terça-feira, 20 de setembro de 2011

Promessa da Grécia vai na contra-mão? Menos Estado?!!

Reproduzo, abaixo, parte do texto publicado no portal Terra, sob o sugestivo subtítulo de Entenda (em referência à crise grega):

" No auge da crise de crédito, que se agravou em 2008, a saúde financeira dos bancos no mundo inteiro foi colocada à prova. Os problemas em operações de financiamento imobiliário nos Estados Unidos geraram bilhões em perdas e o sistema bancário não encontrou mais onde emprestar dinheiro. Para diminuir os efeitos da recessão, os países aumentaram os gastos públicos, ampliando as dívidas além dos tetos nacionais. Mas o estímulo não foi suficiente para elevar os Produtos Internos Brutos (PIB) a ponto de garantir o pagamento das contas."

Dada o imperativo do título, tentemos entender o parágrafo: na verdade, desde 2007, mas com maior ênfase em 2008, por força de concessão de créditos de qualidade duvidosa, os bancos americanos passaram a apresnetar graves problemas em seus demonstrativos contábeis, por força do reconhecimento de  perdas de bilhões de dólares não recebidos.
Poder-se-ia perguntar: porque esses bancos fizeram operações de qualidade questionável, algumas sabidamente impagáveis?
A resposta é simples: porque davam muita rentabilidade e muito lucro. E isso em razão de a economia estar crescendo, o que criava a sensação de que empréstimos feitos hoje seriam pagos com o aumento de renda de amanhã. Na verdade, um crescimento provocado por uma bolha imobiliária, que nos obrigaria a reescrever a frase acima para melhor esclarecimento. 
Os bancos emprestavam hoje, por saberem que amanhã os preços dos imóveis iriam estar mais valorizados e, uma vez que eles eram a garantia (hipotecária) da operação, eles não teriam perdas.
As pessoas tomavam empréstimos em proporções maiores que suas rendas, por saberem que, posteriormente, poderiam vender os imóveis financiados por preço muito maior que o que haviam pago. Com a diferença cobririam as dívidas.
Além disso, os bancos empurravam essa carteira de créditos de qualidade duvidosa para bancos de investimento, em operações de securitização de débitos. Esses bancos de investimento transferiam esses papéis para fundos de aplicação financeira, cujas cotas eram lançadas no mercado e adquiridas por outras instituições, empresas, famílias, que aproveitavam os ganhos atrativos pagos pelos fundos.
Todos ganhavam e, não seria surpresa verificar que muitos tomadores de empréstimos impagáveis, estavam também do outro lado da operação, aplicando nos fundos em seus próprios títulos podres, desmembrados e sob outra denominação.
Tudo ia maravilhosamente bem: irracional; exuberante; mas lucrativo e rentável. Parecia que, enfim, havia sido descoberto o moto contínuo da fabricação de riqueza em sua forma mais abstrata do dinheiro, a partir da própria riqueza fictícia.
Mas, para não interromper esse mecanismo, era necessário que as pessoas, todas, os agentes econômicos continuassem acreditando que tudo ia continuar funcionando bem. Em especial, os preços dos imóveis se valorizando.
O problema é que, em um dado momento, alguém se perguntou como que algo fictício, poderia gerar riqueza concreta. Começou a desconfiança e ...
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Veio a crise, os bancos não receberam os recursos emprestados. Receber os imóveis das garantias não servia de consolo, já que seus preços desabaram. Os agentes correram para vender os imóveis, buscando liquidez para honrarem seus compromissos o que provocou uma autêntica deflação de ativos.
Reconhecidas as perdas, alguns bancos precisaram de se financiarem para honrar e tranquilizar seus clientes, mas encontraram os mercados fechados. Temendo ser arrastados por operações de ajuda a seus pares em dificuldades, os bancos que tinham conseguido escapar da realização dessas operações, muito comuns, de empréstimos interfinanceiros, negaram-se a renovar esses financiamentos.
Dominados pela incerteza e pelo temor de conceder e renovar empréstimos a instituições que estavam em bancarrota, a aversão ao risco levou à restrição de crédito.
Sem renovação de linhas de financiamento, e com o temor de incorrerem no fenômeno de seleção adversa ( a possibilidade de se realizarem operações de empréstimos apenas a taxas muito altas, para compensar o risco, emprestando exatamente para quem concordava em pagar tanto, por já não ter, desde o início, qualquer intenção de pagar), os bancos pararam de financiarem empresas e seus processos de produção.
A recessão dominou o mundo e se instalou em todos os países, uns mais outros menos.
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Foi nessa hora que, para ajudar aos empresários e restabelecer o nível de confiança e lucratividade das operações produtivas, além de tentar evitar os efeitos deletérios da recessão - a saber, o monstro do desemprego-, os governos ampliaram seus gastos, criando e ampliando suas dívidas.
A alegação de que estavam combatendo os efeitos do desemprego, e ajudando à população de maneira geral, esconde o fato de que, o que se via era também, e acho eu que principalmente, uma ajuda aos empresários na manutenção de seus negócios, sua produção, suas vendas e seus lucros.
Prova disso é a quantidade de dinheiro injetado diretamente nos bancos, para salvá-los de uma quebradeira.
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Pois bem, quando os negócios vão mal, o governo deve se agigantar e crescer. Ampliar seus gastos e, como é tradicional, ao menos desde os primórdios da ciência econômica, compete aos Estados o papel de desobstruir os caminhos para o processo de acumulação e desenvolvimento capitalista.
Foi o que se fez.
No entanto, ao proceder dessa forma, o Estado se endividou mais, bem mais que o que seria viável. E o custo ficou maior que o pretendido.
Por outro lado, as economias reais não reagiram. O temor e a incerteza continuaram pairando sobre a cabeça de todos. 
Com medo de perderem seus empregos, e escaldados, os agentes não correram para dar continuidade às despesas de consumo. Sem pedalarem, a bicicleta não se equilibrou e as compras não reagiram. A produção não voltou a crescer, a renda não se elevou no montante esperado e os governos não arrecadaram o suficiente para cobrirem as suas dívidas.
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Bem, a crise grega mostra que, mais uma vez, o problema está presente. A recessão ameaça cada vez mais próxima. 
E nesse momento, em que os governos não conseguem eles mesmos renegociarem suas dívidas, ameaçando tornarem-se inadimplentes, e têm seus papéis rebaixados, a ordem é: parar de gastar. Diminuir o nível de seu endividamento. 
O que seria o mais desastroso, nessahora, em minha opinião.
Afinal, como já lembrou Krugman, o prêmio Nobel de Economia, ao parar de gastar, o governo estará apenas colocando mais lenha na fogueira, e ampliando e trazendo cada vez mais para o presente, a crise recessiva, até então, apenas postada no horizonte.
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Em conclusão: para ajudar o capital a se desenvolver, e se reproduzir, o Estado serve muito bem. 
Mas, mesmo nas horas em que precisa desse Estado para desobstruir a rota do desenvolvimento, a ideologia capitalista dominante e os interesses capitalistas procurarão estabelecer algum mecanismo que assegure que, vencida a turbulência, esse Estado reduza seu poder e sua influência. Afinal, é sempre necessário impor limites à atuação do Estado, submetendo-o, controlando-o, deixando que as forças do mercado livre possam atuar às cegas, sem restrições, como costumam agir. 
Ao menos, até que tais forças, em sua cegueira, conduzam o mundo e a sociedade, a outros e novos embaraços.



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