Reunido ontem, o COPOM decidiu promover mais uma redução da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.
A medida, que contraria as indicações do próprio colegiado no sentido de que teria chegado ao fim o período de reduções da taxa já era esperado pelo mercado, ou precificado pelo mercado, conforme o jargão dos profissionais da área.
Curioso é verificar que não apenas já esperavam, mas os analistas de mercado conseguiram até mesmo acertar o percentual da redução e, consequentemente, a nova taxa: de 6,5%. A menor taxa em toda a história do regime de metas do país.
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A primeira reflexão que faço é relativa ao comportamento da imprensa, da midia como um todo, em relação à decisão da Autoridade Monetária.
Isso porque, em 2011, quando Alexandre Tombini, então presidente do Banco Central, presidiu uma reunião responsável pela redução da Selic, pegando todo o mercado desprevenido e, provavelmente provocando perdas às instituições financeiras que apostavam na direção contrária, a imprensa e as vozes do mercado imediatamente vieram a público criticar a medida.
Segundo eles, a redução havia sido uma ordem dada pelo Planalto ao BC, um sinal flagrante da ausência de autonomia do Banco e de seu presidente, que passou a ser apelidado de Pombini (de forma a ironizar sua passividade!).
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Agora, com o golpista temer no lugar de Dilma, e com um reconhecido homem do mercado no lugar de Tombini, ninguém se manifesta e todos elogiam a autonomia. Autonomia talvez em relação ao governo (desgoverno temer), mas não em relação aos mercados.
Na verdade, cada vez mais o Banco Central mostra ter sido capturado pelo mercado e seus interesses não necessariamente populares.
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No caso específico, da redução da Selic para 6,5%, é inegável que a população até se sente beneficiada.
Afinal, com a redução do custo do dinheiro, os bancos poderão promover redução nas taxas de crédito ao consumidor, em suas várias linhas de operação, como alguns grandes bancos já se comprometeram a fazer ou estão anunciando em propaganda.
Nitidamente, isso interessa à grande maioria das famílias, endividadas, que poderão renegociar dívidas barateando o custo de sua obrigação.
Outras, poderão voltar às compras, depois de 3 anos se privando de compras de bens de maior valor, como resultado da crise vivida pelo país.
Logo, a redução de juros sinaliza uma nova etapa de incentivo ao consumo, e também a alguma decisão de investimento, embora em menor escala.
Isso porque o investimento não depende, necessariamente apenas do custo do dinheiro a ser gasto, mas da rentabilidade esperada, do grau de confiança dos empresários no comportamento da economia e, nos tempos atuais, do ambiente político tendo em vista as eleições. Mantendo-nos no âmbito da economia apenas, há que se recordar como vários economistas têm assinalado que há um grau de ociosidade muito elevado na indústria, e que empresários racionais não farão inversões para ampliar o grau de capacidade sem utilização.
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Isso significa que o crescimento da economia, em bases sólidas, continuará reduzido. Significa que a retomada não será sustentada, ou algo para se apostar, no curto e médio prazo, e que o consumo será, mais uma vez o carro chefe da recuperação.
Ou seja: o que era o fator responsável pelo crescimento econômico tão criticado nos governos Lula e Dilma - o consumo, volta a ser o carro chefe de nossa reação. Só que agora, com aplausos e elogios.
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Nesse sentido, dá até para se questionar se o Copom não promoveu nova redução dos juros, e deu alento ao consumo, em acordo com as necessidades do ocupante ilegítimo do Planalto, que já reconheceu, nos últimos dias, sua provável candidatura à reeleição.
Apenas que, com o grau de aprovação de seu (des)governo no chão, só mesmo com os efeitos de piroctenia da intervenção parcial na segurança do Rio, e agora, algum estímulo ao consumo, temer pode acalentar tais sonhos.
O que nos leva a questionar se há tanta autonomia assim, do BC em relação não só aos mercados, mas também ao ocupante do Planalto. Nesse caso, um ocupante que nada mais é que menino de recado dos interesses empresariais junto à sociedade brasileira.
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A Selic caiu também por que o PIB de janeiro caiu, apresentando comportamento negativo, o que pode provocar uma grande frustração em relação às previsões da taxa de crescimento da economia para esse 2018.
Em janeiro, a variação foi de algo próximo de -0,5%, levando muita gente a duvidar de um crescimento de 3%.
Além disso, a inflação em fevereiro, a menor em muitos anos para o mês, indica que no acumulado do ano, ainda estamos abaixo do limite inferior da meta de inflação prometida.
Logo, há espaço para que a inflação possa subir alguns pontos, ainda mais sabendo-se que qualquer estímulo à elevação da demanda pode ser atendida apenas por recuperação do grau de utilização da capacidade instalada, o que não acarreta elevação de preços.
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Uma observação adicional é a de que a Selic cai no mesmo dia em que o FED anuncia uma elevação das taxas de juros básicas nos Estados Unidos, de 0,25%, com as taxas situando-se entre 1,5 e 1,75%.
Ora, se no passado essa elevação da taxa americana iria gerar uma correria para elevar nossa taxa de juros, hoje a situação é contrária.
E reduzir a Selic favorece a que alguns aplicadores prefiram tirar dinheiro de aplicações em nosso país, para aplicar nas taxas, agora mais rentáveis e sempre mais seguras, dos títulos americanos.
Como isso provoca uma desvalorização do real, tal medida ainda poderá, de quebra ajudar nosso setor exportador, que vem sendo o responsável pelo soluço do PIB, que alcançou 1% de crescimento no ano passado.
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Maiores exportações podem ser uma forma de dar alento à economia, ainda mais em momento em que as medidas protecionistas de Trump, em relação ao aço, em especial, poderiam trazer problemas, não na balança comercial, mas para a expectativa de crescimento e de emprego.
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É verdade que o FED apenas rosnou, ontem, decepcionando aqueles que esperavam uma política monetária mais agressiva. O que explica porque a cotação do dólar voltou a cair ontem, no Brasil e em todo mundo.
E serve também para justificar porque alguns analistas acreditam que o fluxo de recursos para o Brasil não deverá ser afetado, o que significa que se a Selic não caísse, a estabilidade do câmbio poderia dar lugar a uma valorização de nossa moeda, agravando mais ainda a situação de nossas exportações e nossa demanda agregada e nossa recuperação.
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Supremo bate boca e julga hoje o destino de Lula
Depois de mais uma de suas intervenções destemperadas, em que aproveitou para disparar sua metralhadora giratória, contra tudo e todos, inclusive seus colegas de Supremo, Gilmar Mendes, acabou tendo que se defrontar com a reação inesperada de Barroso.
Reação até tardia, tendo em vista outras agressões de que o ministro foi vítima, algumas pela imprensa, o que mostra como gilmar mendes consegue ser deselegante, além de todas as outras impressões que ele transmite e que o leva a ser mal visto pela grande maioria da população que clama por seu impeachment.
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Mas, é bom lembrar que, por mais deselegante que possa ser e ter sido ontem, ao tecer críticas ao comportamento da presidente da Corte e sua forma de pautar os temas a irem ao plenário, ele acabou fortalecendo a tese da defesa de Lula.
Como ao criticar Fux, falou verdades a respeito do abuso que tem se transformado a questão dos penduricalhos dos magistrados e, pior, de todas as categorias que pegam carona nas benesses dos juízes.
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O que parece ser uma manobra para não parecer, como tradicionalmente o faz, que apenas julga de acordo com seus interesses pessoais e políticos, apenas salvando os amigos, sem qualquer preocupação em fazer justiça.
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Ocorre que, mesmo no Ultimate Fighting ridículo que o Supremo tem se tornado, é mais que compreensível a reação emocional de quem sempre tem sido vítima de agressões causadas por laivos de psicopatia de gilmar.
Nesse caso eu, como a grande maioria da população parece fazer, torcemos para Barroso.
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E hoje o STF tem a oportunidade de mostrar se é mesmo garantista, como diz Marco Aurélio Mello, e aplica a Constituição em sua integralidade, ou se ao contrário, é um colegiado que se deixa levar pela opinião pública sempre manipulada por grupos de interesses.
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É sempre bom lembrar que a Constituição parte da presunção da inocência, e que assegura que até o trânsito em julgado em última instância, não há como considerar o réu culpado, sob pena de a presunção de inocência ir para o ralo.
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Logo, ou a Globo faz o movimento todo que é capaz de fazer para influenciar e manipular e obter a satisfação de suas vontades, para alterar a Constituição, no que diz respeito a essa questão, o que nem sei se pode ser alterado, caso seja uma das cláusulas pétreas, ou não pode prosperar essa ideia aprovada em votação anterior do STF, pela votação apertada de 6 a 5.
É bom que se diga, nada, necessariamente a ver com Lula, embora ele possa ser um dos beneficiários da discussão e até revisão da decisão.
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E nem é só Lula. Há tantos outros, vários da Lava-Jato, que temos visto o absurdo criticado pelo ministro Mello, de procuradores e até um juiz de menor envergadura, como moro, vir a recomendar a manutenção da possibilidade de prisão em segunda instância.
No caso de moro, talvez apenas como caixa de ressonância dos anseios da rede Globo.
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É isso.
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