sexta-feira, 2 de março de 2012

Pitacos sobre o câmbio e o tsunami cambial

Enquanto a Espanha se assusta com a elevação do desemprego, em mais de 2 pontos percentuais (2,44%) apenas no mês de fevereiro, quebrando o recorde do país nesse quesito que atingiu 22,85%, os governos e bancos centrais emitem e investem trilhões de reais para salvar os grandes bancos do calote e da quebra.
Na Grécia de joelhos, o povo revoltado vai às ruas, reclamar do pacote que cortou a soberania do país, corta gastos públicos e promete cortar empregos, no afã de reequilibrar as contas públicas.
Na lógica dos mercados, seguindo a bíblia do pensamento conservador, o equilíbrio público é necessário para reduzir a dívida pública, impedindo um calote ou o não pagamento aos credores, em geral, os grandes bancos europeus.
Curiosamente, para além de outras questões e críticas que a imprensa (também) conservadora costuma publicar sobre a Grécia, o povo grego e suas condições de vida, parte da dívida do governo, tanto grego como de outros países, foi assumindo para si os compromissos para .... SALVAREM os bancos e o sistema financeiro do colapso por eles provocado em 2007/2008, fruto da exuberância irracional dos mercados.
Mesmo os governos de países cujo sistema financeiro não sofreu tantos impactos e correu tantos riscos de irem à bancarrota, ou os governos daqueles países em que o sistema financeiro era pouco importante ou significativo para produzir um tsunami na economia, a necessidade de se endividar foi consequência da necessidade de se elevar a demanda agregada, de forma a se tentar manter, estável o nível da atividade econômica  e a saúde da economia das empresas, bancos e do próprio país.
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Pois bem, os primeiros relatos indicam, em relação à Grécia, a dificuldade imensurável de êxito do ajuste determinado. Afinal, como não é nada surpreendente, o corte dos gastos públicos e as medidas destinadas a promoverem maior desemprego, especialmente com a perda de empregos diretos no setor estatal, e tantos outros indiretos, levam à uma queda do nível de atividade e produção. Daí, mais uma onda de segunda geração de desemprego, agora no setor privado. E recessão pesada. Culminando em queda na carga tributária grega, na queda da arrecadação e .... ampliação - E NÃO REDUÇÃO da dívida.
Por força das expectativas, o próprio anúncio do corte de gastos públicos por si só, já é suficiente para levar os empresários e os agentes a reverem seus gastos e planos, em geral, no sentido de reduzi-los, adequando-se para esperar por tempos melhores. O que induz também ao ciclo fatídico exposto no parágrafo anterior.
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Em Portugal, seguindo a "onda" e antecipando-se às determinações dos credores (os mesmos bancos), no afã de renegociarem a dívida governamental em condições de juros mais palatáveis, o governo encaminha e aprova um pacote com medidas tão duras quanto cortes de salários e... desemprego no setor estatal.
Alguém mais desavisado poderia até querer se perguntar o porquê de todos os pacotes trazerem a recomendação de demissão de funcionários públicos, medida bem mais séria e grave que a mera redução de salários também sempre incluída nas recomendações.
A pergunta mereceria alguma atenção, não fosse óbvio o interesse em se tentar desaparelhar o Estado e os mecanismos de regulação, intervenção, fiscalização e controle, inerentes a sua atuação. Desaparelhamento que iria conseguir implodir todas as defesas da sociedade civil, e derrubar todas as barreiras e barricadas geradas ante a avassaladora e gananciosa atuação dos capitais e mercados...
Em outras palavras:  o desmanche do Estado é a volta da velha e talvez a única lei que o mercado admite, a do mais forte. A lei que determina que seja a raposa a responsável pela defesa do galinheiro.
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Nos Estados Unidos, e em outros países de maior peso na economia mundial, para fugirem da crise, os governos injetam trilhões de dólares na economia e no sistema financeiro, adotando uma política monetária exageradamente expansionista, com resultados ainda de parcos êxitos.
Essa tsunami monetária, na análise e  palavras bem empregadas pela presidenta Dilma, sem oportunidades lucrativas nas economias maduras, pelo lado real da economia, se vêem também sem oportunidades de ganhos nos mercados financeiros onde as taxas de juros são zero ou próximas de zero e tendem a continuar assim por um período bem mais largo.
Assim, nada há que reclamar da política de cunho keynesiano (melhor seria dizer da medida recomendada pelos modelos tradicionais da síntese neoclássica) adotada pelos países mais ricos. Afinal, é a política recomendada por 10 em 10 manuais de economia existentes e difundidos no mundo.
E torna-se evidente que, buscando remunerações elevadas para suas aplicações, os receptores dos recursos oriundos da política monetária frouxa, acabam por desviarem esses recursos para países que, como o Brasil, além de contarem com oportunidades inúmeras de investimentos na economia real (infra-estrutura, etc.), ainda oferecem as mais elevadas taxas de remuneração do planeta.
Dessa forma os recursos decorrentes da política monetária expansionista não acarreta os benefícios esperados no país que a praticou, não permanecendo em seu interior, e ao se dirigirem a países como o Brasil, provocam, aí também, um problema de extrema gravidade como é o do câmbio.
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Essa a razão do real valorizado, o que prejudica nossa indústria, nosso comércio, nossa competitividade. Com possibilidades claras e concretas de respingar também sobre o emprego.
Daí a correção da medida de ampliação e elevação do IOF, como forma de tornar menos atraente a aplicação de recursos externos em nosso país, freando o influxo desses recursos.
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Interessante é a análise do grau de eficácia dessa medida, quanto ao câmbio, considerado como principal objetivo a ser alcançado, já que a elevação da carga tributária que o IOF acarreta é subproduto óbvio da proposta.
Para alguns analistas, enquanto não se reduzirem os juros básicos ao nível dos praticados nos países mais ricos, continuará valendo a pena a aplicação no mercado financeiro brasileiro.
Mas, segundo os próprios analistas ortodoxos, para se reduzir a taxa da Selic, sem provocar uma retomada da inflação, o governo deve cortar gastos e obter superávits primários. Mais fácil para um governo que sabe da necessidade de continuar sustentando a demanda agregada e o nível de atividade, é obter o mesmo resultado superavitário por aumento da arredação. Tanto melhor se  o tributo incidir não sobre a sociedade brasileira, mas sobre o capital externo.
(Alguns poderão falar que afeta a tomada de empréstimos de empresas brasileiras aqui instaladas, trazendo impactos negativos para todos. É verdade! Mas, em um grau de importância menor, sem dúvida).
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De minha parte, acreditando que a política, embora na direção correta, não vai obter todo o resultado esperado, creio que a discussão deveria ser direcionada para outra medida como a de o governo exercer um controle maior sobre a entrada dos fluxos de capitais, determinando prazos de permanência dos recursos no nosso interior e, indo mais além, determinando percentuais de aplicações compulsórias para áreas de investimento considerados prioritários.
É isso.

Um comentário:

JR disse...

O controle do fluxo de capitais já deveria ter sido implementado há muito tempo... Acho que agora vem!!! e rápido.... valeu PC