sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ainda e mais uma vez, sobre a recessão mundial e a queda dos juros no Brasil

Talvez não fosse o caso de voltar ao assunto. O que tinha de ser dito já foi dito. Ou não?
O Estadão continua dando espaço para analistas do Deus Mercado e, para os corifeus das assessorias e consultorias financeiras, como é exemplo o ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, o BC errou. E errou feio ao reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros.
O comentário crítico foi feito depois da leitura da Ata da última reunião, publicada essa semana. Segundo o analista, o único ou o mais considerado pelo jornal dos Mesquita, a Ata não convenceu a ninguém. E apenas fez apostas, todas a respeito de um cenário internacional que pode não se configurar.
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É verdade. Desde Knight, até antes de o próprio Keynes ter tratado de forma escancarada em seu livro Teoria Geral, sabe-se que o mundo das decisões econômicas, o mundo da economia, é todo ele baseado em expectativas. Ou seja, apostas em relação ao futuro.
Então, o que Schwartsman na verdade deve ter dito ou queria dizer, sem que o repórter o entendesse é simplesmente isso. Que ele, como todo o mercado, está apostando do outro lado da mesa. Conhecedor dos autores citados como poucos, a verdadeira crítica não está no fato de que houve uma aposta. Mas no fato de que a aposta não é a que ele está fazendo. E pior: quando a Autoridade Monetária faz uma aposta desse nível, ela tem uma certa capacidade de fazer os agentes alterarem suas expectativas. Em geral, na direção que a Autoridade desejava. Que no caso específico dos juros no Brasil, são a direção que interessa e que é a melhor para a sociedade brasileira. Não a direção que o sacrossanto Mercado torcia para ver implantada.
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Mas, voltamos ao tema não foi para discutir as qualidades do economista. Nem o fato de o Estadão estar firmemente engajado na campanha para o resgate da independência do Banco Central, maculada pela intromissão política, e pelos interesses pouco republicanos de Guido Mantega e Dilma. Afinal, o que querem esses dois personagens, exceto o crescimento e fortalecimento da indústria do Brasil e do ritmo de atividades e de emprego?
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O que me faz voltar ao tema é tão singelo quanto a declaração da diretora-gerente do FMI, que transcrevo abaixo. Está no IG de hoje:
"A diretora-gerente do FMI afirmou que as expectativas de inflação "estão bem ancoradas e relativamente baixas" e que, de uma maneira geral, "a política monetária deve permanecer altamente acomodatícia, porque o risco de recessão supera o risco de inflação".
Ora, é não era exatamente esse o argumento que os analistas usaram de forma abusiva para criticar o BC brasileiro? Não foi o abandono do instrumento das Metas de Inflação, do controle da inflação, etc. que eles tanto utilizaram para atacar a medida que os desagradava?
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Mas não é só. A verdade é que a diretora continuou falando e, ainda de acordo com o IG:
"a diretora do FMI disse que o mundo está sofrendo com uma crise de confiança, em face a uma deterioração nas previsões econômicas e os crescentes receios com dívidas soberanas e a saúde dos bancos."
E, só para mostrar que as apostas do BC, conforme a Ata não convencem a ninguém, fiquemos com mais esse trecho do IG:
"A verdade é que a atividade global tem desacelerado e os riscos de queda aumentaram, e ao mesmo tempo o reequilíbrio na demanda que todos nós estávamos esperando para chegarmos a um crescimento sustentável se interrompeu", disse Lagarde em uma discussão sobre a economia global na Chatham House, em Londres."
Christine Lagarde, diretora-geral do FMI também apostando do lado errado.
Aliás, apostando não! Apenas dando vazão à idéia que toda a equipe econômica do Fundo vem advogando.
Ontem, no Terra, foi um analista do Fundo que elogiou a postura do Banco Central do Brasil, ao reduzir os juros, em razão do cenário que se descortina de queda do crescimento e recessão global.
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Bem, eu não podia deixar de brindar a meus seguidores, se ainda restar algum, com essa informação que acho deve tranquilizá-los.
O BC não errou. Está no caminho certo, infelizmente para todos nós, que não gostaríamos e torcemos para que a recessão não se instale.
Tomara que todos tenham juízo para evitar esse evento.
Oxalá nossas apostas estejam mesmo erradas. Ou exageradas. Enfim, ninguém quer ver o circo pegar fogo, só para ver o palhaço fazendo humor de improviso.

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