terça-feira, 6 de setembro de 2011

Inflação em alta?

Divulgado hoje, pelo IBGE, a variação do INPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor amplo, de 0,37% no mês de agosto.
O índice representa a inflação oficial do país no último mês e, comparado com o mês anterior de julho, em que o valor da variação foi de 0,16%, significa que pressões altistas ainda se fazem presentes na economia brasileira.
Com o valor obtido, a inflação em 12 meses atinge 7,23% ultrapassando a meta fixada para o ano de 2011, de 4,5%, número que para o sistema de metas adotado no Brasil pode oscilar no intervalo compreendido entre a meta e mais ou menos 2 pontos percentuais, ou entre 2,5% e 6,5%.
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Antes de prosseguir, uma observação: o índice nos oito meses do ano de 2011, para o qual a meta é válida, atingiu 4,42%, o que sinaliza que a meta já está praticamente atingida e deverá sim, ser ultrapassada.
Entretanto, caso a política monetária adotada até a última reunião do COPOM, baseada na elevação dos juros básicos representados pela Taxa Selic, tão a gosto do mercado financeiro e tão reclamada por seus arautos, tivesse mesmo êxito ou seja exitosa, a inflação deverá experimentar uma redução, ao menos até os últimos dois meses do ano.
Como se sabe, nos últimos meses, a injeção de dinheiro no mercado, proveniente do pagamento do 13° salário, e as compras de Natal e festas puxa a inflação para cima.
Mas, como se sabe ou deveria ser levado em conta, variações da taxa de juros básica não surtem efeitos imediatos na economia. Há um lapso temporal necessário para que as decisões dos agentes passem a incorporar os efeitos de uma mudança da política monetária e surtam os efeitos - desejados pelo governo e temidos pelo mercado.
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Mas, isso o mercado e seus analistas não levam em conta. A queda da Selic, então, não deverá provocar efeitos imediatos, e nos próximos dois meses, o que podemos esperar é ainda uma redução da inflação, sob efeito da política de juros em alta que o mercado recomendava e o BC seguia.

Taxa básica de juros e a demanda

Mas um outro ponto a ser considerado, e que os analistas de mercado não abordam, diz respeito à questão da influência real da Selic na demanda da população.
Antes, voltemos a observar a divulgação do índice de agosto feita pelo IBGE, conforme se encontra nos principais sites e portais da internet.
Segundo o Instituto, a principal influência para a elevação dos preços observada deveu-se às carnes. O preço das carnes que havia caído em julho, voltou a subir em 1,84% no mês de agosto.
Ora, é no mínimo interessante a discussão que deveria ser feita e é posta de lado: se a inflação é de demanda e, especialmente provocada pelos alimentos, com destaque para a carne, isso é sinal de que a população brasileira está, finalmente, comendo melhor? Ou os mais abastados estão comemorando os rendimentos das aplicações financeiras em alta, comendo mais churrascos?
Será tão ruim assim, para o país e o povo, que a inflação seja porque o povo está mais bem alimentado? Sem dúvida, para os que gostam de comer e podem comer caviar, talvez fosse melhor o povo subnutrido e a inflação lá em baixo. De preferência zero.
Outra questão interessante é a idéia de que elevar juros iria reduzir a demanda que está muito aquecida.
Interessante é que, de há muito tempo, as taxas de juros do crediário que são cobradas e pagas na ponta do varejo são bem mais elevadas que a Selic. Para uma Selic de 12% ao ano, a taxa de juros de empréstimo consignado em condições privilegiadas é de, no mínimo, 18,5%.
E olhe que essa condição privilegiada é para cliente pra lá de especial. Tão especial que às vezes nem precisa desse tipo de empréstimo.
Para o povão, a taxa pode alcançar algo superior, mais próximo talvez de 40%.
Então, mais meio ponto na Selic, menos meio ponto, não irá afetar, imediatamente a demanda de crédito e a demanda por bens daqueles que utilizam do crediário. Afinal, meio ponto de variação na Selic não trará, de imediato, qualquer alteração, por insignificante, na taxa paga pelo tomador.
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Tão ou mais interessante é ainda, observar que o povo deve estar comprando alimentos (o grupo que mais puxou a alta de preços) com crediário.
Bem, é uma hipótese. E se os analistas querem continuar fazendo análises ligeiras, com a finalidade de aumentar seus rendimentos sobre a carteira dos títulos estocadas nos bancos que representam, tudo bem. Devemos respeitar.
Quanto ao segundo grupo que mais puxou a inflação, segundo a notícia dada pelo UOL, foi aluguel residencial, com elevação de pouco mais de 1%.
Aqui também, é curioso alegar que aluguel esteja sendo reajustado e se elevando por uso de crédito.
O que se sabe e a midia vive divulgando é que a inflação do aluguel, dada pelo IGP da Fundação Getúlio Vargas estava se acelerando.
Conforme divulgado pela Fundação, o IGP-DI aumentou em agosto, e atingiu 3,52% no ano.
A causa do aumento deveu-se a preço de minério de ferro, soja e cana-de-açúcar.
Dito de outra forma, os preços de commodities, ou seja, como vimos falando, a inflação importada porque chineses, indianos e outros povos de países emergentes, resolveram se alimentar melhor e continuam crescendo, na contra-mão do movimento de crise recessiva dos países mais desenvolvidos.
Como o IGP é o indice que corrige aluguéis, a inflação "importada" medida pelo IGP se transmite para os aluguéis e daí, para o INPCA.
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A título de informação: o INPC restrito, que mede o custo de vida para as famílias até 6 salários apenas, mostra variação em agosto muito próxima daquela do índice oficial: 0,42% para uma inflação no ano de 4,14%.
Concluindo: estivesse certo o mercado, a inflação deveria estar em queda e não em alta, já que apenas agora o BC desobedeceu a suas ordens. Logo, não houve tempo para que a inflação já incorporasse os efeitos da queda da Selic.
Se os juros não resolveram a inflação não era de demanda. Se fosse, e o principal aumento foi no grupo de alimentos, é questionável até que ponto a população estar se alimentando melhor é tão ruim assim.
Se alimentos e matérias primas brutas é o que mais tem se elevado, a inflação que experimentamos aqui é decorrente de aumento de preços internacionais que, pela lógica do mercado, nos afeta. Afinal, diz o Deus mercado que, entre vender caro lá fora ou barato aqui dentro, manda o Filho Lucro, que o produtor eleve seus preços ou venda lá fora.
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Continua o choro da queda dos juros. Natural. Mas o próprio mercado cobrava ajuste fiscal para que os juros pudessem ser reduzidos.
Os juros começaram a declinar, em função de elevação do superávit primáriio obtido. A presidenta e o ministro da Fazenda continuam anunciando medidas de mais cortes de gastos, inclusive desrespeitando a Constituição e não dando aumentos aos funcionários públicos (nem a correção das perdas da inflação).
Era o que o mercado queria. Ou não? Ou tudo não passava de jogo de cena, por parte dos analistas.
Ou não acreditam, tão somente, em que os cortes estão acontecendo e vão continuar acontecendo?
Talvez apenas prefiram acreditar no coelhinho da Páscoa. Desde que o coelhinho, existindo ou não, aumente bastante o seu faturamento.

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