quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O país da realidade paralela, onde o Carandiru sequer existiu. E duas referências amenas para um encontro de amigos.

Uma situação que já havia sido antecipada pela literatura de ficção científica, e mostrada nas telas do cinema parece ser, cada vez mais, a que melhor caracteriza a realidade que estamos vivendo no Brasil dos dias atuais: uma realidade paralela ou alternativa.
Da literatura, o exemplo que imediatamente me ocorre é 1984, o brilhante livro sobre totalitarismo escrito pelo gênio de George Orwell em 1948, com destaque para a apresentação da ideia de novilíngua, renomeando as ideias, as coisas, as instituições, de modo a manipular o mundo e a realidade ao infinito.
A respeito, lembro-me da impressão que me causou a descrição de como o passado era apagado pela burocracia do Estado autoritário ou alterada, para transformar, em todos os documentos e registros existentes, por exemplo, o inimigo de ontem, em aliado desde sempre, apenas por ter sido assinado um armistício entre os dois países.
Em outros casos, as memórias eram apagadas e davam origem à reconstrução de um novo passado, para sustentar uma nova ideia ou explicação para o presente.
Situação que, não por acaso, foi muito utilizada na União Soviética para cancelar a importância de certas figuras de políticos que caíram em desgraça, razão suficiente para que tivessem seus retratos, discursos e qualquer menção apagada dos textos impressos e arquivados.
Apenas para mostrar mais uma vez a capacidade de a vida imitar a arte.
***
Ou o livro de Orwell, muito menos que antecipar uma realidade, apenas descrevia, com pintadas de exagero, a realidade que já vinha se divisando.
No cinema, a ideia de que a mudança do passado teria força bastante para alterar o presente foi magistralmente apresentada, em minha opinião, na saga De Volta para o Futuro, tanto no filme original quanto nas suas sequências.
Realidade pararela, virtual, foi também objeto de dois outros filmes como Os Doze Macacos e Matrix, para citar apenas uns poucos.
***
Mas, vivendo situação semelhante no Brasil, que espantosamente mudou tanto, em minha percepção, sem que eu me desse conta do que vinha acontecendo, de repente somos informados de que NÃO HOUVE O MASSACRE DO CARANDIRU.
Não morreram, entrincheirados nas celas do presídio, vergonhoso e conflagrado, 111detentos, a maioria deles com tiros na cabeça e pelas costas, em uma situação que a perícia anotou cinco tiros por corpo.
Corpos depois enfileirados e nus, como sacos de cimento dispostos displicentemente, no chão de concreto.
Segundo o desembargador Ivan Sartori, que afirmou não se importar com a opinião pública, porque "Eu sou o juiz", como se fosse o próprio Deus, não houve massacre, não houve crime, se bobear não houve invasão do presídio por uma tropa de choque armada até os dentes, para conter uma rebelião de homens presos, todos desarmados.
Aqui vale um registro, estavam completamente desarmados, por óbvio, ou com armas brancas, fabricadas dentro das próprias celas, de forma precária, o que é bem representado pela imagem que marcou o mundo e mostrou a barbárie nossa: estavam NUS.
Pela autoridade que se julga o próprio Deus, o que houve foi apenas legítima defesa!!!
Mas, passados já 24 anos, agora no dia 2 de outubro, e com o Carandiru nem mesmo existindo, como forma de apagar a mancha da selvageria, talvez, quando do próximo julgamento dos policiais acusados, possamos ser informados que, sendo impossível cancelar a realidade da morte dos prisioneiros, o que houve foi um suicídio coletivo. Um ato extremo de imolação de pessoas que não se contentavam mais em ser tratados como animais, por uma sociedade que queria apenas que eles expiassem suas culpas e, assim fazendo, pudessem se reintegrar no convívio social...
***
Ótimo. Não houve massacre. Purgamos assim nossas culpas. Os militares todos foram heróis. Nem mesmo a possibilidade de medo, covardia e histeria que poderia servir de atenuante para seu comportamento não precisa mais ser invocada.
Os brilhantes e valorosos homens de farda da PM paulistana, não são covardes e nem se acovardam ou se intimidam. Apenas como qualquer outro homem valoroso, não aceita desaforo e não se deixa agredir, sem deixar que se manifeste aquilo que todos nós homens, como animais que somos, carregamos conosco: o instinto de conservação ou preservação.
***
Mas não tendo havido o massacre no longínquo 1992, é possível que também não tenha havido corrupção, propinas, compra de votos de deputados e mensalões, mesmo que sob outro título, em 1997/1998.
Não havia esquema de propina na Petrobras na gestão de FHC, como não houve a confissão do episódio de compra de voto por 200 mil reais, do deputado acreano Ronivon.
Como não houve a privataria, embora o ministro flagrado compondo os grupos a disputarem a concorrência dos leilões das teles tenha sido gravado e, até demitido por culpa desse fato.
Mas, não houve crise cambial em 1999, nem apagão em 2001,  que já apagou-se de nossa memória. Não houve um completo descalabro da inflação em 2002, nem a necessidade, no período de 1999 a 2002, de o governo brasileiro ter ido se prostrar de joelhos à frente do poderoso FMI, para negociar dois pacotes milionários de apoio financeiro.
Barusco, o gerente da Petrobras, não deu o depoimento em que, em delação premiada já publicada, menciona que desde antes de 1997, já havia o esquema de pixulecos como frutos dos contratos assinados pela maior empresa brasileira.
Como não aconteceram os escândalos do Metrô de São Paulo, reconhecidos pelas próprias empresas fraudadoras, agora perdoadas, embora talvez com uma leve advertência, por terem mentido quando confessaram os mal feitos.
Nem Furnas e suas propinas, ou a construção da Cidade Administrativa Tancredo Neves, em Minas, foram citadas como espaços privilegiados de corrupção.
Aliás, continuando na mesma lógica, nem Aécio foi citado em qualquer delação. Não poderia por não existir. Ao menos como político de expressão política, a verdade é que não existe mesmo.
***
Na realidade dupla, alternativa, paralela, houve foi o crime do PT, o único que não pagou e por isso, merece ser caçado à exaustão para que sejam purgadas as culpas de um país abençoado por Deus, e bonito por natureza, mas como diz a anedota, com um povinho.
Outro equívoco: nosso povo é honrado, valoroso, trabalhador, e honesto antes de mais nada, e acima de todas as coisas. Claro, como qualquer outro povo, às vezes, embolsa o troco por esquecimento, ou aproveita-se de pequenos descumprimentos da lei, mas... são tão poucos casos.... e apenas por distração. Nada mal intencionado.
Povo educado, que agride a um político e sua família em um restaurante do bairro do Rio de Janeiro frequentado apenas pela mais alta classe de cidadãos, todos endinheirados e educados.
***
Por causa dessa realidade virtual, temer foi eleito, com mais de 60 votos, mas carregando na alma e nas bagagens, o voto que usurpou de mais de 54,5 milhões de pessoas.
E em razão de seu governo extremamente proativo, eficiente, dinâmico e pouco avesso a corrupção e corruptos e controvérsias, e bate-bocas e de declarações destinadas tão somente a irem morrer na lata de lixo da história, a crise econõmica do país já está se despedindo do horizonte.
O Banco Central e o seu corpo de diretores, com assento no COPOM, que mais que anunciou, pressionou em suas atas, pela necessidade de ajuste fiscal, sem o que não seria possível reduzir a taxa de juros, já mostrou que seu intento foi alcançado.
As previsões de mercado, dos analistas, de comentaristas da imprensa e de economistas, sempre sem qualquer outra intenção senão dar a correta e abalizada opinião, nos jornais da noite, para orientar e explicar a realidade econômica para o cidadão comum, o homem do povo, já anunciam e comemoram a queda de 0,5% prevista para os juros em nosso país.
O que dá início, sem qualquer dúvida, à etapa de retomada do crescimento econômico em nosso país.
***
Sinal de que o ajuste já começou a apresentar os primeiros resultados favoráveis. A PEC da restrição de gastos públicos por um período de 20 anos, absurda não pelo conteúdo apenas, ou caráter, mas até por faltar maior discussão quanto a seus detalhes e forma de operacionalização, e pela não discussão de suas verdadeiras necessidades ou  motivações já está praticamente resolvida. A reforma da Previdência já foi toda desenhada, obrigando o brasileiro que inicia sua jornada de trabalho aos 15 anos, e tem estimativa de vida de algo em torno de 72 anos, a ter de trabalhar no mínimo 50 anos, para poder aposentar com o valor integral sobre o qual contribuiu.
E até os professores, essa categoria que se aproveita de  privilégios exagerados e absurdos, como circulou ontem nas redes e na internet, conforme a opinião do ministro da Educação, e sua assessoria em que se inclui, seguramente, o nosso intelectual de proa, Alexandre Frota, já terão sido objeto de proposta de cortes e fim de benefícios inexplicáveis.
***
Infelizmente, apenas os dados, esses números frios e sempre monstruosos, atrapalham a descrição de nossa realidade idílica, da recuperação da estabilidade, da retomada do crescimento econômico, da melhoria das nossas condições de vida.
Impertinentes como sabem ser, e desagradáveis a maior parte das ocasiões, os dados mostram que não houve reação da arrecadação em agosto. Ao contrário, a queda continuou em ritmo forte, fazendo com que o resultado fiscal em agosto apresentasse pelo quarto mês consecutivo, valor negativo.
Pela informação do Valor Econômico, o déficit do governo central, que considera os resultados apenas do Governo Central ou Tesouro, do Banco Central e da Previdência, é estimado em R$ 18,2 bilhões em agosto, desnecessário dizer que muito pior que o resultado obtido em agosto de 2015, quando atingiu 5,1 bilhões.
OK! Esses números não passam de estimativas. mas o déficit previsto pelos entendidos de mercado para suas contas reais, difere do que apresentam como realidade rósea ao povo: o déficit seguirá crescente, prevêem os entendidos.
Quanto ao comportamento da arrecadação desse país que começa a crescer nas reportagens dos jornais televisivos que invadem nossas salas às noites, a expectativa é de decepção, caracterizada por forte redução.
Mas nada disso importa e, convenhamos, na hora do lanche ou do jantar, com a família reunida à mesa, é mesmo positivo que se apresente à população uma realidade mais confortável, mais aconchegante, para não atrapalhar sua noite de sono tranquilo e restaurador.
***
Vivemos um mundo em que nada aconteceu, nem poderia ter mesmo havido qualquer reação, mas isso pouco importa. A verdade a gente cria como deseja. Os dados a gente manipula como é de nosso interesse.
O presente a gente muda, como tentou demonstrar nosso desperdiçado ministro da justiça, o hilário Bruce Willis caboclo, ao tentar desdizer o que afirmou em Ribeirão Preto, jactando-se de conhecer informações de que não poderia tomar conhecimento...
Pena, para nosso frustrado ator, que havia gravações feitas. Mas que sempre poderão ser apagadas, em uso do mesmo recurso da obra orwelliana.
***
Por isso, também as pesquisas de opinião indicam que o povo brasileiro acredita que a mulher vítima de estupro é, na verdade, a algoz, levando o homem, constrangido, embora apenas levemente, a saciar sua vontade em ser atacada, usada como objeto, desrespeitada em sua vontade.
***
Esse é o país que temos. E qualquer tentativa de mudá-lo vai esbarrar nos interesses poderosos dos setores mais conservadores, dos que se aproveitam do status quo, dos que se locupletam com as mazelas de nosso povo, dos que temem a mudança.
Exceto se for para dar espaço para que as múmias, como temer, possa ocupar o lugar. Representando a mudança para permitir que tudo permaneça como sempre foi.
***

Amenidades

Depois de tanto tratar das realidades fantasiosas e aprazíveis que marcam nosso país, cada vez mais e, especialmente no governo usurpador de temer, devemos dar uma oportunidade para a manifestação de momentos mais amenos.
Exemplos de tais amenidades, são as referências e recomendações de locais para a realização de programas que nos permitem esquecer as agruras do dia a dia, abrindo espaço para uma diversão mais sadia, rodeada por aqueles que frequentam nosso círculo de amizades.
Momentos de lazer necessários e obrigatórios. Em ambientes descontraídos, agradáveis, bucólicos até. E muito, mas muito bem servidos.
Refiro-me em especial, a uma descoberta feita recentemente, de um espaço adequado para um happy hour, um fim de tarde, ou um evento como uma reunião de aniversário ou encontro de amigos de turma de escola. Falo do Kombinati, o espaço da pizza truck.
O endereço é Rua dos Otoni, 156, o fone é o 31-87710020. Creio que deve ter um 9 na frente.
O simpático Fred Brant e sua esposa Patrícia são os proprietários do local, que está instalado em uma vila, daquelas antigas, em que, a partir de um portão de entrada para a rua, como se fosse uma garagem, a gente atinge uma espécie de largo, em que se encontram a entrada de três simpáticas casas.
O terreno, além de garagem, é cercado de árvores de frutas, como jabuticaba, pitanga, amora, sob a qual ficam instaladas as mesas.
Ao canto, uma kombi antiga, transformada em food truck serve pizzas de vários sabores, com massa super fina e de extremo sabor.
Fizemos lá a comemoração do aniversário de minhas filhas. Um show de lugar e atendimento. Vale a pena!
A Kombinati também sai às ruas, com uma segunda Kombi, pronta a servir as saborosas pizzas.
Sem esquecer, o Tiago e a sua esposa Paloma, que auxiliam no atendimento, contatos podem ser feitos pelo site: kombinati.com.br. Ou pelo email: kombinatifoodtruck@gmail.com.
***
Outra recomendação é a de Fernando Monteiro, cantor e músico de MPB, de excelente qualidade e capaz de fazer a música servir para embalar as conversas, sem ficar disputando o espaço da boa prosa. Independente disso, a qualidade e a sonoridade permite que todos os ouvintes saibam e possam em alguns momentos cantarolar alguma canção.
Fernando também tem um site: www.fernandomonteiro.com.br e seu contato pode ser feito pelo 31-988068290 ou pelo email: contato@fernandomonteiro.com.br.
Também vale muito a pena.
***
E ajuda a gente a encarar nossa realidade de forma mais tranquila.


Nenhum comentário: