quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Recuperação na Europa e a influência e liderança dos bancos

Em entrevista que podia ser vista ontem no portal UOL, James Galbraith, filho do saudoso John Kenneth Galbraith, sugere que a Europa precisa urgentemente de uma versão do "New Deal", o plano econômico adotado por Roosevelt para tirar os Estados Unidos da grande depressão que se seguiu ao crack da Bolsa de Nova York, em 29.
Naquele período de crise, o governo americano, sob a inspiração de Keynes lançou um plano ousado de obras públicas e intervenção do Estado na produção, nos preços e nos salários que, representou verdadeira revolução na maneira que os governos enfrentavam as crises cíclicas da economia.
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Para certos autores, Michael Bleaney, por exemplo, se a memória não me trai, não foi exatamente a proposta keynesiana a responsável pela recuperação americana de uma crise que, a rigor, nem pode ser considerada como crise geral da economia. Afinal, como dizia o texto de Bleaney, as estatísticas de produção dos Estados Unidos indicam que, no período, enquanto alguns setores iam muito mal e enfrentavam depressão profunda, outros, ao contrário apresentavam taxas de crescimento da produção.
Bleaney concluia que a crise, cuja existência ele não negava, obviamente, consistia, na verdade em uma crise de desajuste das estruturas de gestão do novo capitalismo que foi gestado e se instalou na economia a partir da chamada segunda revolução industrial de 1870-1890.
A tese do autor é que havia, na oportunidade, um descompasso entre o novo paradigma tecno-sócio-econômico, para utilizarmos uma expressão muito em voga nos anos 90 e agora em desuso e as regras de gestão desse novo modelo. Uma crise de institucionalidade, digamos assim.
Seja como for, minha interpretação do livro de Bleaney,  é que mais contribuiu para a recuperação americana os preparativos para a II Grande Guerra e a entrada dos Estados Unidos na conflagração que as medidas efetivas do governo americano.
Claro, sem negar a importância de algumas dessas medidas e políticas para alguns setores industriais e, daí para a própria recuperação que se seguiu à vitória aliada e, em especial para a nova forma de abordagem das crises.
Se a memória não me trai, repito, o livro é The Rise and Fall of Keynesian Economics.
Mas, voltemos ao assunto original, depois dessa digressão.
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Para Galbraith, o plano para a Europa deveria se assentar em três pilares: o plano de realização de obras públicas; a europeização dos bancos e a consolidação das dívidas públicas em um único título, emitido pelo Banco Central Europeu.
No entanto, o professor da Universidade do Texas admite que sua proposta está longe de se tornar realidade, e que sua não implantação deve-se a razões políticas, em especial.
Questionado que razões seriam essas, Galbraith manifesta uma opinião capaz de causar algum tipo de espécie. Para ele, a causa é que a democracia está acabada na Europa.
O argumento que utiliza é que quando a vontade do povo passa a ser substituída por interesses outros, escusos em geral, não há muita oportunidade para que sua proposta seja discutida e a crise possa ser combatida.
Ilustra com o fato de o novo primeiro ministro da Grécia nem sequer ter cargo no Parlamento grego, e tanto ele quanto seu colega que acaba de assumir na Itália serem, ambos, ligados a ..... Goldman Sachs, o banco de investimentos norte-americano.
Instituição poderosa e, como influente membro do dito mercado, tem outra idéia da crise e outra proposta para solucionar, se não a crise, a segurança de suas finanças.
Galbraith comenta afinal, que o poder econômico é que está mandando e se impondo.
Verdade cujo reconhecimento, nos leva a torcer intimamente, com todas as nossas forças pelo êxito do movimento Occupy Wall Street.
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Todo esse nosso comentário, a propósito da divulgação, também no dia de ontem, de que o setor bancário foi o que apresentou a maior lucratividade do país: a bagatela de 37 bilhões de reais, em decorrência de cobrança de tarifas e prestação de serviços.
Atrás dos bancos, apenas a mineração, com a Vale e suas exportações a preços elevados de minério para a China; e o setor de gás e energia, com a Petrobras.
Creio que, em termos de crescimento, a mineração assumiu a liderança, mas o avanço dos bancos também é notável.

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E o resultado poderia ser diferente? pergunto-me, mesmo sabendo que o Goldman Sachs não tem instalações em nosso mercado.
É. O negócio é, mesmo que sem que as condições objetivas estejam dadas, o que torna o movimento apenas mais um sonho e uma utopia (e como tal, violentamente combatida pela polícia de Nova York!), torcer para que a ocupação de Wall Street, se espalhe para a ocupação da Paulista, da City ... e de outros marcos desse jogo de apostas em que se transformou nosso sistema econômico.
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