o representante dos interesses nacionais e, portanto, de interesses mais afetos a todo o povo brasileiro. Embora não sejamos tolos: não defendia, ao menos de forma exclusiva ou majoritária,  os interesses das classes menos favorecidas.
Já o atual chega como vassalo, menino de recado do capital empresarial da Paulista, e dos grandes interesses encastelados no mercado financeiro.
Só essas considerações bastam para mostrar o erro da postagem.
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Ainda aproveitando-se da velocidade de transmissão de informações, muito se alardeia, hoje, em relação à necessidade de que ajustes sejam feitos, no âmbito fiscal. E todos são unânimes em cobrar empenho do governo para aprovação imediata da lei que promove o congelamento dos gastos públicos, que poderão se elevar tão somente no mesmo percentual da inflação do ano anterior.
E, dada a manipulação da mídia e das grandes redes de televisão, essa ideia se espalha como se alguém tivesse ateado fogo em rastilho de pólvora. E passa a ser falada, discutida, apoiada, e cobrada até por quem nada entende de assuntos econômicos ou fiscais, ou de política econômica.
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O que acho uma incoerência gritante, já que ao mesmo tempo, todos criticam e lutam para desengessar o Orçamento. Aliás a própria emenda da DRU - desvinculação das Receitas da União, aprovada com elogios e comentários positivos de toda a imprensa não vai na direção contrária do engessamento da medida de contenção dos gastos?
Ou seja: todos sempre disseram que um problema da Constituição cidadã de 88 foi não dar espaço para o executivo decidir em que e quanto gastar, já que obrigado a seguir parâmetros congelados e decididos à priori pelo constituinte.
Sempre combateram a falta de espaço e graus de liberdade para que gastos de investimentos, necessários, fossem realizados, em função da escassez de recursos de uso discriminatório.
Mas, agora, como que por encanto, todos apoiam um engessamento ainda maior.
E tem gente postando essa ideia, sem perceber que tal proposta apenas representa a subtração da nossa pátria e dos recursos para atendimento das necessidades sociais mais prementes, de nossa população.
Como dizia a música Vai Passar de Chico Buarque de Holanda, "dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída..."
Ora, pessoas que antes se manifestavam contra o engessamento, agora mudam de lado sem perceber que o fizeram.
E acreditam que estão, com isso, mostrando seu conhecimento e domínio da realidade do país. E que estão contribuindo para a melhoria das condições por nós enfrentadas.
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Ou seja, falta coerência. O que é uma lástima.

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