segunda-feira, 14 de maio de 2018

Matança dos militares e novos castigos indicados por Bolsonaro para aplicação nos filhos desobedientes

Segundo domingo, 13 de maio. Para o comércio e a mídia, ambos desesperados com a reação arrastada e tímida da economia brasileira, o Dia das Mães. A segunda data mais festejada e a vice-líder de vendas, situada atrás apenas do Natal. 
O que é, no mínimo, curioso, em se tratando da homenagem a que se dedica: afinal, embora batida a afirmação, o dia da mãe é todo dia. 
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Depois de saído do útero para o mundo exterior, o filho invade o cérebro, já dominado de há muito tempo, o coração da mãe, nos ensina a vida. 
E é assim com todas as mães, mesmo aquelas que, dominadas pelo desespero e o medo da incapacidade de ser mãe, busca a felicidade do filho, pela negação de seu direito a passar anos a fio de sofrimento, penúria, humilhações. Ou seja, de não vida. 
Mas essas mães são, felizmente, exceção. 
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Por acaso, quis o destino que se comemorasse também nesse domingo, a abolição da escravatura no país. A data da assinatura da lei Áurea, figurativamente a mãe da liberdade de todos os negros do país. 
Liberdade dada, sempre diferente da liberdade conquistada, especialmente nos limites de sua concessão. No caso dos negros do país, em minha opinião, uma liberdade para se tornar mercadoria, embora uma mercadoria de segunda qualidade, dado seu pouco preparo (qualificação) e a ausência de preocupação de sua valorização sob qualquer forma que fosse capaz de aproximar a qualidade dessa mercadoria, o trabalho, daquela de propriedade dos antigos homens livres do país. 
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Ao negro, sempre coube o trabalho mais vinculado apenas ao aproveitamento da força física, o trabalho em atividades consideradas menos dignas, de remunerações menos capazes de permitir ao menos uma condição de vida menos degradada. 
Libertos, saídos dos empregos onde tinham assegurado, ainda que em condições precárias, ao menos um teto para si e sua família. Tendo sigo treinados para trabalhar (um sacrifício) apenas sob o estalar da chibata e a ameaça de castigos, tendo percebido que o cuidado com máquinas e ferramentas era apenas a forma de manter sob bom estado o instrumento de sua opressão, os negros não tinham a necessária disciplina para o exercício do trabalho assalariado, em que sua remuneração representava antes de mais nada um custo para o seu empregador. 
A consequência: a tentativa de rebaixamento do valor pago, comercializado em condições sempre desfavoráveis aos negros, já prejudicados por, em uma tacada só, provocarem uma grande pressão no mercado de trabalho, com o aumento da oferta de uma tacada só. 
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Criada e homenageada como a mãe da liberdade dos negros, a Lei Áurea foi menos mãe, muito mais madrasta daquelas dos contos de fada, cada vez mais distantes das chamadas madrastas das modernas famílias, cada vez mais comuns em nossos dias. 
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Mas, volto à data festiva do dia das mães, apenas para poder homenagear algumas mães que já não se encontram entre nosso convívio, como a estilista Zuzu Angel, mãe de Stuart Angel, morto pelas forças da repressão militar. 
Embora com riscos para sua própria sobrevivência, a estilista, amparada por seu prestígio e pelo fato de ter sido casada com um cidadão  americano,  fez tudo que lhe estava ao alcance para ter o direito de reaver o corpo de seu filho. 
Em uma dessas tentativas de mãe desesperada, procurou o general Geisel, aquele que não gostava do Chico Buarque, apesar de sua filha gostar, e que acabava de ser indicado e assumir o posto de novo presidente ditador do Brasil. 
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A título de curiosidade e para não deixar passar batido, conta a história que o nome indicado para o cargo de presidente-ditador teria sido o do general Orlando Geisel, poderoso ministro do Exército do governo Médici que, por problemas de saúde tramou para que seu irmão, Ernesto fosse o eleito. 
Eleito Ernesto, a verve cômica do povo brasileiro, criou imediatamente a versão da história que circulava em círculos restritos e sob cochichos. 
Pela versão jocosa, listaram os principais generais de exército e pediram a um computador que selecionasse aqueles mais inteligentes e capazes. Da lista gerada, pediram que computador indicasse o mais honesto. Ao que o computador depois de um tempo longo de análises cuspiu a solução afinal adotada. Dizia o bilhete impresso: não tem honesto. Não serve Ernesto?
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Conto a anedota, não apenas por motivo de recordações, mas para deixar claro que, mais que a questão da tortura e barbárie, a visão das autoridades militares, e de seu governo era, ao contrário do que hoje muitos acreditam ter sido o caso, de total bagunça, total desmando, falta de autoridade até, além de muita corrupção e roubalheira. 
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Nas palavras de Elio Gaspari, em sua coluna de ontem, "para as vivandeiras e napoleões de hospício de hoje, o documento da CIA ensina que na ditadura praticaram-se crimes, e aquilo que pretendia ser ordem era uma enorme bagunça." 
Para reforçar outro argumento utilizado em meu texto, também do mesmo colunista, "o general (Geisel) sabia que havia uma matança, autorizou que continuasse e os americanos acharam que ele a controlaria". Ledo engano. 
De onde se conclui que nem autoridade vigorava, como se acredita, naquele período. 
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Para deixar bem claros minha posição e meu pensamento; onde a disciplina e a hierarquia contam mais que a liberdade e a capacidade de criticar, sugerir e escolher, aí é que a sociedade já perdeu sua característica de soberania e de dignidade. Nesses casos, está aberto o espaço para que todo o tipo de barbaridade possa ocorrer, sem que seja dado o direito a ninguém de se opor a exercer seu mais elementar e fundamental direito: o de ter uma vida digna e produtiva. 
Ao contrário do que pensam os que se iludem com o poder divulgado pelos militares, que na verdade é apenas a renúncia que cada um desses cidadãos, de boa fé, faz dos seus desejos, das ações necessárias e da vontade de alcançá-los, sempre trabalhosas e sempre enfrentando a oposição de outros que têm visão distinta do que deveria ser a sociedade. Em síntese, são pessoas que se acovardam das lutas, discussões e dos argumentos para convencer e aceitar que a sociedade seja uma construção coletiva. Onde todos têm direito a opinar e sugerir o que desejam. E o funcionamento das coisas. 
Razão da noção de que a democracia é uma grande bagunça. 
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Como se vê, não maior que a bagunça e oportunidades de atitudes desonestas das autoridades hierarquizadas, militarizadas, e que usam do poder e da força para manterem essa ideia falsa. 
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Dia das mães. A descoberta dos documentos da CIA e sua difusão para o grande público. a presença de um ex-militar como bolsonaro na corrida eleitoral, ocupando o primeiro lugar nas pesquisas sem a inclusão do nome de Lula, a vinda do candidato militar a Belo Horizonte e suas frases, são todos eventos que guardam uma relação em especial. Até pelas declarações de bolsonaro. 
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Em sua passagem por Belo Horizonte, o ex-militar, cuja folha no exército é cheia de censuras e punições, declarou que, tal como o PT e Dilma teria usado o governo para dar cargos a vários de seus companheiros de subversão, também ele, se eleito, iria privilegiar seus ex-colegas de farda no preenchimento dos postos do ministério. 
Que militares ocupem cargos no ministério, não há qualquer originalidade, tantos foram os ministérios que ocuparam sem qualquer êxito, no período da ditadura militar. 
Logo, a sua indicação de que terá 15 militares, no mínimo em sua equipe, apenas serve para deixar claro que teremos a volta dos militares ao poder, o que somado ao fato de terem as armas a sua disposição, nos aproxima cada vez mais de um golpe autoritário em potencial. Com nova longa noite de horrores, já que até nesse quesito, entre um Castelo ou mesmo um Geisel e um bolsonaro, esse último nem mesmo tem qualquer predicado daqueles assassinos anteriores. Com  a possibilidade de, ao fim, ele mesmo se tornar também um criminoso do tipo. 
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A segunda frase, confesso que levanta várias dúvidas em meu espírito. Afinal ao afirmar que todo pai já deu palmada no bum-bum do filho e depois, certamente, se arrependeu, o que esse bossal nato quis dizer: que as mães cuja data o comércio comemorava, deviam deixar de dar palmadas no bum-bum dos filhos e passar a torturá-los com pau de arara e choques elétricos? Que deveriam matar os meninos mais recalcitrantes, jogando-os de aviões na Baía da Guanabara?
Que deveriam matá-los e esconder o corpo em vala comum, impossibilitando-os de serem identificados?
Ou que as mães deveriam consultar o general Figueiredo ou outro qualquer que estivesse vivo, para que a punição aos filhos fosse autorizada devidamente?
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Então, pais e mães já perceberam que a ausência tão reclamada de limites na educação dos filhos pode sim, ser revertida, pelo enquadramento dos pequenos por tortura, ou por mera finalização ou matança dos meninos. 
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Para qualquer pai, ou mãe, a visão que se apresenta é a de que, há certo arrependimento na tomada desse tipo de decisões de castigo, mas... esse é o preço do combate à desordem e o valor da disciplina. 
Para que no futuro, as famílias reduzidas ao casal possam em paz comemorar a ordem e o progresso. 
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bossal nato tem tudo a ver, com o dia das mães. Ainda mais se lembrando que, por culpa de outra coincidência, a data esse ano coincide com a de 13 de maio, onde na Cova de Iria, a Igreja católica comemora a aparição de Nossa Senhora de Fátima para os irmãos e primos portugueses. 
Como que a nos indicar que, com a perspectiva de eleição de um ex-militar, capaz de sugerir os novos castigos acima indicados, a solução mesmo é deixar o país e ir aparecer em Portugal. 
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Valha-nos Deus. 

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