terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mudou Delfim ou mudei eu? Mudamos todos

Quem diria! Um dia, estaria orgulhoso de ter a meu lado, o ex-ministro Delim Netto, a quem tanto critiquei, desde meus tempos de estudante.
Sinal de que as coisas mudam. E que só não mudam seu jeito de pensar os que não pensam. Talvez impedidos de o fazerem.
Afinal, como já disse um sábio, cujo nome não vem ao caso, já que esqueci, não tenho nenhum problema em mudar de idéia. Isso é apenas sinal de que eu penso.
Pois bem, mas o homem que um dia tornou célebre a teoria do Bolo: aquela que não era possível tirar o bolo do forno antes que ele crescesse, senão não haveria fatias de bolo grandes, nem para muita gente; o homem que defendeu o processo de concentração escandaloso de renda, acontecido nos idos do período do Milagre Econômico e da ditadura militar. Esse homem, que sempre foi acusado de ser o representante dos grandes interesses do empresariado, e que patrocinou um processo de concentração bancária colossal, ainda no fim dos anos 60, que culminou com a fase áurea de crescimento do Bradesco (saudades do Banco Mineiro do Oeste, de Joãozinho Nascimento Pires!), mudou.
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Da mesma forma que outros economistas famosos, como Hicks, como a própria Joan Robinson, que ao longo de sua trajetória mudaram de opinião, Delfim parece , ao longo dos tempos abandonado alguns conceitos e posições que lhe foram atribuídos.
Ninguém questiona sua inteligência e seu brilho. Não há que se por em dúvida seu conhecimento e sua sólida formação. Como seu agudo senso pragmático.
Mas, talvez o mais significativo agora seja ter desenvolvido uma postura voltada para a defesa de interesses mais populares. Ou não? Afinal, defender a queda das taxas de juros, falar no altíssimo custo social que a manutenção da taxa em níveis elevados não é, necessariamente, ter mudado a postura favorável ao crescimento, ao investimento e, em última análise ao empresariado.
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De qualquer forma, pode até ser que quem tenha mudado seja eu. Mas, ainda assim, o texto de Delfim, na Carta Capital de 11 de setembro, vale uma homenagem.
Com o título de Arrogantes injuriados, Delfim ataca os arrogantes analistas que defendem os interesses dos clientes rentistas e, como tal, não perdoam o fato de o BC ter dado, com a queda da taxa Selic, "a primeira demonstração em muitos anos de um BC independente perante o sistema financeiro privado... (para) voltar a ser um organismo do Estado brasileiro."
Por tratar da questão de um ângulo que coincide em vários aspectos com o próprio raciocínio que eu já havia exposto nesse blog, fico satisfeito e orgulhoso de estar na companhia de um economista que, mesmo não concordando muitas vezes com a opinião política, sempre mereceu meu respeito.
Para quem quiser apreciar o bom texto, o link é:

Vale a pena ir lá, dar uma conferida.

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