segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pitacos variados

De doenças.

Muito tocante, bonita, a homenagem feita pelos jogadores do Vasco a Ricardo Gomes, quando o técnico e ex-jogador sofreu o AVC que o levou à internação, e do qual ele vem se recuperando.
Soube até que outros jogadores e outros times também homenagearam, merecidamente, o técnico.
Mas, por que não houve, ou não foi noticiada nenhuma homenagem ao Dr. Sócrates, também atravessando problemas sérios de saúde?
Ops...minto!
Ontem na Folha, p. 2 do Caderno principal vi uma coluna, a primeira, do Fernando, que prestava uma homenagem das mais merecidas ao Doutor.
Mas, só.
De times e/ou jogadores, nada. Ou, se houve, não foi mostrada. O que me leva a questionar a diferença de reação e tratamento entre as duas situações, de Ricardo e de Sócrates.
Estaria a diferença ligada ao fato de a doença que vitimou o Doutor ter origem distinta, muitas vezes encarada como resultado de um vício, uma fraqueza de seu portador?
Seria a explicação o fato de Sócrates ter se destacado no Corínthians e, como tal, não merecer homenagens de outras torcidas, o que seria um absurdo?
Ou o silêncio ter também uma explicação de cunho ideológico, já que Sócrates foi um dos idealizadores do movimento da Democracia Corínthiana?
Aquele movimento que ousou mostrar ao mundo que jogador de futebol não era a criança mimada, nem o idiota apalermado que podia ser muito bem manipulado e usado pelos cartolas e políticos em eventos e com objetivos vinculados apenas aos interesses pessoais dessas pessoas.
Ao mostrar para todos que o jogador de futebol era um trabalhador como qualquer outro, a quem não bastava receber uma bola para ficar se divertindo em um espaço qualquer; ao mostrar que o jogador tinha suas responsabilidades e sabia e devia assumir as consequências de seus atos; ao mostrar que o time era, como todo o coletivo, o fruto do trabalho e da união de todos, se se quisesse vitorioso, Sócrates e seus companheiros cutucaram e desnudaram muito dos interesses hipócritas e podres que se misturam às engrenagens do futebol.
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Talvez seja por isso que, hoje, sejam tão pífias as homenagens ao Doutor do calcanhar.
Mas que, tanto quanto Ricardo Gomes, Sócrates também as merece. E ainda em vida, até para servir de injeção de ânimo para sua recuperação.
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De ataques

Ontem, exceção do Chile, poucos se lembraram de reverenciar a memória de tantos quantos foram os mortos do ataque ao Palácio de La Moneda em Santiago, e tantos que foram torturados e mortos, depois, quando da implantação do regime de Pinochet.
Nada contra toda a atenção que mereceu da midia o ataque às torres gêmeas do World Trade Center.
Mas, se o ataque aos Estados Unidos foi merecedor de tanta homenagem e comoção, também o ataque ao regime de Allende deveria merecer, de  nossa imprensa, ao menos alguma menção.
Afinal, se em Nova York, mais de 3500 pessoas inocentes foram vítimas de um ato insano, no Chile, o que foi a maior vítima foi a Democracia.
E nem seria necessário que a imprensa ficasse preocupada em publicar o número ou listar o nome de tantos que morreram na prisão em que se transformou o Estádio Nacional. Bastaria apenas que dessem uma ou duas linhas, em homenagem às vítimas.
Mas, mais uma vez, apenas o silêncio se fez manifestar, por motivos que talvez sejam tão semelhantes quanto as verdadeiras razões para o tratamento dispensado ao Doutor Sócrates, com quem encerro o pitaco.

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